Se um casamento “não está indo bem”, a opinião geral é de que o casal deve se separar e simplesmente desistir, especialmente se a decisão de casar não foi muito inspirada. Essa, no entanto, não foi a opção de uma jovem esposa que percebeu, baseada nos ensinamentos da Ciência Cristã, que podia expressar algo mais do que mero amor pessoal e limitado. Hoje, passados vinte anos, ela e o marido falam com sinceridade de seus problemas anteriores, do desenvolvimento espiritual alcançado, e de seu casamento feliz.
Ela: Após alguns anos de casada percebi que, ao me casar, eu não tinha um conceito claro dos valores que considerava importantes. Naturalmente, meu marido possuía qualidades e eu as apreciava, mas eu havia temporariamente perdido de vista os valores espirituais. Eu havia sido criada na Ciência Cristã, mas não a “assimilara”, por assim dizer. A Ciência Cristã ainda não fazia parte de meu modo de pensar e de viver.
Após alguns anos de casamento, entretanto, comecei a sentir falta de uma qualidade de pensamento mais elevada. Senti que a meu marido faltava algo e isso tornava minha convivência com ele cada vez mais difícil. Comecei a perceber que se tratava de falta de espiritualidade.
Ele: Creio que minha sensação também era a de que faltava alguma coisa. Talvez eu não soubesse o que era, mas ansiava por algo que vinha procurando havia alguns anos. Hoje, percebo que sentia falta de maior espiritualidade, embora não o distinguisse na época.
Ela: Na ocasião, meu marido trabalhava à noite num jornal, onde a atmosfera era bastante mundana. Notei, com tristeza, que ele estava se deixando influenciar pelo ambiente à sua volta. Estava se tornando vulgar e áspero e comecei a achar insuportável esse modo de agir. Eu me empenhava mais em estudar e praticar a Ciência Cristã. Cometi, porém, o erro de tentar convencer meu marido da verdade e convertê-lo à Ciência Cristã! Não é de surpreender que eu tenha enfrentado uma resistência obstinada. Ele parecia estar cada vez mais empenhado em seguir um estilo de vida cada vez menos compatível com minha maneira de encarar as coisas.
Finalmente, compreendi que a Ciência Cristã não nos ensina que para curar um problema, devemos obstinadamente fazer com que a pessoa mude. Em essência, a cura ocorre quando nós mesmos nos conscientizamos da realidade espiritual; quando compreendemos o que Deus é e o que Ele faz. Por isso, obriguei-me a ficar quieta. Naquele verão, decidi ler o Novo Testamento e simplesmente absorver o espírito das palavras e das obras de Cristo Jesus, bem como dos outros acontecimentos. Certo dia, li o relato sobre a ressurreição de Lázaro dentre os mortos. Dessa vez, fiquei espantada ao notar que Jesus chamou Lázaro. Então pensei: bem, Jesus agiu como se Lázaro pudesse ouvir! Isso devia significar que Lázaro podia ouvir o Cristo, a Verdade, portanto não estava morto para a espiritualidade.
Certamente era isso que eu havia aprendido na Ciência Cristã, que como imagem e semelhança espiritual de Deus, o homem reflete a Deus, reflete inteligência e amor e está sempre pronto para cumprir o propósito de Deus. De repente, vi que até então eu acreditara que um homem, meu marido, podia estar espiritualmente morto, totalmente surdo, incapaz de ouvir a verdade. O homem, porém, possui um sentido espiritual que está sempre alerta. O Cristo, a Verdade, fala diretamente ao sentido espiritual e chama o homem, o verdadeiro homem, ou seja, nossa verdadeira identidade. A Sra. Eddy explica em Ciência e Saúde: “O sentido espiritual é uma capacidade consciente e constante de compreender Deus.” Ciência e Saúde, p. 209. Daquele dia em diante comecei a me sentir calma e confiante de que, como filho de Deus, meu marido possuía a capacidade constante e consciente de compreender a Deus. Não era minha função “convencê-lo” da verdade, mas sim reconhecer que o Cristo estava sempre falando diretamente à sua consciência.
Ele: Mais ou menos na mesma época, comecei a perceber que eu estava mudando minha conduta. Não quero dizer que foi algo que aconteceu da noite para o dia, absolutamente. Não foi uma questão de acordar certa manhã (ou certa tarde, já que trabalhava à noite), e dizer para mim mesmo: “Hoje sou um homem diferente.” Mas, muito naturalmente e com facilidade, fui abandonando certos hábitos. Deixei de beber. Deixei de fumar maconha, como até então fazia, ocasionalmente. Deixei de tomar alguns remédios que usava com certa regularidade e deixei de pensar que a auto-medicação ou a consulta médica eram os meios de resolver meus problemas de saúde. Foi um processo gradativo mas, pouco a pouco, comecei a pensar de maneira diferente e, de novo, associo isso à disposição de minha esposa de trabalhar e orar em silêncio sobre o assunto.
Ela: Meu marido mudou de emprego, o que ocorreu facilmente e com muita naturalidade. Ele saiu do jornal e foi trabalhar num lugar onde a atmosfera era bem mais compatível com o crescimento espiritual que estava ocorrendo. Um ano depois, ele se tornou membro d’A Igreja Mãe. Talvez você esteja pensando que, depois disso, vivemos felizes para sempre. Mas não foi assim! Eu ainda não estava completamente feliz. Ainda precisava compreender melhor o que significava me sentir completa e feliz. A essa altura eu já via qualidades que respeitava e admirava em meu marido e me sentia encorajada por essa espiritualidade emergente. Mesmo assim, muitas vezes sentia-me muito só e sentia falta daquilo que se poderia chamar de comunicação afetuosa.
Cheguei a pensar que, de fato, o casamento não iria adiante. Fui à Europa por várias semanas para ver se conseguia ser feliz sem ele. Enquanto lá estava, orando muito, veio-me ao pensamento uma passagem escrita pela Sra. Eddy em Message to The Mother Church for 1901: “O Cientista Cristão está a sós com seu próprio ser e com a realidade das coisas.” Message for ’01, p. 20. Pensei: “Bem, estou sozinha, mas creio que isso não significa que eu tenha de me sentir solitária.” Comecei a compreender que estar só espiritualmente significava, de fato, completa unidade. A verdade espiritual era que, como semelhança e expressão de Deus, eu era una com Deus. E isso significava que eu realmente era completa. Significava que tudo o que precisava para ser feliz, estar satisfeita e sentir profundo contentamento, em verdade já fazia parte de minha própria consciência, que era o reflexo de Deus. Não precisava continuar à procura de outra pessoa que me proporcionasse satisfação.
Ao voltar da Europa, tinha, no íntimo, um senso completamente novo de como trabalhar e orar por nosso casamento. Sentia-me muito amada por Deus e capaz de amar sem barreiras, sem esperar algo em troca. Acontece, porém, que à medida que os dias passam e entramos na rotina do dia-a-dia, precisamos manter a visão, a percepção de que somos a semelhança espiritual de Deus, refletimos Suas qualidades, Seu amor infinito. O que é maravilhoso sobre a visão espiritual é que ela não se desfaz perante os desafios, mas continua presente. Precisamos simplesmente lembrar-nos de aprimorá-la e aderir a ela. Mesmo nos momentos em que somos levados a crer que não mais percebemos a visão, mesmo assim, temos conosco aquele reconhecimento profundo, a experiência espiritual que nos mostrou que o Amor divino é verdadeiro. É isso que nos permite enxergar através das nuvens escuras. E cada vez ficamos um pouco mais fortes.
À medida que o tempo passava, nosso relacionamento foi melhorando e a comunicação tornou-se mais completa. Com o passar dos anos, a ternura foi crescendo e brotou um novo sentimento de genuína intimidade e união. Descobri o que muitas pessoas casadas devem ter aprendido ao crescer espiritualmente: quando percebemos que nós mesmos estamos continuamente sob o doce amparo de Deus, sentimo-nos muito mais capazes de apoiar e amar nosso cônjuge. Esse foi um longo processo de crescimento que ocorreu aos poucos, não somente num incidente único e notável. Houve, no entanto, ocasiões memoráveis ao longo do caminho, cada uma abrandando o coração, tornando-nos mais humildes, fazendo com que meu marido e eu nos volvêssemos a Deus com maior sinceridade à procura de respostas.
Por que me empenhei em orar por nosso casamento, em vez de simplesmente desistir e iniciar o processo de divórcio, pensando que de qualquer forma a união não daria certo? Porque me sentia realmente comprometida com um ideal de casamento e estava convencida de que esse ideal transcendia as circunstâncias individuais do caso. Acreditava que, à medida que nos comprometemos com um ideal cristão, encontramos um meio de ajustar as circunstâncias individuais e, então, a cura ocorre.
No capítulo “O Matrimônio”, em Ciência e Saúde, que me foi de grande ajuda, a Sra. Eddy salienta: “Marido e mulher nunca devem separar-se, a menos que haja exigência cristã para isso. É melhor aguardarem a lógica dos acontecimentos, do que uma mulher deixar precipitadamente seu marido, ou um marido deixar sua mulher.” Ciência e Saúde, p. 66. Eu não via exigência cristã para deixar meu marido. Senti que precisava ficar firme e resolver o problema. Se tivesse partido do raciocínio de que uma razão legítima para desistir do casamento era, talvez, a incompatibilidade de gênios, não teria me sentido em paz. Ao casar-me, eu havia prometido algo. Eu enfrentaria o problema. Felizmente aprendi que Deus é que cuidaria do caso e me apoiaria. Sinto-me muito grata por ter tido aquele senso de compromisso com o ideal espiritual do cristianismo. Imagine o que teríamos perdido se não tivéssemos trabalhado e crescido juntos!
Ele: Creio que a exigência primordial do casamento é a abnegação e a comunicação plena. Abnegação nos detalhes do dia-a-dia, levando em conta sempre, em cada situação, o que é melhor para o outro. Essa é a Regra Áurea. E é a maior recompensa. Qual é o maior sentimento? quando é que nos sentimos verdadeiramente em paz? Quando nos afastamos de um senso mortal de nós mesmos, quando nos libertamos do tipo de pergunta: “O que é que eu necessito? O que é que eu quero? O que é que eu preciso ter ou o que é que eu tenho de fazer?” e percebemos que tudo o que realmente precisamos e desejamos já está provido perfeita e abundantemente por Deus, então realmente estamos livres. Faz parte do aprendizado dessa lição o praticá-la ininterruptamente.
Deus está sempre satisfazendo o desejo de nosso coração. É interessante observar quantas vezes a palavra desejo aparece no capítulo “A Oração”, em Ciência e Saúde. “O desejo é oração;” diz a Sra. Eddy, “e nenhuma perda nos pode advir por confiarmos nossos desejos a Deus, para que sejam modelados e sublimados antes de tomarem forma em palavras e ações.” Ibid., p. 1. Começamos a descobrir um conceito inteiramente novo sobre o que constitui o verdadeiro desejo e sobre a diferença entre vontade e necessidade, e assim por diante. Ver a nós mesmos como descendentes de Deus, que nos ama incondicionalmente e satisfaz aos desejos de nosso coração, livra-nos do falso sentido de desejo, qualquer que seja sua aparência: cobiça, apetite sexual, ou a sensação de que estamos cercados de inimigos.
Não quero dar a impressão de que fiz muito mais do que meramente começar a descobrir o que é o Amor divino e a demonstrá-lo. Mas ao menos sei que o Amor divino é a verdade e estou empenhado em trabalhar diariamente partindo desse ponto. Certos dias o percebo com maior clareza e o demonstro melhor do que em outros. Mas é assim mesmo. Se temos um vislumbre, um simples vislumbre e nos apegamos ao que conseguimos perceber, as coisas tornam-se cada vez mais claras com a demonstração do dia-a-dia.
Ela: Para mim, hoje em dia, no que concerne ao significado de casamento, uma palavra que me ocorre é sacramento. O casamento é um sacramento composto de pequenos atos de afeição, de fidelidade diária, de gestos quase imperceptíveis, de momentos em que nos entregamos à Verdade e ao Amor divino. Abandonamos um senso limitado, pessoal, de felicidade, de realização ou de ambição e aderimos a uma riqueza divina e a uma bondade que envolve a nós e a nosso cônjuge. Grande parte da esperança da humanidade, da esperança das nações, está nos casamentos que perduram, que são cheios de ternura e vicejam. Creio ser de importância vital que os casais encarem o casamento dentro desse contexto maior, muito maior do que os meros interesses pessoais.
Às vezes nos apercebemos de que as provações, os golpes e as pressões que procuram nos separar realmente não têm origem em nosso pensamento nem no de nosso cônjuge, mas são ataques deveras agressivos da mente carnal, do magnetismo animal, contra o ideal espiritual de família. Precisamos estar alerta quanto aos pensamentos que cultivamos, precisamos identificar se são passivos, uma espécie de aceitação sutil das correntes materialistas do modo de pensar da sociedade em que vivemos, ou se estamos defendendo nosso pensamento para que se mantenha fiel às verdades espirituais do ser. Precisamos proteger nossa mente e nosso casamento contra esse tipo de invasão mental traiçoeira.
Há ocasiões em que nossos maiores esforços humanos parecem não alcançar o objetivo, parecem ser insuficientes. Mas é a graça de Deus, Seu amor infinito por nós que nos habilita a ser o que realmente somos. Quando compreendermos isso seremos capazes de amar com o amor que vem de Deus.
