Quando Era Menina, ajudava às vezes na limpeza da casa. Certo dia, lembro-me bem, precisávamos remover uma crosta gordurosa atrás do refrigerador. Pus-me logo a esfregar vigorosamente o local, mas mamãe mandou-me que parasse. Mostrou-me como aplicar detergente em toda a superfície. “Agora espere,” disse-me, “deixe o sabão fazer o trabalho.” Em pouco tempo, o que antes era uma grossa camada de sujeira havia amolecido e dissolvido. Depois de uns poucos minutos verifiquei que era muito fácil removê-la.
Lembrei-me desse episódio alguns anos depois, quando pedi a uma praticista da Ciência Cristã que me desse tratamento pela oração. Havia descoberto um caroço no seio e meus esforços de orar por mim mesma não haviam afastado o medo que tomara conta de meu pensamento. A praticista era uma velha amiga e sabia que eu era diligente e sistemática em minhas orações, confiante no poder, na presença e no amor infalível de Deus, e que eu me esforçava por viver de acordo com minhas orações.
Como estudante da Ciência Cristã havia aprendido — e provado em minha experiência — que Deus é totalmente bom e que Sua verdade está sempre a nosso alcance. Sabia que era Sua filha, Sua própria idéia e expressão, incluindo todas as qualidades que O refletem. Além do mais, sabia que, sendo Deus Espírito, e eu Sua filha, eu devia ser espiritual, portanto harmoniosa e completa, nunca limitada e nunca definida pelas condições materiais. Tendo essa identidade espiritual e harmoniosa como filha de Deus, nunca poderia estar separada dEle. Embora lutasse com o medo, no íntimo estava certa dessa verdade espiritual. A praticista, concordando em orar por mim, disse: “Agora, deixe o Amor fazer o trabalho.”
Foi quando recordei aquele incidente na infância. Naquela ocasião, aprendi que esfregar agitadamente era menos eficaz que a aplicação de um solvente adequado. Em verdade, não foi o esforço vigoroso que deu resultado, mas sim a ação do detergente aplicado corretamente.
A praticista encorajou-me a confiar em minhas orações baseadas no poder de Deus, o Amor divino; e assim fiz. Embora não possa dizer quando a cura ocorreu, sei que o medo que invadira meu pensamento sumiu imediatamente e algumas semanas depois constatei que o caroço havia desaparecido.
Tenho, desde essa ocasião, pensado muito nas palavras da Sra. Eddy em Ciência e Saúde: “Não é nem a Ciência, nem a Verdade que age pela crença cega, como também não é a compreensão humana do divino Princípio curativo, tal como se manifestou em Jesus, cujas orações humildes eram profundos e conscienciosos protestos da Verdade — da semelhança do homem com Deus e da unidade do homem com a Verdade e o Amor.” Ciência e Saúde, p. 12. Na experiência relatada, o que me livrou do medo e da dor não foram as palavras que havia lido ou dito em minhas orações. Não foi o tempo que dediquei à leitura e à oração. Não foi meu discernimento intelectual dos ensinamentos da Ciência Cristã. A cura veio simplesmente porque eu sabia, e sentia sem sombra de dúvida, que a Verdade é verdadeira e que como imagem de Deus eu era inseparável da Verdade. Essa convicção governou minha consciência e minha experiência com o espírito da Verdade e assim fui curada.
Afinal, fui eu apenas o recipiente passivo da bênção divina? Não! Não havia nada de passivo nessa atitude, assim como não estava sendo passiva ao limpar a casa com detergente. A expressão “Deixe o Amor fazer o trabalho”, com toda certeza, não é um convite a cruzar os braços e não fazer nada! Inclui, antes, um esforço consciente em oração — afirmar e aceitar, ativamente, o poder absoluto e a harmonia sustentadora de Deus, presentes em toda a criação.
Enfim, toda oração sincera se origina no Espírito de Deus que atua em nós. Os pensamentos que se elevam a Deus e O entendem são pensamentos que Deus mesmo inspira. Todo bom pensamento e toda boa ação começa com Deus que, nas palavras de Paulo, efetua em nós “tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.” Filip. 2:13. Isso significa que a oração eficaz não é complicada e não depende de nenhum fato complicador; age simplesmente pelo poder da Verdade e pela exatidão e clareza com as quais a Verdade é percebida. A oração é função da habilidade dada por Deus a cada um, no sentido de compreender e vivenciar a eterna perfeição de Sua criação. Quando os limitados pontos de vista sobre a vida, como se esta fosse sem amor ou incompleta ou mortal, são abandonados em favor do reconhecimento da realidade espiritual e completa, o que ocorre é a cura, como em meu caso.
Assim, pois, nada há de “mágico” e milagroso no tocante à cura por meio da oração. Dar testemunho da bondade de Deus é uma atividade natural para Seu filho. E nosso testemunho individual é eficaz porque satisfaz a vontade de Deus, ou seja, que toda Sua criação receba as bênçãos que Ele concede continuamente. Do ponto de vista do Espírito, tudo na vida é o Amor, Deus, fazendo Seu trabalho — sendo perfeitamente expresso por todos os elementos de Sua criação.
A Sra. Eddy explica em Ciência e Saúde o que é que às vezes nos impede de ver a vida espiritualmente — como ela realmente é — e também explica como eliminar essa influência perturbadora, removendo-se do pensamento a crença numa existência separada de Deus, uma existência que não se ocupa exclusivamente do trabalho do Amor. A Sra. Eddy escreve: “Em paciente obediência a um Deus paciente, trabalhemos por dissolver, com o solvente universal do Amor, a dureza adamantina do erro — a obstinação, a justificação própria e o egotismo — que faz guerra contra a espiritualidade e é a lei do pecado e da morte.” Ciência e Saúde, p. 242.
No caso mencionado antes, eu me sentia humanamente desesperançada e estava, por isso, pronta recorrer a Deus para dissolver e dissipar uma sensação de medo. Devo confessar, entretanto, que essa não é sempre minha reação! Há certos desafios para os quais sou tentada, às vezes, pela educação, treinamento e outras qualificações humanas, a fazer o trabalho por mim mesma, ao invés de recorrer primeiramente ao Amor. Aparentemente é possível alcançar-se certos resultados desejados, sem pedir a ajuda divina. Mas o que tenho visto é que a pior situação de todas é aquela em que me sinto pessoal e plenamente capaz — isto é, independente de Deus. O resultado é eu dar de cara no chão!
O talento humano tem suas limitações. Não importa quão inteligente, criativa ou forte uma pessoa possa ser, sempre haverá alguém mais prendado ou uma situação superior às capacidades humanas. Fiar-se no talento pessoal é como o esforço vigoroso que apliquei na limpeza da cozinha; é extenuante, menos eficaz e, às vezes, só complica as coisas! Há sempre uma alternativa. Por que fiar-se num sentido humano da existência, no conhecimento e capacidade limitados, quando, ao invés disso, é possível confiar em nossa fonte divina? A afirmação de Cristo Jesus, “eu nada posso fazer de mim mesmo”, João 5:30. aponta para a realidade das capacidades ilimitadas de Deus. E o modo como Jesus curou toda sorte de doença e venceu a morte mostra os poderosos efeitos de um inteligente confiar em Deus.
Recordo outro exemplo específico de confiança em Deus, que ocorreu há alguns anos. Fui dar uma aula na faculdade, preparada para abordar certo tópico. Não demorou muito, comecei a sentir-me inquieta, como se devesse parar o que estava fazendo. Não havia nenhuma razão aparente. Naquela mesma manhã, entretanto, havia iniciado o dia com oração — uma oração simples e confiante de que Deus nos guia, está conosco e que podemos sentir Sua presença. Assim, por ter sentido tão claramente a ordem de parar, encerrei minhas observações e voltei-me a Deus para saber qual o próximo passo a dar.
“Diga-lhes que os ama”, foi o que me ocorreu. Eu mal podia acreditar – por que gastar tempo precioso da aula com algo que me parecia perfeitamente óbvio e até um tanto irrelevante ao contexto presente! Mesmo assim decidi ir avante. A princípio estava um pouco tímida, com receio de parecer “pouco profissional”, temerosa de que meus comentários soassem falsos. Quando olhei ao redor para cada aluno da sala, meu coração se encheu de admiração e gratidão por eles — tão promissores, esperançosos e sinceros. E foi o que lhes disse, falando de todo o coração. Nesse momento formou-se um elo entre nós, algo novo na minha experiência didática, que continuou abençoando nosso trabalho conjunto até o final do ano letivo.
Olhando para trás, vejo aquele incidente como uma ilustração do Amor fazendo seu trabalho, no qual eu não fui espectadora passiva, mas participante ativa – e beneficiada! O amor do Amor abrira canais de comunicação que eu jamais previra. Entretanto, tais resultados não poderiam ter sido produzidos sem que eu deixasse de lado meus planos e confiasse plenamente na direção de Deus.
O poder do Amor nunca falha em sustentar sua criação e o trabalho do Amor é contínuo e permanente. Quanto mais sistemática e consistentemente aplicarmos essa compreensão em nossa vida, tanto mais veremos barreiras caindo e limitações desaparecendo, enquanto a unidade e a inteligência vão se tornando cada vez mais visíveis. Em outras palavras, aproveitaremos ativamente os frutos do trabalho do Amor.
