Quando eu era criança, a parte de que eu mais gostava na história do Natal era a visita dos três reis magos, e confesso que ainda hoje esse continua a ser o meu trecho favorito. Naquela época o que me fascinava era a jornada que os trazia de uma terra distante e misteriosa, para ofertar presentes ao menino Jesus. Mas agora sou professora universitária e gosto muito do exemplo daqueles sábios de outrora que testemunharam a vinda do Cristo! Eles precisaram de muita humildade para se ajoelhar diante da manjedoura. Foi necessário que se dispusessem a colocar de lado seus conceitos preconcebidos e o orgulho de sua erudição, para ajoelhar e adorar aquela criança humilde. Com essa atitude, contudo, provaram que eram realmente sábios, não apenas intelectuais.
Quando ingressei na universidade, costumava pensar sobre a validade da instrução acadêmica para as pessoas e, em especial, para o estudante de Ciência Cristã. Aliás, de vez em quando alguns amigos da igreja me alertavam contra o “intelectualismo”. Eles pareciam acreditar que se eu me aprofundasse no estudo de filosofia, literatura, ciências naturais e história, minha fé ficaria abalada. A preocupação dessas pessoas era válida, e orei com fervor a respeito da situação. Mas a mensagem que me veio foi enérgica: “Vá em frente”. Foi isso o que fiz, e esses prognósticos não se confirmaram em minha experiência. Uma das razões porque não tive esse problema foi porque desde o princípio, trabalhei para estabelecer a ordem certa de minhas prioridades. Descobri que a atividade intelectual não é, de forma alguma, inimiga do crescimento espiritual. Mas o crescimento espiritual vem em primeiro lugar. O fato de buscarmos primeiro o reino de Deus Ver Mateus 6:33., coloca tudo, a instrução inclusive, sob um foco mais nítido para nós.
Adotei algumas estratégias específicas para colocar minhas prioridades em prática. Assegurei-me de que Deus e o meu estudo de Ciência Cristã vinham em primeiro lugar em meu coração e em meu planejamento diário. Eu começava o dia com um período em que me dedicava a orar, a ouvir calmamente as mensagens divinas e a estudar a lição bíblica do Livrete trimestral da Ciência Cristã. Não importava quão pressionada e ocupada me sentisse, eu protegia esse momento de comunhão com Deus. Para mim, era uma necessidade, não um ritual. Servia para pensar meus ferimentos, aquietar meus receios, repreender o egoísmo e para dar-me coragem e força quando achava que havia chegado ao final de minha resistência. Eu me aprofundava naquela lição-sermão com o mesmo vigor e atenção que dedicava às matérias acadêmicas, e tanto os meus estudos na faculdade, quanto o meu estudo de Ciência Cristã eram baseados em oração.
Passo a passo, enquanto me desincumbia de meus deveres, buscava orientação divina e ouvia a revelação de nova introspecção e de idéias criativas. Pude comprovar, fosse na aula de francês ou no laboratório de geologia, ser verdadeira a seguinte mensagem, que aparece em Provérbios: “O Senhor dá a sabedoria, da sua boca vem a inteligência e o entendimento.” Prov. 2:6. Com o estudo da Ciência Cristã eu havia aprendido que o homem é o reflexo e a expressão espiritual de Deus e não uma pequena entidade física separada, com mente própria. Por isso volvi-me a Deus, a Mente infinita, sabendo que Deus, e não um cérebro humano limitado, era a fonte da minha inteligência. Assim passei cada vez mais a considerar os inúmeros trabalhos e exames que eu deveria fazer, como oportunidades de desenvolver minha salvação, de reivindicar minha identidade espiritual, e de provar isso de forma progressiva, exatamente onde eu me encontrava.
Nunca considerei meus estudos acadêmicos como algo completamente separado de meu crescimento espiritual. Nunca poderia viver com esse tipo de fragmentação. Eu raciocinava que se a Mente, Deus, é Única, todas as atividades nas quais eu expressava a Mente, deveriam estar inter-relacionadas. Assim, eu via meu estudo como uma arena na qual o crescimento espiritual se efetuava. Algumas vezes realmente tinha de lidar com conceitos que conflitavam com aquilo que eu, como Cientista Cristã, acreditava. Mas lidar com esses conceitos não significava aceitá-los. Podia examiná-los de perto, ponderar a seu respeito e entender por que eu pensava de forma diferente. Nesse processo me era possível exercer qualidades como paciência, criatividade, discernimento, persistência e, acima de tudo, honestidade.
Essas situações apresentavam-se como oportunidades para eu examinar o conteúdo de minha própria fé, para aprofundar o que havia aceitado sem analisar e assimilar as verdades da Ciência Cristã, não porque não conhecesse outra coisa além delas, mas porque elas de fato faziam sentido para mim. Minhas orações ajudaram a me manter mentalmente alerta, para não ser ingenuamente atraída pelas perspectivas intelectuais originadas no sensualismo e na materialidade, ou seja, por alguma condescendência com o egotismo ou negação do Espírito como todo-poder. Em tudo o que eu fazia, tentava manter em primeiro lugar no pensamento meu propósito de servir e glorificar a Deus, o Espírito. Assim, descobri que à medida que minha compreensão de Deus se aprofundava e se expandia, o mesmo acontecia com minha compreensão das matérias na escola.
Em lugar algum da Bíblia ou do livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde de autoria da Sra. Eddy, jamais vi um estado geral de ignorância ser apresentado como desejável. Se bem existam advertências quanto à sofisticação mundana e exaltação das qualidades características das crianças Ver, por exemplo, Jeremias 8:9; 1 Cor. 1:18–2:16; Marcos 10:15; e Ciência e Saúde 62:17; 323:33–324:2., não há nenhum comentário favorável à idiotia mental. Pelo contrário, no livro-texto da Ciência Cristã encontramos estas palavras vibrantes: “É chegada a hora dos pensadores. A Verdade, independente de doutrinas e sistemas consagrados pelo tempo, bate ao portal da humanidade. O contentamento com o passado e o frio convencionalismo do materialismo estão desmoronando. A ignorância acerca de Deus já não é o meio de se chegar à fé. A garantia única de obediência é compreendê-Lo corretamente, e conhecê-Lo corretamente é a Vida eterna. Ainda que caiam impérios, ‘o Senhor reina para sempre ’.” Ciência e Saúde, p. vii.
Ao avaliar a utilidade do estudo acadêmico na busca espiritual fundamental, na qual a Ciência Cristã está empenhada, a Sra. Eddy diz o seguinte: “Tudo o que oferece a aparência de uma idéia governada por seu Princípio, dá o que pensar. Por meio da astronomia, da história natural, da química, da música, da matemática, o pensamento retrocede com naturalidade do efeito para a causa.
“É necessária instrução acadêmica de categoria adequada. A observação, a invenção, o estudo e o pensamento original espalham-se e devem promover o desenvolvimento da mente mortal, para que esta saia para fora de si mesma, para fora de tudo o que é mortal.” A Sra. Eddy, porém, diferencia essas disciplinas, isolando-as do intelectualismo árido, arrogante: “O que deploramos são os emaranhados barbarismos do saber — o mero dogma, a teoria especulativa, a ficção nauseante.” Ibid., p. 195.
Gosto de pensar nos presentes dos magos como frutos da “instrução acadêmica de categoria adequada”. Ninguém sabe o que foi feito dos perfumes e do ouro que os magos ofertaram, mas não há nenhuma menção na Bíblia sugerindo que tenham sido rejeitados como coisas sem valor ou inadequadas para Jesus. O Evangelho de Lucas fala sobre a visita dos pastores humildes e o Evangelho de Mateus mostra a visita dos magos trazendo presentes valiosos. Ambas foram feitas com sinceridade e humildade. Assim sendo, nos dias de hoje, homens e mulheres com instrução, bem como aqueles cujos interesses repousam em outras áreas, têm uma tarefa a desempenhar.
Às vezes fico pensando no quanto os magos devem ter mudado em conseqüência de sua viagem para prestar homenagem a Jesus. Bem sei como as horas que passei sozinha com Deus, em oração, modelaram minhas atividades acadêmicas e deram-me uma percepção, um mero vislumbre, daquilo que traz redenção e cura ao indivíduo e ao mundo como um todo. O amor e a intuição espiritual que Cristo Jesus empregava, são indispensáveis nesse trabalho. Jesus em verdade é o modelo de professor de professores nesse sentido. Quando me vejo diante de um desafio na sala de aula, freqüentemente recorro aos Evangelhos em busca de algumas idéias sobre a maneira como ele teria enfrentado essa circunstância.
Sei que o estudo da Bíblia e do livro-texto da Ciência Cristã, sob a contínua direção do espírito-do-Cristo, desvendou novas perspectivas em minhas pesquisas acadêmicas. Uma maneira de descrever essas perspectivas é dizer que relacionam-se com a compreensão que temos da Mente como Deus, e para com nosso esforço no sentido de expressar qualidades tais como: pureza, compreensão espiritual, amor, santidade. Esse empenho revela a possibilidade de sabermos e compreendermos que essas qualidades são ilimitáveis, porque expressam o próprio Deus. E os resultados são sempre verdadeiramente bons. Não encobrem nem ignoram o mal na consciência humana, ao contrário, expõem e destroem pela verdade básica da totalidade de Deus, o bem.
Um aspecto do relacionamento entre a erudição e a espiritualidade apresentou-se-me claramente em uma experiência há alguns anos, na época do Natal. Em minha cidade, há muitos anos, é costume no domingo à tarde, um grupo de pessoas reunirem-se para cantar músicas de Natal. A apresentação começa em uma igreja, e depois o grupo atravessa a praça do vilarejo em direção a outra igreja. Bem cedo no dia seguinte à apresentação das músicas natalinas, à qual eu estava presente, eu devia tomar parte em um seminário realizado na faculdade, sendo que nele eu teria de presidir uma das reuniões. Nessas reuniões sempre se havia notado muita preocupação, por parte dos participantes, em fazer boa figura. Parecia que as pessoas sempre estavam mais preocupadas em dar boa impressão do que em trabalhar em conjunto, para aprender alguma coisa nova e útil. Tendiam a adotar o que era “aceitável”, ao invés de avançar em busca de uma solução que talvez fosse menos simpática, mas que apontasse em direção à verdade.
Eu estava muito ansiosa quanto a essas atividades, não tirava do pensamento a reunião, e não estava realmente prestando atenção às canções natalinas, até que começaram a cantar “Ó, tu aldeia de Belém”. De repente percebi o sol passando pelas lindas janelas da igreja, e a pequena sala pareceu resplandecer com um calor multicolorido que me foi direto ao coração. Exatamente nesse momento cantamos estas estrofes tão conhecidas:
Quão silencioso vem-nos já
O inaudito dom!
Assim ao coração Deus dá
A graça celestial.
Ninguém ouvi-lo pode,
Mas entre nós está;
E onde humildade houver,
O Cristo reinará.Hinário da Ciência Cristã, n° 222.
Pensei comigo mesma: “Foi isso o que aconteceu aos três magos, que humildemente se ajoelharam junto ao menino Jesus.” Pareceu-me que sua atitude não era baseada numa autoconfiança arrogante, mas numa busca sincera e incansável da verdade. Da mesma forma, o Cristo deve ter entrado em seus corações e em suas vidas, com certeza eles nunca mais foram os mesmos! E senti que era isso o que me estava acontecendo naquele exato momento. O martelar da ansiedade em minha cabeça parou. Foi substituído por paz e alegria indefiníveis. O medo havia desaparecido. Eu sabia, eu sentia que o amor de Deus estava envolvendo a todos os que estariam na escola, e que cada um deles era o filho do Pai-Mãe. E eu tinha certeza de que Deus nos mostraria o caminho para descobrir as verdades que não apenas informariam, mas também regenerariam e elevariam a consciência.
Ao dirigir-me ao seminário, uma sensação de calor, uma ternura, uma reverência pelo Cristo, iluminavam o trabalho que devia realizar. Eu sentia um prazer especial concernente à reunião naquele ano. Um espírito de encorajamento, de simpatia e de companheirismo prevaleceu. As pessoas apresentaram trabalhos criativos, arrojados, profundos, e os comentários que se seguiram foram dados de forma honesta e construtiva. Outras pessoas que assistiram à reunião, concordaram em que havia sido muito proveitosa. Nos anos que se seguiram, essa mesma noção de unidade, o espírito do Cristo vivo, continuou a se manifestar em nossas atividades. Recentemente completamos uma compilação de trabalhos pioneiros relacionados com nossa disciplina. Esse trabalho envolvia a colaboração de muitas pessoas nos dois lados do Atlântico. Meus colegas nesse setor são de diferentes religiões, mas por meio de nossa associação profissional, tornamo-nos mais fortes como pensadores.
Os Cientistas Cristãos têm muito a oferecer à comunidade acadêmica. Na verdade, um testemunho válido desse fato é a provisão da Sra. Eddy quanto a organizações universitárias da Ciência Cristã em faculdades e universidades em todo o mundo. Ver Manual de A Igreja Mãe, § 8° do artigo 23. A comunidade acadêmica precisa da integridade, da amplitude de critério e do compromisso com a espiritualidade que a Ciência Cristã inculca. Por outro lado, os Cientistas Cristãos podem beneficiar-se muitíssimo com as qualidades de disciplina, criatividade, desejo de saber e objetividade que as atividades acadêmicas estimulam.
Aquilo de que mais necessitamos, seja para os que se encontram no ambiente universitário, seja para aqueles que não fazem parte desse ambiente, não é a letra do aprendizado. Como a Sra. Eddy declara: “O Espírito confere dons espirituais, a presença e providência de Deus.” Miscellaneous Writings, p. 345. Somente as obras de Deus, o Espírito, podem ultrapassar os limites do intelecto humano, elevá-lo e redimi-lo. Somente o Espírito pode satisfazer o desejo persistente de saber o que é verdadeiro, pois o Espírito é a Verdade, a fonte de tudo o que é verdadeiro, e o Espírito é Mente. A Ciência Cristã revela a impossibilidade de compreendermos a Verdade quando o esforço para compreendê-la se origina na crença em muitas mentes.
A Sra. Eddy diz o seguinte sobre a Ciência Cristã: “Dai-lhe, em nossas instituições de ensino, o lugar ora ocupado pela teologia escolástica e pela fisiologia, e a Ciência Cristã extirpará a doença e o pecado em menos tempo do que os velhos sistemas, concebidos para subjugá-los, precisaram para seu próprio estabelecimento e sua propagação.” Ciência e Saúde, pp. 141–142. A Ciência Cristã elevará a humanidade por meio das vidas dedicadas de Cientistas Cristãos individuais, vidas transformadas pelo poder do Amor. Por certo, o exemplo vivente é tão indispensável na comunidade acadêmica, como o é em qualquer lugar. Os Cientistas Cristãos não devem relutar em abraçar essas profissões, se sentem que é o Amor divino que os guia. Eles, assim como os magos da antiguidade, podem procurar e seguir a luz do Cristo no trabalho que escolherem. Podem ajoelhar-se frente ao Cristo e trazer para o serviço de Deus todos os seus talentos e seu preparo. Verdadeiramente este é o caminho dos homens de grande cultura, que estão a serviço da humanidade.
 
    
