Em anos recentes, a população aprendeu algumas lições duras sobre a salvaguarda da qualidade do serviço público. Vitais são os debates sobre diretrizes éticas para o governo e os esforços no sentido de manter vigilância cerrada sobre o trabalho dos ocupantes de cargos eletivos. No entanto, parece que dos muitos servidores públicos, cujo desempenho em suas funções obedece a um elevado padrão, ainda é possível aprender muitas outras lições. Por exemplo, pessoa que trabalhou durante mais de vinte anos, tanto no governo como em cargos afins, em nível local bem como nacional, diz que uma das lições que teve de aprender, repetidas vezes, foi a de expressar humildade.
Quais foram os cargos que o senhor exerceu?
Fui assessor administrativo de um governador de estado, promotor municipal e distrital, corregedor da polícia, membro do conselho municipal de educação. Fiz também parte da câmara de vereadores. Desempenhei o cargo de vice-presidente executivo e consultor jurídico de várias associações comerciais. Fui procurador do Ministério da Justiça em Washington, D. C. Desisti da advocacia e, desde 1982, me dedico à pratica da cura pela Ciência Cristã.
Conte-nos algo de seu trabalho na Câmara de Vereadores.
Eu era bem conhecido devido ao meu envolvimento com as coisas de nossa comunidade. Alguns amigos lançaram minha candidatura e assim meu nome entrou em votação. Fui eleito e, mais tarde, fui escolhido para a presidência da Câmara.
No princípio, quando me pediram para concorrer à eleição para a Câmara, eu não sabia se, como Cientista Cristão e advogado, teria tempo para mais essa atividade, porém, aos poucos, vi que eu tinha sido colocado num posto em que podia ser útil a muitas pessoas, inclusive à cidade onde eu morava.
O estudo da Ciência Cristã o ajudou enquanto fazia parte da Câmara de Vereadores?
Ajudou-me a aprender a confiar em Deus para encontrar solução para os problemas e os desafios com que, por fazer parte dela, éramos confrontados. Ajudou-me ainda a aprender a ser humilde. Ora, eu pensava que (e isso veio sem que eu percebesse) devido a todo o meu passado, eu tinha um pouco mais de conhecimento sobre política e governo do que os outros vereadores e, embora não o percebesse, tinha a tendência de impor minha opinião pessoal, sem levar em consideração o que os outros pensavam. De repente, constatei que eu estava causando problemas e trazendo desarmonia à Câmara.
Graças ao meu estudo diário e, particularmente, quando eu me recordava de Cristo Jesus e de sua humildade, comecei a compreender que eu precisava ser mais humilde no trato das coisas. Eu precisava conscientizar-me de que cada um dos vereadores era filho de Deus e que juntos haveríamos de achar soluções harmoniosas para o bem de todos.
Ora, ao falar em humildade, será que isso implica rebaixar-se?
Não, não. Às vezes as pessoas pensam que ser humilde significa ser mole. Mas não se trata disso. Humildade, para mim, significa estar disposto a ouvir o que os outros têm a dizer e captar as idéias deles, antes de expressar o que penso que deve ser feito ou dito. O mais importante é estar disposto a ouvir o que Deus tem a dizer.
Algumas pessoas se perguntam se é prático ou, até mesmo, adequado ouvir a Deus nas questões políticas. O que significa ouvir a Deus?
Bem, a Bíblia conta que Deus falava com Moisés “face a face, como qualquer fala a seu amigo” Êxodo 33:11.. Percebi que se eu escutasse espiritualmente a palavra de Deus, então ele me falaria “cara a cara”, como a um amigo.
Diga-nos algo mais sobre o que lhe significa a expressão “filho de Deus”.
A Bíblia fala do homem feito à imagem e semelhança de Deus. Ver Gênesis 1:26. Ciência e Saúde de autoria da Sra. Eddy explica que Deus é o nosso Pai-Mãe e que cada um de nós é, em realidade, filho espiritual de Deus, a imagem de Deus. Nós refletimos a bondade de Deus.
Suponhamos, porém, que alguém seja, digamos, desonesto ou imoral. Agir assim não é ser filho de Deus, não é mesmo?
Claro que não. Essa pessoa teria de expressar as qualidades que se originam em Deus: bondade, gentileza, amor e assim por diante. Aqueles outros traços citados não fazem parte do filho de Deus. São crenças erróneas sobre aquilo que o homem é. O que eu tive de fazer foi compreender que esses traços, quer se manifestassem em mim mesmo, quer em outros, não fazem parte do homem que Deus criou. Portanto, não têm poder real para nos influenciar.
Aconteceu-lhe alguma vez ter um ponto de vista bem forte, de os outros envolvidos pensarem de maneira diversa, ficando provado que eles é que estavam certos?
Houve uma ocasião em que se discutia uma alteração no plano diretor da cidade e votei contra a mudança. Antes de haver nova reunião, porém, me foram fornecidas informações que eu não tinha antes, por isso pedi que o debate fosse reaberto e mudei meu voto. A mudança no zoneamento foi aprovada.
É num caso desses que se faz necessária a humildade. Eu achava estar sendo guiado por Deus. Logo, seria correto admitir, perante os demais, que eu estava errado. Não foi fácil, mas foi útil.
Trabalhar para melhorar a qualidade do governo, quer façamos parte dele, quer sejamos apenas cidadãos, é uma coisa passiva?
Jesus não se limitava a orar. Ele saía às ruas e curava. É isso o que nós temos de fazer como Cientistas Cristãos. Não podemos simplesmente ficar sentados num canto e cruzar os braços, ou levantar os olhos para o céu e dizer: “Bem, Senhor, agora fica por Tua conta.” Não podemos agir assim. Creio que a Ciência Cristã significa ação.
Como descreve essa ação para que haja cura no governo?
Em primeiro lugar, significa ser você mesmo um bom exemplo. Não faria mal você estar no governo, fosse qual fosse o nível e expressar seus pensamentos e idéias.
Por exemplo; Quando eu estava em Washington, meu irmão era um dos Deputados e tive o privilégio de trabalhar com ele um bocado. Houve uma ocasião em que se estava discutindo certo projeto de lei e eu queria que ele votasse a favor, pois eu representava um grupo favorável ao projeto. Mas ele estava recebendo telefonemas e cartas dos eleitores, dizendo-lhe que votasse contra. Orei nesse sentido e lhe disse que fizesse o que lhe parecesse mais correto. Ele votou contra. Mais tarde ficou comprovado que ele estava certo e eu, errado. O projeto de lei foi aprovado, mas foram introduzidas diversas modificações que, de fato, não prejudicaram o grupo que eu representava.
A pessoas que conhecem a Bíblia, tive a oportunidade de recomendar esta citação: “Não temas, porque eu sou contigo;. .. eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel.” Isaías 41:10. Graças à minha experiência, estive em condições de afirmar que Deus nos fala e d'Ele obtemos resposta. Deus não precisa ter voz; você talvez pense que essa resposta não é outra coisa senão sua própria intuição, mas a resposta certa lhe virá.
Que nos diz da pressão exercida sobre as pessoas no governo? Como pode a oração ajudar nisso?
Há pressões de todos os lados. Às vezes vêm de uma pessoa, outras vezes de uma grande empresa e outras, de um grupo de indivíduos. Eles se reúnem e começam a fazer pressão e dizer ao legislador ou ao funcionário do governo: “Nós queremos que você faça isso e se você pretende se reeleger ou ser nomeado outra vez, tem de seguir nossa orientação.” Isso não está correto, é uma forma errada de tratar do assunto.
Também há outros tipos de pressões. Por exemplo: quando eu fazia parte da Câmara de Vereadores, tive de tomar uma decisão relacionada com o chefe de polícia. O prefeito havia nomeado um novo chefe de polícia enquanto eu me encontrava de férias. Na viagem de volta para casa, parei num hotel à beira da estrada e ali havia dez recados à minha espera. A cidade estava em pé de guerra com relação ao novo chefe de polícia, porque o povo desejava uma determinada pessoa, enquanto que o prefeito, a quem competia fazer a nomeação, havia escolhido outra. Como cabia à Câmara confirmar a nomeação e os outros vereadores estavam divididos meio a meio, eu tinha de ser o fiel da balança. A votação seria feita na primeira reunião após meu retorno das férias.
Chegando em casa, recebi ainda outros telefonemas, visitas e cartas de amigos, da imprensa e do prefeito, todos querendo saber o que eu faria e dizendo-me como deveria votar. Eu estava sendo pressionado, principalmente a votar contra a nomeação feita.
Orei para ser levado a fazer o que era certo, o que era bom e o que favoreceria a todos os implicados no caso, ou seja, o chefe de polícia, a prefeitura e a Câmara. Recorri à Bíblia e aquele versículo de Isaías, antes mencionado, me ajudou muito. Senti como se Deus estivesse a me falar e que se eu escutasse, Deus me mostraria exatamente a decisão correta.
Quando chegou o momento de votar, fui o último a dar o voto, por ser Presidente da Câmara. Três vereadores haviam votado a favor e três contra. Enquanto orava, fui guiado a decidir-me a favor da nomeação feita pelo prefeito. Foi a decisão acertada. O homem nomeado veio a ser um bom chefe de polícia.
A humildade ou algo semelhante ajuda num caso como esse?
Sim, claro que ajuda, pois existe a tendência de “se proteger” quando as pessoas começam a pressionar e aí dizer: “Espere um momento, por favor. Sou eu quem tem de tomar a decisão; você tem de fazer o que eu disser, porque tenho os conhecimentos e a experiência necessária e sei o que estou fazendo.” Quando você age assim, o problema se agrava.
Se Jesus tivesse dito: “Você fará assim porque eu assim lhe ordeno”, ele não teria conseguido nada. Sua mensagem era: Este é o cominho, porque está de acordo com a vontade de Deus.
Então o caso se resume em saber quem governa, isto é, em reconhecer que Deus está no timão?
É isso mesmo. Reconhecer o tempo todo que Deus é quem governa. Na Bíblia aprendemos que Deus é o único poder. A palavra único devia ser sublinhada. Ele é o único poder. Quando reconhecemos isso, podemos ser humildes e dizer: “Está bem. Não é o que eu quero, meu Deus.” Tal como Jesus disse no jardim de Getsêmani: “Não seja o que eu quero, e, sim, o que tu queres.” Ver Marcos 14:35, 36. Claro está que nenhum de nós jamais teve de tomar a decisão que lhe foi preciso tomar ali. Ainda assim, por vezes parece como se estivéssemos a ponto de ser crucificados, quando ocupamos um cargo no governo e as pessoas começam a pressionar daqui e dali. Quando, porém, vemos que o pensamento humano agressivo não tem poder e reconhecemos que todos nós somos em realidade o homem criado por Deus, sob Seu governo, temos a liberdade de fazer o que é certo. E deixamos que Deus nos indique o caminho.
