Às vezes é indispensável, neste mundo tão necessitado, ver as coisas sob nova luz. Novas Perspectivas é uma seção apropriada para aqueles que querem dar um enfoque especial a assuntos de interesse comum.
O número de maio de 1992 do Arauto publicou trechos de entrevistas com vários praticistas da Ciência Cristã. Perguntamos a cada um como tinha decidido dedicar a vida a ajudar os outros por meio da oração.
Nossos leitores acharam encorajadoras e úteis aquelas respostas e pediram que apresentássemos mais entrevistas, o que nos pareceu interessante. Afinal, nada fala mais de perto a nosso coração do que o cristianismo aplicado de forma prática na cura.
Assim sendo, entrevistamos diversos outros praticistas, homens e mulheres que se dedicam à prática pública da cura pela Ciência Cristã. A maioria deles é praticista há muitos anos; pedimos-lhes que relembrassem suas primeiras lições e desafios.
O resultado foi uma conversa franca, que brotou do fundo do coração. Nem sempre as coisas foram fáceis para eles. Precisaram superar medos, atender às necessidades da família, alcançar o crescimento espiritual que assegurasse uma base sólida para essa missão profundamente cristã. No entanto, também houve aquela vívida alegria que sempre acompanha o esforço honesto de se viver a vontade de Deus.
Os relatos que ouvimos deixam claro que não existe um praticista “típico”, um estereótipo, nem um praticista “mediano”. Desde o início, a experiência de cada um foi totalmente singular. Alguns não tinham um único paciente quando decidiram devotar-se em tempo integral à prática pública da cura pela Ciência Cristã; outros já tinham recebido vários pedidos de ajuda por meio da oração, mesmo antes de se considerarem praticistas. Alguns eram solteiros; outros eram casados e tinham filhos pequenos. A experiência profissional anterior abrangia o magistério, a política, prendas domésticas e os negócios em geral.
Por trás de todas essas diferenças havia o desejo de viver a serviço dos outros por meio da cura cristã. Aqui estão seus comentários:
Lembro-me do primeiro telefonema depois que abri meu escritório de praticista. Fazia uns dois dias que eu ia ao escritório, mas até aí não tivera nenhum paciente. Minha avó foi a primeira pessoa a telefonar. Ligou para saber como estavam indo as coisas. Ela era praticista fazia quase setenta e cinco anos.
Respondi-lhe: “Bem, já li a Lição Bíblica [constante do Livrete Trimestral da Ciência Cristã] umas quatro ou cinco vezes, li todos os periódicos da Ciência Cristã e o The Christian Science Monitor.” Ela então como que assumiu o papel de praticista nesse caso e disse-me: “Veja, o objetivo de você estar no escritório não é o de pôr em dia sua leitura. O propósito de seu tempo aí é o de dar tratamento.”
“Mas não tenho nenhum tratamento para dar,” foi minha resposta.
Ela retrucou: “Quando você sair para almoçar, compre o jornal de sua cidade, leia-o e marque cinco assuntos relacionados com sua comunidade, sobre os quais você pode orar.”
Foi o que fiz. Naquela mesma tarde, duas pessoas, que nunca tinham ouvido falar da Ciência Cristã, vieram ao meu escritório. Haviam entrado no prédio e viram no quadro as palavras praticista da Ciência Cristã ao lado de meu nome, e decidiram subir três andares a pé para fazer perguntas sobre a Ciência Cristã.
A partir daí compreendi que o genuíno envolvimento na comunidade depende, de fato, do quanto cada um de nós ora pela comunidade.
Antes de me registrar como praticista no The Christian Science Journal, um dos desafios básicos que tive de enfrentar foi o medo, pois uma pergunta que sempre me ocorria era: “e se eu ficar com medo?”
Lembro-me particularmente de um telefonema que recebi: a mãe de uma criança ligou-me e disse que seu marido, que não era Cientista Cristão, havia dado um prazo de vinte minutos para que ela orasse pelo filho. Se a criança não melhorasse, ele a levaria ao hospital. Isso aconteceu no meio da noite.
Levantei-me da cama, sentei-me numa cadeira e comecei a orar. Fui invadida por uma série de pensamentos aterradores: “E se eu não conseguir curar essa criança?” “E se meu conhecimento de Ciência Cristã não for suficiente?” Tratei, então, de curar meu próprio temor.
A Sra. Eddy diz em Ciência e Saúde: “O medo nunca fez parar o ser e sua ação.” Eu estava em profunda oração, procurando compreender e demonstrar esse fato, quando o telefone tocou e a mãe disse que a criança estava bem. “Está?” perguntei, pois eu ainda não havia começado a orar especificamente pela criança; precisava primeiro tratar de meu próprio medo, se eu quisesse ajudar. Essa experiência ensinou-me que o amor de Deus é muito maior do que qualquer tipo de medo.
O medo é semelhante à tentativa de se jogar areia contra o sol, como se isso pudesse apagá-lo.
Eu ocupara cargos importantes no mundo dos negócios. Fora vice-presidente de uma companhia e diretor de outra. Quando entrei na prática pública da Ciência Cristã, tive de começar do nada, o que foi difícil. Chegou um momento em que não tínhamos nenhum dinheiro no banco.
Minha esposa então começou a trabalhar meio-expediente, para pelo menos garantir a comida de nossa família com quatro crianças. Ao mesmo tempo, fui eleito para ler em nossa igreja filial. Esses dois salários complementavam assim minhas entradas provenientes da prática. No entanto, durante aqueles três anos, percebemos que podíamos nos apoiar em minha atividade de praticista, como meio de subsistência para nossa família.
Quando meu mandato de leitor chegou ao fim, minha esposa achou que deveria parar de trabalhar e eu concordei. A partir daí, minha prática pública tomou novo impulso e passamos a confiar unicamente em Deus. Dentro de um mês, estávamos vivendo exclusivamente do exercício da prática pública da Ciência Cristã.
Temos de nos dedicar completamente ao que precisa ser feito. Foi o que tive de fazer. Chegou o momento em que dissemos: “Agora estou exercendo a prática pública da Ciência Cristã, vamos nos dedicar completamente a ela e vamos confiar em Deus.” Foi então que tivemos inúmeras provas de suprimento. Apenas aprendemos a confiar inteiramente em Deus.
Nos primeiros seis meses de prática pública da Ciência Cristã, enfrentei diariamente os mais variados desafios, ou seja, algum tipo de sugestão mental agressiva: dor de garganta, depressão, resfriado, irritação, ou outra coisa qualquer. A cada dia, um aspecto diferente do magnetismo animal se manifestava. De início, tratei de cada coisa à medida que aparecia, buscando perceber sua impotência.
Depois de um mês ou dois, quando percebi que essa situação se repetia, procurei examinar o caso mais de perto para ver o que realmente estava acontecendo. À medida que orava, tive a nítida percepção de que esse era um esforço orquestrado do magnetismo animal para me fazer pensar: “Talvez eu tenha tomado a decisão errada e não devesse ter entrado na prática pública da Ciência Cristã. Talvez eu não tenha êxito neste campo. Talvez as coisas não dêem certo.” A partir daí, comecei a tratar cada sugestão sob o ponto de vista de que era apenas uma tentativa a mais, do magnetismo animal, de separar-me da vontade de Deus.
Seis meses depois, as sugestões, em suas formas tão agressivas, cessaram. As pessoas começaram a pedir-me ajuda. Isso aconteceu há aproximadamente vinte anos.
É claro que durante todos esses anos tive inúmeras oportunidades de lidar com sugestões mentais agressivas, mas sempre as tenho encarado de acordo com o que aprendi naqueles primeiros seis meses, ou seja, como uma tentativa de separar-me da vontade de Deus e do que Ele deseja que eu faça. Foram aqueles primeiros seis meses que realmente me auxiliaram a estabelecer uma base sólida para meu trabalho.
Penso que o desafio inicial que enfrentamos é o de vermos a nós mesmos como praticistas; estar dispostos a nos ver exercendo a prática pública.
Eu recebia pedidos de ajuda e dizia às pessoas que procurassem um praticista. Em determinado momento, porém, comecei a perceber que eu estava vendo a prática como algo separado do amor e das qualidades sanadoras que eu naturalmente expressava.
Até que um dia, lembro-me de que estava amamentando meu filho recém-nascido, e recebi um pedido de ajuda. Telefonei a uma praticista da Ciência Cristã e ela me perguntou: “Você quer dizer que não consegue dar um tratamento de Ciência Cristã enquanto amamenta?” Bem, decidi que poderia fazê-lo, e o fiz.
Depois disso, constatei que precisava dar meu consentimento para pensar em mim mesma como praticista. Uma vez feito isso, comecei a aceitar pedidos de ajuda com regularidade.
Quando meu filho menor entrou na escola, fiz o pedido para registrar-me como praticista.
Não é fácil colocar em palavras o que eu gostaria de dizer a alguém que está começando na prática pública da Ciência Cristã, mas a única coisa é sempre, e unicamente, e em primeiro lugar, começar com Deus. O que você precisa perceber é sua unidade, seu companheirismo, sua comunhão com o único Eu ou Mente, Deus. Esse é o ponto de partida da prática. Em busca de cura, não volte seu olhar para pessoas, seja para você mesmo, seja para o que o mundo está dizendo. A consciência da união indestrutível com Deus, tanto sua como a do paciente, trará a cura. Gosto muito do que a Sra. Eddy diz na página 575 de Ciência e Saúde, quando se refere à união do Amor com sua idéia: “o Amor desposado com a sua própria idéia espiritual.”
Jesus disse que “O meu reino”, minha consciência, “não é deste mundo.” Se pensamos que somos “deste mundo”, do universo material, estamos começando com um base errada, o dualismo. Trabalhar com opostos, o bem e o mal, o Espírito e a matéria, não é a realidade. A prática não consiste em uma pessoa, o praticista, tentando se apossar da verdade ou tentanto aplicar a verdade a um problema “real”. O Espírito determina a única realidade que existe. Nosso ponto de partida deve sempre ser Deus, a Mente divina, e Sua expressão. A cura demonstra que é praticável trabalhar a partir dessa perspectiva.
Jesus não tinha um Pai particular, um Princípio particular; não, de forma alguma. O Pai que Jesus tinha é o mesmo que nós temos; o poder que Jesus tinha é o mesmo que nós temos.
Deus está sempre Se expressando, e é exatamente isso o que somos, Sua expressão. Não podemos separar a expressão, o efeito, de sua causa. Ambos são uma só coisa. Essa é justamente minha grande alegria, ver e expressar a inteireza do homem. Somos a totalidade de Seu amor. Eu amo esse trabalho.
Logo no início de minha prática pública da Ciência Cristã, apercebi-me da importância de examinar meus próprios pensamentos. Vou explicar. A palestra da Sra. Eddy aos membros d’A Igreja Mãe, em maio de 1895, transcrita em Miscellaneous Writings, tratava especificamente do pecado. Uma de suas afirmações é a seguinte (e é essa idéia que tem me servido de guia): “Examinai-vos, e procurai ver o que, e quanto, o pecado exige de vós; e que porção dessa exigência aceitais como válida, ou a que porção obedeceis.”
Naqueles primeiros meses, procurei estar muito mais consciente das exigências que o pecado tenta fazer a cada um de nós, seja sob a forma de depressão, desânimo, sentimento de culpa, falta de auto-estima, seja como algum problema físico. Comecei a perceber que essas eram apenas pretensões e que eu podia identificá-las como uma pretensão, que não era meu verdadeiro ser como um dos filhos de Deus. Passei, então, a examinar meu pensamento para ver em que ponto eu talvez tivesse cedido a essa pretensão. Isso tem me ajudado a mantê-la separada de meu verdadeiro ser como idéia espiritual. Não ignoro as pretensões que se apresentam. Examino meu próprio pensamento para melhor lidar com essas imposições e ser mais capaz de eliminar as crenças de pecado e doença e de ajudar os outros a fazer o mesmo.
A prática exige fidedignidade. Em outras palavras, o indivíduo deve estar à altura do trabalho e do que lhe é solicitado. Você deve estar disposto a dedicar-se de todo o coração. Muitas vezes, ao longo da jornada, aparecerão dúvidas, mas é necessário enfrentá-las e confiar. Creio que essa é a maior lição que minha família e eu aprendemos: que Deus supre as necessidades de cada um: as suas, as de sua família, as de seus pacientes.
