Cerca De Um ano após haver iniciado o estudo da Ciência Cristã, passei por uma experiência que realmente me ensinou alguma coisa sobre como a realidade espiritual se manifesta em nossa vida. Roubaram-me alguns equipamentos fotográficos e, como eu estava me especializando em fotografia, na faculdade, a perda foi enorme e fiquei privado de objetos essenciais para mim naquele momento.
Com grande convicção, pus-me a trabalhar para resolver o problema da maneira como estava aprendendo na Ciência Cristã. Lembro-me de como estudei a Bíblia e os escritos da Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã, a Sra. Eddy, buscando inspiração, e de como tive maravilhosos vislumbres espirituais. Eu orava fervorosamente com base nessas novas idéias, com toda a expectativa de que seu poder corrigiria a situação e faria com que meus pertences me fossem devolvidos. Para minha grande surpresa, nada aconteceu.
Foi um grande mistério para mim. Por acaso eu não estava fazendo tudo o que se esperava que eu fizesse? Não estava eu tendo inspirações maravilhosas com meu estudo e não as aplicava em minhas orações? Sim, sem dúvida, mas havia um elo perdido na questão toda, algo que demorei um pouco para perceber.
Finalmente, lembrei-me de que aquele equipamento havia sido conseguido alguns anos antes, através de uma pequena fraude: um pedido de indenização de seguro com dados falsos. O pedido de indenização em si era válido, sem dúvida, mas fora tão tentador, tão fácil aumentar o valor a ser-me reembolsado! Com aquele acerto de contas, eu ficara de repente proprietário de certos aparelhos fotográficos novos, de boa qualidade.
Entendi, então, claramente, que aquilo que fora obtido pela violação do mandamento “não fudrtarás”, Êxodo 20:15 poderia muito facilmente ser perdido da mesma forma. Não importava quão inspiradas fossem minhas orações, até que esse deslize moral não fosse corrigido, elas não conseguiriam realizar muita coisa — exceto talvez fazer com que eu chegasse àquele momento de percepção.
Foi um momento de muita humildade. Percebi que o que eu devia fazer, já que esse erro havia sido descoberto, era realmente arrepender-me de tê-lo cometido. E não apenas isso. Percebi que precisava negar a desonestidade propriamente dita. Precisava encarar essa característica mental e sua origem, da mesma forma como Cristo Jesus qualificou o diabo, o mal, ou seja, tanto como mentira quanto como mentiroso, pois essa atitude mental é contrária à natureza de um Deus inteiramente verdadeiro, que é a própria Verdade suprema. Essa atitude é oposta àquilo que Ele cria à Sua perfeita semelhança. Com base nessa compreensão, pude afirmar que o homem verdadeiro, semelhante a Deus, a identidade real de cada um de nós, espiritual e criada pela Verdade, é incapaz de roubar, porque já possui todo o bem que o Criador lhe concede e não pode desejar mais nada, nem precisa de algo que já não tenha.
Jesus sabia disso. Ele corrigiu a mentira de que o pecado é natural para nós. Ao curar a imoralidade e o pecado, fazendo com que se manifestassem a reforma e a regeneração, o Mestre deu a prova conclusiva daquilo que é espiritualmente verdadeiro sobre o homem e daquilo que é simplesmente uma mentira a seu respeito. Aceitando essa verdade, podemos estar certos de que o compromisso de pautar nossa vida de acordo com a lei moral fará com que se torne visível a coincidência do humano com o espiritual.
Se bem que eu nunca tenha recebido meus objetos de volta, em pouco tempo surgiu a oportunidade de comprar outros, por um preço bastante reduzido. Ao mesmo tempo, aprendi uma lição importante: eu não poderia realmente esperar que as verdades espirituais me protegessem da imoralidade, a não ser que eu vivesse de acordo com a moral. Tempos depois, ponderando profundamente esse fato, percebi a necessidade de devolver o valor que eu havia aumentado naquele pedido de indenização e assim fiz.
Desde essa experiência, recebi muitas outras lições, cada uma mostrando de maneira diferente a continuidade essencial entre a verdade espiritual e a ação moral. Essa é a estrutura básica da lei moral e a razão pela qual ela não pode mudar nunca. Se fosse apenas uma tentativa humana de definir o bem, estaria sujeita a revisão. Mas como é uma manifestação, em termos humanos, do estado real e eterno do ser espiritual do homem, a lei moral é tão imutável quanto as leis da óptica.
Sem dúvida, talvez seja essa absoluta inflexibilidade o que intriga e até desagrada às pessoas. “Quem é você, para dizer como conduzir minha vida?” essas pessoas podem perguntar. “Quem é você para me julgar?”
Há uma objeção válida nessas perguntas. Os dez Mandamentos não são uma lista de itens a serem considerados para o julgamento dos outros. Jesus disse claramente: “Não julgueis, para que não sejais julgados.” Mateus 7:1. O fato de uma pessoa aderir, ou não, a uma série de regras de conduta, pode ser apenas algo aparente, não sendo, por conseqüência, um bom critério para avaliar o mérito de alguém. Jesus enfatizou esse ponto na casa do fariseu Simão. Não só ele perdoou a mulher que, embora fosse conhecida como “pecadora”, mostrava sinais de arrependimento, mas também elogiou a atitude dela, em comparação com a de seu anfitrião, que provavelmente julgava sua própria conduta acima de qualquer censura. Lucas 7:37.
A lei moral tampouco é tirana, usurpando o direito que cada um de nós tem de conduzir a própria vida da maneira como honestamente julgar melhor. Se bem que nossa disposição de obedecer de todo o coração aos Mandamentos acelere nosso crescimento, não somos, contudo, forçados a aceitar em nossa vida uma regra que não entendemos. De outra forma, estaríamos colocando a prática cristã no nível da superstição, tal como os antigos atenienses, que apenas por segurança, erigiram um altar para apaziguar um “deus desconhecido”. A compreensão é parte essencial do cristianismo científico. Paulo disse aos atenienses: “Pois esse que adorais sem conhecer, é precisamente aquele que eu vos anuncio.” Continuando, ele também declarou nossa verdadeira relação espiritual com Deus, em Quem “vivemos, e nos movemos, e existimos”. Atos 17:23, 28.
Os dez Mandamentos, interpretados à luz cristã do Sermão do Monte, proferido por Jesus, são um auxílio inestimável na construção de uma vida cheia de progresso. Dão-nos uma base sólida para desfrutarmos de melhor saúde, mais estabilidade, abundância e utilidade.
Ainda mais importante, a obediência à lei moral nos ajuda a desenvolver o sentido espiritual, a capacidade de ouvir a voz interior da Verdade, do Espírito imortal, e de reconhecer, nós mesmos, o que é bom. Essa capacidade é inata em cada um de nós; mas, da mesma forma como não tem significado aquilo que alguém nos diz quando não prestamos atenção, assim também o sentido espiritual pode se desvanecer em nosso pensamento, se o ignorarmos continuamente. Por outro lado, prestar atenção às idéias advindas do sentido espiritual nos ajuda a desenvolver a capacidade de entender intuitivamente o que é certo.
Quando fundamentamos nosso conceito do que é certo ou errado mais no sentido espiritual do que na lógica da mente materialista, que é egoísta e sensual, acabamos por entender melhor as regras do Decálogo, obedecendo-lhes com mais presteza. Por sua vez, viver de acordo com o Decálogo ajuda-nos a reavivar e a aperfeiçoar, cada vez mais, nosso sentido espiritual. Cada um dos Mandamentos, quando obedecido, nos une com um elemento importante do ser espiritual. A obediência a um deles serve de apoio para obedecermos aos outros, à medida que toda a estrutura de nossa vida vai sendo fortalecida, corrigida e purificada.
Se encararmos a vida a partir de um ponto de vista material, a lei moral com freqüência pode nos parecer um mistério, até mesmo uma limitação à nossa liberdade. Talvez nos sintamos muito distantes da perfeição espiritual e pode ser até que não nos importemos com isso. Começando, porém, com as verdades do ser espiritual, nosso pensamento é elevado àquela posição mental em que sentimos um desejo natural de que nossa vida espelhe essa realidade em bondade, pureza, honestidade e assim por diante. Aí temos base para a verdadeira liberdade, para a libertação da doença, da carência, da confusão, ou mesmo, como em minha experiência, dos resultados de nossa própria imoralidade ou da falta de moralidade de alguma oura pessoa.
Mantendo plenamente o espírito e a lógica do mandamento de ter apenas um Deus, a Sra. Eddy escreve no livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde: “Só quando reconhecem a supremacia do Espírito, que anula as pretensões da matéria, é que os mortais podem desfazer-se da mortalidade e encontrar o vínculo espiritual indissolúvel, que estabelece o homem para sempre na semelhança divina, inseparável de seu criador.” Ciência e Saúde, p. 491.
A moralidade é a manifestação concreta, em nossa vida, desse vínculo espiritual permanente que temos com Deus, o bem eterno. Quem desejaria menos do que isso?
Ninguém despreze a tua mocidade;
pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis,
na palavra, no procedimento,
no amor, na fé, na pureza.
Medita estas cousas, e nelas sê diligente,
para que o teu progresso a todos seja manifesto.
1 Timóteo 4:12, 15
