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Aprendendo a derrotar o preconceito

Da edição de abril de 1994 dO Arauto da Ciência Cristã


No Espetáculo Musical intitulado Pacífico Sul, de 1949, de autoria de Rodgers e Hammerstein, o Tenente Cable canta, em tom de irritação: “Você deve ser educado com esmero”. A canção fala de se educar a criança a ter preconceitos, a odiar e temer aqueles que são diferentes. O amor do tenente por Liat, uma moça polinésia, é muito forte. Apesar desse amor, porém, o rapaz é vítima da educação que recebera desde a infância. Fora educado com tanto “esmero”, que tem medo de apresentar Liat à sua família.

Basta observar crianças pequenas brincando, para compreender os sentimentos de que fala a canção. As diferenças sociais, culturais, raciais e econômicas nem existem para as crianças, até elas serem envenenadas pelo preconceito.

Será que os adultos, cheios de preconceitos e intolerância, podem se modificar algum dia? É claro que sim! E aqueles que têm ódio, será que algum dia aprenderão a amar sem reservas? Naturalmente! Os ensinamentos do Novo Testamento indicam claramente que isso é possível.

O poder redentor do Cristo, a divina influência sanadora demonstrada na vida e nas obras de Jesus, é imparcial. Na época do Novo Testamento, Cristo, a Verdade, transformou o pecador em discípulo. Ajudou uma mulher de vida imoral a encontrar o caminho para uma vida digna, e um desonesto coletor de impostos a ser um cidadão honesto e justo.

Cristo Jesus amava a todos. Compreendia que Deus, o Amor divino, cuida em medida ilimitada de cada um de Seus filhos e que o genuíno ser do homem é a semelhança espiritual e ilimitada de Deus. Portanto, a posição social, a raça e a nacionalidade não definem o filho de Deus. Jesus provou isso no decorrer de seu ministério, mostrando-nos que ninguém está excluído da bênção plena e equitativa do amor de Deus.

Como podemos seguir o exemplo de amor imparcial e do toque sanador que o Guia nos deixou? É importante cultivar a inocência característica das crianças. Jesus disse: “Se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus.”  Mateus 18:3. Para nos tornarmos como crianças, precisamos estar dispostos a abandonar as opiniões preconcebidas a respeito dos outros e recuperar nossa pureza e confiança irrestrita. Os estereótipos rígidos precisam ser eliminados e a obstinação deve ser substituída pela humildade e pelo amor abnegado.

A semelhança de Deus não é material, nem se enquadra na categoria de negra, vermelha, branca, amarela ou morena; rica ou pobre; culta ou não. Precisamos reconhecer que a origem do homem está em Deus, o Espírito. Nós nos limitamos uns aos outros quando só levamos em conta a origem étnica ou cultural de cada um. Deus criou apenas um gênero de homem, Sua imagem espiritual, que expressa amor universal. Por isso, o preconceito racial e cultural realmente não tem lugar em Seu reino.

As palavras de Paulo aos colossenses apontam para a realidade espiritual do homem, que precisamos expressar cada vez mais em nossa vida. Ele disse a seus ouvintes que, como seguidores de Cristo, precisavam desfazer-se de elementos tais como a ira e a desonestidade, visto que haviam se despido “do velho homem” e se revestido “do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou”. Nesse novo homem, “não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo e em todos.” Além disso, como representantes de Deus, precisavam ser compassivos, bondosos, humildes e tolerantes. Precisavam deixar que a “palavra de Cristo” habitasse neles. Tudo o que fizessem devia ser feito “em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.”  Ver Coloss. 3:9–17.

Parece difícil acabar com o racismo e a intolerância, mas ambos terminam sendo destruídos, porque não têm base espiritual e aquilo que não está fundamentado em Cristo, a Verdade, não pode perdurar. O preconceito desaparece perante a compreensão da verdade acerca do homem criado por Deus, inseparável de seu Criador.

As primeiras noções sobre os danos causados pela intolerância racial me foram transmitidas pelo redator de uma revista chamada Viajante Negro. O único propósito da revista era o de prestar informações aos afro-americanos (ou negros, como se dizia antes) sobre os locais onde seriam atendidos para se hospedar e fazer as refeições, quando em viagem. Por ser de formação bem diferente, era-me difícil captar a mágoa profunda que o redator devia sentir ao relatar as histórias verídicas das privações enfrentadas pelas pessoas quando viajavam, devido à discriminação racial. Minha formação deixava-me totalmente despreparado para compreender a causa de tal intolerância.

Quando comecei a estudar a Ciência Cristã, descobri que por trás da forte influência do racismo sobre o pensamento humano, existe o falso conceito acerca da origem e da natureza do homem. Ninguém nega que parecemos ser mortais corpóreos que nascem, chegam à idade madura e morrem na matéria, quase que inteiramente definidos em termos físicos. Nosso verdadeiro ser, no entanto, é muito mais do que isso. Só através da compreensão crescente de que o homem é de fato espiritual, à semelhança de Deus, é que o racismo pode ser destruído.

Uma oportunidade inesperada, de testar minha solidez na resistência ao racismo, surgiu pouco tempo depois de eu ter aberto minha agência de imóveis. A proprietária de uma residência à venda, que eu ia mostrar a uma pessoa interessada, telefonou-me preocupada. Ela achava que o cliente interessado poderia ser um senhor negro, que vira passar de carro em frente à casa. Como eu havia falado com o cliente apenas ao telefone, não sabia qual era sua raça e simplesmente marcara o encontro na residência da proprietária.

Essa mulher havia sido “educada” a não permitir que nenhuma pessoa da raça negra morasse na vizinhança. Havia sido criada num bairro que resistira à integração racial, numa grande cidade. Quando criança, havia sido testemunha de grandes distúrbios raciais. Estava firmemente decidida a “proteger” seus vizinhos.

Na época, ainda não existiam leis nem decisões judiciais contra a discriminação e era meu dever legal representar o proprietário do imóvel. Além disso, um ou dois anos antes, um corretor havia sido multado por romper “a barreira da cor” em certo bairro. Mais recentemente, um outro corretor havia se desculpado publicamente por ter participado da venda de um imóvel a um negro em uma comunidade de brancos. Mesmo assim, eu sabia que não podia discriminar. Nem poderia me desculpar por algo que sabia ser correto aos olhos de Deus.

Olhando para além das aparências, percebi que os clientes, que poderiam ser uma família de negros, a proprientária do imóvel, que parecia decidida a discriminar e meus colegas corretores eram todos, em realidade, filhos de Deus. Embora cada descendente de Deus seja uma idéia individual, Ele não tem diversas espécies de filhos. Não há “filhos escravos” e “filhos livres” em Sua família. Todos têm a mesma origem, o Espírito divino, e todos expressam o amor imparcial de Deus.

Veio-me a idéia de pedir à mulher que estivesse presente, quando o homem e eu nos encontrássemos em sua residência, pois assim ela poderia apresentar-lhe diretamente suas objeções. Aconteceu que o homem realmente era negro e ela lhe disse francamente por que ele não poderia ver a casa.

Naquele momento, iniciou-se a reeducação da mulher. O homem replicou com calma e gentileza. Logo ela permitiu que ele visse a casa só para “fins de comparação”. Ela continuava com o firme propósito de “proteger” seus vizinhos. A casa era exatamente o que aquele senhor precisava para sua família.

As palavras de um hino do Hinário da Ciência Cristã foram a base de minhas orações para curar essa situação. São de um poema escrito pela Sra. Eddy, “Satisfeito”. A primeira estrofe corroborou minha convicção de que a questão importante era servir a Deus:

P’ra te guiar, só no Amor
Confiarás.
 Com treva ou luz ao teu redor,
A paz terás.

 Se eu servisse a Ele, o resultado de meus atos só poderia abençoar todos os envolvidos.

Já que eu me identificava como filho de Deus, não havia outra escolha a não ser a de expressar o Amor divino. Isso não significava apenas abster-me de discriminar e de ser intolerante, mas também ajudar os outros a perceberem como isso é certo e como traz alegria. Eu não podia aceitar que o racismo fosse algo inato nos outros, mas não em mim. Não havia duas verdades. Já que o racismo não faz parte da criação de Deus, realmente não faz parte de nenhum de Seus filhos. Eu não poderia sofrer penalidade por defender essa verdade.

A terceira estrofe apresenta uma promessa. Diz em parte:

Deus é Amor.
A compreensão destruirá
Hostil temor.

Essas linhas deram-me a certeza de que Deus, a Verdade, destruiria o hostil temor. A evidência concreta confirmou isso durante a semana seguinte, quando o pretendente comprador falou diversas vezes com a proprietária. Estava se desenvolvendo um entendimento recíproco. Além disso, um conceituado avaliador de imóveis residenciais, bem como um advogado com experiência em transações imobiliárias confirmaram minha observação de que a venda a uma família de negros não deprecia o valor das residências do bairro. Aconteceu também, que duas amigas da proprietária a repreenderam, quando esta lhes contou a bela ação que estava cometendo, ao impedir que uma família de negros viesse a residir na comunidade. Ela acabou aceitando minhas declarações quanto ao valor das propriedades, pois lhe expliquei que eu residia na mesma zona e seria consideravelmente afetado se estivesse enganado.

Ao fim de uma semana, a proprietária concordou em vender a propriedade à família e assinou o contrato. A venda foi concretizada no devido tempo. A família foi bem aceita pelos vizinhos e, naturalmente, não houve nenhum efeito negativo sobre o valor dos imóveis.

A quarta estrofe do hino “Satisfeito” serviu de apoio às minhas orações, enquanto a venda seguia seus trâmites até o fim, e mesmo depois disso. Diz o seguinte:

O Amor te salva, e me conduz
Do ódio ao bem.
Saber é força; Vida, luz;
E Tudo é Deus.

 Conforme ficou provado, o ódio não teve efeito algum sobre nós nem sobre nosso negócio.

Nos anos subseqüentes, nossa agência auxiliou muitas famílias a encontrarem moradia em bairros a que não tinham acesso anteriormente. Embora eu não possa dizer que o racismo tenha desaparecido, houve, todavia, progresso no sentido de serem eliminados estereótipos havia muito acalentados. Durante essa época, ficaram comprovadas as palavras finais do hino: “A Deus obedecer, amar, / Nos satisfaz.” Hinário, n° 160.

Deus é nosso Pai-Mãe, nosso Tudo-em-tudo. Quando servimos a Ele em primeiro lugar e procuramos cada vez mais discernir a realidade espiritual da criação, encontramos a paz e temos maior êxito no que fazemos. Descobrimos também que o amor pelos outros vai se aprofundando, independentemente das aparentes diferenças raciais ou culturais.

A transformação do pensamento pode ser gradativa, mas certamente virá, pois o poder de Deus, a Verdade, é supremo.

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