Eleição implica escolha: escolhemos um candidato ou outro. Afinal, um deles ganha a eleição. Às vezes, até somos tentados a achar que não faz mesmo muita diferença qual deles ganha e qual perde.
Outras vezes, porém, achamos que o futuro de nossa igreja, de nossa municipalidade, de nosso estado ou até mesmo de nosso país, depende diretamente do resultado das urnas. Mesmo que tenhamos a certeza de ter feito todo o possível para votar na pessoa certa, sempre haverá aqueles que votam diferente de nós.
Lembro-me de uma vez em que, por ocasião das eleições, eu estava profundamente preocupada com os problemas, os candidatos e os acontecimentos futuros. Tratava-se de uma eleição preliminar da qual, dentre um bom número de candidatos, sairiam dois nomes para disputar uma cadeira no senado dos Estados Unidos, representando o estado em que eu morava. Todos os candidatos tinham bom potencial para o cargo, embora alguns tivessem mais experiência do que outros. A meu ver, porém, havia somente um que era maduro, inteligente, capaz, simpatizante das mesmas causas que eu defendia e assim por diante. Estava claro para mim que essa pessoa era tão superior, que ninguém mais nem sequer deveria ter se candidatado.
A grande maioria dos eleitores, contudo, não era dessa opinião. Quanto mais "meu" candidato ficava para trás no resultado das pesquisas prévias, mais eu ficava revoltada e obcecada pela eleição.
Cheguei ao ponto de quase não conseguir pensar em outra coisa, a não ser nesse candidato e nas eleições. Então vi que algo precisava mudar. A mudança devia ocorrer em mim, em minha maneira de encarar a vida e naquilo que ocupava o primeiro lugar em meu pensamento.
O primeiro mandamento diz: "Não terás outros deuses diante de mim." Êxodo 20:3. Esse mim é Deus, claro, a quem eu conhecia como Amor divino, conforme diz a Bíblia. É óbvio que um candidato político, por mais extraordinário que fosse, não deveria ocupar o lugar de Deus como interesse principal em minha vida.
Pensando a esse respeito, entretanto, vi que muitas pessoas, na Bíblia, tinham-se defrontado com a necessidade de escolher: às vezes entre dois senhores, outras vezes entre mudar-se para outro lugar ou ficar onde estavam. Com freqüência, essas opções vinham definidas em termos rígidos: escolher o bem ou o mal, a vida ou a morte. Abraão, Moisés, Elias, Daniel e especialmente Cristo Jesus, debateram-se frente a escolhas que modificaram, de maneira concreta, o caráter da vida e da sociedade. A influência que essas escolhas teriam sobre o relacionamento deles com Deus, foi o que norteou essas decisões.
Moisés estabeleceu a regra básica para a escolha, quando declarou: "Vê que proponho hoje a vida e o bem, a morte e o mal; se guardares o mandamento, que hoje te ordeno, que ames ao Senhor teu Deus, andes nos seus cominhos, e guardes os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus juízos, então viverás e te multiplicarás, e o Senhor teu Deus te abençoará na terra a qual passas a possuir." Deuter. 30:15, 16.
Aplicar essa regra geral à escolha de um candidato político, significava, para mim, tentar selecionar aquele que fosse o mais honesto e de moralidade mais elevada, votar no homem ou na mulher que manifestasse maior integridade. Todavia, pode-se ir mais longe ainda. De acordo com os ensinamentos da Ciência Cristã, o homem real é totalmente espiritual e bom. Na verdade, você, eu e todos os candidatos políticos somos esse homem perfeito.
Por exemplo: inteligência, sabedoria, amor, sinceridade, força e ternura são qualidades de Deus. Quando nos esforçamos para expressar essas qualidades nos desafios que enfrentamos, assim como na rotina do dia-a-dia, deixamos evidente nossa natureza real, espiritual. Quanto mais diligentes formos nesse empenho, tanto mais clara será nossa percepção do relacionamento real e inseparável que temos com Deus. E tanto mais fácil será resistir à tentação de acreditar que somos mortais, materiais, sujeitos a todas as fraquezas da carne.
Esse empenho também é válido em nossas escolhas políticas. Se nosso candidato estiver se esforçando para ser bom, para resistir às pressões da corrupção que muitas vezes agem sobre os candidatos, é bom sinal. Mediante nossas orações, podemos apoiar esse esforço, compreendendo que o homem é, em realidade, totalmente espiritual, obediente à Mente única, Deus. O homem é invulnerável à mortalidade, quer esta se apresente sob a forma de doença, quer da tentação de fazer algo errado ou mesmo sob a forma de uma bala assassina. O homem espiritual é sempre um com Deus. Essa é a natureza verdadeira de cada um de nós.
Não podemos tornar moral alguém que é imoral, a não ser que a pessoa queira abandonar o comportamento pecaminoso. Mas acentuando a natureza verdadeira do homem em nossas orações, estaremos conscientemente afirmando o governo de Deus. A Sra. Eddy diz em seu livro Unity of Good (Unidade do Bem): "Os mortais têm a liberdade moral de escolher a quem desejam servir." Un., p. 60. Orando para ver triunfar a natureza espiritual do homem, escolhemos a favor do bem. Se ignorarmos o mal ou o aceitarmos em nossos líderes, não estaremos, porventura, acreditando que o mal tem o direito de nos governar?
Ao orar dessa forma, percebi que também me preocupava a crença generalizada de que perder uma eleição seria o fracasso, ou mesmo a aniquilação, da carreira política de alguém. Meu candidato parecia tão inteligente e tão atencioso que, se isso acontecesse com ele, seria uma grande pena, a meu ver.
Entretanto, Deus realmente é Amor, não trabalha na base do perde-ou-ganha. Como ele nos dá o bem em abundância, não proporciona, ao mesmo tempo, o mal, sob a forma de fracasso ou perda. Claro está que, sendo Espírito, Deus não se envolve na competição material que tantas vezes caracteriza as eleições. Então, pergunteime, o que é que Deus conhece, o que é que contribuiria para que minhas orações fossem melhores?
A resposta foi: desenvolvimento espiritual. De certa forma, tudo o que nos acontece, seja bom, seja mau, humanamente falando, pode em realidade cooperar para o nosso bem, se redundar na reforma moral que leva a uma confiança maior nos caminhos espirituais de Deus. Se examinarmos qualquer experiência a partir do ponto de vista do desenvolvimento espiritual, encontraremos uma compreensão mais clara de nossa identidade espiritual. Esta, por sua vez, nos ajudará a ir em frente, ou então nos levará a um novo caminho.
Se, por exemplo, somos nós que perdemos a eleição, talvez precisemos alcançar uma percepção mais clara, ou mais pura, do governo de Deus em nossa Vida. Se, por outro lado, somos eleitos, podemos ter certeza de que nosso progresso espiritual tornará inevitável o crescimento.
O mesmo se dá com nossos candidatos. Se não forem eleitos, podemos reconhecer, em oração, seu verdadeiro valor espiritual como filhos de Deus e descansar na certeza de que o Amor nunca deixa seus filhos sem consolo. Se forem eleitos, podemos orar com regularidade por nosso governo, sabendo que a inteligência da Mente, a integridade do Princípio e a honestidade da verdade devem ser expressas no governo.
Às vezes, ao orarmos dessa maneira, vêm à tona alguns atos errados, que têm de ser corrigidos. Se nosso candidato estiver envolvido, ele nos parecerá tudo, menos o filho de Deus. É o momento de perseverarmos na oração, não para abandonar o bem que vemos no indivíduo, mas para continuar reivindicando a espiritualidade que lhe é subjacente e que se expressa no homem criado por Deus. O impacto de tal oração fortalece todos os que estão empenhados na busca da verdade e faz com que, depois de honestamente eliminado o mal que veio à tona, o bem permaneça e seja mais forte do que antes.
Fui orando com essas idéias e comecei a ver meu candidato sob uma perspectiva mais ampla. Descobri que sua moralidade não era tão aceitável como me parecera no início. Fiquei em paz com relação às eleições, pois tornou-se bem claro para mim que, fossem quais fossem os resultados, não poderiam eliminar nem o candidato, nem a mim, do caminho do progresso espiritual.
Meu candidato perdeu, mas o indivíduo que foi eleito, deu provas de ser competente e levou para o cargo a experiência e a perspectiva que acabaram sendo muito úteis em certos eventos mundiais que ocorreram logo depois da sua eleição para o Senado dos Estados Unidos. E a pessoa que tanto me interessara, conseguiu uma colocação no governo estadual, onde efetivamente utilizou sua experiência e seu profundo interesse por determinadas questões.
Ainda participo com grande interesse em questões públicas e em eleições. Mas desde essa experiência, sei com clareza que não se trata de escolher meramente entre personalidades. A questão importante é nossa disposição de escolher o governo de Deus, procurando candidatos que melhor expressem Suas qualidades e confiando no fato de que o Amor cuida de nós e dos candidatos antes, durante e depois da eleição.
