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Amor espiritual por nossos amigos

Da edição de maio de 1989 dO Arauto da Ciência Cristã


Há tempos venho pensando nessa questão da amizade, acerca de Deus como Amor universal e também como essas duas idéias se ligam entre si.

No início, a questão toda parecia um quebra-cabeça. De um lado, as pessoas. Elas têm amigos, sendo alguns deles mais chegados do que outros, por razões diversas. Por outro lado, a Bíblia diz-nos que Deus é Amor e que Ele é o primeiro e o último, Ver 1 João 4:8; Apoc. 22:13. o Tudo e o Único. Se existe apenas um Ser infinito, que é o próprio Amor, como explicar a existência de bilhões de pessoas, cujos amigos variam em grau de proximidade?

Comecei a resolver esse quebra-cabeça faz algum tempo. As peças começaram a se encaixar como resultado de uma experiência que tive na escola, durante a adolescência. Eu tinha uma amiga com quem passava muito tempo e com quem me divertia bastante. Aí, um dia, constatei que não conseguia mais aturar a presença dela. Era ridículo. Ainda a queria bem, mas tudo o que ela dizia ou fazia, era motivo de irritação. Afastei-me dela. Minha frustração era enorme, porém. Não queria magoá-la, mas não conseguia explicar meus sentimentos. Sendo Cientista Cristã, pus-me a estudar a Bíblia. Também examinei o que a Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã
Christian Science (kris’tiann sai’ennss), Mary Baker Eddy, escreveu sobre o amor. E orei bastante.

A resposta que recebi da oração, mais parecia um paradoxo, mas esse paradoxo resolveu meu quebra-cabeça sobre o Amor e a amizade. Foi assim: para ser melhor como amiga e amar ainda mais, era preciso eu deixar de amar minha amiga como personalidade humana, e em vez disso, amar-lhe a individualidade, reconhecendo nela o homem, o reflexo perfeito de Deus.

Lembrem-se de que Cristo Jesus agia como amigo. Ele é nosso exemplo para tudo. A Bíblia diz-nos que Jesus tinha grande amor por Lázaro. Ver João 11:1–044. No entanto, quando soube que seu amigo Lázaro havia morrido, Jesus encarou o acontecimento como oportunidade para glorificar a Deus e Seu Filho. Para Jesus, não deve ter sido fácil colocar de lado o sentimento de apego pessoal. Ele “agitou-se no espírito e comoveu-se.” Jesus chorou. E o povo disse: "Vede quanto o amava!” Jesus tinha grande amor por Lázaro, não apenas amor humano, mas amava-o como a idéia espiritual e eterna de Deus. Esse amor e essa compreensão da natureza real do homem capacitaram Jesus a ressuscitar Lázaro dentre os mortos. A Sra. Eddy escreve no livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras: “Jesus ressuscitou Lázaro pela compreensão de que Lázaro nunca havia morrido, e não por admitir que seu corpo havia morrido e depois voltara a viver. Tivesse Jesus acreditado que Lázaro havia vivido ou morrido no corpo, o Mestre teria estado no mesmo plano de crença em que estavam aqueles que enterraram o corpo, e não o poderia ter ressuscitado.” Ciência e Saúde, p. 75. Jesus deve ter-se elevado por completo, acima do amor pelo amigo como ente mortal dotado de personalidade aprazível; deve ter amado o homem perfeito criado por Deus. Esse amor espiritual e impessoal cura mediante o poder do Amor, Deus.

Parece estranho dizer que amar um amigo com menor atenção pela personalidade humana, possa realmente significar maior amor por esse amigo. Mas essa foi a revelação que tive, ao orar a Deus para compreender e expressar o Amor, de forma mais clara e coerente. Como amava minha amiga pelo mero fato de ser pessoa dotada de certas características grandiosas, sofria as conseqüências de, às vezes, desgostar-me com ela por suas características não tão dignas de apreço. E assim meu amor oscilava. Mas se a amasse, e amasse todas as pessoas, como sendo sempre filhos de Deus, espirituais e perfeitos, meu amor seria constante. E assim foi. Curei-me do sentimento de irritação contra minha amiga. Vejo tantas coisas boas a se manifestarem nela. Para mim, ela brilha na luz de Cristo, refletindo “o resplendor da glória [de Deus] e a expressão exata do seu Ser”. Hebreus 1:3. Ainda hoje somos amigas, uma amizade firme e constante. Mas também sinto igual amor pelas outras pessoas.

Alegra-me que a situação tenha sido curada. Sou, porém, ainda mais grata pela centelha de luz sobre a verdadeira amizade, porque ela hoje é um facho de luz. E à medida que minha compreensão do Amor e de amor cresce, desaparece o paradoxo entre o sentido universal e o sentido pessoal de amor.

Algumas pessoas diriam que é frio o amor que não se atém à personalidade humana. Mas não é! É cálido. Torna-nos amigos melhores, porque somos coerentes. É impossível não ter amor e apreço pelo reflexo perfeito de Deus, por isso nos tornamos amigos dignos de confiança, gratos e felizes, ao invés de amigos que agem segundo as circunstâncias. Isso também torna nossa vida mais feliz, pois não sofremos os altos e baixos que fariam nossos amigos sofrerem. Tornamo-nos mais calmos, mais cheios de paz.

Há pouco tempo uma pessoa foi grosseira comigo sem motivo. Ao invés de chorar ou enfurecer-me ou tentar imaginar o por quê, pensei de imediato: “Isto não pode me atingir; não tem origem nem substância e não faz parte desse indivíduo, que é bom por ser filho de Deus.” Não reagi nem contei o caso a ninguém, mas continuei expressando amor por essa pessoa que, mais tarde e de modo inesperado, foi gentil comigo e com outros. O amor espiritual ajudou-nos a ambas, e a outros também.

O amor espiritual e imparcial ajuda ainda de outra maneira muito importante. O sentimento de posse e o ciúme muitas vezes acham-se associados a amizades baseadas na personalidade humana. Aquele que abriga esses sentimentos, sente-se infeliz e torna igualmente infeliz o objeto desses sentimentos. Quando amamos sem centralizar nosso afeto na personalidade mortal, deixa de existir em nossas relações esse tipo de sentimento.

Quando cursava a faculdade, tinha uma amiga a quem prezava muito, principalmente por sua expressão de Amor universal: ela era sincera e gentil com todos. Durante algum tempo, isso me incomodou porque eu desejava receber tratamento diferenciado, isto é, ser tratada com maior deferência, pois éramos amigas chegadas. Bem depressa dei-me conta de que era a própria universalidade do seu amor o que fazia dela uma amiga tão boa. Na amizade, o amor é, de certa forma, como a chama da vela. Se cercamos a chama e a cobrimos de modo que só a pessoa de nossa preferência possa vê-la, a chama emite pouca luz e calor, até apagar-se por completo. Se a deixamos em plena liberdade para iluminar, a chama se eleva, brilha mais forte e emite mais calor para todos. De igual modo, se uma pessoa abriga sentimento de posse para com outra e tem ciúmes do amor dessa pessoa, esse amor enfraquece e é sufocado. Conquanto outros não possam desfrutar essa amizade, no final, essa pessoa também deixará de usufruir dela. Mas se alguém sustenta e acalenta o bem existente nos outros, todos o verão e serão beneficiados. Desse modo, o amor universal e espiritual pelos amigos é uma bênção para todos. Devemos ser tal como a chama alta e forte, que acalenta e abrilhanta a vida de todos, por igual.

O aspecto prático e eficaz de amar a bondade espiritual dos outros não reside na lógica humana, mas na lei do Princípio todo-poderoso, o Amor. Deus é o Amor universal, e o homem é Seu reflexo. Portanto, o homem expressa, incorpora e é amor universal. Isso faz parte de nossa natureza, porque faz parte do caráter de Deus, do Amor. A lei de Deus é a única lei. Por isso Amor é o Princípio do universo e precisa ser demonstrado e vivido.

A “Regra para motivos e atos” no Manual de A Igreja Mãe, de autoria da Sra. Eddy, reflete essa lei. Diz em parte: “Nem a animosidade nem o afeto puramente pessoal devem ditar os motivos e os atos dos membros de A Igreja Mãe. Na Ciência, só o Amor divino governa o homem, e o Cientista Cristão reflete os suaves encantos do Amor, pela repreensão do pecado, pela verdadeira fraternidade, caridade e perdão.” Man., 1° do artigo 8°. Essa é a chave do amor espiritual: ser governado pela lei divina do Amor.

Como o amor universal é a lei de Deus, ou seja, a Sua vontade para o homem, é preciso vivenciá-lo agora. Há quem reconheça que esse Amor inefável é, em última análise, a realidade, mas pensa que seja algo que só mais tarde poderemos demonstrar, quando formos “mais espirituais”. No entanto, amar os outros, inclusive os amigos mais chegados, hoje mesmo e sem parcialidade, é ser espiritual agora. A Sra. Eddy escreve: “Impessoalizar cientificamente o sentido material de existência, ao invés de apegar-se à personalidade, é a lição de hoje.” Miscellaneous Writings, p. 310. Muito embora a natureza humana não ache natural o aspecto impessoal, de fato é a coisa mais natural que podemos fazer, porque o amor universal é nossa natureza; agora mesmo e sempre, somos a expressão individual do próprio Amor universal.

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