Como decerto muitos se recordam, o primeiro livro da Bíblia depois dos Evangelhos é o livro de Atos, não palavras, mas atos. E também é provável que saibamos que durante algumas centenas de anos depois de Cristo Jesus, houve um período de grande vitalidade. As curas semelhantes às efetuadas durante o ministério de Jesus, eram freqüentes e amplamente conhecidas.
Os líderes da Igreja no período inicial, pessoas reconhecidas como dirigentes da Igreja na época anterior ao Credo Nicênico, tais como Tertuliano, Cipriano e Irineu, reportam curas de paralisias, dos efeitos de acidentes e até mesmo de casos em que se venceu a morte. O livro A Cura Cristã, de Evelyn Frost, relata a prova irrefutável dessas curas durante os primórdios da Igreja cristã.
Evelyn Frost escreve: “Uma das mais valiosas provas que encontramos fora do Novo Testamento é a obra de Irineu. .. .” Ela cita Irineu a mencionar que foi restituída a vista aos cegos, a audição aos surdos; a expulsão de toda sorte de demônios; a cura de paralíticos e a solução eficaz de efeitos de acidentes.
“Além disso”, escreve Evelyn Frost, “Irineu mostra que esses milagres de cura eram bem conhecidos dos leitores pagãos, eram efetuados tanto em não-cristãos como em cristãos, e com freqüência eram fator de conversão daqueles.” Evelyn Frost, Christian Healing (Londres: A. R. Mowbray & Co. Limited, 1954), pp. 65, 66.
Com algumas exceções aqui e ali ao longo dos séculos seguintes, essas curas cristãs desapareceram. Mas pouco tempo depois do aparecimento da Ciência Cristã
Christian Science (kris´tiann sai´ennss), a cura cristã surgiu de novo como prova irrefutável. No início do século vinte outros grupos e congregações cristãs interessaram-se pela cura por meio da oração.
Sem dúvida que Deus não deixou de ser Deus nos séculos intermediários. E as leis do ser também não foram mudadas. Então o que é que mudou? Não terá sido o pensamento humano, primeiro perdendo a espiritualidade que permitiu a cura e depois perdendo até mesmo a esperança e expectativa da cura, racionalizando que a cura era desnecessária e, mais tarde, produzindo os argumentos da sua impossibilidade? Mas quando reapareceu um pouco da compreensão espiritual original de Deus, a cura surgiu de novo. Isso talvez nos ajude a perceber a importância da qualidade de nosso pensamento, se queremos testemunhar de novo a cura cristã nos dias de hoje.
Podemos supor que a qualidade de nosso pensamento é comum e que nada existe nele de errado ou pecaminoso em particular. Não obstante, talvez nos interroguemos por que não há mais curas ou curas melhores em nossa vida. O fato é que nosso pensamento talvez não seja tão espiritual ou receptivo como imaginamos.
Às vezes é boa idéia analisar o conteúdo de nosso pensamento. Fazê-lo pode ser tão surpreendente como esvaziar uma bolsa de mulher ou a gaveta da cômoda de um homem, uma variedade impressionante!
O que é que se encontra no seu pensamento? Interesse vital pela cura e igual interesse pelo modo de viver que a proporciona? Ou pelo contrário, entusiasmo por toda sorte de viagens, jantares e diversões, em vez do desejo de estudo espiritual? Será que somos cépticos, quanto à possibilidade de haver cura?
Quais são as prioridades do nosso pensamento? Haverá alguma coisa que sempre tenha prioridade sobre o tempo disponível para Deus? Existe conhecimento próprio crescente, existe o desejo de ver dissolvido algum interesse pessoal adamantino? Acaso manifestamos cada vez mais gratidão, humildade, amor? Existe disciplina espiritual em nossa vida? Ou, pelo contrário, haverá apenas uma multiplicidade de idéias desconexas, fragmentos de pensamento envelhecido aqui, um versículo favorito ali, uma declaração espiritual desgastada acolá?
Esse processo de seleção é crucial para a espiritualização do pensamento e contribui para trazer à nossa vida uma noção mais natural da cura cristã. A manutenção da cura cristã não é possível, se não houver profundo envolvimento no modo de vida que a favorece.
O alcance do caráter ou do pensamento humano é surpreendente. Conhecemos, é claro, o trajeto entre a criminalidade e a santidade. Mas há, também, uma distância inacreditável entre a assim chamada apreciação vagamente ansiosa e aborrecida das coisas, baseada no sentido material comum, e o vislumbre da presença tangível e harmoniosa do governo da única Mente sempre presente, Deus. Todos nós podemos ter esses vislumbres. E graças a eles, esta declaração de Jesus aos fariseus adquire novo significado: “Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! ou lá está! porque o reino de Deus está dentro em vós.” Lucas 17:20, 21.
Em vez de aceitar como verdade a idéia de que nosso campo de trabalho é o mundo que a mente humana, mortal e recalcitrante vê, a Ciência Cristã oferece nova perspectiva, ensinando que Deus é a Mente, ou inteligência, de tudo o que Ele criou. Ao aceitar a única Mente e as exigências espirituais produzidas em nós por essa aceitação, começamos a descobrir em nós próprios uma surpreendente dimensão espiritual que não sonháramos ser possível. Adquirimos novas esperanças, crescente compreensão espiritual da lei e do controle de Deus, e assim diminui a crença cega na aparência material.
Escrevendo sobre esse processo de mudança espiritual, que pode ser chamado de novo nascimento, Mary Baker Eddy comenta: “Esse nascimento espiritual desvenda ao entendimento extasiado um conceito muito mais elevado e mais santo da supremacia do Espírito, e do homem feito à Sua semelhança, homem que reflete o poder divino de curar os doentes.” Miscellaneous Writings, p. 17.
Nosso desejo de explicar a falta de cura é mudado em virtude disso para o desejo de servir a Deus e explorar esse novo mundo, esse reino que se abre perante nós. À medida que isso acontece, começamos a apreender a Ciência do Cristianismo, ou melhor dito, reconhecemos o domínio que o Princípio divino tem sobre nós. Não só restaura nossas expectativas de cura, mas promove a cura. Mostra-nos, de novo, a natureza do cristianismo como religião de atos.
Filho meu, guarda o mandamento de teu pai,
e não deixes a instrução de tua mãe. .. .
Quando caminhares, isso te guiará;
quando te deitares, te guardará;
quando acordares, falará contigo.
Porque o mandamento é lâmpada e a instrução luz,
e as repreensões da disciplina são o caminho da vida.
Provérbios 6:20, 22, 23
 
    
