Na Bíblia, o livro de Isaías, referindo-se ao servo do Senhor, declara: “Não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega.” Isaías 42:3. Acaso o mundo atual não parece estar repleto de canas esmagadas, gente que acha que a vida só produz um desapontamento após o outro? Gente que se sente oprimida ou infeliz, devido às relações no lar, gente que está à procura de melhor saúde e deseja deixar de lado a obtenção de coisas, para alcançar uma vida de satisfação mais plena?
Todos nós podemos fazer mais pelo bem-estar dos outros. Todos os dias temos oportunidades de ajudar nosso próximo a libertar-se de seus problemas, se estivermos atentos e dispostos a oferecer uma palavra de ternura, ou a realizar uma ação que realmente ajude. Ou então, quando nos pedem, podemos orar para que haja cura.
Porventura não deveria ser nossa meta expressar uma atitude crística cheia de ternura, para não quebrar a cana esmagada, mas sim fortalecê-la com amor cristão o mais pleno possível? Essa necessidade está expressa de modo sucinto num poema de autoria de A. E. Hamilton, citado pela Sra. Eddy em seu livro Retrospecção e Introspecção:
Pede a Deus que te dê habilidade
Na arte de consolar,
Para que a uma vida de compaixão
Te possas preparar,
E te consagrar.
Pois enorme é o peso do mal
Em todo coração,
E grande é a necessidade de consoladores
Que tenham de Cristo o dom.Ret., p. 95.
Os ensinamentos da Ciência Cristã revelam a perfeição absoluta de Deus, o Amor divino e do homem como reflexo espiritual de Deus. Essa é a realidade divina, a base de nossas orações e de nossos atos para dar consolo. À medida que nos esforçamos para perceber, em meio a nossa experiência diária, o homem perfeito criado por Deus, veremos expressas em nossa vida maior autoridade espiritual e percepção metafísica muito mais clara. Somos chamados a ir ao encontro do mundo, não apenas como metafísicos cristãos vigorosos, mas também com o coração transbordante de ternura e consolo.
Em obediência à Regra Áurea, é óbvio que não vamos impor nossas opiniões ou nossos conselhos, nem a estranhos nem a amigos. E, via de regra, damos tratamento pela Ciência Cristã a outras pessoas, apenas quando essa ajuda é solicitada. Mas isso não impede ninguém de atender com sabedoria e abnegação a necessidades humanas prementes. Devemos encarar cada situação em nossa vida diária, visando a dar consolo e fortalecer o nosso próximo.
O exemplo mais elevado de compaixão e de terna solicitude será sempre Cristo Jesus. É digno de nota que o Evangelho de Mateus cite a referência do Antigo Testamento sobre o servo do Senhor que não quebra a cana esmagada, descrevendo especificamente o Messias (ver Mateus 12:15–20). Embora Jesus falasse, muitas vezes, com autoridade espiritual, nunca quebrou uma “cana esmagada”. Ao invés disso, ele tinha uma atitude humanitária para com os corações famintos que se lhe apresentavam. Ele sempre satisfazia, do modo mais apropriado, à necessidade mais premente.
De certo modo, Jesus mantinha uma consciência tão radical e absoluta acerca da perfeição eterna do homem, que uma mulher que tocara a orla de seu manto, viu-se curada de uma enfermidade de longa duração. Mas ainda assim, ele tomou conhecimento da necessidade humana. Dirigindo-se à mulher, que a princípio tentara ocultar-se, mas que a seguir “aproximou-se trêmula”, disse estas palavras cheias de amor: “Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz.” Lucas 8:47, 48.
Os ensinamentos da Ciência Cristã podem ajudar a todos nós a encarar nosso trabalho como consoladores, imbuídos de alegria e inspiração. Antes de oferecer uma palavra de apoio ou alguma boa ação para com alguém que esteja em necessidade, podemos orar para perceber a perfeição espiritual ininterrupta do homem. Oramos para discernir que o homem é, sempre foi, livre de esmagamento e que nenhum dos filhos de Deus pode ser carente, solitário, ou vítima de circunstâncias, nem mesmo estar momentaneamente separado do amor constante do Pai. Orando a partir dessa base, cada um de nós pode ser mais eficiente em não magoar ou afastar os corações famintos da humanidade, mas em fortalecê-los.
Num sábado, logo no início de seu ministério, Jesus entrou, como de costume, na sinagoga em sua cidade natal de Nazaré. Ali, leu em voz alta um versículo do livro de Isaías que passaria a tornar-se a nota tônica de seu ministério e que estabelece as normas mais elevadas possíveis para todos os seus seguidores: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar aos pobres; envioume para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor.” Lucas 4:18, 19.
Pelo poder de Deus e pelo nosso amor refletido para com a humanidade, “as canas esmagadas” do mundo podem ser fortalecidas, curadas e postas “em liberdade”. Nosso trabalho começa com a disposição individual, diária, de ir em frente como consoladores.
... a verdadeira religião é expressada por coisas maçantes como visitar pessoas com problemas e manter firmeza de fé apesar das circunstâncias que nos cercam. Não é que o Novo Testamento considere errado que o homem receba uma visão de Deus, mas há nele uma insistência sadia de que essa visão seja manifestada em amor e prestimosidade. ... [Jesus] não se enquadra jamais no molde do “santo místico”.
Reimpresso de Your God is Too Small de J. B. Phillips.
Copyright © 1952 de Epworth Press.
Reimpresso com permissão.
