Na filial da Igreja de Cristo, Cientista, da qual sou membro, essa pergunta é feita toda vez que há eleição de dignitários, membros da diretoria, ou Leitores.
Alguma vez essa pergunta já te foi feita também? Terias ficado tão surpreso que te agitaste todo, hesitando em responder? Ou será que logo após a primeira ou segunda rodada de votação, ao notares que o teu nome recebia vários votos, preferiste dizer logo: “Não desejo ser eleito!”
Na Bíblia, o livro dos Juízes conta-nos de um anjo que foi enviado a Gideão, para informá-lo de que Deus o havia escolhido para livrar o povo de Israel de seus inimigos. Ver Juízes 6:7—7:22. Mas Gideão temia ser escolhido. Imediatamente apresentou razões para não aceitar a incumbência divina. Em primeiro lugar, informou ao mensageiro de Deus, procedia de uma família pobre; e ademais, disse, “[sou] o menor na casa de meu pai”. A resposta clara e direta de Deus foi: “Eu estou contigo”. Gideão, porém, ainda não acreditava nisso de todo; ainda não estava seguro. Cumpriu com sua primeira tarefa — a de destruir o altar do ídolo Baal — durante a noite, pois tinha medo dos seus concidadãos.
Gideão tinha ainda muitas dúvidas sobre as outras tarefas que Deus lhe atribuíra e constantemente pedia sinais que lhe permitissem reconhecer em Deus de fato o seu protetor. Em cada caso, os sinais que pediu lhe foram concedidos, de maneira que Gideão sentiu-se disposto e capaz de realizar as tarefas que lhe haviam sido ordenadas.
Nesse relato da Bíblia há uma lição importante para todos nós: qualquer que seja nosso dever, Deus não nos abandona! Qualquer que seja o cargo para o qual fomos eleitos, podemos confiar em Deus com firmeza e alegria. Deus nos dá a inteligência, a sabedoria e as aptidões necessárias para levarmos a cabo os nossos deveres.
Nosso Mestre, Cristo Jesus, expressou sua convicção de que Deus está sempre pronto a socorrer a qualquer um, de que Deus é eficaz em toda parte, ao dizer: “Tudo é possível ao que crê.” Marcos 9:23. E, sua compreensão do que era possível, se estendia muito além do pensamento limitado de seus contemporâneos. Jesus não reconhecia limitações de suprimento nem de tempo, de distância nem de gravidade. Não tinha medo de doença nem de pecado, mas curava aqueles que sofriam as conseqüências deles. Também estava ciente de que as obras que fazia não ocorriam por seu próprio poder ou capacidade. Jesus afirmava que só podia fazer o que via o Pai fazer.
Não pensemos, contudo, que basta afirmar ser Deus a fonte de nossa força e habilidade para passarmos a desfrutar imediatamente de poder e segurança ilimitados. Isso seria, de fato, simplificação excessiva! Ao ler cuidadosamente os Evangelhos, descobrimos que Jesus também não fazia afirmações vãs. Não, o Mestre passava muitas horas do dia e da noite em oração, ou seja, em comunhão com Deus, a fim de cumprir a vontade de Deus. O Mestre, com convicção e autoridade inabaláveis, era capaz de destruir todo tipo de mal. Devia ter tido continuamente o imensurável amor de Deus, pois sempre que recebia solicitações de ajuda, estava pronto para curar as mais variadas doenças e situações.
Talvez estejas pensando, agora: “É claro que Jesus podia fazê-lo! Pois, como sabemos, ele era um homem especial! Mas eu não sou capaz de fazê-lo!” Acaso Jesus não afirmou nas palavras anteriormente mencionadas: “Tudo é possível ao que crê”? Ao que — em outras palavras, a cada pessoa — que crê. Em qualquer hora e em qualquer lugar. Ora, tudo é possível para nós também. Para ti e para mim!
Quando nos confronta um trabalho difícil, não precisamos dizer: “Não posso fazê-lo, nunca fiz isso! Além do que, também não quereria assumir tal responsabilidade!” Antes, peçamos com confiança: “Pai, o que Tu me dizes disso? ’Faze-me, Senhor, conhecer os teus caminhos, ensina-me as tuas veredas.’ ’Envia a tua luz e a tua verdade, para que me guiem’.” Salmos 25:4; 43:3.
Na maioria dos casos, o que impediria alguém de assumir responsabilidades, de ser corajoso, de expressar convicção e autoconfiança é o medo a situações desconhecidas e a falta de confiança nas próprias aptidões. Esses dois aspectos dão sinais de falta de fé em Deus. O primeiro relato da criação, na Bíblia, nos diz muito claramente que Deus criou “o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou” Gênesis 1:27.. Em outras palavras, todos somos criados com todas as qualidades e aptidões do ilimitado e infinito Pai-mãe, sempre e eternamente presente, Deus. Se todo o universo espiritual está tomado da bondosa totalidade de Deus, onde poderia existir algo como medo, ou incerteza, ou falta de confiança nessa totalidade?
Certa vez, uma amiga minha foi eleita secretária de uma grande igreja filial. Embora não tivesse a mínima experiência em trabalho de escritório (não sabia nem mesmo datilografar!), respondeu à pergunta: “A senhora aceita o cargo?” com um “sim” bem claro. A mulher, além de não ter experiência em trabalho de escritório ou de secretaria, fora eleita no momento em que a igreja dava início à construção de sua sede própria. Além das tarefas normais, havia toda a correspondência com o arquiteto, o empreiteiro, os sub-empreiteiros e as repartições públicas. Minha amiga sentiu-se muitas vezes, no início, incapaz e desalentada, e quase esmagada pela montanha de trabalho, mas nunca desanimou. Amava muito a igreja e queria sentiu-se de todo o coração; assim, foi-se adaptando à sua função, adquiriu valiosas experiências, desempenhando-se de seu cargo com alegria e com êxito, até completar o mandato.
Minha amiga provou o que a Sra. Eddy diz no livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde: “Todos somos capazes de fazer mais do que fazemos.” Ciência e Saúde, p. 89. Precisamos compreender que cada um de nós, por ser o filho amado de Deus, é o reflexo completo de Deus, o bem, expressando inteligência divina, originalidade, capacidade e alegria.
Talvez agora perguntes qual o benefício que alguém poderia obter do que foi dito anteriormente, se fosse eleito para um cargo do qual não tivesse a mínima idéia de como desempenhá-lo. Em troca, eis outra pergunta bem simples: Quando há uma lei de Deus, o bem, e Deus é todo-poderoso e está acima de tudo, poderia haver algum lugar no universo, ou algum momento, no tempo ou na eternidade, em que essa lei e esse bem não estivessem ativos? Isso não é possível. Portanto, resta-nos somente reconhecer essa lei da presença, do poder e do amor divinos, a fim de que ela se torne lei para nós.
Nosso Mestre, Cristo Jesus, conhecia muito bem a lei do bem, lei que a tudo inclui. E, com essa sua compreensão, era capaz de realizar coisas que outras pessoas consideravam impossíveis. Não só curava os doentes e os pecadores que vinham a ele, mas também sabia onde seu discípulo Pedro iria encontrar o dinheiro com que os dois pagariam suas dívidas fiscais. Alimentou milhares de pessoas com uma quantidade muito pequena de comida; discerniu espiritualmente as necessidades das pessoas, ressuscitou mortos, curou pessoas que não estavam na presença dele, e acalmou a tempestade.
Jesus conhecia e compreendia algo que transcende o conhecimento material, isto é, o relacionamento do homem com Deus, o Pai dos homens. Não se deve comparar esse relacionamento com o que existe entre duas pessoas. Ele é, antes, mais semelhante ao que existe entre o sol e sua luz. O Mestre nos mostrou que há entre Deus e o homem um relacionamento inquebrantável. Disse: “O Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai; porque tudo o que este fizer, o Filho também semelhantemente o faz.” João 5:19.
Percebes agora que teu imutável e permanente relacionamento com Deus está, em realidade, caracterizado por essa união espiritual? Ao que conhece essa sua união com o Pai, isso o torna consciente do amor de Deus, de Seu poder e cuidado benévolos, que estão sempre disponíveis a todos nós.
Portanto, se te perguntarem, na próxima eleição: “Aceita o cargo?” não respondas imediatamente com um “não”. Pondera esta declaração da Sra. Eddy: “Não procureis ocupar posição alguma, se não vos sentirdes ordenado por Deus.” Retrospecção e Introspecção, p. 85. Então, avalia primeiramente se tuas objeções e reservas em aceitar não poderiam ser eliminadas mediante maior confiança na ajuda de Deus. Se te voltares a Deus em toda situação, colherás da abundância de Suas idéias, da exatidão de Sua inteligência e da alegria de Sua presença.
Sejamos corajosos e confiantes! Quando nos dispusermos para o serviço de Deus e de Sua igreja, nós nos valeremos da lei infinita do Amor e receberemos com toda certeza sua recompensa, ou seja, progresso interior, liberdade, satisfação.