Alguma vez teve a curiosidade de indagar porque nos é tão fácil criticar e censurar? Talvez achemos que censurar outrem de alguma forma diminui nossas próprias faltas e limitações. Ou então, talvez creiamos que parte de nós sinta que os defeitos alheios fazem parecer nossos próprios esforços mais bem sucedidos.
Cristo Jesus apontou-nos numa de suas parábolas a humildade que dissolve o desejo de criticar. Dois homens oram. Um procura provar seu valor, condenando os que o rodeiam. Ele ora assim: “Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano.” O outro homem humildemente suplica perdão: “Ó Deus, sê propício a mim, pecador!” O grande Mestre prossegue a lição da história: “Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta, será humilhado; mas o que se humilha, será exaltado.” Ver Lucas 18:10–14.
A crítica destrutiva freqüentemente nos apanha na armadilha de nos enaltecermos à custa dos outros. Enaltecer-nos dessa forma é uma vitória de Pirro. Acabamos por aprender que o bem duradouro se alcança através de realizações verdadeiras — e não tentando construir em cima dos fracassos alheios.
Isso tornou-se-me por demais evidente há alguns anos. Estava para abrir uma vaga numa direção de serviços da escola onde eu lecionava. Parecia-me óbvio que estava apta para ocupar essa posição. De tal maneira que até outros me asseguraram que devia iniciar os procedimentos para estar pronta a preenchê-la.
Mas um dia ao chegar ao emprego foi-me dito que, não apenas a vaga ocorrera, mas que o lugar fora dado a outrem. Era para haver concurso antes do seu preenchimento, mas dessa vez esse procedimento fora alterado.
Por causa da minha ambição em alcançar uma façanha pessoal, essa aparente injustiça foi um severo golpe para mim. Verti lágrimas amargas, seguidas de recriminações contra todas as pessoas envolvidas. Minha sensação de haver sido vítima de injustiça foi alimentada até por terceiros. Mas como Cientista Cristã voltei-me finalmente à oração, quando vislumbrei que criticar e culpar outros não me resolveria a situação, e que tal atitude era corrosiva.
Aprendi que a humildade em aceitar as nossas próprias faltas pode tornar-se o primeiro passo para discernir o bem inerente aos outros. Apreciar os outros desvia o foco das nossas atenções de desejos pessoais e justificação própria. Em vez de censurar severamente os outros por aquilo que não são capazes de ser ou dar, tornamo-nos conscientes daquilo que podem oferecer e daquilo que são. Essa humildade que Cristo Jesus tão bem nos mostra em sua parábola, essa disposição de perdoar os outros por reconhecer que há muito que perdoar em nós, abre-nos os olhos para o bem inerente no homem.
A Sra. Eddy compreendeu pelo estudo profundo da Bíblia que a verdadeira identidade de cada um de nós é espiritual, a descendência do amoroso Pai-Mãe Deus; que todos expressamos o único bem infinito. Escreve ela em Ciência e Saúde: “O homem, feito à semelhança de Deus, possui e reflete o domínio de Deus sobre toda a terra. O homem e a mulher, coexistentes e eternos com Deus, refletem para sempre, em qualidade glorificada, o infinito Pai-Mãe Deus.” Ciência e Saúde, p. 516.
Seremos elevados acima do sentido de injustiça à medida que compreendermos que não há derrotados, incompetentes ou descontentes no universo espiritual de Deus. Como expressão de Deus, todos têm um dom inigualável a oferecer. Encarar os outros com compaixão e apreciar e encorajar o bem que expressam, abre o caminho para nossa própria realização.
E comprovei verdadeiro esse fato. Deixei com efeito esse cargo de professora, mas não com amargura. Na ocasião, foi um passo natural. Os anos subseqüentes trouxeram satisfação e grande amor por meus semelhantes — algo que jamais havia sentido. E a cura de toda sensação de injustiça também se deu.
Tudo isso não aconteceu de repente. E a luta para vencer a tentação de criticar continua. Mas mal comecei a apreciar os outros, a ver o bem que expressavam, não tive mais a sensação de não ser apreciada.
Tornou-se-me claro que não podemos realizar-nos num vácuo. Os sucessos e satisfações não são atividades solitárias. São partilhadas com o próximo, com todos aqueles cujos esforços tanto contribuem para encorajar e apoiar nosso progresso. Foi-me provado que honrar o bem alheio leva a maiores recompensas em nossa própria vida.
Cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus.
Não nos julguemos mais uns aos outros;
pelo contrário, tomai o propósito de não pordes tropeço
ou escândalo ao vosso irmão....
Aquele que deste modo serve a Cristo,
é agradável a Deus e aprovado pelos homens.
Romanos 14:12, 13, 18
