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“A dança faz com que eu me apóie mais em Deus”

Da edição de abril de 1992 dO Arauto da Ciência Cristã


O encanto do balé repousa sobre a dedicação a um treinamento rigoroso. Manter em mente o objetivo final em meio a horas de exercícios, aperfeiçoar os movimentos retornando aos princípios básicos, tudo isso constitui um símbolo de algo mais elevado, do Balé de Louisville, Kentucky, nos Estados Unidos. Nesta entrevista, Kristen nos fala das lições espirituais por ela aprendidas no decorrer de sua carreira.

Conte-nos alguma coisa sobre o trabalho que o balé envolve: os ensaios e as outras atividades que ocorrem nos bastidores. Quando as pessoas assistem a um espetáculo de balé, elas só vêem o que ocorre no palco, e eu acho, às vezes, que não têm idéia de tudo o que o balé exige. Quando começamos a juntar as peças para um espetáculo, a coreografia normalmente toma as duas primeiras semanas de um período de quatro, dedicado aos ensaios. Freqüentemente, tudo é bastante intensivo. Trabalhamos com coreógrafos, prazos, limites de tempo. É preciso aprender as coisas depressa e com eficiência, lembrando de todas as correções ou mudanças introduzidas, especialmente se um determinado balé deixa de ser ensaiado por alguns dias.

Lembro-me de uma ocasião, há cerca de quatro ou cinco anos, em que fui designada de repente para uma variação e tinha de aprendê-la. Era uma série complexa de passos e contagens. Ao fim de duas horas, eles perceberam que tinham me ensinado a parte errada. Tive de ir para casa, aquela noite, com uma gravação da música e refazer tudo. Foi muito grande a tentação de pensar: “Estou frita.” Tive de lutar contra ela. Procurei entender que a fadiga pode ser vencida pela força espiritual. Ensaiei o trecho certo e no dia seguinte estava pronta para ir em frente.

Geralmente, quando estou dançando, uma coisa me vem clara à mente, algo que Cristo Jesus disse: “Eu nada posso fazer de mim mesmo.” Fica muito fácil entrar no palco quando estou em comunhão com Deus e consciente de meu relacionamento com Ele, como Seu reflexo. Sinto a pressão afrouxar. A dança se torna uma forma de celebração harmoniosa: compreendo que tudo o que eu faço tem origem em Deus.

Com freqüência, durante o espetáculo, tenho um forte sentimento de amor para com a platéia. Isso tem me ajudado a vencer o nervosismo e a sensação de incapacidade, especialmente no desempenho de papéis mais difíceis.

Sei que Deus me ama e Sua vontade sempre é a perfeição. Um trecho de Salmos também tem me auxiliado quando tenho papéis difíceis: “O Senhor firma os passos do homem bom, e no seu caminho se compraz.”

Quando diz que o homem é o reflexo de Deus, o que isso significa para você? Quando penso no termo reflexo, lembro de uma afirmação contida no livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras. Nela, Mary Baker Eddy, a Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã,Christian Science (kris´tiann sai´ennss) diz: “Tal como teu reflexo aparece no espelho, assim também tu, sendo espiritual, és o reflexo de Deus.” Isso para mim significa que o homem representa e expressa a Deus, o bem. Portanto, o homem expressa qualidades tais como inteligência, amor, vida, integridade, pureza, graça, beleza, harmonia nas formas, e a lista continua e continua. As qualidades mais elevadas que associamos a Deus, as boas e duráveis, são manifestas no homem e estão à disposição dele. O homem é o reflexo completo de Deus. Acho que devemos dar provas disso diariamente, despindo-nos de tudo aquilo que argumenta em contrário.

Ao ligar esse fato espiritual a meu trabalho, é fácil eu ver que o reflexo não é o corpo material. Às vezes, ao observar outro dançarino ou dançarina, sinto-me enormemente inspirada por algo que seus movimentos sugerem. Não que essa inspiração esteja na atividade física. É algo superior que dá um vislumbre da natureza divina. É maravilhoso estar na platéia quando ocorre um momento desses, todos parecem dar um suspiro de satisfação.

Qual é seu objetivo naquilo que faz? Servir a Deus. Expressar aquilo que Deus é e aquilo que Ele faz pelo homem. As qualidades de Deus transparecem no homem e nós temos a habilidade de demonstrar esse fato.

Você acha que a Ciência Cristã tem relação com sua dança? No balé aprendo constantemente algo sobre a Ciência Cristã e esta me ajuda no balé. Por exemplo, se executo um passo de balé partindo de uma posição errada, isto é, sem segurança e sem alegria, geralmente a coisa não funciona. E isso se dá, não porque os princípios fundamentais do balé sejam incompletos, ou insuficientes, ou falhos, ou intransponíveis, mas porque eu preciso crescer na aplicação daquilo que eu sei serem leis e regras, porque há algo mais que eu preciso estudar e compreender. Acho que isso estabelece um paralelo com a Ciência Cristã, pois nela nos esforçamos para obedecer a Deus como o único Princípio divino. Torna-se natural ligar esse modo de pensar, essa devoção, ao dançar, expressando qualidades tais como obediência, energia, precisão e graça nas formas. Parece-me natural ter altos ideais e expectativas elevadas.

No preparo para dançar e nos ensaios, é muito salientado o aspecto físico do trabalho? Não tanto. Com toda sinceridade, nunca senti realmente conflito algum entre a Ciência Cristã e o aspecto físico da dança. Pelo contrário, a dança tem me levado a me apoiar mais em Deus, mais do que eu talvez tivesse feito em outras circunstâncias. A cada dia sinto a absoluta necessidade de vencer a materialidade e a limitação. Além disso, provar que sou capaz de fazer isso por meio da compreensão espiritual, é agradável e proporciona um senso de libertação. O balé me ensina algumas lições espirituais. Praticamente me esqueço do corpo, quando me esforço para aperfeiçoar determinado movimento. Dores e mal-estares geralmente me lembram de desafiar a sugestão de que eu sou a fonte do movimento.

No momento, temos cinco ou seis médicos ou fisioterapeutas que dão assistência à companhia e entram e saem com freqüência dos estúdios. Sempre há um médico nos bastidores, durante os espetáculos. Nunca havia encontrado esse esquema em outras companhias e, a princípio, dava-me a impressão de que eles estavam ali esperando que algo acontecesse. Orando a esse respeito, porém, comecei a entender que isso não era verdade. Fiquei contente por esses médicos, já tão atarefados, dedicarem seu tempo ao balé, para aqueles que têm necessidade de sua ajuda. Alguns, se não todos, sabem que eu sou Cientista Cristã e respeitam minhas decisões. Nunca tentariam me forçar a fazer algo que eu não quisesse.

Os responsáveis pela companhia também sabem que eu sou Cientista Cristã e sempre têm consideração comigo enquanto resolvo, pela oração, alguma dificuldade física. Em minha experiência, a Ciência Cristã tem sido eficaz e rápida em curar problemas relacionados com a dança. Não sinto nenhuma dor que seja seqüela de algum machucado antigo, curado completamente mediante a Ciência Cristã.

Venci uma inflamação crônica nos tendões dos tornozelos e dos quadris, distensões e espasmos musculares, entorses e provavelmente muito mais coisas de que agora não me lembro. Quando surge algum machucado, muitas vezes parece acontecer uma semana antes de uma estréia. É quase cômico. Não posso deixar de duvidar da inteligência da matéria. Preciso mesmo vigiar minhas conversas no trabalho, porque os colegas falam muito de dores e machucados. Procuro não participar dessas conversas, nem aceitar que essas coisas sejam verdadeiras para algum filho de Deus.

Certa vez, eu estava ensaiando com um par e, num determinado movimento da dança ele me agarrava de forma errada, repetidamente. Disse-lhe que estava fazendo muita pressão em minhas costelas, mas parecia que ele não conseguia se corrigir. Chegou a um ponto em que eu não podia suportar o mais leve toque nas costelas. Respeitei os desejos da direção da companhia e fui ao médico. Foi tirada a radiografia do tecido muscular e constatou-se um rompimento desse tecido, entre as costelas. Durante um dia ou dois não pude ensaiar aquela parte. Mas fiquei orando com uma idéia tirada do Christian Science Sentinel ou do The Christian Science Journal, a respeito de relacionamentos. Aplicava-se a esse caso de forma direta. O artigo explicava o fato de que a lei divina une as idéias de Deus, por isso elas só podem trabalhar em harmonia. Não há atrito entre os filhos de Deus. Um não pode limitar a liberdade do outro nem interferir em sua atividade correta.

Sabia que meu par não havia feito aquilo de propósito e que a Mente divina estava governando tanto a ele quanto a mim. Os braços do Amor divino estavam me amparando. Esses pensamentos foram ótimos e eu me apeguei a eles, alguns dias depois, durante o espetáculo. Não tive dor nem medo da dor. Nenhuma condição material poderia me impedir de expressar qualidades do Espírito. Eu sabia que o Espírito, Deus, não poderia estar sufocado dentro da matéria e eu, como Seu representante, também não. Estava curada. Uma idéia que eu considero muito útil para combater a sensação de que algo ruim sempre tem a última palavra, é a de que nós somos aquilo que a Mente criou, não o que a matéria fez.

Essas mesmas verdades me ajudaram em outra circunstância que ocorreu algum tempo depois. Durante um ensaio, os instrutores que estavam na direção, geralmente muito tolerantes, começaram a ficar impacientes com meu par. Continuavam a fazê-lo exercitar um determinado segmento da coreografia, obrigando-o a repetir. Eu sentia a tensão se avolumando e os movimentos foram se tornando mais descuidados. Só conseguia pensar que alguém ia acabar se machucando. Não demorou muito, caí estatelada no chão. Ao cair, todo meu peso estava apoiado sobre um pé e um cotovelo. Embora todos estivessem preocupados, levantei-me e terminei o ensaio, mas o pé latejava.

Logo tive a oportunidade de fazer um intervalo até a noite e fui para casa. Telefonei a uma praticista da Ciência Cristã e ela concordou em orar comigo. Fiquei confiante de que seria curada. Foi maravilhoso, tive a sensação de que poderia continuar meu trabalho com todo o potencial necessário. Foi ótimo voltar a examinar as verdades que haviam me ajudado no outro caso.

Em Ciência e Saúde, a Sra. Eddy escreve: “Tudo o que Deus dá, move-se de acordo com Ele, refletindo bondade e poder.” Com relação aos instrutores no ensaio, eu precisei compreender que eles não poderiam interferir em minha harmonia. Eu estava totalmente sob o cuidado e a jurisdição de Deus. Senti apenas umas duas pontadas de dor, naquela noite, e nada mais.

Como você lida com as pressões da concorrência? No início de minha vida profissional, foi difícil. Tive de compreender que Deus dá todo o bem para todos nós. Já participei de concursos em que havia mais de cem bailarinas comigo, disputando uma ou duas vagas, por isso tive de aprender a me esforçar diariamente para submeter minha vontade ao plano de Deus, da Mente divina. Sei que aquilo que parece ser completamente certo no nível humano, tem suas armadilhas. Aprendi isso sofrendo, às vezes. Portanto, geralmente não me é muito difícil renunciar à vontade própria e ceder à onisciência de Deus. Sei que aquilo que quero pode não ser o melhor para mim.

Já lhe aconteceu de sentir que perde a inspiração, devido às exigências rigorosas do balé? Muitas vezes entrei na rotina de aulas, exercícios para aquecer os músculos e ensaios. Às vezes parece que as coisas não vão para a frente e falta inspiração. Descobri que isso sempre é devido a meu pensamento errôneo de que eu sou a fonte do movimento. É difícil se rebelar contra esse conceito falso todos os dias, todas as horas, mas tenho de me manter alerta para isso. Se não, as coisas se tornam asfixiantes.

A glória pertence a Deus. Estou afirmando que meu suprimento vem de Deus, o bem inexaurível e ilimitado. Aprendi a amar esta afirmação da Sra. Eddy: “Deus descansa em atividade.” Deus é Mente divina e eu sou, em realidade, a expressão da Mente. Ela me sustenta.

Às vezes dou aulas de balé, embora não muito durante a temporada de espetáculos. Nessas épocas de muita ocupação, e também quando ajudo um coreógrafo a ensaiar uma peça, constato que quando amo aquilo que faço e desfruto qualidades divinas ao expressá-las, recebo todas as idéias e toda a inspiração de que preciso.

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