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NOVAS PERSPECTIVAS

Às vezes é indispensável, neste mundo tão necessitado, ver as coisas sob nova luz. Novas Perspectivas é uma seção apropriada para aqueles que querem dar um enfoque especial a assuntos de interesse comum.

O Velho Testamento: uma história de amor entre Deus e Seu povo

Segunda parte

Da edição de abril de 1993 dO Arauto da Ciência Cristã


Esta série de artigos ilustrados, apresentada no O Arauto — “O poder transformador das Escrituras”— dá um apanhado da impressionante história do desenvolvimento dos escritos sagrados no mundo, através de milhares de anos. Salienta a atuação dos grandes homens que escreveram e traduziram a Bíblia. Muitos deles deram a vida para que a influência transformadora das Escrituras chegasse a toda a humanidade. Este artigo é continuação da série.

A ALIANÇA DO REI DAVI


O Velho Testamento nos conta que Israel sofreu durante muito tempo, pois as populações que o rodeavam o invadiam com incursões e pilhagens, enquanto que, internamente, sofria devido ao fascínio enganador do culto a Baal, praticado em seu próprio território. Percebendo a necessidade de estabilidade e agindo dentro de suas atribuições como líder espiritual do povo, Samuel designou e ungiu o primeiro rei de Israel, um devoto e apaixonado servo de Iavé, chamado Saul. Dotado por Iavé do espírito carismático de liderança, Saul foi o chefe que conduziu seus conterrâneos, numa resistência sem quartel contra a maior ameaça militar que os acossava na época: os filisteus. Esse povo navegador do sul da Europa havia durante anos a fio aterrorizado a região em volta do Mar Egeu e estava decidido a conquistar Israel, tornando-o parte de seu crescente império. Embora a princípio Saul tivesse sido bem sucedido em conter a invasão dos filisteus, começou mais tarde a apresentar problemas emocionais que o desacreditaram aos olhos de seu povo. Ficou claro para todos, especialmente para Samuel, seu conselheiro espiritual, que Saul havia perdido o carisma.

À medida que ia se tornando evidente que Saul não tinha mais competência para liderar o povo, um jovem e brilhante líder militar surgiu para preencher a vaga. Seu nome era Davi. Possuía uma miríade de talentos e o povo o amava: era poeta e músico, hábil político e estrategista militar. Acima de tudo, estava decidido a tornar Israel uma grande nação a serviço de Iavé. Logo após tornar-se rei de Israel, Davi expulsou completamente os filisteus, ganhando a lealdade perpétua do povo hebraico. Passou então a consolidar rapidamente as tribos de Israel numa única nação forte. Jerusalém tornou-se o centro de adoração sob o reinado de Davi, que tomou as providências necessárias para eliminar totalmente do país o culto a Baal.

Davi foi sucedido no trono pelo filho, Salomão, que liderou a nação em novos empreendimentos gloriosos. Estendeu as fronteiras do país pelo uso da força, edificou um enorme e requintado templo, dedicado a Iavé, e construiu para si um luxuoso e imponente palácio. Embora tivesse ficado notória sua sabedoria, Salomão carecia do caráter espiritual de seu pai. Além disso, estava por demais disposto a permitir o culto a Baal, juntamente com o culto a Deus. Deu-se ao luxo de agir como um déspota oriental, obrigando milhares de cidadãos a trabalhar duramente em seus projetos de construção. De acordo com o relato bíblico, escrito muito tempo depois, Iavé acabou por desagradar-se de Salomão e destituiu-o do trono.

Davi e Salomão inspiraram um nacionalismo exuberante, que levou um escritor devoto a compilar o grande relato épico da história de Israel, que se tornaria depois a espinha dorsal da Bíblia hebraica. Esse escritor anônimo é conhecido simplesmente como o autor jeovista. Sua narrativa épica celebra, em prosa magnífica, a fé de Israel baseada na aliança, contando, a partir dos dias de Abraão, a história do compromisso de Israel com Iavé. Como prólogo para essa história de Israel e da comunidade da aliança, o narrador jeovista faz um relato vívido da história primitiva desde Adão e Eva até a torre de Babel. Ao compilar essas histórias, ele vai muito além da tradição judaica e utiliza subsídios dos mitos da Mesopotâmia.

O tema básico do relato jeovista, encontrado nos primeiros cinco livros do Velho Testamento (conhecidos em conjunto como o Penta-teuco), é a promessa de Deus de tornar Israel uma grande e poderosa nação, que servisse de luz para todas as nações, que fosse a depositária especial de grandes bênçãos para a humanidade, dentro do plano universal de Iavé.

Nenhuma das histórias do relato jeovista era nova para os israelitas, mas seu talento, ao reuni-las num pujante trabalho épico, foi brilhante e revolucionário. Em cima dessa estrutura básica, os hebreus continuaram a edificar suas Escrituras nos séculos posteriores.

FIRMES NA FÉ ENQUANTO O REINO DO NORTE DESMORNA


Com a morte de Salomão, o reino de Israel logo se divide entre norte e sul. A região norte é regida por um antigo inimigo de Salomão, chamado Jeroboão, e o sul é governado pelo filho do antigo rei, Roboão. Ao norte, Jeroboão fez o que pôde para consolidar seu reino, erigindo santuários para o culto e incutindo no povo um novo orgulho nacionalista. Todavia, não se opôs a fazer concessões aos adoradores de Baal, e até mandou colocar alguns bezerros de ouro nos novos santuários de Iavé.

Diga-se a seu favor que Jeroboão inspirou um escriba anônimo, conhecido apenas como o autor "eloísta", por referir-se a Deus como Eloim, a escrever uma história épica da nação israelita, a partir do ponto de vista do Reino do Norte. Utilizando as mesmas antigas tradições orais que o jeovista havia usado, o eloísta repete a história sagrada do povo escolhido, desde o chamado de Abraão e Israel, passando pelo êxodo do Egito e chegando à conquista de Canaã. Diferentemente, porém, da história jeovista, enaltece Moisés (não Davi) como sendo o profeta máximo de Israel, defendendo a mais estrita obediência à Lei e à aliança que ele estabeleceu. Com o tempo, os dois relatos se tornaram tão intercalados que é difícil, agora, separá-los, ao ler os primeiros cinco livros da Bíblia.

Os dois séculos seguintes foram turbulentos para os filhos de Israel. Foi praticamente constante a guerra civil entre os Reinos do Norte e do Sul.

Para combater esses duros desafios, uma série de grandes profetas derramaram suas energias espirituais, procurando ajudar o povo hebreu a manter a fé, a permanecer fiel às alianças com Iavé.

O primeiro desses grandes homens de Deus, um profeta que chegou ao Reino do Norte vindo do deserto, no começo do século IX A.C., foi Elias, o tesbita. Estranhamente vestido de peles, e parecendo deslocado na sofisticada cultura israelita, esse portentoso profeta censurou o rei Acabe por tolerar o culto a Baal por parte de sua esposa estrangeira, Jezabel, e por ter construído para ela um templo grandioso, dedicado a Baal.

Elias era um profeta impulsivo, não tinha meias palavras e exigia castigos dos mais severos, quando a aliança de Israel com Deus era desrespeitada. Foi ele, contudo, quem mostrou ao povo hebreu, de maneira inesquecível, que Iavé não era um deus da natureza, não era um deus que estava no fogo, no vento nem no terremoto, mas era um Deus totalmente espiritual, que lhe falava suavemente, num “cicio tranqüilo e suave”.

Seguindo as pegadas de Elias, no Reino do Norte, houve outro profeta renomado: Eliseu. O relato do ministério de Eliseu, no segundo livro de Reis, dá conta de notáveis feitos espirituais, como a ressurreição de um menino e a cura de Naamã, oficial do rei da Síria, que era leproso.

Com o aumento do poderio da Assíria, em meados do oitavo século, outros dois profetas surgiram para repreender e consolar Israel. Um deles foi Amós, o primeiro profeta a realmente registrar suas idéias por escrito.

O outro foi Oséias, que se considerava sucessor de Moisés e novo mediador da aliança de Israel com Iavé. Angustiado por ter o povo traído essa aliança de forma tão flagrante, ele previu que a vingança de Deus seria rápida é terrível, a menos que Israel renovasse e aprofundasse imediatamente sua aliança com Iavé. O desastre previsto por Oséias não demorou a tornar-se uma realidade. No ano de 721 A.C., após sitiar brutalmente a cidade de Samaria, os assírios conquistaram Israel de forma decisiva e levaram cativos para seu país mais de vinte e sete mil hebreus. O Reino do Norte veio a ser povoado por colonos estrangeiros vindos da Síria, da Babilônia e de Elão. O sonho da grande nação israelita parecia desmoronar para sempre.

A QUEDA DO REINO DO SUL

Com a queda do Reino de Israel, ao norte, a única esperança de levar avante a aliança de fé era o Reino do Sul, o de Judá. Ali, em Jerusalém, o profeta Isaías se levantou para aconselhar o rei Acaz e dar ânimo ao povo, na luta para manter afastada a ameaça assíria que havia destroçado Israel. Durante seu ministério de quarenta anos, iniciado em 742 A.C., Isaías escreveu os hinos, profecias e narrativas que correspondem aos primeiros trinta e nove capítulos do livro bíblico que leva seu nome.

Isaías só conseguia prever para Judá a desgraça e o sofrimento que se abateriam sobre o país, no dia do julgamento de Iavé, quando Deus pediria contas a Seu povo pelas infidelidades praticadas. Nessa época, profetizou que a destruição de Judá seria completa, exceção feita de um pequeno número de remanescentes, homens justos que ajudariam a restaurar a linhagem de Davi, que Deus havia prometido preservar para sempre. Isaías também prometeu que um menino especial nasceria para o povo, um Messias, que traria salvação aos hebreus e lhes demonstraria a presença constante de Deus. Esse seria o sinal de Emanuel. Quando Isaías se deu conta de que o povo hebreu não queria ouvir sua mensagem, retirou-se da sociedade e escreveu o Livro do Testemunho, encontrado entre Isaías 6:1 e 9:7.

Mais tarde, uma mensagem imperiosa também veio do profeta Jeremias, a quem Iavé ordenou que acusasse Judá de divórcio por sua infidelidade à aliança. Atuando no caso como se fosse o advogado de Iavé, Jeremias explicou ao povo que não era suficiente obedecer só na aparência exterior. Era necessário mudar o coração, “circuncidar o coração”.

O novo rei de Judá, Josias, ficou tão impressionado com a mensagem de Jeremias, que deitou fora todas as imagens assírias que havia no templo, no ano 621 A.C. Nessa operação, fizeram uma descoberta notável no local: encontraram o livro da Tora. Ali estava escrita a lei de Moisés, que aparentemente estivera perdida durante séculos. Emocionado com o achado, Josias convocou imediatamente seus súditos para se reunirem no templo e ouvirem pela primeira vez a leitura do livro, e renovarem o compromisso com a antiga aliança.

Como parte da reforma causada pela descoberta da Tora por Josias, um escritor anônimo, conhecido simplesmente como o autor deuteronomista, compilou uma história de Israel e Judá, começando pela morte de Salomão em 922 A.C., terminando com a revolução de Jeú, em 842 A.C. A seu ver, todos os problemas de Israel advinham da desobediência à Lei. O relato dele se encontra em Primeiro e Segundo Reis e no livro de Josué. Além disso, esse mesmo escritor, ou equipe de escritores, resumiu e enalteceu a Lei e o ensinamento de Moisés, no livro de Deuteronômio, que se tornaria o fundamento da doutrina hebraica.

As reformas de Josias, porém, assim como os escritos do deuteronomista, não agradaram a todos. O profeta Naum, por exemplo, dizia que que Israel não merecera o castigo que recebeu. Simplesmente não era justo que a nação fosse absorvida pelos assírios. O profeta Habacuque perguntava a Iavé quanto tempo durariam as tribulações de Israel. Ele não conseguia aceitar a visão que o autor deuteronomista tinha da história judaica, reduzindo tudo a uma questão de recompensa ou punição da parte de Deus, por bom ou mau comportamento.

A princípio, Jeremias se agradara das reformas deuteronômicas, mas perto do fim de seu ministério de quarenta anos como profeta, ele as condenou. Achava que continham uma visão estreita e nacionalista do lugar que Israel ocupava na história, que incentivavam obediência à letra da Lei, deixando de lado a necessidade de uma regeneração íntima mais profunda.

Novamente, admoestando o povo hebraico quanto à necessidade de obediência absoluta ao único Deus, profetas como Jeremias, Habacuque e Sofonias previram desgraça e destruição, se não houvesse um despertar. A destruição aconteceu por fim para Jerusalém, no ano de 587 A.C., quando o rei Nabucodonosor invadiu a cidade, destruiu o templo e levou cativo para a Babilônia o povo hebraico.

A única salvação de Israel, Jeremias sabia, estava na Nova Aliança prometida, uma aliança do coração. Esta viria a ser, um dia, o fundamento para a restauração de Jerusalém.

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