Se Você For acreditar nos versos de certas canções populares e nas novelas românticas, você só precisa achar aquele alguém especial, aquele "amor que se encontra uma vez na vida", e você será feliz para sempre. Bem, eu não havia encontrado esse "alguém", mas tinha uma profissão e era feliz.
Certo dia, quando regressava das férias, fiquei chocada ao pensar que provavelmente ninguém se importaria se eu não voltasse nunca mais. Eu tinha amigos, mas como todos tinham sua própria atividade, é possível que nenhum deles sentisse minha falta por muito tempo. Alguma outra pessoa facilmente poderia ocupar meu cargo. Meus bens pessoais poderiam ser doados a qualquer pessoa. De repente, me senti muito só no mundo e comecei a pensar que precisava de alguém para amar.
Decidi orar como aprendemos na Ciência Cristã, a fim de vencer esse anseio. Por que recorrer à Ciência Cristã, em vez de empregar algum expediente humano simples para ampliar meus contatos sociais? É que eu desejava obter um conceito melhor, mais correto, acerca de mim mesma e dos outros, estava procurando compreender o Deus que é Amor, infinito, perfeito e eterno, procurando ver a mim mesma e a todos como Sua amada expressão. Queria reconhecer o que era verdadeiro acerca de mim e dos outros, ver cada um de nós como espiritual, completo, da maneira que Deus nos fez e não como se fôssemos mortais que tentam agrupar-se, todos marcados por fraquezas, medos e fracassos.
Sabia que, por ser Deus a origem e o suprimento de todo o bem, eu nunca ficaria frustrada ao volver-me a Ele de todo o coração, procurando em primeiro lugar Sua companhia.
Uma declaração de Ciência e Saúde, de autoria da Sra. Eddy, que eu conhecia havia anos, apareceu-me sob novo ângulo. Ela escreve: "O Amor divino sempre satisfez e sempre satisfará a todo necessidade humana." Anteriormente, ao estudar o trecho, eu não havia percebido que toda vez que, no passado, uma necessidade fora atendida, realmente fora o Amor divino que estivera atuando. Na verdade, não foram meus pais que supriram às minhas necessidades quando eu era criança, nem o foram os professores na escola. Eles estavam, de fato, refletindo o amor de Deus. Nem era o emprego, o dinheiro, o lugar certo para morar ou a idéia maravilhosa para um projeto, que estavam suprindo às minhas necessidades de adulta. Todas essas dádivas eram, em realidade, as manifestações do desvelo divino. O tempo todo, era Deus, a atividade do próprio Amor divino, quem estava suprindo às necessidades.
Esse discernimento me ajudou muito. Mostrou-me que eu já tinha numerosas razões para confiar em Deus, não em pessoas, em coisas ou na minha carreira, para sustentar-me e trazer-me alegria e satisfação. Deu-me a certeza de que Deus se importava comigo. Ele já o havia provado em numerosas ocasiões.
Certas pessoas, à primeira vista, talvez sintam dificuldade em se lembrar ao menos de algumas bênçãos recebidas. Às vezes, a vida é bem dura e Deus parece estar muito distante. Mas precisamos apreciar as evidências do bem e reconhecê-las como indícios da sólida realidade espiritual, em vez de encará-las como acaso, sorte ou coincidência.
Não é uma questão de mero otimismo ou "pensamento positivo". É uma questão de reconhecer o próprio Deus, que é bom. Isso requer confiança no poder e na realidade do bem, apesar das aparências em contrário. Requer também a firme recusa em considerar banais as evidências do bem. As pequenas coisas: o vendedor gentil que encontra o item certo para um presente, a beleza de um pôr do sol, de um concerto de Beethoven ao piano, ou o sorriso sincero de algum conhecido não são insignificantes nem banais quando os vemos como a expressão de Deus, o bem.
Considerar os acontecimentos a partir dessa perspectiva centrada em Deus, mesmo durante momentos difíceis da vida humana, revela-nos lampejos preciosos da proximidade de Deus. Não importa o que esteja acontecendo, Deus está sempre perto de nós e a nosso favor.
Para alcançar tal perspectiva centrada em Deus, Cristo Jesus é nosso Guia e Mestre. O tema abrangente de seu ensinamento e de seu ministério exemplar era o amor espiritual, absoluto e infalível. Cristo Jesus vivia em perfeita harmonia com o Amor que é Deus. O amor que sentia e demonstrava era tudo, menos banal. Era extraordinariamente completo, rico e prático, supria às necessidades das pessoas, restaurava e transformava vidas. E ele conseguia expressá-lo sob circunstâncias extremamente difíceis, porque reconhecia que a fonte desse amor era o próprio Amor infinito e divino, que não pode ser limitado por condições humanas. Declarou: "O Pai que permanece em mim, faz as suas obras" e, mais tarde, acrescentou: "Como o Pai me amou, também eu vos amei; permanecei no meu amor."
O amor de Deus não é constituído dos altos e baixos que caracterizam o erroneamente chamado amor que está tão em evidência no cenário humano. Não é distribuído de acordo com o "merecimento", nem é um jogo de azar em que algumas pessoas recebem muito e outras, quase nada. O amor que Deus dá é constante e firme. Como a luz do sol, ele ilumina e abençoa todas as coisas, simplesmente porque é Amor. E naturalmente realiza e satisfaz. Seria de fato amoroso, se não o fizesse? Esse amor puro e espiritual é o único amor que realmente existe.
As dificuldades dos assim chamados "casos de amor" são geralmente oriundas do equívoco básico de que o amor se origina no homem. Se assim fosse, haveria tantas variedades de amor, quantas pessoas existem e teria igual número de falhas. As pessoas poderiam ligá-lo e desligá-lo, à vontade.
Sem dúvida, esse é o conceito de amor que o mundo nos oferece, mas não é aquele que o ensinamento inspirado da Bíblia apresenta. Não há nada de transitório ou caprichoso no amor descrito na primeira epístola de João: "Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, ao ponto de sermos chamados filhos de Deus." O homem não é a fonte do amor, ele o expressa. Amar é natural para o homem criado por Deus, assim como ser amado também o é.
Eu queria ter alguém a quem amar. Mas quando comecei a raciocinar de maneira correta, isto é, espiritualmente, percebi que meu desejo já estava satisfeito. Eu tinha toda a humanidade e toda a criação às quais querer bem, assim como Deus quer bem a todos nós. Todos eram membros de minha família e eu da deles, porque somos filhos de Deus. Os laços de Amor divino nos unem para sempre, portanto ninguém realmente está "de fora" nem sozinho.
Além disso, compreendi melhor qual era o propósito de minha vida, muito além do humanamente profissional ou meramente pessoal. Todo indivíduo, como idéia espiritual de Deus, reflete o amor de Deus por todo o Seu universo. Logo, o amor que refletimos de Deus não se destina a ser absorvido, não existe apenas para nosso deleite, mas precisa propagar-se em todas as direções, até onde a consciência alcança. E precisamos perceber e nos beneficiar de todo o amor de Deus que os outros refletem.
Esse amor refletido não está centrado de maneira mesquinha em duas pessoas ou em algumas mais. Ele inclui a todos. A alegria que alguns de meus amigos casados encontraram entre si, não pertence apenas a eles, também ilumina minha vida. A afeição que os membros de uma família expressam uns pelos outros, que um amigo tem por outro, mesmo o carinho entre seres humanos e animais de estimação, são evidências do amor de Deus, do qual cada um é beneficiário.
Nenhum tipo de relacionamento é uma expressão mais importante do Amor divino, do que outro. A tendência de classificar certas pessoas ou certos relacionamentos como especiais e outros como sem importância, pode levar-nos a ignorar evidências significativas de amor e a cair na armadilha de acreditar que não somos amados, quando de fato estamos cercados pelo amor em muitas formas diferentes e cada um de nós preenche um nicho particular, indispensável.
Como Deus, o Amor, é infinito, Deus, o Amor, está em todo lugar. Por isso, deve haver amor suficiente por toda parte, porque o Amor nunca está ausente. A Sra. Eddy escreve em Ciência e Saúde: "A profundidade, a largura, a altura, o poder, a majestade e a glória do Amor infinito enchem todo o espaço. Isso é o bastante!"
Talvez, de início, a idéia do amor universal possa parecer muito vaga para nos satisfazer. Mas tive uma experiência simples que ilustra quão prático e palpável esse amor de fato é. Num fim de semana longo, junto com um feriado, quando a solidão se fez sentir de maneira esmagadora, lembro-me de ter orado a Deus por inspiração. Veio-me o seguinte pensamento: "Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca." É um trecho do relato em que Cristo Jesus alimenta cinco mil pessoas, mas naquele momento vi que era uma terna mensagem de Deus para mim, para que eu abrisse os olhos e apreciasse todo o amor que estava presente em minha vida naquele exato momento, de inúmeras formas. Fui obediente e logo aquela nuvem de solidão se desfez.
A descoberta de que cada indivíduo, sem exceção, é a imagem do Amor, a imagem de Deus, levou-me a reconsiderar vários relacionamentos que eu julgava insignificantes e superficiais. Comecei a reconhecer a beleza e a bênção que havia neles e a apreciar cada indivíduo, em vez de deixar alguns de lado por "não serem especiais", já que não correspondiam a nenhum estereótipo "romântico". Disso resultou um aprofundamento geral de minhas relações e uma compreensão sempre maior de que cada uma delas é valiosa, cada uma preenche seu lugar especial em minha vida.
Estando mais disposta a receber a bênção do Amor infinito e a expressá-lo amplamente, aprendi mais sobre a beleza do universo de Deus e sobre o amor de Deus por mim. Descobri que há um lugar certo para mim nesse universo. E o mais importante foi que percebi com maior clareza o terno e amoroso Deus, que formou o universo e a mim, um Deus cujo propósito para toda a Sua família é sempre bom, satisfaz profundamente e está repleto de amor.
Somente em Deus, ó minha alma,
espera silenciosa, porque dele vem a minha esperança.
Confiai nele, ó povo, em todo tempo; derramai perante
ele o vosso coração. Deus é nosso refúgio.
Salmos 62:5, 8
