A Sra. Combs Era uma mulher negra, sob cuja direção eu trabalhei alguns meses, como voluntária, num centro comunitário da cidade de Minneapolis, nos Estados Unidos. O centro, no qual a Sra. Combs dirigia as atividades infantis, estava situado num bairro pobre, onde a maioria das famílias era negra. Na época eu era adolescente, sempre vivera num bairro de classe média, de população branca. Portanto, essa experiência foi para mim muito, importante e educativa.
Certo dia, após as crianças terem saído, eu ajudava a Sra. Combs a arrumar a sala, enquanto falávamos a respeito das necessidades especiais das crianças que diariamente vinham participar das atividades do centro. A certa altura, referi-me a elas como "crianças carentes". Meu comentário fez a Sra. Combs parar o que estava fazendo. Com muita ternura, amor e firmeza, ela me olhou bem nos olhos e disse que cada uma daquelas crianças tinha os mesmos privilégios de todos os outros filhos de Deus. É lógico que ela se referia a privilégios que transcendem os direitos humanos, embora eu, na ocasião, não soubesse bem quais eram. Dias depois, ela me deu a oportunidade de ver um exemplo claro do que ela queria dizer.
Levou-me a visitar a casa de uma das crianças. A menininha era sem dúvida pobre, sob o aspecto econômico; usava o mesmo vestido todos os dias. Mas todos os dias sua roupa estava impecavelmente limpa e engomada, o cabelo penteado e amarrado com fitas, os sapatos engraxados, e o semblante era radiante. Dignidade e alegria transpareciam por todo o seu ser. Estava sendo criada pela avó e ambas moravam num conjunto de moradias populares, feitas de folhas de zinco, que mais pareciam latas de conserva cortadas ao meio. O que vi, ao entrar naquela casa, foi totalmente inesperado. Embora não houvesse nenhuma riqueza material, a casa era excepcionalmente rica em beleza, calor e conforto. Ali estava uma mulher, criando sua neta numa atmosfera que expressava a herança espiritual do homem em dignidade e retidão, bem no meio da pobreza e da discriminação. E ela o fazia com muita alegria. Ainda hoje tenho muito a aprender com seu exemplo.
Mais tarde, vim a saber que a Sra. Combs era estudante da Ciência Cristã. O que ela estava aprendendo com seu estudo e procurava mostrar-me (eu então não era Cientista Cristã) era que a verdadeira herança do homem é espiritual e que a espiritualidade é superior à materialidade. O que ela queria que eu visse, era que cada um tem o privilégio de provar esse fato, independentemente das circunstâncias em que se encontre. Essa lição me vem nitidamente à memória quando, atualmente, vejo a sociedade debater questões raciais.
Um dos pontos mais perturbadores em discussão, hoje em dia, é a questão de haver ou não uma raça humana superior. Richard J. Herrnstein e Charles Murray publicaram um livro, recentemente, "The Bell Curve: Intelligence and Class Structure in American Life "The Bell Curve (Nova Iorque: Free Press, 1994). (A curva do sino: inteligência e estrutura de classes na vida americana) no qual afirmam que de fato há uma raça superior. O paleontólogo Stephen Jay Gould, professor na Faculdade de Zoologia da Universidade Harvard, discorda deles. Numa entrevista à The Boston Globe Magazine, em dezembro de 1995, perguntaram a Gould: "O senhor escreve sobre o mau uso da ciência, feito no livro The Bell Curve em defesa do racismo. Pode a ciência oferecer um argumento sólido a favor da igualdade humana?" Sua resposta, em parte, foi: "Há uma grande variação em nossa espécie, mas o que é notável, embora pareçamos tão diferentes, é que quando medimos as reais diferenças genéticas entre as pessoas, vemos que elas são assombrosamente pequenas.. .. Não há muita diferença entre nós, o que torna muito improvável que possa haver importantes variações num aspecto tão fundamental e vital ao nosso bem-estar evolutivo, como a quantidade de mente."
E o debate continua. Por que? Porque as pessoas classificam umas à outras a partir da premissa de que a origem, a identidade e a inteligência do homem possam estar na matéria. Mas a Ciência divina demonstra a veracidade do ponto de vista bíblico de que o Espírito, Deus, é a única origem e o único sustentador da identidade e da inteligência do homem, e de que por isso o homem é inteiramente espiritual. A partir desse ponto de vista vemos que, em verdade, existe apenas uma raça: a família universal do homem criado à imagem e semelhança de Deus, que reflete Suas qualidades espirituais, Sua inteligência ilimitada.
A oração que Cristo Jesus deu à humanidade, a Oração do Senhor, começa com: "Pai nosso." Esse conceito de nosso Pai serve para elevar imediatamente o pensamento ao reconhecimento de que temos uma ascendência espiritual em comum. Uma definição de raça, diz: "Descendentes de um ancestral comum." Já nos tempos do Antigo Testamento, o profeta Malaquias reconhecia a Deus como nosso "ancestral comum". Ele disse: "Não temos nós todos o mesmo Pai? Não nos criou o mesmo Deus?" Malaquias 2:10.
Cada um de nós está diretamente relacionado com Deus. Não há, nunca houve e jamais poderá haver distanciamento entre Deus e Seu reflexo. Deus e o homem são inseparáveis como causa e efeito perfeitos. A única raça, o homem à imagem de Deus, a raça à qual todos nós pertencemos, é eternamente semelhante a Deus, completa e pura. Tudo o que for repreensível na natureza humana, o que quer que não expresse a natureza de Deus, o bem, não tem relação com Deus, não faz parte da natureza real de ninguém e pode ser vencido por meio do reconhecimento dessa verdade e da obediência a Deus. Isso é assim porque Deus é o único poder verdadeiro, e o homem reflete Seu poder supremo.
Deus não nos criou superiores ou inferiores uns aos outros. Ele nos criou, isso sim, superiores ao pecado, inclusive ao pecado de acreditar que não somos criados iguais. Cada um de nós tem o privilégio de demonstrar que a espiritualidade é superior à materialidade, como aquela maravilhosa avó estava fazendo em seu humilde lar. Ninguém pode nos tirar esse privilégio. Na proporção em que reivindicarmos a herança espiritual do homem, vivermos de acordo com ela e amarmo-nos uns aos outros com base nessa herança, o racismo se dissolverá e viveremos em harmonia.
Em Ciência e Saúde, a Sra. Eddy diz: "O ato de te manteres superior ao pecado, porque Deus te fez superior ao pecado e governa o homem, é verdadeira sabedoria." E mais adiante: "O ato de te manteres superior à doença e à morte é igualmente sábio, e está de acordo com a Ciência divina."Ciência e Saúde, p. 231. Que maior esperança pode haver para a raça humana do que essa, de individualmente podermos provar nossa inata superioridade ao pecado e à doença? Demonstramos esse fato mantendo-nos superiores ao pecado e à doença, reconhecendo a supremacia de Deus e nossa verdadeira natureza como Sua semelhança, obedecendo a Deus, o Amor divino, provando assim que o pecado e a doença não têm poder. Eis o trabalho do dia-a-dia que temos pela frente. Esse é o trabalho que elimina o racismo de nosso mundo.
Há, sim, uma raça superior: a família do homem à imagem de Deus, superior à materialidade.
Ora, se somos filhos,
somos também herdeiros,
herdeiros de Deus
e co-herdeiros com Cristo;. . .
Romanos 8:17
 
    
