Minha mulher e eu comemoramos alegremente nossos vinte e cinco anos de casamento, quase ao mesmo tempo em que um casal amigo comemorava os seus sessenta e sete anos de matrimônio. Do ponto de vista cronológico, nossa comemoração parecia algo insignificante, comparada à de nossos amigos. Mesmo assim, as bodas de prata são um acontecimento especial, o que nos proporcionou nova oportunidade de ser gratos pela contribuição que os ensinamentos da Ciência Cristã oferecem às relações matrimoniais.
A ocasião nos fez lembrar principalmente uma conversa algumas semanas antes de nosso enlace, ao visitar uns amigos que estavam casados fazia muitos anos, ambos praticistas da Ciência Cristã. Eles nos contaram sobre alguns pontos práticos da vida conjugal, que haviam discernido graças à Ciência Cristã. Não nos disseram que o casamento seria sempre "um mar de rosas". Ao invés, falaram de respeito mútuo, de sacrifício, de paciência constante, de provações superadas, de conflitos resolvidos, de mal-entendidos corrigidos e, acima de tudo, de um amor crescente que inclui valores espirituais e não a mera atração física ou o emocionalismo humano.
Com terna admiração pela mulher, o marido contou-nos um fato notável ocorrido no dia do casamento deles. Uma empregada muito querida, que trabalhava para sua esposa e havia ajudado a unir o jovem casal, não pôde comparecer ao enlace. Sabedores de que ela estava com erisipela, os dois deixaram a recepção festiva de seu enlace a fim de levar-lhe algo da alegria dessas núpcias. Ele disse que enquanto sua mulher orava, foi como se alguém tivesse aberto as persianas de um quarto escuro e deixado entrar a luz. Sumiram todas as evidências da enfermidade e a empregada foi completamente curada.
Essa experiência ilustra uma frase muito interessante que a Sra. Eddy fez constar no capítulo intitulado "O matrimônio," em Ciência e Saúde: "A felicidade é espiritual, nascida da Verdade e do Amor. Não é egoísta; por isso não pode existir sozinha, mas exige que toda a humanidade dela compartilhe." Ciência e Saúde, p. 57. Embora contenha apenas catorze páginas, esse capítulo encerra um tesouro de introspecções espirituais sobre como casamento se beneficia e fortalece, quando o relacionamento entre marido e mulher se baseia em qualidades espirituais inerentes à inteireza do homem como filho do Pai-Mãe Deus, tal como o ensina a Ciência Cristã, ao invés de na crença geralmente aceita de que os homens e as mulheres são seres mortais não realizados e incompletos.
Da compreensão da natureza altruística do amor a que a Sra. Eddy se refere e que ficou evidenciada na experiência do casal que visitamos, resultou uma bênção. Durante nossa visita, eles nos deram muitas idéias. Falaram que o amor, cujo centro é Deus, ao invés de ser centralizado no humano, expressa a universalidade de Deus, que é Amor divino. Envolve a todos os que estão dentro do alcance de seu pensamento. Partilha sua alegria espiritual, ao invés de açambarcá-la num ciúme doentio. O altruísmo leva ao casamento a influência sanadora do Amor divino, a atuar sobre os contatos diários nos afazeres humanos. Numa época em que predomina o divórcio, o esforço para expressar maior dose de altruísmo tem efeito curativo definitivo.
Relacionada com o que acabamos de dizer, outra qualidade espiritual que ensinamentos da Ciência Cristã salientam, é a humildade, o desejo de pôr de lado a força de vontade e o amor próprio, deixando que Deus governe. A Ciência Cristã não procura ditar ou regular o modo de pensar das pessoas. Ao contrário, anima os indivíduos a ouvir com humildade a orientação que procede da Mente divina, Deus. Na proporção em que tanto o marido como a mulher aceitam a Mente única e infinita, Deus, como a força governante de suas vidas, cessa a animosidade que brota da teimosia empedernida e da crença de que há duas mentes em conflito entre si. A esse respeito, a injunção bíblica: "Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus" Filip. 2:5., tem importância especial e aplicação prática. A humildade promove respeito mais profundo pelo cônjuge e desfaz todo sentimento de dominação pessoal. A personalidade dominante, cuja pretensão é impor-se, não pode coexistir com o reconhecimento humilde da supremacia da Mente divina.
A paciência também é uma qualidade espiritual essencial a um casamento saudável e feliz. Diariamente, tanto o marido como a esposa crescem em sua compreensão da unicidade, isto é, a união do homem com Deus. Não existe um meio de forçar ou acelerar o crescimento de outra pessoa nesse sentido. Paciência, porém, não é sinônimo de sentimento de má-vontade que se limita a "tolerar" as falhas do outro. A verdadeira paciência acalenta a integridade do outro, inclui a confiança na capacidade de o outro cônjuge reconhecer o que é certo e, acima de tudo, a confiar no fato de que Deus está dirigindo e protegendo aquele ente querido, bem como a nós mesmos. Com senso de humor sardônico e bem pouca confiança na humanidade, certa vez alguém saiu-se com esta: "A paciência é uma virtude; se você a possui, tanto melhor; raramente se encontra nas mulheres; nunca num homem!" Ora, esse sentimento não tem nada de verdadeiro. A paciência é natural quando se baseia na confiança de que Deus governa nossa vida. Quando marido e mulher se tornam pais, essa paciência adquire ainda outro significado. A paciência é uma qualidade que santifica as relações matrimoniais.
Tornar-se pai ou mãe é outro aspecto importante do casamento, a ser abençoado pelos ensinamentos da Ciência Cristã. A Igreja de Cristo, Cientista, não procura influenciar os casais na questão do planejamento familiar. Mas defende o mais elevado padrão nas questões morais. O Sermão do Monte e os Dez Mandamentos não caíram em desuso para os estudantes de Ciência Cristã. Antes pelo contrário. A fidelidade ao pacto matrimonial que Cristo Jesus e Moisés ensinaram, tem tanto significado hoje, como nos tempos bíblicos. As atitudes contemporâneas e a permissividade na sociedade hodierna tendem a caracterizar a fidelidade matrimonial como restritiva e fora de moda. Sem sombra de dúvida, é a condescendência própria e a infidelidade que escravizam, embora se pregue existir uma "necessidade" peremptória de parceiros múltiplos a fim de chegar a uma sensação de total realização.
A fidelidade traz a verdadeira liberdade porque capacita o marido a descobrir mais de sua ternura inata, de sua compaixão e de seu amor. Permite à esposa vivenciar mais de seu vigor natural, de sua coragem e sabedoria. Quando os casais aceitam no matrimônio as doces responsabilidades, da paternidade e da maternidade, a fidelidade aos votos matrimoniais torna-se um alicerce sólido como rocha, sobre o qual construir a família, bem como um exemplo vivo para os próprios filhos.
Questões como essas são obviamente de natureza grave e a Ciência Cristã salienta a seriedade do compromisso que se assume no casamento. Ao mesmo tempo reconhece, todavia, o valor de uma qualidade bem diferente: o humor. Um bom senso de humor faz muito para suavizar e curar as tensões de muitos matrimônios. Numa palestra proferida em 1893, a Sra. Eddy aplaudiu a afirmação de um ministro de sua época, o Reverendo Talmadge, que disse que "há espirituosidade, humor e vivacidade duradouros entre o povo de Deus" Miscellaneous Writings, p. 117.. Essa capacidade de rir não quer dizer que o indivíduo ignora as dificuldades da vida, mas contribui para colocar tais problemas na devida perspectiva e abrir o pensamento para a doce presença do poder de Deus, o Cristo, que ajuda a curar e a aliviar os fardos do infortúnio humano. Cultivar a agonia decorrente de um problema, jamais resultou na solução desse problema, mas encobre com negra nuvem o horizonte de nossa esperança. A alegria espiritual dentro do casamento é um raio de luz que transpassa o véu da tristeza, trazendo consigo a promessa de dias melhores.
O altruísmo, a humildade, a paciência, a fidelidade, o bom-humor, são algumas das qualidades que elevam nossa compreensão do casamento para além do mero relacionamento físico, para a expressão mais completa de integridade espiritual. Igualmente importantes são as qualidades de ternura, meiguice, auto-sacrifício, pureza, vigor e equilíbrio. As Escrituras Sagradas e os escritos de autoria da Sra. Eddy são ricos em qualidades espirituais a serem tomadas em consideração e aplicadas na vida conjugal. E nisso reside uma diferença significativa entre a Ciência Cristã e os conselhos sobre o casamento cuja base é a mera psicologia humana. A Ciência do Cristianismo coloca Deus em primeiro lugar e revela a natureza totalmente incorpórea e o estado imaculado do homem como idéia de Deus. Homens e mulheres que estão começando uma vida a dois podem enriquecer o casamento com um conceito mais elevado de masculinidade e feminilidade mediante o estudo do significado espiritual das Escrituras, tal como é exposto pela Ciência Cristã. É interessante notar, por exemplo, que a primeira demonstração que Jesus fez da capacidade do poder-Cristo para transformar vidas humanas, foi numa festa de casamento em Caná da Galiléia (ver João 2:1-11.)
Em essência, foi isso o que minha mulher e eu aprendemos na visita àqueles dois Cientistas Cristãos experientes, há mais de vinte e cinco anos. Aquela conversa nos proporcionou uma compreensão mais profunda da influência curativa da Ciência Cristã aplicada ao casamento e a firme decisão de viver aquilo que havíamos aprendido. Não imaginamos que logo depois teríamos de colocar em prática o que havíamos decidido! Na noite anterior ao casamento, numa festa em nossa homenagem, minha mãe prendeu a mão na porta de um carro, quando alguém, inadvertidamente, trancou a porta por dentro e a fechou com toda força.
Depois de livrá-la do veículo fechado, minha mãe e eu nos retiramos para uma sala afastada do local das festividades, enquanto minha noiva recebia as visitas, dando-nos a oportunidade de orar. Ali naquele cantinho oramos para compreender melhor o poder-Cristo, que sabíamos estava tão presente em nossa festa de casamento, como estivera nas bodas de Caná. Vi bem claro que a filha de Deus é sempre espiritual, com integridade física sempre abrigada com Cristo, em Deus, intocada por acidentes e suas seqüelas. Audível e silenciosamente afirmamos que o homem nunca pode ser separado da presença de Deus, que o relacionamento entre Deus e o homem é inquebrantável, que as condições materiais não podem privar o homem de sua herança de alegria espiritual deixada por Deus. Sabía mos que essas afirmações estavam agindo como lei de restauração espiritual com a onipotência de Deus a dar-lhe vigência. Dentro de pouco tempo, houve significativa mudança na aparência da mão que fora esmagada e nos reunimos ao grupo de convivas. No dia seguinte, mamãe esteve conosco na fila para receber os cumprimentos, dando apertos de mãos a várias centenas de convidados, inteiramente livre de quaisquer seqüelas.
Desde então, tivemos muitas outras curas em nossa experiência, graças ao tratamento pela Ciência Cristã. Foram curas de males físicos e abalos mentais. Com efeito, tivemos casos em que provações foram superadas, conflitos resolvidos, mal-entendidos corrigidos. Tudo isso, porém, conscientizou-nos mais profundamente da importância de alicerçar o casamento sobre bases espirituais.
A Ciência Cristã não pede que ignoremos as responsabilidades atinentes ao casamento. Ao contrário, ajudo-nos a cumprir mais plenamente essas responsabilidades. Está claro que o nosso crescimento não é medido pelo transcorrer do tempo, mas antes pelo grau de nossa compreensão e manifestação das qualidades de Deus. O estudo da Ciência Cristã traz ao casamento tanto objetivo e diretriz, como bênção e esperança, que a Sra. Eddy resume em outro trecho do capítulo "O matrimônio" no seu livro Ciência e Saúde: "Oxalá o Cristo, a Verdade, esteja presente a todo altar nupcial para transformar a água em vinho e para dar à vida humana uma inspiração pela qual a existência espiritual e eterna do homem possa ser discernida."Ciência e Saúde, p. 65.
