Corrupção na política e no governo, desonestidade profissional, cumplicidade nas empresas, maus tratos impostos a crianças, velhos e pobres, derramamento de sangue, promiscuidade: parece que todas as manifestações de imoralidade estão vindo à tona hoje em dia. Como conseqüência, aumenta o clamor para que se estabeleçam padrões éticos mais elevados.
Que ética? Uma vez reconhecida a necessidade, quem decidirá o que é certo, ou errado, para determinado grupo de pessoas? Deve-se ainda levar em conta que a maioria das pessoas relaciona-se com mais de um grupo social. Será que devemos agir simultaneamente de acordo com mais de um padrão de ética, alguns deles conflitantes entre si? Talvez, no entanto, o que realmente se faz necessário, é um padrão moral totalmente novo.
A solução encontra-se na ética e na santidade consagradas pelo tempo, enunciadas em dois ensinamentos fundamentais de Cristo Jesus. Certa vez, um advogado perguntou-lhe: “Mestre, qual é o grande mandamento na lei?” Jesus respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” Mateus 22:36–40. (Ver também Deuter. 6:5 e Levítico 19:18.)
A obediência ao primeiro desses mandamentos requer absoluta fidelidade ao único Deus infinito, o Espírito. Essa obediência é o único fundamento para a genuína unidade, a base da harmonia. O segundo, deriva do primeiro. Além do mais, a obediência ao segundo mandamento requer uma atitude honesta, imparcial e compassiva para com o nosso próximo. Juntos, esses mandamentos compõem o único sistema de ética viável e universal.
Se, no entanto, o segundo mandamento for aplicado e levado em consideração independentemente do primeiro, (e com freqüência o é) perde muito de seu significado espiritual. Sua universalidade, absorvida pela cultura e padrões sociais, fica limitada, a ponto de resumir-se ao que você, ou eu, decidimos sobre o que significa amar nosso próximo. A ética, nesse caso, é determinada pela opinião e circunstância, não por um Princípio divino que governa tudo, uma ética entre homens, que não leva em conta a presença de Deus. Divorciada do Espírito, a ética fica enfraquecida para superar a duplicidade que ora nos torna cautelosos diante de algumas pessoas, ora nos faz cair presas da atração pessoal que nos leva a reverenciar outras.
A necessidade de se estabelecer um padrão de ética mais elevado, ou melhor, uma prática mais fiel da ética de base espiritual, será atendida quando restaurarmos o segundo grande mandamento do Mestre a seu relacionamento original com o primeiro, isto é, quando modelarmos nossos amor e respeito para com os outros, baseados unicamente em nosso amor a Deus. Ambos são, na verdade, inseparáveis. Não podemos dissociar o afeto que sentimos pelo homem e a compreensão que temos dele, do que sentimos e compreendemos acerca de seu Criador. Por outro lado, a falsa percepção acerca do homem está diretamente relacionada à falsa percepção acerca da Divindade. Quer nosso conceito acerca de Deus baseie-se no discernimento espiritual, na simples fé, ou na conjetura ignorante, tal conceito determinará nossa atitude para com Sua criação e nossa forma de tratar nosso próximo.
Quando nosso conceito acerca da natureza de Deus se distancia da verdade, o conceito que temos de nosso próximo como Seu filho, também fica gravemente distorcido. Sob tais circunstâncias, a indignidade moral pode tornar-se tão comum, a ponto de ser considerada como padrão. É então que mandamentos bíblicos como: “Não matarás”, “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo”, “Fazei o bem aos que vos odeiam” e “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles” Êxodo 20:13, 16; Lucas 6:27; Mateus 7:12. parecem desprovidos de autoridade, reduzidos a tímidas recomendações. Lamentavelmente, há muita evidência, hoje em dia, de pouco caso em relação à autoridade bíblica.
Essa tendência, porém, não possui base sólida, é reversível e pode até mesmo ser evitada. Ao procurarmos com diligência a correta compreensão acerca do criador divino e do relacionamento do homem com Ele, cultivamos o sólido comportamento moral e ético de que a sociedade tanto precisa. Fundamental a essa compreensão é nos apercebermos da terna paternidade e maternidade de Deus como a única Mente, o Espírito infinito, que concede todo o bem, o preservador da lei e da ordem, o protetor da inocência, o instrutor da verdade e da integridade, o destruidor da maldição adâmica, o sanador da impureza, da injustiça, da desigualdade e defensor do verdadeiro valor do homem como Seu descendente espiritual completo. É o próprio Amor divino, proporcionando sempre unidade e harmonia a toda a sua criação. Esse é o justo e todo poderoso Deus a quem o “grande e primeiro mandamento” ordena que amemos de todo o pensamento, sentimento e desejo.
Ter apreço pela origem divina do homem com tão profunda abnegação, significa descobrir nossa verdadeira identidade como reflexo de Deus e, assim, discernir a identidade espiritual de nosso próximo. O reconhecimento da verdadeira natureza de cada um de nós faz com que nos tratemos com honradez e respeito. Faz com que vivamos conscientes do amor do Pai para com todos nós, isto é, cada homem, mulher e criança, independente de nível sócio-econômico, raça, educação, ou credo. Na criação divina não existem muitas mentes conflitantes, mas apenas a expressão individualizada da única inteligência suprema e infinita. A Descobridora e Fundadora da Ciência CristãChristian Science (kris'tiann sai'ennss), Mary Baker Eddy, assim o descreve em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras: “Com um só Pai, isto é, Deus, toda a família humana consistiria de irmãos; e com uma Mente só, ou seja, Deus, ou o bem, a fraternidade dos homens consistiria de Amor e Verdade, e teria a unidade do Princípio e o poder espiritual que constituem a Ciência divina.” Ciência e Saúde, pp. 469–470.
Esse ideal torna-se tangível à medida que sentimos e vivenciamos nosso relacionamento com Deus. As divisões radicais, as aspirações agressivas, as lideranças egoístas tornam-se sem sentido e desprovidas de poder, diante de nossa identificação espiritual. O desejo materialista de levarmos vantagem sobre o outro se desfaz diante do reconhecimento da bênção e graça divina que pairam sobre nós, por sermos filhos de Deus e pela certeza de que somos abençoados com Sua ilimitada provisão. Dessa maneira, aprendemos a viver em coletividade, honesta e pacificamente. Nessa fraternidade espiritual não há motivo para mentir, roubar, enganar ou prejudicar. A imagem do homem corrupto, fragmentado e presunçoso se dissipa quando apenas motivos divinos nos impelem.
Nosso amor a Deus, portanto, tem tudo a ver com o amor que sentimos pela humanidade. Do mais profundo amor a Deus emergem a moralidade e a ética que satisfarão ao desejo da sociedade por um povo que viva harmoniosamente em coletividade. Só assim cada um de nós poderá encontrar sua inteireza como filho de Deus.
