Sete dos Dez Mandamentos começam com a palavra “Não”. Se é essa a palavra que mais recordamos dos dias na Escola Dominical, dá a impressão de uma forma negativa de pensar em Deus.
A religião freqüentemente é considerada como algo de natureza proscritiva, algo que nos prende e não nos deixa progredir. Contudo, se lermos grandes porções da Bíblia, veremos que há muito mais do que proscrição nas Escrituras.
É verdade que no Antigo Testamento, Deus é descrito em termos bem limitados. Os israelitas tinham um determinado conceito de Deus. Os moabitas faziam ainda outro conceito de Deus. O dos filisteus era ainda diferente, e assim por diante. Muitos deles acreditavam que se os viajantes iam de uma região para outra, a força espiritual que regia sua vida, sofria modificação. A religião era geralmente de natureza tribal, mostrando favor para aqueles com quem a divindade se achava associada. Essa doutrina não é desconhecida nos dias atuais!
Pouco a pouco, no entanto, com o desenrolar da narrativa, algo fantástico acontece. Um punhado de profetas hebreus começa a dizer que Deus é universal, e não se limita a uma determinada época, lugar ou povo. Se pensamos que Deus é limitado, favorecendo uma tribo ou povo em detrimento de outro, essa forma proscritiva de religião faria de fato soarem muito negativos os Dez Mandamentos. Por outro lado, se começamos a compreender que Deus é universal, ilimitado, criador, sustentador e redentor, então, encarados sob essa perspectiva os Dez Mandamentos e seus “nãos” tomam aspecto bem diferente. Afinal, os Mandamentos destinavam-se a manter os filhos de Israel livres do cativeiro.
O reconhecimento e a compreensão de que existe um só Deus, ao invés de muitos deles em concorrência, reduz o mistério da existência e acalma o temor acerca da vida e do que podemos esperar. A unidade de Deus se expressa no fato de que Deus é o único Deus — inteiramente constituído de Sua própria natureza, à qual nada pode se opor. Se Deus é Amor, então a unidade de Deus significa que não existe nEle nada que possa diminuir Seu afeto divino ou oferecer-lhe oposição. Do ponto de vista de um Deus universal, criativo, amoroso, todos os Dez Mandamentos podem ser compreendidos como algo poderoso e que traz libertação.
A proibição do adultério, quando encarada como o produto natural de um Princípio criador universal, livra homens e mulheres da tirania causada pelo remorso, da desconfiança, do ciúme e da vingança trágica, que tantas vezes recai sobre a vida humana. Não cobiçar nada que pertença a outrem, faz com que homens e mulheres se livrem das comparações e concorrências menosprezadoras e arrasadoras da vida humana, que incendeiam a inveja, a ganância e o endividamento. Pensem um momento na liberdade que sentiríamos se não mais lutássemos devido à condescendência com esses impulsos baixos.
Todos os Mandamentos podem ser examinados novamente dessa forma. O resultado não será apenas uma vida gratificante e mais rica e uma consciência livre de culpa, mas algo ainda mais dinâmico. O pesado fardo de um ponto de vista limitado e proscritivo a respeito de Deus será tirado paulatinamente de nossos ombros. Tal como aconteceu com aqueles profetas, novas visões da infinidade de Deus se descortinarão.
Elias aprendeu algo da eterna presença de Deus e essa compreensão deu-lhe nova força e coragem. Ezequiel veio a sentir o Seu constante cuidado e o poder restaurador de amar Deus e de ser obediente à Sua lei. Um profeta posterior, escrevendo no livro de Isaías, referiu-se ao apoio sustentador de Deus e de Sua misericórdia, dizendo: “Como alguém a quem sua mãe consola, assim eu os consolarei.” Isaías 66:13.
Mas, até mesmo além dessa maravilhosas revelações de Deus em sua vida, a visão profética que inevitavelmente cumpre o espírito libertador dos Mandamentos, confirmou também que estava próxima a vinda do Messias. Essa esperança transcendente nasceu da espiritualidade que desabrochou quando homens e mulheres se aproximaram de Deus e se esforçaram por viver de acordo com Sua lei.
É natural que ao acompanhar a narrativa do Antigo Testamento, indo dos patriarcas até os profetas, comecemos a compreender o impacto da vida de Cristo Jesus. Ele foi o supra-sumo do progresso espiritual que está documentado do início ao fim do registro bíblico. Podemos hoje pensar nesse progresso como uma jornada espiritual, não a mera distância percorrida em quilômetros e séculos. É um trajeto a recorrer no coração e na mente do aventureiro espiritual preparado, quando nosso amor a Deus, a Verdade divina, aprofunda e anima nossas aspirações. Procuramos o significado real dos Mandamentos e criamos maneiras de incorporá-los em nossa vida diária. Quando assim agirmos, nossa obediência a Deus não será só obediência cega. Nossa perspicácia espiritual ou nossa compreensão do Espírito infinito e do Amor realmente aumentará.
Deus não permanecerá desconhecido. Veremos que dentro de nós reside um sentido espiritual de vida, de Deus, de nós mesmos, e dos outros. Esse sentido espiritual vê coisas que são incompreensíveis à vista, ao tato ou ao ouvido material. Vê coisas tais como o que significa ser descendência de Deus. Vê nossa própria natureza, boa e sã. Essas coisas procedem da Mente infinita e da Alma pura, sinônimos de Deus na Ciência CristãChristian Science (kris’tiann sai’ennss). Ao nos despirmos de pontos de vista proscritivos e limitados a respeito de algo santo como os Mandamentos, começaremos a nos despir de pontos de vista limitados a respeito de Deus e do homem, de nós mesmos e do mundo em que vivemos.
Mary Baker Eddy, que descobriu a Ciência Cristã, sabia que o progresso espiritual descrito nas Escrituras está ao nosso alcance. Via o movimento que abandona o cativeiro material em troca da liberdade espiritual, como resultante da natureza espiritual da verdadeira consciência. Escreve ela: “Tal como os filhos de Israel foram guiados triunfalmente através do Mar Vermelho, sombrio fluxo e refluxo do medo humano — tal como foram conduzidos através do deserto, caminhando cansados pela grande solidão das esperanças humanas, antegozando a alegria prometida — assim a idéia espiritual guiará todos os desejos justos na sua passagem dos sentidos para a Alma, de um sentido material de existência para o espiritual, subindo até a glória preparada para os que amam a Deus.”Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 566.
Essa é uma experiência profunda, não resta dúvida. Mas é uma experiência que não está fora de nosso alcance. Começa com algo básico e conhecido como os Dez Mandamentos. É uma jornada que pode se estender durante nossa vida inteira. Essa é uma das realidades espirituais e profundas da Ciência divina.