As pessoas, ao empenharem-se em encontrar o sentido da vida, muitas vezes se deparam com estranho paradoxo. Na tentativa de encontrar a razão e o objetivo da existência, homens e mulheres deixam-se naturalmente atrair para a religião. A maioria das pessoas acha que tem de haver alguma coisa a mais do que o raciocínio limitado da mentalidade humana, tem de haver algo sagrado, que dê uma resposta válida sobre o significado real da vida. No entanto, é exatamente nesse interesse pela religião que pode surgir o paradoxo.
Por um lado, as pessoas às vezes recorrem a um ensinamento religioso ou a uma igreja em particular e logo se afastam, porque não acham respostas satisfatórias para suas perguntas e aspirações mais profundas. As questões não explicadas permanecem “mistérios”. Por outro lado, as pessoas também perdem o interesse pela religião quando sentem que uma igreja se considera dona de todas as respostas. Talvez tenham a impressão de estar sendo doutrinadas, ao invés de sentirem-se incluídas na busca conjunta de soluções viáveis. Talvez até sintam uma espécie de condescendência por parte da igreja, como se a capacidade delas, de pensar e orar, não fosse realmente significativa.
Talvez, tanto a pessoa que investiga a religião, como as igrejas que a apresentam, precisem compreender mais a fundo a verdadeira importância das perguntas, bem como das respostas. Quanto à igreja, seus membros podem, com razão, ter a convicção de que os ensinamentos religiosos contêm a revelação daquilo que ajudará a humanidade a desenvolver sua própria salvação, a revelação até mesmo do que vem a ser a realidade. Há, no entanto, uma diferença fundamental entre essa convicção sincera e a crença sutil de que esses adeptos tenham, como indivíduos, entendido inteiramente essas respostas, de que sejam possuidores de um conhecimento superior e de que, em vista disso, tenham o monopólio da verdade.
A primeira convicção, a de que existem respostas, é o que dá a uma igreja seu sentido de missão, o que a leva a ser uma presença no mundo, uma influência em prol do progresso e do desenvolvimento espiritual. A segunda atitude, porém, a suposição da própria supremacia religosa ou, em outras palavras, o egotismo do dogma, pode arruinar a missão de uma igreja. Esse egotismo vai levando a congregação a fechar-se em si mesma e a se tornar exclusivista. Por fim, a busca da Verdade fica reduzida à tentativa de meramente formalizar a religiosidade e perpetuar uma doutrina baseada numa determinada pessoa.
No ministério da igreja, faz mais sentido reconhecer que, em verdade, toda a humanidade está empenhada numa busca comum. Certamente, se nossa vida foi tocada, elevada, curada e redimida pelo que vislumbramos da verdade espiritual, queremos compartilhar essa luz com outras pessoas. Mas porventura não continuamos todos a levantar questões? Não estamos todos ainda nos esforçando?
E há tanto para aprender das próprias perguntas! das nossas, e das de nosso próximo. Talvez seja válido considerar que um aspecto importante da missão de qualquer igreja é simplesmente o de ajudar as pessoas a fazerem mais perguntas adequadas. Se, para chegar às respostas apropriadas em nossa vida, confiamos em nossa crescente compreensão de Deus e da verdade espiritual, por que não transmitir essa mesma confiança àqueles que queremos ajudar? Em última análise, e de qualquer maneira, as coisas sempre haverão de se resolver entre o indivíduo e Deus. Houve tão somente um Salvador pessoal, e esse foi Cristo Jesus. Os outros todos são discípulos, aliás, todos nós juntos, e apenas principiantes.
Uma das coisas mais importantes para mim nos meus primeiros contatos com a Ciência Cristã, foi como a Ciência me ajudou a pôr minhas próprias perguntas em perspectiva. Ampliou-se o significado de muitas coisas. Em vez de pensar em como eu podia usar a Verdade, comecei a me perguntar como a Verdade poderia usar a mim. As perguntas começaram a focalizar menos as minhas necessidades pessoais, e mais a maneira como outros poderiam ser abençoados. Logo minhas interrogações afastaram-se do enigma da existência material e se voltaram para a realidade do ser espiritual. Em vez das incongruências da vida na matéria, passaram a enfocar a glória da vida em Deus, o Amor divino. E comecei a vislumbrar que as respostas, as soluções, a cura, seriam encontradas na espiritualidade. Era, e ainda é, preciso ceder. Restam todavia muitas perguntas.
A Ciência Cristã, a lei de Deus em sua aplicação prática na existência humana, deu-me muitíssimo mais do que uma forma de religião, deu-me a convicção fundamental e a confiança de que Deus é bom, de que Ele é inteiramente bom. Essa verdade singela tem implicações profundas. Significa que o homem, na verdade, não pode ser um mortal carregado de pecados nem um mortal doente. Deus, o criador inteiramente bom, o Espírito infinito, a Mente onipotente, certamente fez Sua obra para que esta O expresse. Nós somos criados e mantidos à Sua imagem, somos, com efeito, Seu reflexo espiritual.
A compreensão dessa verdade por meio da oração e do sentido espiritual, respondeu muitas perguntas para muitas pessoas, deu-lhes nova vida, curou-as. Mas para prosseguir com a Ciência Cristã, cada estudante aceita uma exigência absolutamente indispensável, compreendendo que esta só é atendida na maneira de viver de cada um. Como a Sra. Eddy escreve: “A respeito da religião, a pergunta é: Demonstra ela as suas doutrinas?” Message to The Mother Church for 1900, p. 4.
Todo estudante reconhece que o mundo se defronta agora, e se defrontará nos anos vindouros, com desafios sérios e prementes. Há sempre novas exigências, novas perguntas. O chamado à demonstração, à cura, persiste. Mas todos podemos receber grande consolo desta promessa, feita por Cristo Jesus a todos os que o seguem: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á.” Mateus 7:7.
As respostas são importantes, e Deus guiará cada um de nós às respostas de que precisamos para tornar nossa vida mais brilhante, mais completa e mais útil. Mas, acolhamos de bom grado as perguntas, também. São vitais, todas elas. E enquanto todos nós buscamos respostas, podemos continuar a formular melhores perguntas, perguntas desprendidas de interesses egoístas, perguntas que ajudam a satisfazer às necessidades de toda a humanidade, e que sempre nos aproximam a Deus.
 
    
