Será Que, Nalgum momento, realmente podemos estar separados de Deus? Se cada um de nós é, em verdade, filho de Deus, como é que o cuidado que Ele dispensa parece muitas vezes tão distante ou inexistente?
Em realidade, não há brecha entre Deus e o homem. A separação que sentimos às vezes (ou o tempo todo) não é ocasionada pelas realidades da existência, mas pela maneira como pensamos sobe nós mesmos e sobre nosso relacionamento com Deus. Pela espiritualização de nosso conceito de quem somos, descobrimos que a orientação, a proteção e o suprimento de Deus estão sempre ao nosso alcance.
Supõe-se, geralmente, que o homem seja o que aparenta ser, ou seja, um mortal imperfeito, material, cuja natureza é exatamente o oposto de Deus. O raciocínio humano tenta explicar esse conceito material do homem e sua relação com um Deus espiritual, divinamente perfeito, fazendo conjecturas, baseadas nessa separação, sobre como é que Deus supre nossas necessidades humanas, ou então por que Ele não as supre. Um senso material da criação, porém, não pode explicar a Deus, o Espírito infinito, pois o Espírito nunca fez um homem material. O homem que Deus fez, a identidade real de cada um de nós, foi criado à imagem e semelhança do Espírito. A semelhança do Espírito não é matéria, a semelhança do bem não é o mal, a semelhança da divindade não é humana nem corpórea. O mortal que aparenta estar separado de Deus não é quem realmente somos.
Em realidade, somos o reflexo de Deus, a imagem espiritual que emana dEle. Portanto, nosso vínculo com Deus, o Amor divino, está de fato intacto. O homem é um com Deus, sem possibilidade de separação, expressando a natureza de Deus. O homem não pode existir separado de Deus, assim como os raios do sol não podem existir separados do sol.
Deus não nos conhece como sendo materiais, mas sim como Ele nos criou. Nossa individualidade original, e única, foi concebida pela Mente divina. Cada um de nós é uma idéia da Mente, portanto, em realidade, permanecemos na Mente e estamos sempre refletindo a perfeição de Deus. Somos conhecidos pelo Amor divino como sua própria imagem e somos mantidos no aconchego do infinito Amor. O Amor é nosso Pai-Mãe, que expressa em nós bondade ilimitada, suprindo tudo aquilo de que necessitamos para nossa felicidade e bem-estar.
Acreditar que Deus efetivamente nos conheça como mortais imperfeitos e em luta, pode, a princípio, parecer reconfortante. Mas, se tal conceito fosse verdadeiro, as dificuldades de que desejamos nos livrar seriam parte integrante de nosso ser, para sempre. Jamais seríamos capazes de nos livrar delas, pois tudo o que está na consciência divina, na Mente divina, é manifestado em sua imagem, eternamente.
Se a Mente pudesse conhecer a doença, a invalidez, o pecado, a limitação e assim por diante, essas dificuldades existiriam em nosso ser real, sempre. Mas isso é impossível, porque não há lugar para os conceitos materiais no Amor divino, já que o Amor não os conhece como parte de nosso ser. Somente aquilo que é espiritual, bom e harmonioso pertence ao homem. Os males da carne jamais fazem parte de nossa identidade verdadeira e, à medida que compreendemos sua irrealidade, nossa vitória sobre eles é inevitável.
Em seu livro Não e Sim, Mary Baker Eddy escreve: “Deus é Tudo-em-tudo. Ele é Espírito; em coisa alguma é Ele diferente de Si mesmo. Nada que ‘comete a mentira’ pode ser encontrado na consciência divina. Para Deus, conhecer é ser: isto é, o que Ele conhece deve existir verdadeira e eternamente. Se Ele conhecesse a matéria e a matéria pudesse existir na Mente, então a mortalidade e a discórdia deveriam ser eternas. Ele é Mente; e qualquer coisa conhecida por Ele se torna manifesta e deve ser a Verdade.” Não e Sim, pp. 15-16.
Se nossa individualidade verdadeira é espiritual, então, o que dizer daquilo que parece ser o “eu” humano? Se Deus nos conhece apenas como Sua imagem, como pode Ele ajudar-nos no que tange à carreira, à saúde física, à felicidade humana e assim por diante?
A resposta reside no fato de que o humano não é de fato uma entidade, verdadeira e separada do espiritual. Se fosse, estaria fora do alcance da ajuda divina. Ao invés disso, o humano é um conceito material limitado da única identidade que realmente temos.
Paulo disse: “Agora vemos como em espelho, obscuramente.” 1 Cor. 13:12. No tempo de Paulo, os espelhos eram de metal polido e não de vidro, como os de hoje. Por isso, a imagem que se via era, com certeza, indistinta. O pensamento humano vislumbra tenuamente a realidade espiritual, porque define a identidade em termos materiais. O que parece estarmos enxergando não é o homem real, mas literalmente um falso senso de homem. Esse falso conceito é produto da mente carnal, ou seja, da mente mortal. Cristo Jesus denunciou a irrealidade dessa mente carnal, quando disse: “Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere a mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.“ João 8:44.
Por ser o homem material um falso conceito sobre nossa verdadeira identidade, tudo o que é espiritualmente verdadeiro a nosso respeito pode ser humanamente constatado, à medida que o falso conceito vai sendo substituído, em proporção cada vez maior, pela percepção daquilo que realmente somos e daquilo que realmente incluímos, em outras palavras, quando somos vistos da maneira como Deus nos fez.
No santuário da oração, quando fechamos a porta ao clamor dos sentidos físicos e volvemos o pensamento inteiramente para a verdade espiritual, começamos a perceber nossa união com Deus. Começamos a nos conhecer como Sua idéia e sentimos a paz que vem da percepção de que nosso Pai-Mãe celeste está realmente conosco. O Amor divino é o Princípio imutável que nos governa, a Mente que nos dirige, a Alma que nos faz completos, belos e puros, o Espírito que expressa em nós a harmonia, a Vida que nos dá imortalidade.
Quando começamos a compreender nossa união com Deus, a renovação se manifesta exteriormente, em nossa experiência. A matéria expressa, de forma visível, nossos pensamentos conscientes e inconscientes. Portanto, à medida que compreendemos melhor a harmonia da Alma, que o homem reflete, essa harmonia fica evidente no corpo, somos curados fisicamente. Quando percebemos que nossa inteireza é um fato espiritual oriundo de nossa união com o Amor divino, esse fato se comprova num lar mais feliz, num companheirismo mais forte e em inumeráveis outras bênçãos. A consciência de que a sabedoria divina dirige infalivelmente todas as suas idéias faz com que percebamos a perfeita liderança da Mente em cada aspecto de nossa carreira. Cada faceta da experiência humana estará sob o cuidado e a proteção de Deus, na proporção em que deixarmos o Cristo, a Verdade, transformar nosso pensamento.
Existem, porém, outros sinais, além daqueles exteriores, por mais gratificantes que eles sejam. São os que se referem às mudanças interiores. A compreensão sincera de que refletimos o Amor divino, por exemplo, torna-nos mais amorosos e mais bondosos. A percepção genuína de nossa natureza real como imagem da Alma torna-nos mais puros. As tendências indesejáveis do pensamento ou do caráter se diluem, à medida que percebemos e vivemos nossa perfeição espiritual.
A fim de compreender nossa unidade com Deus, não podemos ignorar a necessidade de lutar contra o pecado e vencê-lo. Essa luta, porém, se revelará mais proveitosa, se a enfrentarmos partindo da premissa de que a perfeição espiritual já é o fato presente. Se lutarmos a partir do ponto de vista de que somos mortais pecadores, tentando resolutamente cometer menos pecados, jamais terminaremos de lutar, porque estaremos acreditando que nossos pecados fazem realmente parte de nós. Mas, se nos esforçarmos por discernir nosso ser como isento de pecado, originado em Deus, e vivermos de acordo com essa compreensão, o esforço trará frutos, pois a irrealidade do pecado estará se tornando mais clara para nós.
Nossa vida se torna mais pura, mais feliz e mais livre à medida que o Cristo, a verdadeira idéia de Deus, brilha em nossos pensamentos e molda nosso viver. Em realidade, o homem jamais é um mortal que tenta se desvencilhar das pretensões da hereditariedade, da psicologia, do temperamento ou de um passado infeliz. Nossa origem real é o Amor divino e nossa única verdadeira história é nossa eterna união com o Amor. Os conceitos humanos não podem descrever nossa individualidade real. Portanto, eles jamais poderão desalojar a bondade espiritual que cada um de nós realmente possui.
A vida de Cristo Jesus foi o exemplo mais puro de identidade verdadeira e espiritual, a brilhar através do senso humano de vida. Ele foi o representante mais elevado de Deus na terra, ele expressou a natureza divina, o Cristo, sem mácula. Conforme diz a Bíblia, em Hebreus, “foi ele tentado em todas as cousas, à nossa semelhança, mas sem pecado”. Hebreus 4:15.
Jesus é o Modelo para nós. Ele demonstrou a perfeição do homem real, a identidade como a do Cristo. Seus ensinamentos indicam quais são as exigências morais e espirituais para se alcançar a demonstração dessa identidade.
A missão de Jesus culminou em sua ascensão, quando atingiu a prova total da vida no Espírito. Nesse ponto, sua crença na matéria desvaneceu-se por completo e, com ela, toda a aparência de uma individualidade material. Mas o homem real, espiritual, que não podia ser visto pelos sentidos físicos, era para sempre o mesmo. A autêntica individualidade de Jesus, o Cristo, jamais passou por nenhuma fase da crença humana, pois a identidade verdadeira é o reflexo de Deus, eternamente.
No livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, a Sra. Eddy escreve: “A individualidade espiritual do homem nunca está errada. É a semelhança do Criador do homem. A matéria não pode pôr os mortais em contacto com a verdadeira origem e as realidades do ser, onde tudo irá parar. Só quando reconhecem a supremacia do Espírito, que anula as pretensões da matéria, é que os mortais podem desfazer-se da mortalidade e encontrar o vínculo espiritual indissolúvel, que estabelece o homem para sempre na semelhança divina, inseparável de seu criador.” Ciência e Saúde, p. 491.
Reconhecer, na oração, nossa identidade real, abre o pensamento para a luz penetrante do Cristo. Obtemos, então, vislumbres maravilhosos de nossa verdadeira individualidade à semelhança de Deus, completa e harmoniosa. Essa transformação mental rasga o véu da separação. Percebemos que sempre fomos um com Deus, porque somos Sua idéia amada. Sentimos nossa unidade com Deus e esta se torna visível de forma a suprir nossas necessidades humanas.
Sede firmes, inabaláveis,
e sempre abundantes na obra do Senbor,
sabendo que, no Senbor,
o vosso trabalbo não é vão.
1 Coríntios 15:58