“A Terra Está cheia de crimes de sangue, e a cidade cheia de violência,” foi como o jovem exilado descreveu sua terra natal. Soa como um dos países ou cidades que aparecem nos noticiários modernos? Bem, não é. Na verdade, essas palavras retratam uma cidade há milhares de anos, uma cidade chamada Jerusalém. E o exilado? Um profeta muito especial chamado Ezequiel. Ezequiel 7:23.
Na época em que proferiu essas palavras, Ezequiel, junto com milhares de outros judeus, era prisioneiro político na Babilônia. Mas em contraste com seus compatriotas, Ezequiel tinha visões magníficas do que chamou “a glória do Senhor”, dum remoinho, duma nuvem de fogo, de criaturas celestiais maciças e de rodas.
Ezequiel também ouviu Deus lhe dizer para dar uma mensagem importante aos filhos de Israel: que se desviassem dos falsos profetas aos quais vinham seguindo. Esses profetas mentirosos, disse a voz divina a Ezequiel, levaram os judeus à idolatria, ao crime e à violência, à patente rebelião contra Deus. Ver Ezequiel 14:3. Essas coisas só levam à destruição de Jerusalém: a cidade vai cair e o templo será queimado.
Fiel à visão, Ezequiel anuncia a seu povo: “Vem a destruição.” Mas a história não pára aí. Mais tarde, Ezequiel fala aos judeus de uma nova visão: uma visão de redenção, restauração e cura. Das cinzas da velha cidade, ele prediz, surgirá uma cidade reconstruída e renovada. Uma cidade santa, em tudo governada por Deus.
No meio dessa “nova Jerusalém” estará um novo templo monumental, maior e mais majestoso do que o primeiro. E das portas dessa estrutura fluirão “águas” puras e curativas, um portentoso rio de cura que leva vida, esperança e renovação a todo lugar por onde passa. Essa nova cidade não mais será chamada “Jerusalém”, mas seu nome será “O Senhor está ali.” Ezequiel 48:35.
Ora, talvez você pense que “O Senhor está ali” é um bom nome para uma cidade profética de vinte e cinco séculos atrás, mas é um conceito por demais idealista para os dias de hoje, em que assassinatos, assaltos, roubos, vício de drogas e guerras tribais são tão comuns, que já nem mais estremecemos quando deles ouvimos falar.
Essas coisas aconteceram nos dias de Ezequiel também e é por isso que sua visão transcendente é tão pujante. Ao mesmo tempo em que Ezequiel viu sua querida Jerusalém ser consumida pela morte e pela devastação, ele também previu sua ressurreição. E por quê? Porque ele sabia que o Senhor estava, e sempre estaria, “ali”, no meio dela. Ele deve ter vislumbrado de alguma forma que o poder, a pureza e a totalidade de Deus restaurariam Jerusalém através da revelação da nulidade básica do mal, desse modo transformando Jerusalém numa cidade santa.
Que tal você e eu encararmos nossas cidades da maneira profética em que Ezequiel encarou a sua? Isso não quer dizer que não tomemos precauções para evitar o crime, mas tendo dado esses passos, tenhamos também o discernimento espiritual para olhar para além de uma visão mortal e desoladora de nossas cidades e ver a falta de realidade do materialismo e da carnalidade, que causam as tragédias urbanas. Oremos de modo incansável por nossas comunidades até sabermos, com a certeza que Ezequiel tinha, que “o Senhor está ali”, realizando Seu propósito sagrado, o qual não pode ser anulado. Em outras palavras, tomemos a decisão, como Ezequiel, de conscientemente morar na “nova” Jerusalém, em vez de na velha, na cidade santa, em vez de na ímpia que nossos olhos e ouvidos mortais nos mostram. Essa santa cidade, totalmente espiritual, prefigura a Nova Jerusalém que João vislumbrou, no livro do Apocalipse. Ver J.R. Dummelow, A Commentary on the Holy Bible, p. 523.
A interpretação metafísica que a Sra. Eddy dá de Jerusalém, em Ciência e Saúde, mostra com clareza que há uma grande diferença entre o conceito mortal de Jerusalém e o imortal. A primeira parte da definição dá o conceito mortal, focalizando o mesmo triste conjunto de problemas urbanos com que Ezequiel se deparou (e que você e eu talvez vejamos todos os dias, ao sair de casa!). Essa Jerusalém, ela diz, é “crença mortal e conhecimento obtidos dos cinco sentidos corpóreos; o orgulho do poder e o poder do orgulho; sensualidade; inveja; opressão; tirania.”
Por outro lado, o conceito imortal de Jerusalém é um abrigo de paz e harmonia. Nas palavras da Sra. Eddy, é “lar, o céu.” Ciência e Saúde, p. 589. Essa é a cidade na qual todos de fato vivemos. É nosso lar verdadeiro e celestial: espiritual, puro e perfeito. Nela vivem os filhos de Deus, os quais são tão dignos de amor e belos e santos como seu Pai divino. Não há predadores nem vítimas nessa cidade celestial, já que todos os habitantes são irmãs e irmãos em Cristo e atuam segundo um propósito celestial. Entre esses filhos de Deus não há competidores, nem atacantes, nem desabrigados, só os que, agradecidos, recebem a glória de Deus e Sua bondade sem fim.
Foi assim que uma jovem amiga minha aprendeu a ver os habitantes da cidade. Ela nunca tinha gostado muito da idéia de morar na cidade e optara por estudar numa faculdade em zona rural. Nas férias, porém, recebeu um convite irresistível para visitar uma amiga na cidade de Nova Iorque. Durante as cinco horas de viagem de ônibus, leu o exemplar mais recente do The Christian Science Journal. Quando o ônibus chegou à rodoviária, seu coração cantava com a inspiração obtida de Deus e com um amor quase indescritível por cada habitante daquela enorme cidade.
Ao descer do ônibus, um homem alto, usando boné de motorista de táxi, se ofereceu para carregar sua mala. Só quando ele se meteu no meio da multidão, foi que ela percebeu que ele estava querendo roubar-lhe a mala. Minha amiga, porém, não sentiu medo. Só conseguia pensar na visão pura de Deus e de Seus filhos, que tinha discernido no The Christian Science Journal. E antes que se desse conta, estava correndo atrás do homem que tomara sua mala, passando rapidamente por entre o povo que apinhava a rodoviária.
De repente, estava na calçada e viu o homem correndo quadra abaixo. Correu atrás e alcançou-o, quando este teve de parar por causa do sinal. Atônito de vê-la outra vez, ele de pronto lhe devolveu a mala. Minha amiga lhe agradeceu e ele, então, agradeceu a ela e desapareceu entre a multidão.
Talvez seja raro que um ladrão devolva o que roubou, mas as coisas não acontecem sempre de modo “normal”, quando você vê o que está além da condição mortal, quando vê a realidade do universo perfeito de Deus e o homem perfeito. Quando você vê as coisas dessa maneira, você começa a viver na Nova Jerusalém. Você se banha nas “águas” curativas e purificadoras da Verdade e descobre que “o Senhor está ali”, onde quer que você vá.
