Quando eu estava na faculdade, um amigo e eu freqüentemente trocávamos opiniões acerca de religião. Embora nossos pontos de vista divergissem muito, desenvolveu-se entre nós um sentimento mútuo de apreço e respeito.
Alguns anos mais tarde, falando de religião com outra pessoa, tive uma experiência bastante diferente. Acabava de conhecer uma moça e, praticamente, as primeiras palavras que me dirigiu, foram: “Você já foi salvo?” Antes mesmo de eu conseguir explicar o que significava, para mim, responder a essa pergunta, já estava ela a dar-me uma descrição viva de como tinha sido “salva”. Nossos pontos de vista acerca desse assunto distanciavam-se bastante um do outro. Aliás, ao final de nossa conversa, fiquei com a sensação de que, de alguma forma, eu tinha sido julgado por não ter usado exatamente as mesmas palavras que ela usara, para descrever meu amor a Deus e à Sua Palavra contida na Bíblia.
Mais recentemente, assisti a um sermão no qual o orador se empenhou naquilo que eu poderia descrever como um ataque feroz à minha religião. Era óbvio que tinha uma opinião hostil contra qualquer pessoa que não encarasse a Bíblia segundo a mesma perspectiva literal com que ele a via.
Para o cristão, há por certo alguma coisa autêntica em ter um grande amor a Deus e em defender as Escrituras, que revelaram tão claramente a natureza de Deus. Mas há algo muito discutível no que respeita a um tipo de agressividade à qual falta o caráter cristão. Talvez o espírito da passagem bíblica que se refere ao “zelo por deus, porém não com entendimento”, Romanos 10:2. possa ser encarado como descrevendo certa devoção ao cristianismo, destituída, porém, do caráter cristão. O cristão necessita tomar cuidado para que sua vida não se torne uma contradição.
Jesus, o Mestre cristão — que exemplo! Sua vida foi dotada de poder e de autoridade tais, que acabariam finalmente por deitar por terra tudo o que pretendesse opor-se ao estabelecimento do cristianismo. Vez por outra, a repreensão que lançava aos pecadores e àqueles que desejavam ver fracassar a sua missão, era drástica, não deixando margem para dúvidas. Mas esse exercício de força não se distinguia pelo antagonismo contra aqueles que discordavam dele. O que existia era compaixão, paciência, humildade, perdão e a convicção inabalável de que a Verdade haveria de prevalecer. Numa palavra: o Cristo.
O Cristo, a manifestação divina que caracterizava tão profundamente os pensamentos e as ações de Jesus, é aquilo que hoje em dia todos nós, cristãos, necessitamos cultivar fielmente em nossa vida. Quando tudo o que fazemos e pensamos estiver matizado mais evidentemente pelo Cristo, conseguiremos selecionar com mais exatidão o que a Bíblia revela à humanidade. Então poderemos, efetivamente, levar a cabo tudo o que está implícito na garantia que a Bíblia nos dá, de estarmos unidos a Cristo. Ver Romanos 12:5.
A Sra. Eddy esperava, do fundo do coração, que seu livro Ciência e Saúde haveria de motivar as pessoas a dirigir-se à Bíblia. Mantinha também a esperança de que seus escritos haveriam de trazer à luz uma nova inspiração espiritual para todos quantos desejassem que os ensinamentos da Bíblia se refletissem nas suas vidas. Ela escreveu: “As Escrituras requerem mais do que simples admissão e débil aceitação das verdades que apresentam. Requerem fé viva, que incorpore os seus ensinamentos nas nossas vidas de tal forma, que essas verdades se convertam na força motriz de cada ato.” Miscellaneous Writings, pp. 196–197.
A salvação, encarada no sentido mais profundo e verdadeiro, só virá passo a passo. Surgirá apenas à medida que cada um de nós estiver disposto a se despojar da mentalidade sensual, terrenamente limitada, que vê na matéria a substância e a inteligência da vida. Essa mentalidade obscurece a criação de Deus, infinitamente boa e sempre presente. Só se obtém uma perspectiva mais precisa acerca da realidade, mediante crescente purificação do pensamento, o que fará com que o Cristo, a luz da Verdade, desponte na consciência.
A melhor forma de demonstrar nosso amor para com o cristianismo, bem como nosso desejo de que o cristianismo abençoe toda a humanidade, consiste em subordinar nossas vidas ao amor curativo e redentor do Cristo. O verdadeiro cristianismo expressa-se quando vivemos os atributos puros e cristãos da inocência, da integridade e do afeto espiritual. É o Cristo salvador que nos desperta de modo a que ponhamos de lado o pecado e passemos a ver-nos a nós próprios e ao nosso próximo feitos na beleza e na bondade da semelhança de Deus. A verdadeira “salvação” verificar-se-á, à medida que esse despertar espiritual se for enraizando na nossa consciência e manifestando-se na nossa vida.
