Nunca Esquecerei Aqueles bloquinhos de papel amarelo, com tantas anotações de tarefas e compromissos. Folhas e folhas de providências a serem tomadas: fazer telefonemas, preparar relatórios, tomar parte em reuniões, analisar determinados assuntos. Cada minuto do dia daquele executivo estava, literalmente, tomado. Ele era presidente de um instituto de pesquisas em que trabalhei, e sua reputação entre os funcionários e clientes era a de uma pessoa que realmente sabia aproveitar o tempo.
Sem dúvida, a habilidade e as técnicas para gerenciar eficazmente nosso tempo podem ser de grande utilidade. Não obstante, quer utilizemos anotações em blocos de papel, um programa de computador, ou qualquer outro método que nos ajude a dar conta de uma agenda lotada, talvez ainda nos sintamos impossibilitados ou relutantes em dar toda a nossa atenção àquilo de que mais necessitamos: o progresso espiritual.
Quando pensamos em dedicar-nos às orações e ao estudo, indispensáveis ao nosso progresso espiritual, o que é que podemos fazer se nossos dias (e nossas noites) estão preenchidos com outras tarefas importantes? O que fazer quando precisamos completar projetos, responder a chamadas telefônicas, atender às tarefas do lar?
É claro que esses compromissos não devem ser negligenciados, como também não o deve ser nosso progresso espiritual. Progredir na compreensão do Espírito, Deus, remove limites e dirige corretamente todos os aspectos de nossa vida. Não deveríamos pensar que o progresso espiritual não se ajusta às demais exigências do nosso dia-a-dia, mas sim, que ele nos auxilia para que façamos tudo o que é necessário com maior esmero e ordem. Em Ciência e Saúde a Sra. Eddy escreve: “As capacidades humanas ampliam-se e aperfeiçoam-se na proporção em que a humanidade consegue o verdadeiro conceito acerca do homem e de Deus.” Ciência e Saúde, p. 258.
O homem é a imagem de Deus, o bem, como diz a Bíblia. Ele expressa a inteligência, a ordem e o amor provenientes de Deus, e que caracterizam Seu governo do universo. Contudo, precisamos de algo mais do que uma constatação superficial desse fato, para que ele se manifeste em nossa experiência diária. Precisamos compreender quem nós realmente somos como filhos de Deus e permitir que Sua lei nos governe de forma mais completa naquilo que precisamos executar.
Uma compreensão mais ampla e mais profunda acerca de Deus possibilita percebermos melhor que Ele nos criou para sermos espirituais, completos e para expressar todo o bem que constitui Sua natureza. Isso nos desvenda capacidades e habilidades que talvez nunca tivéssemos pensado possuir. Reconhecer que Deus é a Mente una e única, ilimitada, sempre presente e submeter-nos cada vez mais à Mente divina fomentam nosso crescimento espiritual, proporcionando-nos o senso de previsão e controle de que precisamos para ter êxito nas lides diárias.
Submeter-se à Mente divina não significa simplesmente tentar encaixar idéias espirituais em nossa mente limitada, que está sempre muito ocupada. Com efeito, acreditar que temos uma espécie de mente mortal pessoal é um engano. Essa chamada mente precisa ser dominada, e suas pretensões de pressão, medo, etc., precisam ser rejeitadas, não admitidas. Dessa forma, percebemos e utilizamos a inteligência e a ordem inerentes à Mente divina, que estão sempre ao nosso dispor, sejam quais forem as circunstâncias. A Sra. Eddy ressalta em seus escritos: “Despojar o pensamento daquilo em que erradamente confia e dos testemunhos materiais, para que os fatos espirituais do ser possam aparecer — eis o grande conseguimento por meio do qual eliminaremos o falso e daremos lugar ao verdadeiro.” Ibidem, p. 428.
Se nossas múltiplas tarefas não permitem que nos dediquemos com tranqüilidade à oração e ao estudo espiritual, se estamos andando de lá para cá humanamente, realizando pouco espiritualmente, podemos reconhecer que dedicar tempo a um refrigério espiritual é essencial para progredirmos, e só nos traz bênçãos, não punição. É também importante saber que a Mente divina não suspende seu governo perfeito em horas de pico, ou quando nossos prazos apertados estão prestes a vencer. Ainda que sempre possamos orar, mesmo quando estamos ocupados com outras atividades, é aconselhável estabelecer horários específicos para fazer calmamente nossas orações.
Ao derrotar com a verdade toda sugestão gritante da mente mortal, toda tentação de crer que as ocupações humanas podem intrometer-se no governo que Deus exerce sobre o homem, encontramos a tranqüilidade e a clareza espirituais que nos são necessárias para enfrentar a agitação de nossas atividades. A indecisão e a insegurança dão lugar ao equilíbrio e à sabedoria espirituais. Ao acatar constantemente a orientação da Mente, ficamos menos inclinados a sentir-nos assoberbados por obrigações que se acumulam, e mais inclinados a dedicar o tempo necessário à oração, administrando nossas tarefas de acordo com a orientação infalível da Mente.
A fim de concentrar nossa atenção na oração e no estudo sem interrupções, devemos escolher um lugar tranqüilo para tal atividade. Era isso que Cristo Jesus fazia. Lemos, na Bíblia: “Tendo-se levantado alta madrugada, saiu, foi para um lugar deserto, e ali orava.” Marcos 1:35. Talvez devamos efetuar algumas mudanças em nossa rotina diária, adiar atividades desnecessárias, às vezes desligar o telefone ou tomar algumas outras providências para poder dedicar-nos de corpo e alma a essa tarefa de extrema necessidade.
Verificaremos que o progresso espiritual é essencial porque nos desvenda as realidades da existência, de nossa identidade verdadeira, que é inteiramente espiritual e ilimitada. Permitir que o Espírito, Deus, governe mais eficazmente nossos motivos e nossas ações torna-se então natural e nos habilita a exercer domínio sobre as obrigações da vida diária. Assim, constataremos que o esforço para progredir espiritualmente é um privilégio e a melhor maneira de usar o nosso tempo.
Irmãos, sois filhos da promessa,
como Isaque. ... E assim, irmãos,
somos filhos não da escrava,
e, sim, da livre.
Gálatas 4:28, 31
