Qualquer Pessoa Que já tenha navegado, conhece a importância da quilha de um navio. Ela serve para dar peso suficiente à embarcação, a fim de que ela mantenha a estabilidade ao enfrentar o vento. Mesmo navegando em mares agitados e contra fortes ventos, a quilha permite que o barco avance e corte as águas com firmeza e segurança. O navegador depende dessa quilha. Sem ela, não conseguiria manter o equilíbrio ou seguir o curso com precisão. Com ela, ele pode navegar seguindo o curso desejado e manter o equilíbrio. Nenhum marinheiro tentaria navegar sem quilha.
Quer sejamos navegadores, quer não, a maioria de nós precisa de uma quilha em sua própria vida. Encontramos nossa quilha à medida que aprendemos a confiar na imutável, totalmente segura e constante presença do Amor divino, ao invés de nos deixarmos levar por considerações, opiniões e sentimentos humanos. As condições humanas podem oscilar e falhar, ao passo que o Amor divino imutável nos guiará com firmeza e segurança por águas profundas e mares bravios.
A confiança no Amor é muitas vezes aprendida e continuamente aprofundada por meio dos desafios que enfrentamos. Quanto mais procurarmos a direção divina e nela confiarmos, mais forte se tornará nossa compreensão do infalível amor de Deus. A essa compreensão crescente segue-se uma alegria indescritível e constante.
Uma experiência do compositor Antonin Dvorák nos dá um exemplo inspirador da alegria fortalecida na adversidade. Em 1894, quando estava nos Estados Unidos, ele ficou sabendo da morte de um amigo muito próximo, o maestro Hans von Bülow. Além disso, seu próprio pai estava gravemente enfermo, na Boêmia, sua terra natal.
Para fugir desse quadro de sofrimento e tristeza, Dvorák procurou consolo no livro de Salmos. Ali encontrou a força e o conforto, a certeza do amor infalível de Deus, certeza da qual ele precisava para poder continuar compondo e fazê-lo com mais alegria.
Sua obra notável, resultante desse período difícil, as belas “Canções Bíblicas”, confirma esse fato. Como o editor registra, essas dez canções mostram o desenvolvimento espiritual de Dvorák desde a “expressão de desespero ... e súplica ... até o júbilo.” A canção final triunfantemente proclama:
Cantai uma alegre canção ao Senhor,
Que fez coisas maravilhosas, maravilhosas.
Louvai ao Senhor toda a terra!
Cantai louvores, bradai e regozijai-vos! Dvorák, “Biblical Songs”, Op. 99 (New York: G. Schirmer, 1939), p. 32.
Tanto a música quanto a letra são repletas de alegria e enaltecem a vida. Dvorák triunfou sobre o desespero, e a alegria dessa vitória reflete-se no brilhante esplendor de sua música.
A alegria é realmente uma qualidade espiritual que não nos pode ser tirada, não é algo que vai e vem. Ela é, com efeito, uma característica permanente, que faz parte da natureza divina de cada um de nós.
Esse fato espiritual pode nos reconfortar enormemente quando alguém ou algo parece ameaçar nossa satisfação e estabilidade. Mas nada pode nos afetar, se confiamos no amor de Deus por Sua idéia, o homem. Pois Deus não somente cria, mas mantém a integridade e a totalidade de cada uma de Suas idéias, sendo que uma parte essencial de nossa totalidade é a alegria. Nada, portanto, pode fazer-nos perder essa inspiração que supera as dificuldades, e que nós denominamos alegria, porque o Amor divino jamais abandona o homem.
A Bíblia contém afirmações veementes acerca do infalível amor de Deus. Em Jeremias, lemos: “De longe se me deixou ver o Senhor, dizendo: Com amor eterno eu te amei, por isso com benignidade te atraí.” Jeremias 31:3.
Como podemos reivindicar esse amor infalível e assim sentir de modo mais constante a alegria que é um direito nosso? Aprendendo a conhecer a Deus como Amor e compreendendo o relacionamento do homem com Ele, como Seu filho amado.
Não importa o que aconteça, não importa quem faz o quê, o Amor de Deus por Seus filhos amados não muda. Nenhuma circunstância ou pessoa pode separar-nos de Seu terno cuidado. Naturalmente, é necessário que tenhamos disciplina espiritual para ficar conscientemente atentos a Seu amor, e a oração é o meio de alcançarmos essa disciplina. Como uma criança que segura a mão do pai, sentimo-nos seguros no amor de nosso Pai quando nos identificamos continuamente com a bondade de Deus, com aquilo que é real e constante. Podemos então sentir a alegria interior que não oscila e que não nos pode ser tirada. Sentimo-nos capacitados a enfrentar quaisquer dificuldades que se nos apresentem, confiantes de que o Amor nos ajudará a vencê-las.
Por certo, cada um de nós tem desafios. Ninguém vive em um vácuo, desligado do resto do mundo. Às vezes, podemos nos sentir tentados a duvidar de nossa habilidade de orar com eficácia para resolver um problema. Por um momento, pode até parecer que Deus não está aqui ou que o mal controla a situação. É praticamente impossível sentir alegria quando o medo nos está dominando.
Mas o Amor divino é o antídoto para o medo. Deus é o bem todo-poderoso. É preciso confiar em Deus, o bem, com todo o nosso coração. “Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento”, Prov. 3:5. aconselha um versículo de Provérbios, bastante conhecido.
Quando a súplica ao Amor divino parte do fundo de nosso coração, às vezes tão desalentado, damo-nos conta, com freqüência, de que acontece algo mais do que um restabelecimento da harmonia. Achegamo-nos mais a Deus e sentimos alegria em Seu terno amor por nós. Mary Baker Eddy escreve em Ciência e Saúde: “As aflições são provas da solicitude de Deus. O desenvolvimento espiritual não germina da semente lançada no terreno das esperanças materiais, porém, quando estas se desvanecem, o Amor propaga de novo as alegrias mais elevadas do Espírito, as quais não têm mácula terrena.” Ciência e Saúde, P. 66.
Mesmo que pareça que estamos por algum tempo perdendo de vista o amor de Deus — por erro, ignorância ou pecado deliberado — Sua graça infalível está sempre ao nosso alcance para guiarnos de volta aos braços do Amor divino. Mesmo em desafios cruciais, podemos recorrer ao Amor divino e sentir a alegria da qual Cristo Jesus fala quando diz: “Vossa alegria ninguém poderá tirar.” João 16:22. Então, sentimos o amor do pai nos envolvendo e guiando carinhosamente pelo caminho correto. E não há lugar mais feliz para se ficar.
Porque o Senhor Deus é sol e escudo;
o Senhor dá graça e glória;
nenhum bem sonega aos que andam retamente.
Ó Senhor dos Exércitos, feliz o homem que em ti confia.
Salmos 84:11, 12
