Aproximava-se a época de Natal e todos os alunos, inclusive Michelle, estavam fazendo coisas para decorar o mural da classe. Michelle estava fazendo um anjo, um anjo particularmente bonito. Enquanto recortava o papel prateado e espalhava purpurina nas asas, ela se pôs a pensar em como os anjos eram maravilhosos, tão bonitos, sábios e sempre perfeitos. Com certeza eles não tinham problemas com irmãozinhos chatos, tarefas maçantes, nem eram obrigados a aprender a taboada. Além de tudo, os anjos têm asas e podem voar para longe das coisas que machucam.
Naturalmente Michelle sabia que, na realidade, não existem criaturas como esses anjos, iguais a pessoas, mas com asas. Pelo menos ela não acreditava que existissem. Nunca tinha visto e não conhecia ninguém que tivesse visto um anjo. Por isso, Michelle achava que os anjos eram só faz-de-conta, como as fadas e os duendes.
Mas, e os anjos de que tinha aprendido na Escola Dominical? A Bíblia diz que vieram anjos a Abrão, a Jacó, e a Daniel na cova dos leões. Também apareceram a Maria e José, e houve anjos que falaram com os pastores quando Jesus nasceu. Os anjos dessas histórias seriam também faz-de-conta?
A primeira coisa que Michelle disse, ao entrar depressa em casa, depois da aula, foi: “Mamãe, não existem anjos, não é? Não existem essas pessoas com asas e auréola, certo? É só faz-de-conta, não é mesmo?”
A mãe de Michelle já estava acostumada à forma como ela entrava apressada depois da escola, mas essa era a primeira vez que perguntava a respeito de anjos. “Bem, a Bíblia não é faz-de-conta, minha filha. Mas, às vezes, usa símbolos para ajudar a transmitir uma lição espiritual. Talvez seja por isso que a Sra. Eddy dá definições espirituais das coisas em Ciência e Saúde, e assim temos o significado espiritual de termos bíblicos. Você lembra da definição de anjos?”
“ ‘Pensamentos de Deus que vêm ao homem...,’ ” Ciência e Saúde, p. 581. A definição completa diz: “Pensamentos de Deus que vêm ao homem; intuições espirituais, puras e perfeitas; a inspiração da bondade, da pureza e da imortalidade, neutralizando todo o mal, toda a sensualidade e mortalidade.” disse Michelle. Mas ela achava que “os pensamentos de Deus” não eram fáceis de entender, nem eram bonitos como uma jovem de cabelos dourados e asas.
“Se os anjos são, em realidade, pensamentos de Deus, por que os artistas os pintam como crianças rechonchudas ou moças com asas e auréolas e tudo o mais?”
“Bem, eu sempre achei que os artistas mostram símbolos, coisas que podem ser vistas com os olhos e que representam aquilo que não podemos ver com os olhos. Por exemplo, a bandeira é o símbolo do país e o arco-íris pode ser o símbolo da paz e da unidade.”
Mamãe pegou um livro de histórias da Bíblia, cheio de figuras. Achou uma figura do menino Jesus deitado na manjedoura; Maria, José, os pastores, os reis magos e alguns animais estavam todos reunidos à volta dele. E no céu estrelado, acima do estábulo, uma legião de anjos fitavam a cena.
Estudando a figura, mamãe e Michelle acharam coisas nos anjos que lembravam boas qualidades. As auréolas representavam a luz espiritual. As asas talvez simbolizassem o fato de que as idéias espirituais nos elevam acima da matéria. Os anjos estavam alegres porque os pensamentos de Deus expressam beleza e alegria. E a maneira carinhosa como velavam o menino Jesus mostra que Deus manda exatamente o pensamento angelical certinho, para cuidar de cada um de nós.
“Mas eu nunca ouvi um anjo falar comigo,” disse Michelle.
“Claro que ouviu! Todo pensamento bom que você já teve a respeito de Deus e de Sua criação, era, em realidade, um anjo de seu Pai-Mãe, Deus. Todo pensamento útil, amoroso, honesto ou criativo que já lhe ocorreu, teve origem em Deus. Os anjos de Deus sempre guiam você, mas você tem de prestar atenção. E quanto mais você presta atenção, mais você os ouve!”
Michelle não tinha muita certeza disso tudo, mas decidiu prestar atenção para ouvir os anjos e ver se a mãe tinha razão.
Naquela noite, quando seu irmãozinho lhe derrubou todos os livros da estante pela centésima vez, o primeiro impulso de Michelle foi o de ficar zangada. Mas aí deixou a zanga de lado e ficou escutando, à espera de um pensamento angelical. E ele veio: “Tenha paciência com seu irmão.” Claro, não era uma mensagem em voz alta, mas certamente era para ela, e era uma mensagem boa. Em vez de ficar zangada, Michelle compreendeu que os irmãos menores precisam aprender algumas coisas, aliás, como todos nós! Em vez de ficar nervosa, Michelle sentiu-se alegre e carinhosa e leu uma história para ele.
Outra vez, correndo escada acima, Michelle deu uma batida com o dedo do pé. A princípio agarrou o pé e ficou pulando de um lado para outro, gritando de dor. Mas depois ela se lembrou de ficar quieta, de escutar para ouvir algum anjo. “Deus não deixa lugar para a dor. Sua bondade cuida de tudo, inclusive desse dedo,” foi o bom pensamento que lhe veio. Em poucos segundos a dor passou.
Michelle sentia-se como se tivesse descoberto um segredo maravilhoso. Os pensamentos angelicais de Deus estavam sempre ali, tomando conta dela. Mesmo que não pudesse vê-los, sentira seu amor. Os anjos não são faz-de-conta, não!
 
    
