Freqüentei Uma Escola particular desde o jardim de infância até o primeiro mês da sexta série. Foi uma época muito feliz para mim. Meus colegas de classe e eu éramos bons amigos, gostava de meus professores e das aulas. Tudo era muito idílico até que. ...
Meu pai decidiu transferir-me para um dos colégios públicos locais, de excelente reputação acadêmica e com uma vantagem sobre a escola particular: era gratuito. Papai estava planejando enviar os dois filhos (eu tinha um irmão mais velho) para a universidade, que era cara, e fazia sentido começar a economizar seriamente desde cedo.
Entendi esse ponto perfeitamente. O que não gostei foi de ter de fazer essa transferência depois de já iniciado o ano letivo. Sabia que seria uma transição um tanto difícil, mas nada me preparou para o que eu teria de enfrentar e que pode ser definido como o superlativo absoluto do embaraço.
Eu era muito tímida. Queria apenas que todos gostassem de mim. Aliás, eu esperava naturalmente que gostassem de mim. E por que não? Talvez tivesse sido porque apareci com meias soquete e fita no cabelo (niguém mais na classe as usava). Ou porque meu vestido era mais longo que os das colegas. Só faltava colocar uma tabuleta em mim, dizendo: “Pateta”.
Se me perguntavam qual era minha religião, jamais tinham ouvido falar na Ciência Cristã, ou pensavam que eu era uma daquelas pessoas “que não acreditam em médicos”. Eu afirmava que acreditava em médicos, isto é, sabia da existência deles e de seu empenho em ajudar as pessoas. Apenas não os consultava. De nada adiantava explicar, pois não entendiam como eu podia confiar apenas na oração para curar-me. A tabuleta dizia agora: “Pateta e esquisita”.
Com o passar do tempo, a situação só piorou. Durante os três anos seguintes, fui provocada, ignorada ou humilhada diariamente. De nada adiantaria pedir a meu pai a permissão de voltar para minha antiga escola (uma vez que ele tomava uma decisão, não voltava atrás). De algum modo, eu sabia que essa tampouco era a solução, pois a atual escola era muito boa, as aulas eram muito estimulantes e eu queria ficar. Assim, decidi que teria de curar todos os meus colegas de classe! Afinal, o problema era deles, não meu, certo?
Errado. Eles não tinham consciência de problema algum. Estavam muito satisfeitos em odiar-me e fazer troça de mim, o tempo todo. Eu passava muito tempo em meu quarto, após as aulas, às vezes orando, às vezes chorando, e outras vezes lendo a Bíblia e Ciência e Saúde de autoria da Sra. Eddy. Certo dia, deparei-me com um trecho em Ciência e Saúde que parecia escrito para mim. Começa, perguntando: “Ser-te-ia a existência, sem amigos pessoais, um vazio?” (Sim, é, pensei!) E o trecho continua: “Virá então a ocasião em que estarás solitário e privado de simpatia; esse aparente vácuo, porém, já está preenchido pelo Amor divino.” Ciência e Saúde, p. 266.
Nessa época, comecei a ter tremendas cólicas estomacais. Por vezes, eram tão intensas que tinha de ser dispensada da aula. Tais cólicas me pegavam de surpresa a qualquer momento e em qualquer lugar, mas eram ainda mais penosas quando ocorriam na escola, onde me sentia tão solitária. Cada vez que aconteciam, procurava a ajuda de Deus e repetia mentalmente a “exposição científica do ser”, que se encontra à página 468 de Ciência e Saúde. Começa assim: “Não há vida, verdade, inteligência, nem substância na matéria. Tudo é Mente infinita e sua manifestação infinita, porque Deus é Tudo-em-tudo.” Na maioria das vezes, ao chegar ao final da declaração, já não sentia mais dor.
Então, um dia, tive uma dor de estômago muito forte durante a aula de história. Consegui licença para ir ao saguão, a fim de estar só e poder orar. Percebi que não podia apenas “repetir as palavras” que a Sra. Eddy havia escrito, como se elas fossem uma fórmula mágica e esperar ser curada. Entretanto, eu contava com a cura, pois as palavras que estava declarando eram verdadeiras. Eu, de fato, não era material, mas espiritual assim como todos os demais. A “exposição científica do ser” não me transformava em algo que já não fosse antes; a declaração me fazia lembrar do que eu era realmente, afirmando os fatos da natureza perfeita do homem estabelecida por Deus. Esse foi o fim das dores de estômago. O temor de que poderiam ressurgir também desapareceu, pois a cada dia que passava, ia ganhando uma espécie de ímpeto espiritual em minha confiança em Deus. Estava começando a perceber que o vácuo ou o vazio que eu chamava de minha vida estava preenchido pelo Amor divino e com cura.
Nessa época, filiei-me À Igreja Mãe. Era algo que almejava fazer desde pequena. Tinha agora a sensação de pertencer a algo maravilhoso, algo permanente e bom. Achei, porém, que deveria perguntar-me se meu propósito ao filiar-me era apenas o de ver o que tal filiação iria fazer por mim. Ou eu só queria parte de alguma coisa? Será que não significava também a ação de dar? As curas físicas obtidas por minha família e por mim eram provas de que Deus é bom e de que nada poderia separar-me do bem. Se isso era verdade antes, não seria verdade também agora, independentemente de qual escola eu freqüentasse?
A oitava série começou e quase nada havia mudado com os colegas. Se alguma mudança ocorrera, tinha sido para pior. Certo dia, levei uma surra durante a aula de ginástica e levei um soco no estômago, sem nenhuma razão aparente, enquanto caminhava pelo corredor.
Em prantos, volvi-me a Deus como nunca antes. “Eu apenas quero que gostem de mim”, implorei. Então veio-me o pensamento: “Por quê? Por que você quer que eles gostem de você? Você gosta realmente deles?”
Claro que não, pensei! Por que deveria gostar? Eles são maus para comigo, me ridicularizam e até me atacam! Lembrei-me então do que Cristo Jesus ordenou a seus seguidores. Ele disse: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem.” Mateus 5:44.
Estaria eu amando meus colegas? Não, se os estava vendo cheios de ódio e preconceitos. Não, se minha única preocupação com relação a eles era a de que gostassem de mim. Naquela tarde, procurei novamente aquele trecho de Ciência e Saúde relativo a amigos. Dessa vez, percebi algo diferente. Pareceu-me que a Sra. Eddy não estava querendo dizer que é errado ter amigos. Era aquele sentido pessoal possessivo de “meus” amigos que precisava ser substituído por um conceito melhor e mais profundo daquilo que o amor realmente é. Percebi que amar significava manter meus pensamentos centralizados em Deus, em vez de na minha pessoa. Eu havia desperdiçado grande parte dos três anos, pensando só em mim. Essa maneira de pensar tinha de mudar. Sabia que isso era possível e sem demora.
E foi assim que começou minha cura. Desse dia em diante, orei mesmo só para amar: a garotada, a escola, toda e qualquer coisa que visse. E quanto mais amava, mais me sentia amada. Isso porque todo o amor real vem de Deus e Deus está sempre amando Sua expressão, o homem. Em breve, cessou todo aquele tormento. Não de um dia para outro, mas acabou mesmo. Houve respeito mútuo entre todos nós. Uma garota até me disse: “Não sei porque fomos tão maldosos com você durante todos esses anos.” Gostei muito de ouvir isso, porém já não significava tanto para mim quanto aquilo que estava aprendendo sobre a natureza genuína do amor. O amor está sempre presente porque Deus está sempre presente, mas apenas o sentimos quando o expressamos. Se Deus é Amor, então Deus é a fonte e condição de todo o amor real e o homem, Sua semelhança, é inseparável do Amor.
No ano seguinte, comecei a primeira série do segundo grau. Foi maravilhoso! Novos desafios, novos amigos. E, querem saber o que mais? Na segunda série, fui transferida para outra escola de segundo grau, num outro país, devido ao trabalho de meu pai. Mas já havia aprendido a lição. A transferência foi fácil, os jovens eram formidáveis.
E por quê? Pelo simples fato de que eu os amava.
Para a liberdade foi que Cristo nos libertou.
Permanecei, pois, firmes e não vos submetais
de novo a jugo de escravidão.
Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade:
porém não useis da liberdade
para dar ocasião à carne;
sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor.
Gálatas 5:1, 13
