Eis um fenômeno estranho: às vezes temos as melhores intenções de prestar honra a algo que acaba se tornando, em nossa vida, uma rotina quase banal.
A maioria dos cristãos deseja honrar a Bíblia. Em muitos lares a Bíblia ocupa lugar de honra, até mesmo de veneração. Com freqüência, porém, não é uma força vital.
Algumas pessoas nos Estados Unidos, sinceramente preocupadas com a crescente secularidade desta época, têm esperança de restaurar o lugar proeminente que a Bíblia e a religião devem ocupar em nossa vida. Acreditam, tal como seus colegas em muitos lugares do mundo, que, se de alguma maneira os governos rendessem preito à religião, as modificações necessárias ocorreriam. Mas não há, aparentemente, maneira visível de fazer com que a Bíblia cobre vida, se continuar presa às instituições convencionais. A triste verdade é que o resultado seria exatamente o contrário, isto é, reação, divisão e, por fim, mera rotina.
O que tem de fato vida consiste em compreender que a verdade é mesmo verdade. Não importa há quanto tempo a verdade tenha estado reprimida por ditaduras ou pela adulação oferecida no ambiente dos comitês políticos e no sistema burocrático, ainda assim, a verdade continua viva. Como brotos de grama que finalmente emergem por entre fendas no asfalto, essa verdade não poderá ser negada.
A Bíblia já é uma entidade viva, porque está repleta de genuína sabedoria e verdade. Não é necessário despertar-lhe a vida, mas sim pautar a vida pelo que a Bíblia contém.
Em uma época tão influenciada pela razão e pelas conclusões das ciências naturais, a ponto de que estas agora pretendem ser a única base legítima para o pensamento humano, é imperativo lembrarmos de nossa base bíblica.
O primeiro artigo de fé da Ciência Cristã
Christian Science (kris’tiann sai’ennss) diz: “Como adeptos da Verdade, tomamos a Palavra inspirada da Bíblia como nosso guia suficiente para a Vida eterna.“ Ciência e Saúde, p. 497.
A mentalidade moderna, contudo, é tão insistente, que lança dúvidas sobre o conteúdo da Bíblia e protesta: “Como é que se pode levar a sério a Palavra da Bíblia, essa coletânea antiga de histórias e preceitos, que são justamente o oposto das máquinas cintilantes, da parafernália científica e das realizações precisas desta época, como por exemplo os ônibus espaciais, os raios laser e os transplantes cirúrgicos?”
Podemos aceitar a Palavra da Bíblia, porque a Bíblia não é uma coleção de opiniões humanas vetustas. Na realidade, revela como a idéia espiritual aflorou na experiência humana e mostra o que essa idéia espiritual faz para tornar a vida humana aprazível e significativa. Mostra-o com tal clareza, como nenhuma filosofia nem teologia acadêmica, nem ciência natural jamais conseguiu ou conseguirá mostrar. A Bíblia nos apresenta no Novo Testamento (em Cristo Jesus) o exemplo supremo daquilo que o homem é e daquilo que nós mesmos descobriremos ser, à medida que aceitarmos e vivermos a idéia espiritual.
Pode-se dizer que a Bíblia mostra o caminho que leva à Ciência do homem, não à ciência das leis materiais e da tecnologia. É por isso que a Bíblia desperta cada vez maior interesse.
Sem dúvida, a Bíblia sempre foi conhecida como fonte de inspiração, mas no século vinte essa noção ficou um tanto obscurecida pela agressividade do raciocínio humano. As Escrituras passaram, então, a ser consideradas desprovistas de sentido prático e obsoletas.
Quanto mais compreendermos, porém, que a Bíblia registra a aurora, na existência humana, da compreensão científica correta acerca de Deus e do homem, tanto mais vida nela encontraremos. Evidentemente, é a interpretação espiritual daquilo que a Bíblia relata, o que faz vibrar esse livro. Só precisamos folhear o capítulo “Frutos” no livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras de autoria de Mary Baker Eddy, para constatar que é exatamente isso o que acontece, quando as pessoas recorrem à Ciência Cristã e verificam que a idéia espiritual, ou Cristo, lhes afeta a vida, nos dias de hoje, assim como modificava e curava a vida das pessoas na época do Novo Testamento.
É necessário ler a Bíblia para perceber que ela tem vida. Sem dúvida, estudar a Bíblia também ajuda. Mas precisamos de algo muito mais importante do que as informações teóricas obtidas pelo estudo.
A Sra. Eddy, a Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã, assim o resume: “Sem inspiração, o conhecimento de traduções das Escrituras conferiu pouco poder à prática do Verbo. Eis por que a revelação, a descoberta e a apresentação da Ciência Cristã — a Ciência do Cristo, ou a ‘nova língua’ profetizada por S. Marcos — foi um requisito na ordem divina. O homem, nas asas céleres do pensamento espiritual, eleva-se acima da letra, da lei, ou da moral da Palavra inspirada e alcança o espírito da Verdade, em razão do qual chega à Ciência que demonstra Deus. Quando a Bíblia é assim lida e praticada, fica excluída qualquer possibilidade de ser mal-interpretada.” The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany, p. 238.
Interpretar espiritualmente a Bíblia não significa atribuir-lhe coisas que nela não estão, nem foram cogitadas por quem a compilou. Significa, sim, permitir que o espírito da Verdade, tal como o revela a Ciência Cristã, ponha a descoberto a natureza mais elementar subjacente a um relato ou a um acontecimento. Então começamos a perceber como a lei espiritual e o Princípio divino atuam na experiência humana, desde os tempos bíblicos, até nossos dias. Assim constatamos que a Bíblia tem vida.
Obviamente, é indispensável apreender esse Princípio divino em nossa própria vida. Por exemplo, uma pessoa que tenha presenciado muitos acontecimentos em que a compreensão do Princípio divino, Deus, conseguiu libertar do ódio e da inveja, imediatamente encontrará um paralelo no episódio de José e seus irmãos. Um item no Glossário de Ciência e Saúde oferece grande auxílio para aclarar essa narrativa. Mostra o que é que estava em ação na história de José. Descreve-o como “mortal corpóreo”, mas também mostra o significado espiritual desse personagem bíblico: “um sentido mais alto da Verdade, que repreende a crença mortal, ou o erro, e mostra a imortalidade e a supremacia da Verdade; afeto puro que abençoa os seus inimigos”.Ciência e Saúde, p. 589.
Assim, pois, hoje, em 1989, distantes apenas alguns poucos anos do advento do século vinte e um, é-nos ainda possível tomar racionalmente “a Palavra inspirada da Bíblia como nosso guia suficiente para a Vida eterna”. Trata-se de um guia muitíssimo mais avançado do que o conhecimento materialista, não obstante a sofisticação desse conhecimento, supostamente impressionante. Como nenhum outro ensino, aprendemos, dessa Palavra inspirada, qual é nossa verdadeira natureza, pois nos instrui na Ciência do homem.
 
    
