Certo Dia, Ocorreu-me que a questão da hereditariedade poderia incluir muitos outros aspectos, além da mera transferência de características físicas de pais para filhos, ou de mortais do passado para os do presente. Com isso, passei a encarar todo o conceito de hereditariedade sob nova perspectiva.
Por exemplo, você já se pilhou remoendo enganos e sofrimentos do passado como se, de alguma forma, eles fizessem parte de você, tal como mau gênio herdado de um antepassado? Bem, eu já me peguei fazendo isso. Mas a Ciência Cristã nos demonstra que tais crenças a respeito de nós mesmos são totalmente contrárias à realidade do homem como imagem de Deus.
Quando aceitamos o fato espiritual de que o homem, no seu verdadeiro ser, é filho de Deus, puro e inocente, eternamente perfeito por ser o reflexo de Deus, livramo-nos daquela que poderia ser chamada, para efeitos deste artigo, hereditariedade autoimposta. Tal hereditariedade é a crença que pretende importunarnos, nos, sugerindo estarmos para sempre presos ao possível reaparecimento de certos pecados e doenças, só porque somos mortais que, no passado, já sucumbimos a eles.
O que teria acontecido, se o apóstolo Paulo tivesse pensado assim? O que teria acontecido se ele tivesse pensado no seu passado de perseguidor dos cristãos e imaginado que suas tentativas de fazer o bem estavam fadadas ao fracasso, devido à sua herança do passado? Imaginem o que o mundo teria perdido!
Felizmente, Paulo não pensou assim. Depois de lhe ter sido revelado seu verdadeiro ser espiritual, inspirado no Cristo, ele seguiu o exemplo de Jesus pelo resto da vida, curando doentes e ensinando o cristianismo, onde quer que fosse.
O homem à imagem de Deus nunca é castigado por um passado mortal, do qual também não é vítima indefesa. Em verdade, ele temum só tipo de herança, ou seja, uma herança boa. Por quê? Porque como filho imortal de Deus, vivendo no eterno presente e não no passado, o homem é o herdeiro eterno da infinita bondade do Pai. “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito”, escreve “que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coherdeiros herdeiros com Cristo.” Romanos 8:16, 17.
Como filho imortal de Deus, vivendo no eterno presente e não no passado, o homem é o herdeiro eterno da infinita bondade do Pai
Que conceito sanador e libertador é esse! Como herdeiros de Deus, nós temos o direito de reivindicar, todos os dias, nossa herança divina de pureza, integridade, saúde, harmonia, satisfação em nossa atividade, suprimento abundante, ou seja, a gloriosa liberdade de crescer no Espírito, sem estar atados a todas as falhas do passado.
Eu costumava pensar que, como alguns aspectos do meu estilo de vida, no passado, não estavam de acordo com os ensinamentos da Ciência Cristã, eu não seria capaz, ou merecedora, de demonstrar o poder curativo dessa maravilhosa Ciência na minha experiência atual. Quando a cura demorava a se manifestar, eu deixava que imagens de um passado um tanto lamentável obscurecessem minha visão e solapassem minha convicção espiritual, alcançada a duras penas, das possibilidades de cura sempre presentes. Entretanto, no dia em que comecei a encarar a hereditariedade sob novo ângulo, pus um fim permanente a essa maneira tola de pensar, voltada para o passado. Permitir que comportamentos e atitudes do passado (que, de qualquer forma, nunca foram verdadeiros quanto ao homem real) possam nos roubar, no presente, a pureza e a perfeição do homem de Deus, é algo tão tolo como pensar que, só porque estivemos por algum tempo no escuro, teremos de ficar no escuro para sempre, mesmo após ter encontrado o interruptor da luz!
O pecado estará completamente curado quando, primeiro, reconhecermos que é pecado e, depois, eliminarmos do pensamento todo e qualquer vestígio de sua aparente atração. Uma boa maneira de conseguir isso, eu constatei, é fazer o que Paulo recomendou aos coríntios: levar “cativo todo pensamento à obediência de Cristo”. 2 Corintios 10:5. Sera que Jesus teria um pensamento pecaminoso como este que me ocorre? Será que Jesus planejaria fazer isso? Se for fácil perceber que um retumbante não é a única resposta a essas perguntas, então estará claro que tais pensamentos e ações não fazem parte de nossa verdadeira natureza e devem ser abandonados.
O homem à imagem de Deus é, por natureza, puro e isento isento de pecado. À medida que orarmos diariamente para aceitar essa pureza e para comparar todos os nossos pensamentos e desejos com os ensinamentos e obras de Cristo Jesus, esforçando-nos para ser a idéia impecável que Deus criou, aproximaremos cada vez mais nossa experiência humana à realidade divina. Orando e consagrando-nos a viver a bondade de Deus, somos protegidos do pecado nas suas formas variadas e sutis, tanto as herdadas do passado, por assim dizer, como as novas-em-folha que vão aparecendo.
Também devemos nos lembrar de ficar alerta à tendência mortal de “herdar” a doença de nós mesmos. Há uns dois anos, dei-me conta de que dava ouvidos a alguns murmúrios mentais do tipo: estive muito doente no inverno passado, aprendi boas lições e fui curada, mas a cura não foi rápida e simples como deveria ter sido. Seria terrível passar de novo por tudo isso neste inverno! De repente, percebi o que estava ocorrendo. Eu estava, literalmente, sentenciando-me a repetir a mesma experiência dolorosa, dando-lhe crédito e autoridade, como se tivesse aceitado a crença de que algum antepassado sofria de resfriados todos os invernos e que, por isso, eu não poderia resistir à moléstia nos dias de hoje. Ora, eu não iria tolerar nenhuma pretensão ridícula de hereditariedade, fosse de ancestral, ou de um falso sentido do meu próprio passado!
Mary Baker Eddy escreve a respeito da hereditariedade em Ciência e Saúde. Embora, na passagem citada a seguir, ela empregue o termo no sentido de problemas geneticamente herdados, sua observação é totalmente pertinente à perspectiva que estamos adotando aqui. Diz ela: “A hereditariedade não é lei. Não é devido à sua prioridade, nem à conexão dos pensamentos mortais do passado com os do presente, que a causa remota, ou crença remota da moléstia, é perigosa.” Ciência e Saúde, p. 178.
Eu já tinha lido essa passagem muitas vezes, mas quando a reli durante minhas orações, naquele inverno, passei a vê-la com outros olhos. Eu não precisava considerar-me mortal indefesa, sujeita à “autoridade” de alguma doença sofrida no passado. Como foi maravilhoso perceber que os pensamentos mortais de outrora não têm poder sobre meus pensamentos de hoje! De modo que, por ter no ano anterior pensado isto ou aquilo de errado a meu respeito, não significava que eu estaria condenada a pensar a mesma coisa novamente. Logicamente, uma falsa crença que não era real no ano passado ou na semana passada ou ontem, também não é real agora!
O homem criado por Deus à Sua imagem perfeita, ou seja, nossa única identidade real, está sempre imune à doença, é estimado pelo Pai e permanece para sempre na consciência espiritual da harmonia e da saúde. Essa consciência espiritual é o reino de Deus. Jesus assegurou a seus discípulos que esse reino estava dentro deles. Não precisavam sair por aí procurando-o, preocupados de não encontrá-lo, nem ficar fora dele devido a alguma falha mortal. O reino de Deus estava exatamente onde eles estavam, a qualquer momento, na pureza de seu pensamento espiritual.
Foi assim que venci, naquele inverno, o medo de repetir a experiência do inverno anterior. Em vez de ficar aguardando uma repetição da doença ou do sofrimento, desliguei as imagens mortais, regozijando-me pelas valiosas lições espirituais aprendidas com a cura. Em vez de minimizar a cura, reconheci que fora importante e duradoura. E fiquei muito grata pela firme convicção espiritual alcançada, de que, sendo a imagem de Deus permanentemente segura no Seu reino, eu estava isenta de doença e desarmonia de toda sorte. Convém dizer que passei um inverno maravilhoso, cheia de saúde e alegria.
Tão certo como não pode haver trevas na pura luz da Verdade espiritual, assim também a crença de “heranças” perigosas do passado não podem ameaçar hoje nossa harmonia, dada por Deus. O homem existe sempre no ponto da perfeição, como idéia de Deus, completa e sã. Que gratidão a nossa, pela gloriosa convicção de que somos essa idéia perfeita, agora mesmo, e de que a única herança possível nos vem de Deus, pois, de fato, somos “herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo”.
