Ao Mesmo Tempo em que pessoas de todo o mundo levantam-se em defesa dos direitos individuais, os meios de comunicação não param de veicular notícias sobre divisões étnicas. Enquanto governos caem e muitos povos defendem sua independência, um grande número de pessoas anseia por estabilidade. Podemos pensar: “Como posso ajudar pelo menos um pouco? Mal dou conta de meus próprios problemas. Como posso exercer uma influência curativa sobre o mundo?”
Certo dia, ao passar por uma loja, no centro de uma grande cidade, chamou-me a atenção um cartaz que se encontrava na vitrina. Mostrava rostos sorridentes de pessoas de vários países, com os dizeres: “Nossa verdadeira nacionalidade é a humanidade”, H. G. Wells, The Outline of History (Garden City, New York: Garden City Publishing, 1920) p.1087. de autoria de H. G. Wells. Essa afirmação me fez pensar. Olhei para as pessoas à minha volta na rua, pessoas de todos os tipos. No fundo do coração, eu sabia que éramos todos membros de uma única família, a família de Deus, e que a verdadeira identidade de cada um de nós é Sua imagem e semelhança espirituais.
Mas eu também sabia que precisava compreender melhor esse fato. A Ciência Cristã havia me ensinado que ficar simplesmente pensando na fraternidade do homem não curaria as profundas e arraigadas divisões, nem os medos e desentendimentos. A verdadeira união deveria estar fundamentada em uma compreensão profunda da unidade do homem com sua origem, Deus.
O livro de Jeremias, na Bíblia, apresenta Deus dizendo: “Dar-lhes-ei um só coração e um só caminho, para que me temam todos os dias, para seu bem e bem de seus filhos.” Jeremias 32:39. Esse “caminho” foi claramente demonstrado na vida de Cristo Jesus. Ele estabeleceu a base para as pessoas reconhecerem a fraternidade do homem.
O poder transformador subjacente à obra de Jesus era o amor, não somente um senso humano de amor, mas o amor como a pura e incorruptível manifestação de Deus, o Amor divino. É esse poder imparcial e onipresente de Deus que cura.
Orei para entender como eu poderia ser de maior ajuda nesse aspecto. Ocorreu-me que eu poderia expressar mais amor tanto por mim mesma quanto pelas pessoas à minha volta. Poderia amar da maneira como Jesus ensinou, sem falsidade.
Comecei a vigiar meus pensamentos e a observar de que ângulo eu estava analisando e julgando as pessoas. Estaria eu realmente procurando ver o homem espiritual criado por Deus, ou estaria aceitando as aparências externas? Orei diligentemente para reconhecer a imagem e semelhança de Deus em mim mesma e nos outros, para enxergar a bondade e a pureza de nossa verdadeira identidade.
Quanto mais consciente eu me tornava do poder e da presença do Amor, tanto melhor eu enxergava a mim mesma e aos outros sob nova luz. Essa mudança não se deu sem esforço e exigiu que eu vigiasse meus pensamentos. Contudo, fez-me compreender por que Jesus tinha tanta confiança em nossa capacidade de exercer uma influência curativa sobre o mundo. Ele certamente demonstrou essa capacidade. Sua consciência era tão espiritual, tão pura, que as pessoas sentiam-se atraídas e percorriam longas distâncias para serem curadas por ele.
Cada um de nós pode cultivar a espiritualidade que nos habilitará a curar, seguindo o exemplo de Jesus. A Sra. Eddy escreve: "Sabei, portanto, que possuís poder soberano para pensar e agir corretamente e que nada pode desapossar-vos dessa herança e violar o Amor." Pulpit and Press, p.3. Na proporção em que reconhecermos esse poder e o vivermos, perceberemos nossa capacidade de produzir um efeito curativo no mundo à nossa volta.
Pouco tempo depois de ver o cartaz na vitrina da loja, fui assistir a um filme. Entrei no cinema escuro, quando a sessão anterior estava terminando. Desejando sentar-me logo para não perturbar ninguém, rapidamente entrei numa fileira. Eu não tinha percebido que havia uma mulher sentada no primeiro assento. Quando passei por ela, a mulher se queixou de que eu lhe pisara o pé. Desculpei-me, mas ela comentou: "Ande logo, antes que você mate alguém." Mesmo após eu ter-me sentado, ela continuou a comentar o assunto e a queixar-se em voz alta.
Percebi que havia alguma coisa além do fato de eu lhe ter pisado o pé. Eu notava claramente que havia ali uma tensão racial e que aquela mulher não se sentira pisada apenas fisicamente. Volvi-me me então a Deus em oração. Comecei a pensar no amor que Deus tem por todos nós, compreendendo que não havia nada em Seus filhos, que refletem o Amor divino, infinito, que pudesse machucar ou ser machucado. Minha identidade não incluía o poder de humilhar alguém. Não havia um poder real que pudesse privar qualquer uma das duas de nossa divina herança de paz. Eu sabia poder confiar na autoridade desses pensamentos que expressavam a presença curativa do Cristo, que sempre tem a última palavra.
Quando a sessão seguinte começou, senti alguém chegar por trás de mim e abraçar-me. Era aquela mulher. Disse-me que lamentava muito a cena que havia feito. Disse-me também que logo depois de eu ter passado, sua filha sentara-se junto dela. A filha lembrou-se de ter cruzado comigo na saída do toalete (havíamos trocado um sorriso) e comentou: "Mãe, aquela senhora é tão simpática!" Conversamos e rimos por alguns momentos, como velhas amigas, sentindo a presença de nosso Pai-Mãe Deus.
Gostei muito do filme, mas gostei mais ainda do que havia testemunhado a respeito do amor de Deus, naquela noite. Era como se barreiras estivessem ruindo em minha consciência, abrindo o caminho para uma compreensão mais profunda da bondade do homem. Continuo a me regozijar no fato de ter sido tão natural, num escuro cinema da cidade, uma senhora que eu não conhecia chegar-se a mim e me abraçar. O Cristo tinha dissolvido a aparência de mágoa e separação e revelara a naturalidade da compreensão e do amor.
Referindo-se à derradeira vitória sobre todo o pecado, a Sra. Eddy escreve: "O cântico mais alto, mais doce que já tenha alcançado o alto céu, eleva-se agora mais claro e chega mais perto do grande coração de Cristo; porque o acusador não está lá, e o Amor faz ouvir sua melodia primordial e sempiterna." Ciência e Saúde, p.568. Quando derrotamos o ódio com o poder do Amor, sentimos nossa parte no cântico que alcança o alto céu. É o Amor divino que cura todo pecado e toda separação e revela a pureza de nossa união com Deus.
