Mansidão não é o termo que se usaria no título de um novo bestseller sobre “como vencer na vida”. Não é amiúde considerada qualidade fundamental para o sucesso. Muito pelo contrário.
Ouvi por acaso dois homens de negócio que se encontravam para o almoço. “Trata-se de um mundo mesquinho e rude,” disse um deles, ao saudar o amigo. “É exaustivo, mas vou continuar lutando. Realmente, é preciso ser agressivo.”
Talvez estivesse repetindo opiniões de outros homens e mulheres. De acordo com alguns seminários atualmente em voga para homens de negócio, a confiança em si mesmo e a agressividade precisam ser cultivadas para que se possa “progredir”.
O conceito de vencer no mundo dos negócios refere-se geralmente a uma posição de influência crescente e salário mais elevado. Em muitos casos, dinheiro e poder constituem o critério mais importante para avaliar o êxito alcançado pelo indivíduo. O materialismo do século vinte defende e proclama os bens e o prestígio crescente como medida de sucesso.
No entanto, algo está faltando. Em todo esse esforço para progredir, perde-se de vista o progresso que verdadeiramente tem significado: o progresso espiritual.
Embora o cristianismo não recomende nem honre a pobreza, ensina que nossas posses e posição social não têm relevância ao avaliarmos se estamos levando uma vida de sucesso. Baseados no impacto mundial que o ministério de Cristo Jesus teve (e esse impacto continua crescendo), facilmente concluímos que Jesus foi o homem de maior sucesso que já viveu. Entre os problemas que superou, incluem-se curar multidões, livrando-as de doenças terríveis e da invalidez, alimentar pessoas famintas e sanear as vidas daqueles que haviam sido corrompidos e confundidos por diversos pecados. Chegou até a superar a própria morte. Quando analisamos os sucessos de Jesus, enfrentamos o desafio de avaliar a nós mesmos quanto aos critérios que empregamos para medir o significado do sucesso em nossa própria vida. Talvez perguntemos qual é nosso propósito mais profundo, além do de prover às nossas próprias necessidades legítimas e às de nossa família. Acaso podemos dizer por que existimos, qual é o propósito fundamental de nossa vida?
Quando Cristo Jesus foi desafiado e interrogado a respeito de sua missão e propósito, respondeu da seguinte maneira: “Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade.” João 18:37.
Dar testemunho da verdade. Verdade a respeito do quê? No contexto geral de sua carreira e de seus ensinamentos, a verdade sobre Deus e o homem — a relação do Pai-com-o-filho, a união de Deus com o homem.
Será que é demasiado idealista considerar que nós constituímos o homem espiritual, o reflexo perfeito de Deus, nosso Criador? Os fariseus daquela época pensavam que era blasfêmia Jesus denominar-se Filho de Deus. Mas isso era porque não compreendiam a missão de Jesus.
Cristo Jesus não reivindicava filiação apenas para si, mas para todos nós. Não se enaltecia a si mesmo, mas sim dava testemunho do que Deus é. E o fazia com tal humildade, mansidão e amor, que muitos à sua volta sentiram e vivenciaram coisas que nunca haviam imaginado.
O que é que a vida de Cristo Jesus tem a ver com a nossa? Contém a mesma promessa que Jesus transmitiu a homens, mulheres e crianças daquele tempo. Estes o seguiam em bando, em busca de cura, paz e compreensão, e de um senso de verdadeiro propósito que transcendia as limitações que pareciam cercar suas vidas.
Será que os comerciantes e pescadores daquela época não sentiam exigências e pressões, tal como nós? Seria ingênuo supor que suas atividades de cuidar do abastecimento, pagar impostos e viver e trabalhar num país ocupado, estivessem desprovidas de desafios. Ou que a competição e a rivalidade não existissem. Ou que fosse desconhecida a disputa por lucro e prestígio.
Satisfação, real, profunda e permanente — como devem ter ansiado por ela! Essa satisfação flui apenas de um reconhecimento espiritual, cheio de mansidão, da nossa identidade como descendentes de Deus.
Muitos sentiram esse anseio. Queriam ter consciência de seu valor espiritual, independente de critérios materiais e mortais. Queriam realizar algo de bom, realmente duradouro e que favorecesse a humanidade. Queriam estar a serviço de uma realização benéfica de maior envergadura.
E esse desejo crístico genuíno, espiritualmente impelido — o de servir a outrem — deveria ser a base de todas as relações humanas, inclusive na esfera comercial. Cristo Jesus fazia continuamente que seus seguidores se lembrassem desse motivo.
Certa vez ele disse: “No meio de vós, eu sou como quem serve.” Lucas 22:27.
O servir a que Jesus se referiu e que demonstrou, não era servir a si próprio. O cristianismo que ensinou e viveu, ilustrava a abnegação suprema daquele homem que viveu para ajudar os outros, cujo propósito supremo foi o de dar testemunho da verdade sobre o homem: a idéia perfeita de Deus. O exemplo que Jesus nos deu, revestia-se de misericórdia e simplicidade, mas não foi tarefa fácil.
Contudo, quem conhece bem a vida de Cristo Jesus, não encontra em nenhuma parte uma combinação de brandura e poder tão inspirada por Deus, que se compare à demonstração de Jesus no cumprimento de seu propósito de servir. A Sra. Eddy refere-se ao Salvador em Ciência e Saúde: “Com mansidão e poder, pregava ele o evangelho aos pobres. O orgulho e o medo não são dignos de carregar o estandarte da Verdade, e Deus jamais o colocará em tais mãos.” Ciência e Saúde, pp. 30–31.
Ao pensar no mundo dos negócios, é interessante comparar estes dois conjuntos de qualidades contrastantes: “mansidão e poder” e “orgulho e medo”. Representam, respectivamente, os desígnios de Deus e a maneira de proceder do mundo.
Mansidão e poder. São termos contraditórios, ou se harmonizam entre si? As atitudes usuais no mundo dos negócios argumentam que a mansidão não leva ninguém a parte alguma nos negócios.
Provavelmente porque se confunde mansidão com fraqueza. Imaginamos um caráter de “galinha morta”, tímido e ingênuo. Mas esse não pode ser o significado da mansidão, sob o ângulo dos valores espirituais. Ninguém pode considerar Jesus Cristo como fraco e ingênuo! A mansidão espiritual que ele expressava, era sua profunda humildade em reconhecer a bondade, a onipotência e a onipresença de Deus, refletidas no homem. Seu constante e humilde reconhecimento da totalidade de Deus o capacitou a realizar sua obra.
“Bem-aventurados os mansos,” disse ele, “porque herdarão a terra.” Mateus 5:5.
Tenho uma amiga que trabalha no ramo de imóveis. Começou a dedicar-se a essa atividade quando seus filhos já eram quase adultos. Novata nesse ramo, sentiu-se repentinamente pressionada por um forte sentimento de competição na empresa em que trabalhava. A agressividade parecia uma característica admirada. Claro que ultimamente a gerência não enfatizava a mansidão! Percebida a falta de agressividade de minha amiga, foi relegada a uma posição menos destacada, posição que segundo parecia, lhe traria menos oportunidades de obter clientes e vender imóveis.
Como Cientista Cristã, no entanto, compreendeu que tinha de superar essa atmosfera de competição e esforço pessoal. Sabia que a resposta estava em volver-se a Deus em oração para obter uma visão mais espiritual do homem.
Percebia, cada vez mais, que era serva de Deus, com o propósito de abnegadamente dar testemunho da identidade real do homem, o qual é amado, sustentado e cuidado por Deus. Orou para ver a si mesma e aos clientes, como sendo dirigidos pela lei de Deus, do bem sempre presente, não competitivo. Ao reconhecer esse fato, compreendeu que seu propósito era o de servir a humanidade. Ela estava ali para ajudar as pessoas a encontrar o que precisavam, livres de qualquer sensação de urgência ou manipulação.
Compreendeu que seu trabalho a forçaria a crescer, não apenas em termos financeiros, limitados, mas também em termos espirituais. Sentia que seus motivos estavam sendo purificados e que sua confiança na bondade e no cuidado universal de Deus ia crescendo.
Como muitos de nós já sentimos em certos momentos, também essa moça ficou tentada a pensar que sua necessidade primordial era de dinheiro para o lar e a família. O livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde, no entanto, ajuda a esclarecer qual é nossa maior necessidade. Mostra que “Aquilo de que mais necessitamos, é a oração motivada pelo desejo fervoroso de crescer em graça, oração que se expressa em paciência, humildade, amor e boas obras.” Ciência e Saúde, p. 4.
O resultado desse tipo de crescimento é que nossas necessidades são atendidas de maneira apropriada, conforme o descobriu minha amiga. E podemos ajudar mais amplamente aos outros. Além disso, esse crescimento traz um levedar crístico maravilhoso aos assuntos de âmbito mundial.
Um casal que comprou casa por meio de minha amiga, fez o seguinte comentário: “Achamos que você realmente se interessou por nós e não apenas em realizar a venda.”
Este artigo não pretende indicar que o fato de minha amiga volver-se a Deus pedindo ajuda para seus problemas nos negócios, de repente transformou-lhe a carreira de corretora de imóveis ao ponto de bater recorde em termos de dinheiro. Mas está tendo um efeito transformador de calma e propósito na vida dessa amiga. Ela está cuidando das necessidades dos outros e encontrando maior riqueza e satisfação ao saber que, aos poucos, está reconhecendo e cumprindo um propósito mais profundo.
Sua meta consiste em procurar servir a Deus diariamente, com amor mais profundo. Essa meta também consiste em ver os outros como filhos de Deus. “Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino [o reino de Deus] e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas,” Mateus 6:33. promete a Bíblia. Podemos confiar nessa promessa.
Nós todos temos contas a pagar e necessidades humanas legítimas. Essas necessidades, porém, serão atendidas quando nos libertarmos do orgulho, do medo e de outras imposições baseadas na matéria, quando pusermos Deus, o Espírito, em primeiro lugar nas nossas afeições, seguindo a vereda da mansidão crística e da confiança em Deus e em Sua lei.
A verdadeira bondade, ternura e solicitude, características do Cristo, não podem ser falsificadas. Essas qualidades não podem ser “postas em ação” simplesmente com o propósito de aumentar as vendas. As qualidades crísticas emanam do coração e se manifestam naturalmente numa vida que faz uma contribuição duradoura ao mundo, alcançando aquele sucesso que não pode ser avaliado pelos meios e métodos limitados do mundo.
Oh! Como o mundo necessita da avaliação genuinamente espiritual da vida, da mansidão e do poder crístico que você pode trazer ao seu trabalho. Oh! Como as pessoas anseiam sentir que são mais do que meros mortais (mortais mais ricos ou mais pobres, mortais dotados de mais poder, ou menos, ou até mesmo mortais trabalhadores e conscienciosos) e compreender que são filhos e filhas imortais e amados de Deus.
Nossos empregos talvez sejam maçantes, talvez profundamente agradáveis; talvez sejam duros e competitivos, ou quiçá ilustrem para o mundo aquela força, ternura e amor sempre presente de Deus.
Não é o mundo que determina qual é o nosso caminho. Nós é que o determinamos.