Na Minha Adolescência li um artigo do Arauto, intitulado "Inocência sem ingenuidade".O Arauto da Ciência Cristã, Maio 1979. Para mim esse artigo foi muito importante, pois às vezes sentia-me ludibriada por pessoas que considerava amigas, o que muito me entristecia. Com aquela leitura, compreendi que a inocência era uma qualidade espiritual, que só poderia trazer-me bênçãos, ao passo que a ingenuidade estaria impedindo-me de discernir o bem do mal. A Sra. Eddy diz: "A inocência e a Verdade vencem o crime e o erro." Ciência e Saúde, p. 568. É interessante ver como nesse trecho a palavra "inocência" está ao lado de "Verdade", termo que a própria Sra. Eddy define como sinônimo de Deus.
As qualidades espirituais somente protegem, não trazem nenhuma conseqüência ruim. Como podemos deixar de ser enganados? Como podemos evitar que os amigos se aproximem de nós de forma interesseira? O que é que nos capacita a perceber algo que tente nos prejudicar? Há algo que nos proteja disso? É claro que sim! A inocência protege. O Dicionário Analógico da Língua Portuguesa Azevedo, Francisco F. dos Santos. Dicionário Analógico da Língua Portuguesa (Idéias afins), Thesaurus Editora / Coordenada Editora, 1983, p. 519. traz sob o verbete "inocência" idéias afins muito interessantes, como: "inculpabilidade, consciência tranqüila, Cristo, cordeiro, pomba e anjo". Aos três últimos conceitos, a Sra. Eddy atribui a idéia de pureza nas respectivas definições encontradas no Glossário, ao final de Ciência e Saúde. Quanto à definição de "Cristo", ela diz: "A divina manifestação de Deus, que vem à carne para destruir o erro encarnado." Ciência e Saúde, p. 583. Comparando tais definições, tanto do dicionário quanto do livro Ciência e Saúde, só podemos concluir que a inocência é uma qualidade associada à pureza, que nos abençoa e nos protege.
Ao referir-me à inocência e à pureza, não posso deixar de pensar em um trecho bíblico de Mateus. Quando os discípulos repreenderam aqueles que lhe haviam trazido algumas crianças, Jesus disse: "Deixai os pequeninos, não os embaraceis de vir a mim, porque dos tais é o reino dos céus." Mateus 19:14. Imagino o amor que Jesus sentiu por essas crianças, vendo sua inocência!
Desde muito jovem sempre gostei de crianças. Tornei-me tia aos treze anos e prontamente se manifestou em mim a disposição para cuidar dos pequeninos e brincar com eles. Isso fez com que me desse bem com todos os meus sobrinhos e com outras crianças. Há aproximadamente um ano, uma de minhas sobrinhas veio dormir em minha casa e, no caminho, começou a queixar-se de dor de cabeça. Eu lhe disse que aquela dor de cabeça não era enviada por Deus, pois Deus é Amor e só proporciona o bem. Saber que Deus cuida de nós e afirmar que Ele só nos manda o bem é uma maneira de orar. Eu lhe disse que podíamos confiar nessa oração e simplesmente "jogar no lixo" aquela dor, ou seja, não admiti-la.
A saúde e o bem-estar são naturais quando pensamos assim. Ela não perguntou mais nada e ficou quietinha. No dia seguinte, fomos a um parque com vegetação natural preservada e levei outros quatro sobrinhos. Em um determinado momento, duas das meninas começaram a se queixar de picadas de insetos. Expliquei que tudo o que Deus criou é perfeito. Portanto, aqueles bichinhos tinham seu lugar e, certamente, não era a perninha delas. As idéias de Deus não entram em conflito. Como reclamavam de coceira, perguntei àquela sobrinha que se queixara de dor de cabeça no dia anterior o que as outras deveriam fazer. Ela prontamente respondeu: "Jogar a dor no lixo!" Logo pudemos prosseguir nosso maravilhoso passeio, sem queixas e sem picadas.
Algum tempo depois, a mesma sobrinha veio dormir na minha casa novamente. Em certo momento, enquanto ela desenhava, eu estava em outro aposento. Assim que terminou seu desenho, veio muito contente mostrá-lo. Abriu subitamente a porta e a quina da maçaneta bateu com toda força em minha cabeça. Eu não disse nada, mas ela percebeu que deveria estar doendo muito e deixou-me só. Após afirmar que não poderíamos ser prejudicadas por estarmos fazendo o bem e que Deus não criara nem a dor nem incidentes, fui ao quarto onde ela estava. Ao ver-me, comentou: "Tia, você não disse para eu jogar a dor no lixo? Jogue a sua também!" Com muito amor, respondi: "Já joguei, querida!" A dor realmente passou em segundos.
Hoje compreendo melhor o que Jesus quis dizer com "dos tais é o reino dos céus". Precisamos expressar essa mesma inocência e pureza das crianças para vivermos em harmonia. Deus e Suas idéias preenchem todo o espaço. Portanto, não admitimos lugar para dor, tristeza, enganos, doenças ou desilusões.
Certa vez a Sra. Eddy recebeu de presente três macaquinhos de bronze com a inscrição "Não vejo o mal, não ouço o mal, não falo sobre o mal". Seu comentário foi de que isso não era Ciência Cristã, mas sim filosofia pagã. Complementou, dizendo que "os Cientistas Cristãos não fecham os olhos para o mal, mas sim, abrem-nos pelo discernimento espiritual. Despertam para a verdadeira natureza do mal ou pecado, suas falsas sugestões, métodos, sutileza etc., compreendendo sua nulidade, sua absoluta falta de poder para controlar ou prejudicar." We Knew Mary Baker Eddy, p. 117.
Dessa forma vemos como ser inocente não é ser ingênuo, não é nem deixar-se enganar nem permitir que levem vantagem às nossas custas. Ser inocente é ter o coração puro e estar munido da compreensão espiritual necessária para discernir entre o bem e o mal. A inocência é, sim, uma qualidade espiritual, que tanto os pequeninos como cada um de nós pode expressar de forma natural, inata e espontânea, pois todos somos filhos do mesmo Pai-Mãe Deus.
 
    
