Comecei A Subir aquela escada alta. Quando parei, próxima ao topo, minhas mãos estavam geladas e úmidas e eu sentia alguma dificuldade em respirar. Mas sabia que tudo daria certo. Empurrei a escada e joguei-me para trás, diretamente nos braços de amigos que já estavam esperando que eu caísse. Essa queda era um exercício de confiança e fazia parte das aulas de interpretação teatral que eu estava tomando. Foi uma aula impressionante!
Certa noite, deparei com uma exortação surpreendente que me fez lembrar dessa experiência. Dizia o seguinte: “Tenha a coragem de ter fé em Deus e no homem” (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany de autoria da Sra. Eddy). Até aquele momento, eu nunca havia pensado em fé como algo que exija coragem, mas quanto mais pensava naquela exortação, mais ela me ajudava a entender o que a fé significa.
Algumas vezes pensamos que fé em Deus é algo que temos ou simplesmente não temos. Talvez não pensemos com freqüência na possibilidade de cultivar essa confiança de forma consciente. O texto que mencionei acima, porém, mostra a necessidade de assumir o papel ativo, corajoso mesmo, de ter fé. A verdadeira fé não consiste em uma negação fraca e cega da realidade, nem mesmo em uma devoção superficial e fingida. A verdadeira fé é destemida e requer força e integridade espirituais, pois freqüentemente exige que nos posicionemos contra práticas geralmente aceitas na sociedade.
Ter fé em alguma coisa exige que estejamos dispostos a abandonar a escada e jogarmo-nos para trás, por assim dizer, com a certeza de que aquilo em que depositamos nossa fé não nos deixará cair. Pode ser difícil fazer isso, a menos que entendamos por que podemos confiar. Eu jamais teria me jogado da escada, se não tivesse certeza de que aqueles amigos, com seus braços fortes, estariam prontos para me segurar.
A fé em Deus pode ser encarada assim também. Talvez precisemos de coragem para confiar no cuidado de Deus, quando estamos amedrontados pelas circunstâncias, ou por problemas físicos, ou mesmo por algum hábito destrutivo que parece fora de nosso controle. Mas a Ciência Cristã revela que podemos ter a ousadia de confiar no poder de Deus para nos auxiliar e curar, pois a Ciência nos mostra por que podemos confiar nEle. Não se trata de simplesmente ter esperança, associada a uma espécie de fé cega, de que Deus nos ajudará. A confiança espiritual envolve a compreensão da eterna presença, do todo-poder de Deus, bem como do amor infinito que Ele tem pelo homem. Como um belo versículo bíblico assegura: "O Deus eterno é a tua habitação, e por baixo de ti estende os braços eternos.”
A Ciência Cristã explica que confiar em Deus implica confiar também na idéia de Deus, ou seja, o homem. A Bíblia revela que o homem foi criado à semelhança de Deus, que é Amor, Espírito, Mente. Conseqüentemente, o homem não é o mortal imperfeito, falível e vulnerável que parece ser. Em realidade, ele é espiritual e é também perfeito porque é semelhante a Deus.
Confiar em Deus e no homem significa viver essa verdade, ser o homem de Deus. Essa confiança exige que, como homem e manifestação de Deus, expressemos Amor divino ao invés de amor possessivo, adoremos o Espírito ao invés de dinheiro, comida ou automóveis, que nossos pensamentos se originem na Mente do Cristo e não sejam um conjunto de crenças e opiniões humanas limitadas e limitantes. Ter fé dessa forma é um trabalho árduo, que realmente exige coragem, mas que se torna mais fácil à medida que deixamos de agarrar-nos a apoios materiais que não merecem nossa confiança e passamos a nos firmar cada vez mais no poder de Deus, o Amor divino, que é imutável e está sempre presente.
Uma passagem em Ciência e Saúde, de autoria da Sra. Eddy, aponta algumas das influências que procuram impedir que tenhamos a coragem de confiar em Deus e no homem que Ele criou. Diz o seguinte: “Na atualidade, os mortais progridem lentamente, pelo receio de serem julgados ridículos. São escravos da moda, do orgulho e dos sentidos.... Devemos enfadar-nos do fugidio e do falso, e não acalentar nada que cause empecilho à nossa mais elevada noção do eu.”
A moda, o orgulho e a sensualidade constituem argumentos fortes para que evitemos, a todo custo, a espiritualidade e a disciplina da confiança em Deus e no homem real. Exageram e vangloriam-se e prometem (falsamente) que se os obedecermos, seremos benquistos e felizes. Em realidade, porém, nos retardam o progresso espiritual, que constitui o progresso de nossa vida, ao concentrar nossa atenção e afeição na materialidade. Assim fazendo, seguimos exatamente na direção errada.
Cultivar valores materialistas “fugidios e falsos”, para satisfazer o orgulho ou por prazer físico, faz com que nos afastemos de Deus e de todo o Seu bem, que é puro, eterno e satisfaz-nos plenamente. Faz-nos também perder de vista nossa verdadeira individualidade, que é tudo o que realmente desejamos expressar, pois ela é perfeita e inclui toda a alegria, paz, amor, inteligência, felicidade. Essa individualidade perfeita é nossa agora. Mas temos de demonstrá-la. Quer dizer que temos de voltar as costas às influências materialistas e ter coragem de confiar em Deus e no homem.
A não ser que tenhamos a ousadia de fazer isso, não estaremos, de certa forma, simplesmente adiando ou prolongando o processo inevitável de enfrentar a realidade? A falta de disposição em ter fé faz com que nosso progresso em compreender a Vida e em descobrir e viver nossa verdadeira identidade seja lento. Conseqüentemente, ficamos impedidos de sentir a alegria duradoura e a paz do ser verdadeiro. A Vida é Deus e o homem é a expressão dessa Vida perfeita. Mais cedo ou mais tarde, todos teremos de aprender essa lição e deixar que nossa vida seja a prova vívida dessa verdade. É nisso que consiste a vida; portanto, confiar em Deus e no homem é essencial para que tenhamos uma vida plena de realizações, de progresso e de sinceridade.
Em nossos esforços por confiar de verdade, lembremo-nos de que não estamos sozinhos, lutando contra forças permanentes, realmente malévolas. As influências materialistas são fugidias e falsas. Todo o poder verdadeiro está nas mãos de Deus, naquelas mãos amorosas que nos sustêm sempre. Quando temos a coragem de viver nossa fé em Deus, sentimos a alegria de provar cada vez mais quem realmente somos: o homem perfeito criado por Deus.
