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A árvore de um milhão de ramos

Da edição de janeiro de 1994 dO Arauto da Ciência Cristã


Há Alguns Anos, morei em um país muçulmano. A pequena casa em que vivia estava situada na praia, próxima ao setor pobre da cidade. Eu tinha muitos amigos ali, entre eles, o imame da localidade, que liderava as orações na mesquita. Por vezes, eu conversava com esse amável senhor acerca de sua religião, procurando entendê-la melhor.

Certo dia, decidi perguntar-lhe como é que a religião muçulmana definia a Deus. Eu estava certo de que, como Cientista Cristão, eu tinha a melhor definição, como se a definição de Deus fosse algo que se pudesse possuir, em vez de ser a base para nossas ações! Enquanto caminhava pela praia em direção a sua modesta casa, acho que meu estado mental assemelhava-se ao do fariseu, na parábola do fariseu e do publicano no templo. Ver Lucas 18:9—14.

Depois dos cumprimentos de praxe, fiz minha pergunta. Sua resposta ensinou-me uma das maiores lições de minha vida. “Se você tomasse todos os ramos de todas as árvores do mundo como canetas”, replicou, usando uma imagem do Corão, “e a água de todos os lagos, rios, regatos, fontes e oceanos do mundo como tinta, você não conseguiria escrever todos os nomes, todas as qualidades de Deus.” Após um momento de profundo silêncio, acrescentou: “Você é melhor muçulmano do que a maioria dos muçulmanos que conheço.” Entendi com isso que ele aprovava minha maneira de viver.

Durante o Curso Primário de Ciência Cristã, o professor citou um poema do poeta americano Edwin Markham, que diz:

Ele desenhou um círculo que me excluía —
Herético, rebelde, algo de que se gabar.

Mas o Amor e eu vencemos com a sabedoria:
Desenhamos um círculo que o incluía!  "Outwitted."

Foi exatamente assim que meu amigo agiu para comigo: havia suavemente derrubado a parede construída pelo meu farisaísmo, com o amor que sempre a tudo inclui.

Essa atitude de “nós contra eles” parece uma característica universal da raça humana. É paradoxal que essa atitude pareça mais pronunciada na esfera religiosa, apesar da oração de nosso Mestre, Cristo Jesus, por seus seguidores: “de que todos sejam um”.  João 17:21.

Como é fácil cairmos na armadilha de traçar linhas divisórias baseadas em classe, raça, aparência física, cultura, modos, língua, sotaque, filiação política ou religiosa, trejeitos, riqueza, sexo, opiniões e crenças de todos os tipos. Mas ao fazê-lo, vamos contra a injunção de Mary Baker Eddy: “Recomendo aos Cientistas que não façam distinção alguma entre uma pessoa e outra, mas que pensem, falem, ensinem e escrevam a verdade da Christian Science, sem fazer referência à personalidade boa ou má neste campo de ação.” Não e Sim, p. 7.

Traçar linhas divisórias, a mentalidade de “nós contra eles”, é, vez ou outra, uma tentação para a maioria das pessoas. Essa tendência é especialmente perniciosa na área religiosa e metafísica. Quando achamos que os outros “não possuem” a verdade ou são inferiores ou incapazes de alcançar nossa compreensão atual da verdade, qualquer que seja seu grau, aceitamos dualismo e separação em nossa vida. Sem dúvida, os estudantes da Ciência Cristã podem esforçar-se ainda mais para não cair nessa armadilha. Quantas vezes ouvimos expressões como “Ele não é Cientista Cristão, mas ...” e “Apesar de ele não ser Cientista Cristão ...” e muitas outras que descrevem um mundo supostamente dividido entre dois campos, os Cientistas Cristãos e “os outros”!

Surpreendi-me, certo dia, quando alguém que eu admirava me disse: “Deus nunca ouviu as palavras Ciência Cristã.” É certo que Deus conhece Sua própria lei, que governa Sua criação espiritual. A Ciência Cristã é a revelação dessa lei. A declaração de meu amigo fez-me ver como é fácil ficarmos enredados nas palavras, ao invés de pensarmos nas idéias que elas representam. As palavras, expressões e conceitos da linguagem humana são marcos que apontam para uma certa realidade — mas nunca constituem a realidade em si. É possível alguém decorar as Escrituras e ainda assim não manifestar muita espiritualidade genuína.

A Ciência Cristã sustenta com excepcional firmeza e clareza a unidade espiritual, não apenas de todas as pessoas em Deus, mas também de todo o universo como Sua manifestação divina. "Deus é Sua própria Mente infinita, e exprime tudo," Ciência e Saúde, p. 310. escreve a Sra. Eddy em Ciência e Saúde. Assim, se Deus nunca ouviu as palavras Ciência Cristã, Ele também nunca ouviu falar de certo grupo chamado "Cientistas Cristãos"! Ele conhece apenas Suas próprias idéias espirituais, que nós chamamos de Seus filhos. Estes não têm nenhum rótulo imposto pela história humana ou por critérios sociológicos. E quando estudarmos com atenção as definições que a Sra. Eddy dá de "Cientista Cristão", ficaremos mais atentos para não colocar a esmo o título, como se fosse uma etiqueta de identificação religiosa a mais.

Ela escreve, por exemplo, que o verdadeiro Cientista Cristão é uma pessoa que possui a inspiração de Jesus e esse poder para curar e salvar aquele que adere à norma do Princípio de modo tão irrestrito quanto às leis da matemática. Ela escreve que o verdadeiro Cientista Cristão deixa tudo por Cristo. E acaso isso não significa que devemos nos esforçar para abrir mão de todas as opiniões humanas e do hábito de julgar, abrir mão de todo medo, ressentimento, mesquinhez, crítica pessoal e de cada pingo de sensualidade e apatia, de toda resignação e desânimo, em outras palavras, de todas as características limitadoras?

Uma vez compreendido que o movimento da Ciência Cristã é um movimento do pensamento, tal como nossa Líder o define, ao invés de ser mera organização humana, fica bem mais fácil libertarmo-nos desse mesquinho hábito de rotular. Paramos de classificar pessoas ou mortais, mas estabelecemos a diferença entre maneiras diversas de pensar. De repente, compreendemos que o que pensávamos representar o "não-Cientista Cristão" tem mais a ver com nossos próprios conceitos, do que com pessoas "lá longe". Talvez devamos nos preocupar com o "não-Cientista Cristão" em nós, isto é, tudo aquilo que em nosso pensamento ainda esteja clamando por redenção.

O coração e a alma deste movimento do pensamento é uma compreensão mais clara do Amor divino, o grande removedor de todos os rótulos humanos, inclusive daqueles que definem as pessoas como doentes, pecaminosas, desonestas, dependentes de drogas, imorais e outras coisas afins. O Amor nos permite ver aquilo que existe além de todos os rótulos, ou seja, até a essência espiritual perfeita que constitui identidade verdadeira de todas as pessoas.

Um estudante da Ciência Cristã que trabalhava num país tropical provou isso. Ele era redator adjunto de uma revista que tratava de questões sociais e de desenvolvimento em uma área em que, devido ao desemprego, a prostituição constituía um grave problema. No exercício de suas atividades profissionais, teve de fazer um levantamento sobre a prostituição em vários países. Enquanto fazia essa pesquisa, encontrou-se no sábado antes da Páscoa numa grande cidade portuária. Sua tarefa era entrevistar as prostitutas de um hotel dúbio, cujo bar era o ponto favorito.

Nunca em sua vida tivera tarefa semelhante, por isso sentia-se nervoso. Assim, antes de dirigir-se ao bar, passou uma hora em oração em seu quarto, procurando estabelecer no pensamento uma compreensão clara de que no reino de Deus não há idéias marcadas como "prostitutas", como se esse fosse um rótulo. Enquanto orava, sentiu que deveria seguir o exemplo de Cristo Jesus, de ser capaz de perceber alguma necessidade humana de cura que pudesse aparecer, enquanto estivesse naquele ambiente.

Ao entrar no bar cheio de fumaça, sentiu um pedido mental de ajuda, proveniente de uma das moças. Sentou-se na mesa ao lado da dela e começou a orar. Pouco depois, uma jovem prostituta veio sentar-se à sua mesa. Por acaso, era amiga daquela que ele notara ao entrar no bar e chamou a amiga para vir ter com eles. Após terem falado ao homem sobre o trabalho delas, a conversa voltou-se de modo bem natural ao tópico da Ciência Cristã. Pouco depois, essas duas jovens expressaram tal interesse, que ele foi ao hotel onde estava alojado para buscar uns periódicos da Ciência Cristã para dar-lhes.

No dia seguinte, dia de Páscoa, os três se encontraram novamente. Na noite de segunda-feira, após um dia repleto de entrevistas em vários bares da cidade, o homem encontrou-se com a nova amiga que desejava saber mais sobre Deus, Suas leis divinas e sobre o relacionamento do homem com Deus. Desta vez, três outras jovens prostitutas juntaram-se a eles. Esse homem nunca tivera semelhante oportunidade de dar a Ciência Cristã. A certa altura, outra mulher, vestida de modo muito provocante, entrou na sala e sugeriu que as outras fossem com ela a certo clube noturno. A sugestão foi rejeitada por uma das presentes, que retrucou: "Deixe-nos em paz. Estamos no céu."

Quando esse homem, que vivia a milhares de quilômetros, deixou o país após sua breve estada de quatro dias, continuou a comunicar-se com sua amiga. Enviava-lhe periodicamente cassetes, nos quais continuava oferecendo verdades espirituais. Tornaram a encontrar-se alguns anos mais tarde, mas perderam contato, quando ela se mudou para outro país. Ainda assim, sentiu que nenhuma das verdades mencionados poderia jamais perder-se. Acima de tudo, ele aprendera a lição de que nenhum rótulo pode resistir ao Amor divino. Estivera continuamente dirigindo seu pensamento, expulsando as sugestões de sensualidade e, em especial, toda tendência de julgar.

Nós somos os maiores vencedores nesse processo de "desrotular". A vida passada num cubículo mental com uma grande pilha de rótulos é deveras triste e limitada. Mesmo que se saia por um instante, é para voltar depressa com um suspiro de alívio "porque não sou como os demais homens"  Lucas 18:11..

Acima de tudo, essa atitude de "nós contra eles" é uma maneira de nos mantermos separados dos outros, muitas vezes devido ao medo de mudar, de reconsiderar e ampliar nosso ponto de vista. Atitudes mais expansivas podem de início ser dolorosas para o pensamento que se cristalizou no egocentrismo, no ritualismo religioso sob todas as formas, ou no conforto limitado da reclusão mental. Contudo, aquele que de fato aceitou a liberdade estimulante de ser filho de Deus reconhece a cada dia o fato espiritual de que o Amor divino nunca exclui, mas sempre inclui. As paredes que precisam ser derrubadas nunca estão em outra parte senão na crença material, aliás, a mente mortal, que nunca é nosso pensamento: é mera imposição mental que de maneira vaidosa pretende nos enganar. Em vão, porque, como Ciência e Saúde explica: "O erro é um covarde ante a Verdade." Ciência e Saúde, p. 368.

É a Verdade que põe abaixo as paredes divisórias, não nossos esforços humanos. À medida que cedermos ao fato formidável e poderoso de que "temos a mente de Cristo"  1 Cor. 2:16., nossa única e verdadeira Mente, compreenderemos que as paredes nunca existiram, exceto num suposto sonho mortal. Descobrimos que grande privilégio é passar pela vida, incluindo e abarcando a todos, ao invés de excluir e rotular. Descobrimos, nas gloriosas palavras do apóstolo Paulo, que "Seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, sejam as cousas presentes, sejam as futuras, tudo é vosso, e vós de Cristo, e Cristo de Deus."  1 Cor. 3:22, 23.

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