Quando Ficamos Sabendo que uma região foi devastada pelo fogo, por enchentes, furacões ou terremotos, são despertados em nós sentimentos de preocupação e solidariedade. Ansiamos por expressar nossa compaixão de maneira prática.
Porém, talvez nos sintamos impotentes, seja devido às proporções da tragédia, seja pelo fato de ter ocorrido muito longe de onde vivemos, ou ainda por não podermos oferecer auxílio financeiro às vítimas, pode ser até que nós mesmos estejamos enfrentando um desastre em nossa vida pessoal ou profissional e simplesmente não nos sentimos capazes de demonstrar atenção extra a pessoas que nem conhecemos.
Mesmo assim, algo em nosso íntimo ainda persiste, querendo ajudar. Tal como na parábola do bom samaritano contada por Cristo Jesus, registrada em Lucas, não queremos ter a sensação de tomar a mesma atitude do sacerdote e do levita, que não ofereceram nenhum tipo de ajuda ao homem que estava ferido. Queremos ter uma participação, mesmo que pequena, nesse processo de restauração e cura na vida de pessoas que foram prejudicadas. Por onde podemos começar?
O simples desejo de ajudar já é um ponto de partida importante. Esse desejo evidencia um coração pleno de altruísmo, de amor, que não deveria ser subestimado ou negligenciado, pois está firmado em algo divino. O desejo de cuidar de quem necessita, encorajando-o e restaurando seu ânimo, é uma evidência de que Deus, o Amor divino, está agindo em nós. E a finalidade desse Amor não é simplesmente inspirar compaixão pelos outros; ele também nos mostra de que forma podemos expressar esse interesse.
A oração é uma das maneiras menos óbvias, mas nem por isso menos significativas, de auxiliar aqueles que se defrontam com acontecimentos trágicos. Mas que diferença faz a oração? Os desastres que ocorrem na natureza não apresentam uma destruição irreversível, um fato consumado? Será que ainda resta alguma coisa a ser feita depois de uma vida ter sido destruída ou arruinada por toneladas de escombros?
Tradicionalmente, as pessoas que crêem em Deus e que se defrontaram com calamidades oraram em busca de força e conforto para seguir em frente. E, através dessa oração, muitos encontraram coragem e idéias para reconstruírem sua vida.
Contudo, na Ciência Cristã, somos levados a ir um pouco além em nossa oração. Somos encorajados a raciocinar a partir da revelação bíblica: “Todas as cousas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (João).
A oração na Ciência Cristã significa reconhecer que o Espírito, não a matéria, é o criador de tudo o que realmente existe. Significa reconhecer que tudo o que se relaciona com a criação de Deus está em conformidade com Seu ser, que a criação de Deus harmoniza-se cientificamente com Deus e Este não cria Seu oposto. Portanto, como Espírito infinito, Ele não cria materialmente, mas espiritualmente. Como o autor perpétuo da vida, Ele não causa a morte. Como Princípio divino universal, Ele não permite que haja caos nem perturbação. Como Amor onipotente, Ele não autoriza desastres. Em outras palavras, a criação de Deus, inclusive o homem, tem de ser como Ele é, estando eternamente em harmonia e a salvo. O homem criado por Deus não é um forasteiro ou um estranho para Deus, mas sim é a emanação ou expressão eterna do Espírito, Deus, sempre amado e bem cuidado.
Obviamente, a oração baseada nesse sentido espiritual de Deus e do homem contradiz totalmente a evidência apresentada por nossos sentidos físicos. Partindo de uma perspectiva estritamente física, parecemos mortais, vulneráveis, sujeitos à devastação causada por atos incontroláveis da natureza. Mas a Ciência Cristã pergunta: “Será que esta é a verdadeira imagem do homem? Como é que um Pai amoroso poderia submeter Suas criaturas a tal destruição?” Nosso sentido espiritual nos diz que o Amor divino é onipotente e que nenhuma aparente força material pode abalar a união eterna do homem com Deus. A aniquilação, a destruição e o extermínio não podem coexistir com o Amor divino onipotente. A verdadeira natureza da criação de Deus é semelhante a Ele, é perfeita e espiritual. Não está limitada ao que vemos com os sentidos físicos, mas é totalmente substancial e real. A criação é uma expressão do único criador infinito, não sendo antagônica a Ele.
Assim, na Ciência Cristã, o propósito básico da oração que fazemos, quando volvemos nosso pensamento para as calamidades que ocorrem na natureza, é perceber o relacionamento indestrutível do Pai com Seus filhos. É compreender que o homem é espiritual, a verdadeira imagem de Deus e, portanto, não está sujeito aos desastres da natureza. É reconhecer que o cuidado do Amor divino pelo homem é contínuo e sólido. Essa maneira espiritual de ver recusa-se a aceitar um panorama que sugere um violento episódio capaz de separar-nos de Deus.
Cristo Jesus falou longamente sobre o relacionamento entre Deus e Seus filhos. Embora possamos nos inclinar a pensar que Jesus se referia exclusivamente à sua identidade, quando lemos as várias passagens em que ele menciona Pai e Filho, podemos também aceitar a idéia de que elas se referem à nossa verdadeira filiação espiritual, uma vez que Jesus revelou que Deus é nosso Pai, tanto quanto dele.
Naturalmente, o fato de Jesus ter nascido de uma virgem e sua demonstração incomparável do poder curativo da Verdade, identificam-no notavelmente como o “Filho de Deus”. Contudo, na proporção em que aceitamos nossa filiação conferida por Deus e seguimos o exemplo de Jesus, descobrimos que os ensinamentos sobre Pai-Filho aplicam-se a nós como criação de Deus. Tomemos, por exemplo, as declarações de Jesus no livro de João: “O Filho nada pode fazer de si mesmo, senão somente aquilo que vir fazer o Pai”; “Tudo quanto o Pai tem é meu”; “E aquele que me enviou está comigo, não me deixou só.”
Nossa verdadeira identidade não se destaca, nesses ensinamentos de nosso Mestre? Não será a verdade desse relacionamento indissolúvel, na forma como vem à consciência humana, o Cristo salvador?
Somos salvos à medida que compreendemos e pomos em prática em nossa vida a verdade crística de que os filhos e filhas de Deus não agem por si mesmos, mas movem-se somente quando impelidos por Deus. Somos protegidos quando vemos que o filho de Deus possui todas as coisas que o Pai lhe dá, nem mais, nem menos. Somos resgatados quando compreendemos que o homem criado por Deus nunca está só, nunca está fora da presença do Pai.
A Ciência Cristã se refere a esse íntimo relacionamento entre Pai e filho como “reflexo”. O homem criado por Deus reflete a Deus. O homem de Deus é a imagem exata do que Deus é. O filho reflete a bondade, a perfeição e a imortalidade do Pai. O filho não pode conhecer ou sentir aquilo que o Pai não conhece nem sente. Portanto, o filho não pode ser vítima de um desastre repentino, sem que o Pai também o seja. A Sra. Eddy afirma em Ciência e Saúde: “As relações entre Deus e o homem, o Princípio divino e a idéia divina, são indestrutíveis na Ciência; e a Ciência não concebe um desgarrar-se da harmonia, nem um retornar à harmonia, mas sustenta que a ordem divina ou lei espiritual, na qual Deus e tudo o que Ele cria são perfeitos e eternos, permaneceu inalterada em sua história eterna.”
Se compreendermos, por pouco que seja, o relacionamento indiviso entre Deus e o homem, teremos algo sagrado e inestimável para partilhar com aqueles que se defrontam com a tragédia. Podemos concretizar nosso desejo de ajudar através da oração pela qual podemos compreender que, justamente ali onde a perda e a morte parecem estar, o Amor divino está cuidando ternamente de seus filhos. Podemos orar para compreender que a criação de Deus reflete eternamente a natureza divina e tem de estar isenta de um sentido mortal de desastre.
Através da oração e do estudo diário da Bíblia e dos escritos da Sra. Eddy, que explicam a Ciência do Cristo, começamos a compreender que o ser do homem não é indefeso. Vislumbramos a verdade que o Cristo revela, de que não foi nosso Pai que nos pôs à mercê dos ventos, das ondas nem do fogo. E com prazer reconhecemos a verdade espiritual de que não há nada acidental, nada aterrorizante e nada destrutivo no reino de Deus.
Embora nossas demonstrações da autoridade divina sobre os desastres pareçam ser modestas, isso não significa que não podemos começar a testemunhar o amor salvador, protetor e onipotente de Deus, agora mesmo. A harmonia ininterrupta, resultante do cuidado de Deus por Seus filhos, está presente sempre e pode ser sentida e demonstrada.
