Existe todo um mundo de crianças precisando de amor e todo um mundo de amor materno que não está sendo usado realmente. Essa é uma observação que muitas pessoas poderiam fazer, com certa tristeza. Mas quando a chegou a essa conclusão, ela orou. Estava convencida de que esse tipo de desequilíbrio não é natural na criação de Deus e que a oração poderia tornar mais evidente o materno amor de Deus que inclui a todos. Nesta entrevista, ela e seu marido, falam com a redatora adjunta do Arauto, sobre os resultados da oração em família e na sala de aula de Sharon.
Elaine: Que lugar tem a oração na família de vocês e como é que vocês se apóiam na oração?
Sharon: A oração tornou-se uma parte importante na vida de cada um de nós três. Uma das idéias que Jim sempre transmitiu a nosso filho tem um significado muito importante para nós: para sair e enfrentar o mundo, é melhor estar tão suprido de idéias espirituais, quanto de alimento para seu corpo. Sempre dizemos que precisamos de duas refeições matinais.
Jim: Em um mundo que pode ser muito agitado, sempre tentamos achar, a cada dia, um tempinho para estarmos tranqüilos e atentos a Deus. Essa é uma parte essencial da oração. Outra parte importante é ter desejos corretos no coração desde o começo do dia, ir em frente com o desejo de ser abençoado e de abençoar.
Elaine: As pessoas têm conceitos diversos sobre Deus. Falem-nos das coisas importantes que vocês percebem a respeito de Deus e de Seu cuidado para com sua família.
Jim: Algo que para nós é muito importante, é o fato de que é possível conhecer, saber o que Deus é. Diariamente recebemos dEle idéias que nos ajudarão naquele dia. Temos pensado bastante sobre Deus como o próprio Princípio do universo, como o Amor divino. Esse Princípio divino, o Amor, ama imparcialmente todos os Seus filhos. Cada indivíduo é de grande valor aos olhos de Deus.
Elaine: Sharon, que efeito tem a oração para uma professora?
Sharon: Já lecionei em todos os níveis do primeiro grau, havendo normalmente de 25 a 29 alunos numa classe. Um dos pontos básicos de meu ensino é estar atenta ao que Deus me está revelando sobre cada aluno da classe. Quando se percebe o quanto cada aluno é distinto dos outros, estamos mais capacitados a atender às idéias corretas que satisfazem as necessidades de cada um.
Elaine: Quando você fala da individualidade das crianças, isso tem a ver com o que Jim dizia?
Sharon: Exatamente. A verdadeira individualidade delas é espiritual. Cada uma está estabelecida espiritual e singularmente como um dos filhos de Deus.
Elaine: Você ora pela classe?
Sharon: Decididamente, todas as manhãs. Sou muito grata pelas idéias que me vêm diariamente e que me mostram quem na classe necessita de um toque especial de amor maternal ou de encorajamento ou de um senso de disciplina, naquele dia.
Acho que uma das coisas mais úteis da Ciência Cristã é que ela me ajudou a separar da criança em si o mau comportamento que às vezes vemos numa classe. Na realidade, isso nunca faz parte da verdadeira identidade da criança. Pelo fato de esse mau comportamento ser tão evidentemente falso, para mim, à luz do que é verdadeiro quanto ao homem de Deus, os problemas de comportamento e disciplina, que parecem fazer parte da rotina do ensino, são resolvidos rápida e eficazmente.
Lembro-me de uma aluna que passou vários níveis de leitura num só ano. Sei que não foi unicamente por aquilo que eu lhe ensinei. Foi porque eu acreditava nela e a encorajava, assim foi ela que se ergueu às suas reais capacidades. Outra criança com sérios problemas de comportamento melhorou muitíssimo, tanto que, no final do ano os problemas haviam desaparecido.
Elaine: Há um bocado de bons professores, neste mundo, que confiam em seus alunos e realmente acreditam nas capacidades deles. Mas você fala em acreditar na natureza espiritual deles e compreender essa natureza, não é mesmo?
Sharon: Sim, e vejo que a Ciência Cristã me ajudou a saber que, em verdade, essas crianças têm uma individualidade perfeita e espiritual, sem falhas. Meu papel é o de descartar qualquer coisa que não esteja de acordo com esse fato. Reconhecer isso faz parte da oração que faço para mim mesma.
Elaine: Sharon, você já teve alunos com problemas de aprendizado ou com necessidades especiais?
Sharon: Sim, por alguns anos, dei aula para alunos com problemas de aprendizado. Também aí, um dos pontos básicos era alcançar essas crianças ao nível delas.
Houve um garotinho, lembro-me muito bem, que durante quatro anos não falara com ninguém no colégio, nem com amigos, professores, ninguém. Costumava empoleirar-se no alto de uns aparelhos de ginástica, porque era o único lugar onde podia refugiar-se de qualquer pessoa que quisesse falar com ele. Certo dia, resolvi segui-lo ao topo daquele aparelho; e foi lá que tivemos nossa primeira conversa.
Elaine: Isso deve ter sido uma surpresa para você.
Sharon: E como! Mas foi maravilhoso, porque foi muito natural. Ele viu que eu não me sentia à vontade lá no alto e prontificou-se a ajudar-me. Foi um instante de troca de afeto.
Elaine: Você já tinha orado sobre esse caso?
Sharon: Muito. Uma coisa que aprendi na Ciência Cristã é que não existe uma situação “sem progresso”. Talvez não nos apercebamos de imediato, mas estou convicta de que cada oração ajuda a conduzir para a solução que afinal aparece.
Elaine: Qual você acha que era o problema desse menino?
Sharon: Não sei tudo o que se passava com ele, mas sei que eu estava lidando com alguém que parecia inseguro e temeroso. E sabia que precisava orar para elevar meu pensamento acima desse ponto de vista.
Elaine: No mundo que nos rodeia parece haver uma porção de razões para as pessoas se sentirem inseguras e temerosas, ainda mais para uma criança.
Sharon: Mas não quando reconhecemos que cada um é perfeitamente mantido e formado pelo Pai-Mãe Deus.
Elaine: O conceito de Deus como Pai-Mãe é algo que você aprendeu com o estudo da Ciência Cristã?
Sharon: Sim. O amor que vem do Pai-Mãe Deus faz muito mais do que o amor de origem humana. Ele consola, em vez de asfixiar; ultrapassa o compadecimento, para chegar à cura.
Em minha classe fazemos às vezes um jogo chamado “apague e corrija.” Uma equação matemática errada, por exemplo, é escrita no quadro sem qualquer aviso. Os alunos têm de estar atentos para detectar o erro, apagá-lo e substituí-lo pela resposta correta. Para mim, isso exemplifica a atividade do Amor divino. O Pai-Mãe Amor põe a descoberto os erros materiais e os corrige com verdades curativas.
Isso me faz lembrar de outra experiência. Estávamos pensando em aumentar nossa família e se o faríamos através da adoção de uma criança ou se teríamos outro filho. Eu estava ciente de uma falta de equilíbrio muito grande. Sentia que tinha muito amor materno para dar e que o mundo estava cheio de crianças precisando de amor. Parecia-me simplesmente impossível que Deus não tivesse meios para equilibrar essa situação. E muitas coisas singulares aconteceram, desde que cheguei à conclusão de que, absolutamente, não poderia haver nenhum desequilíbrio, por excesso ou por escassez, na criação de Deus. O equilíbrio é sempre mantido pelo controle perfeito de Deus.
Não muito depois, tivemos um exemplo vivo disso. A assistente social da escola disse-me que haveria uma nova aluna em minha classe. Contoume que a menina era órfã e que havia pouco tempo fora colocada em um novo lar provisório, depois de haver sofrido violência física e sexual na casa onde estivera até esse momento. Quando vi a menina pela primeira vez, nunca vou me esquecer disso, tive uma sensação muito forte desse carinho maternal sobre o qual estivera orando.
Elaine: Você se refere a esse amor de Deus que é paterno e materno ao mesmo tempo?
Sharon: Sim. Ela estava muito assustada e insegura, precisava muito de afeição. Logo nos tornamos inseparáveis. Lembro-me de minhas colegas fazendo brincadeiras sobre minha pequena sombra. Onde quer que eu fosse, ela ia também.
Elaine: Que série ela freqüentava?
Sharon: Ela estava na terceira série do primário, na mesma série de meu filho Brett. Não demorei muito a pedir a ambos, Jim e Brett, que orassem a respeito da idéia de adotarmos a menina.
Elaine: Jim, qual foi sua reação a esse pedido?
Jim: Bem, acho que me surpreendi sobre a rapidez com que meu coração se abriu a essa possibilidade.
Elaine: Você conhecia a menina?
Jim: Não. Nas semanas seguintes, orei muito para entender o porquê dessa minha disposição tão imediata de pensar na adoção. O que percebi foi que Deus não é pequeno, nunca. Deus é infinito. O homem expressa esse Espírito e Amor, infinitos e divinos. É natural, pois, que o âmbito de nosso pensamento e nosso amor se expanda.
Elaine: Há, em verdade, uma base cristãmente científica para essa expansividade a que você se refere.
Jim: Sem dúvida. Tudo começa com a natureza de Deus como Amor infinito e com o fato de que o homem expressa a Deus. Não é como se coisas que antes não estivessem aí, começassem a jorrar sobre nós. Deus nos criou como idéias maravilhosamente completas e plenas. É natural e justo que, de acordo com Sua lei, nosso dia-a-dia se abra para essa inteireza e que, como conseqüência, ela se manifeste. Enquanto pensávamos a respeito de adotar essa menininha, sentimos uma receptividade crescente, e nosso filho também. Ele era filho único, mas enquanto ele também pensava sobre o assunto e orávamos juntos, como nós, ele se dispôs a abrir nosso lar para mais um membro da família.
Sharon: À medida que orávamos, nos dispusemos a atender à orientação de Deus a cada passo do caminho, deixando de lado nossa própria vontade. Jim participou de modo muito sábio e paternal. Pediu que eu me certificasse de que todos os detalhes estivessem legalmente esclarecidos para a adoção. Solicitei à assistente social da escola que procedesse a profunda investigação dos registros da criança. Foi difícil, pois não havia muitos dados. À medida que a criança se sentia mais segura, ela também se abria mais comigo. No começo ela só contava a história de que seus pais tinham morrido. Mas, de repente, ela conseguiu lembrar-se do nome do Estado onde nascera. Passei, então, essa informação à assistente social.
Elaine: Alguém já havia lhe perguntado sobre seus antecedentes e ela não conseguira dar nenhuma informação?
Sharon: Isso mesmo. Ela não se comunicava com ninguém. A assistente social ficou satisfeita de ter pelo menos um ponto de partida para essa investigação de registros. Não muito depois, ela veio com uma história surpreendente. Descobriuse que a criança havia sido raptada dois anos antes pelo casal que a maltratara tanto. Esse casal contara à menina que seus pais haviam morrido num acidente de automóvel, o que não era verdade. Os raptores, depois de a pegarem, mudaram diversas vezes de endereço, e tão depressa, que as autoridades não conseguiram encontrá-los.
Elaine: O ponto chave na investigação da assistente social, foi a menina ter-se lembrado do Estado em que nascera. Você acha que foi mera coincidência ela ter lembrado disso?
Sharon: Acho que isso fazia parte do plano de Deus em ação.
Elaine: Presumo que a menina foi logo devolvida a seus pais e que estes devem ter ficado muito gratos.
Sharon: Nós a pusemos num avião, e antes do Natal ela estava com os pais.
Elaine: Vocês não ficaram decepcionados?
Sharon: Não. Era tão óbvio que esse era o resultado do que Deus, passo a passo, estivera nos mostrando. O que era certo era ela estar de volta com sua família. E Deus concedeu-me muitas outras oportunidades de compartilhar esse sentido de amor maternal com outras crianças. Isso tem sido a nota tônica de meu ensino desde essa experiência.
Elaine: Jim, o que é que você teria a acrescentar a respeito desse Amor, paterno e materno?
Jim: Estou convencido de que um bom professor e um bom pai ou mãe expressam as qualidades do pastor. A Bíblia fala muito do pastor, no Salmo 23 e em outros trechos. O cuidado pastoral sempre começa em Deus. Ele é sua fonte. O cuidado que o pastor expressa vem a nós e por nós é expresso. Quando se expressam as qualidades do pastor, há bom ensino e bom cuidado paternal, pois um pastor cuida muito bem de seu rebanho. Temos de começar com uma clara idéia do que Deus é e do que Ele faz por Seus filhos. Isso sempre me ajuda a não me sentir sobrecarregado. Baseando-se nos ensinamentos de Cristo Jesus, João escreveu: “O perfeito amor lança fora o medo.” O Amor é Deus, o Princípio do universo. Em minha experiência, tenho visto o medo se dissolver mais rapidamente, quando esse grande amor de Deus é sentido realmente. Penso, também, que o medo é menor quando alguém percebe sua própria capacidade de amar, como foi o caso do garoto no pavilhão de ginástica.
Elaine: Se quisermos fazer orações que tenham ampla abrangência e que, de fato, ajudem, temos de entender que o amor de Deus sempre está presente e não pode ser excluído. Esse amor, o amor de Deus, tem de ser sentido, absolutamente. Não pode ser estancado.
Sharon: E ele também é refletido; esse amor espiritual não pode ser demonstrado sem que seja refletido de volta.
Jim: Quando penso na experiência de Sharon, como professora, vemme à memória uma passagem do livro da Sra. Eddy, Ciência e Saúde. Nele lemos: “O Amor é imparcial e universal na sua adaptação e nas suas dádivas.” Esse é o sentido de imparcialidade de que falamos, esse sentido do grande valor de cada um. E a adaptação do Amor, para mim, também está na natureza de Deus. O Amor divino satisfaz as necessidades de maneira correta, tudo se encaixando perfeitamente.
