Em hebraico, a palavra “páscoa” significa “passagem”. A Páscoa era uma das grandes festas do povo judeu, desde o tempo de Moisés. Comemorava a saída dos israelitas do Egito, onde haviam sido escravos, e sua triunfal passagem pelo Mar Vermelho. Os israelitas, reunindo-se anualmente em Jerusalém, festejavam sua libertação. Essa festa consistia de um ritual em que, entre outras solenidades, eles comiam uma refeição de cordeiro assado, ervas amargas e pão sem fermento. A comemoração se repetia todos os anos, durava sete dias, começando no primeiro mês do calendário do Antigo Testamento.
Esses alimentos tinham um significado simbólico. O cordeiro servia para recordar o sacrifício que o povo israelita oferecera a Deus, quando partiu do Egito. As ervas amargas faziam lembrar a dura e dolorosa servidão a que o povo judeu ficara submetido enquanto habitava entre os egípcios, durante aproximadamente quatrocentos e cinqüenta anos. Os pães asmos, ou seja, um tipo de pão feito sem fermento, lembravam que, por terem saído apressadamente, não haviam tido tempo para fazer levedar o pão e não haviam utilizado, como era costume para esse fim, uma porção de massa velha, já em alto grau de fermentação. O pão sem fermento referia-se à novidade de vida que a saída do Egito representava. Tudo isso aparece na Bíblia, em Êxodo 12: 1—21.
Os acontecimentos que se seguiram deram um novo significado a essa celebração. Quando chegou o mês em que se realizava essa festa, Jesus, seguindo a tradição judaica, pediu a seus discípulos que preparassem o jantar da Páscoa.
Hoje, o mundo cristão recorda esse jantar como a “santa ceia”, durante a qual Jesus deu uma profunda lição de humildade, ao lavar os pés dos discípulos (Ver João 13: 1—4). Em seguida, ele ofereceu a seus apóstolos o seu cálice, sua amarga experiência. O sacrifício que Jesus fez é até hoje um exemplo e uma lição para nós.
A Sra. Eddy escreve em Ciência e Saúde: “Jesus tomou sobre si nossas enfermidades; conhecia o erro da crença mortal, e ‘pelas suas pisaduras [a rejeição do erro] fomos sarados’ ” (p. 20). A humilde obediência a seu Pai e Criador deram a Jesus a coragem e a sabedoria para expressar um amor tão grande que lhe permitiu enfrentar e superar a traição, a tristeza e a injustiça. A experiência do Mestre revela o Cristo, a natureza verdadeira e imorredoura do homem. Ao compreender isso, encontramos a cura e a redenção para os homens.
Os evangelhos nos contam a seqüência dos fatos que culminaram com a crucificação, morte e ressurreição de Cristo Jesus. O que podem significar esses fatos, sob a luz da compreensão espiritual? A compreensão espiritual não se prende às evidências físicas dos fatos ou das circunstâncias, mas busca na Verdade eterna o significado real da existência. “Tal como nosso Mestre, precisamos apartar-nos do sentido material, para entrar no sentido espiritual do ser” (ibidem, p. 41).
A morte do homem Jesus, pela crucificação, simboliza a morte de nosso conceito humano, o conceito que temos sobre o homem material. Jesus era o Cristo, um conceito de homem completamente espiritual. A definição de Cristo, em Ciência e Saúde, diz: “A divina manifestação de Deus, que vem à carne para destruir o erro encarnado” (ibidem, p. 583). Quando compreendemos o Cristo dessa maneira, vemos que a ressurreição de Jesus revela o verdadeiro homem espiritual, aquele que está sempre na plenitude de Deus.
E como podemos nós entender o conceito espiritual de homem, que jamais deixa a presença de Deus? Deus e o homem são inseparáveis, são um no ser. Deus é Espírito, o único Espírito, não é matéria. Portanto, o verdadeiro homem é espiritual. Essa compreensão destrói a crença de que exista vida e inteligência na matéria e nos revela o Cristo, a natureza espiritual e imortal do homem.
A Sra. Eddy faz uma declaração que constitui um alicerce para a compreensão espiritual do ser: “Não há vida, verdade, inteligência, nem substância na matéria. Tudo é Mente infinita e Sua manifestação infinita, porque Deus é Tudo-em-tudo. O Espírito é a Verdade imortal; a matéria é o erro mortal. O Espírito é o real e eterno; a matéria é o irreal e temporal. O Espírito é Deus, e o homem é Sua imagem e semelhança. Por isso, o homem não é material; ele é espiritual.” Esse parágrafo aparece em Ciência e Saúde, na página 468, como a exposição científica do ser.
O significado da palavra ‘páscoa’ continua sendo ‘passagem’, mas numa conotação mais espiritual, indica ‘mudança’, ou “transformação’. Essa nova maneira de pensar, mais elevada, substituindo o material pelo espiritual, reconhecendo a realidade espiritual e a irrealidade da matéria, nos permite comemorar a Páscoa com regozijo, com alegria, pois ela constitui um prova da imortalidade da Vida. Já deixa de ser uma comemoração que consiste de certos alimentos e rituais. Constitui a prova de que a saúde, a pureza e a alegria não são condições materiais e efêmeras, mas podem ser percebidas agora, presentes no reino de Deus, onde todos os Seus filhos sempre estão.
Pouco aproveitaremos a vinda de Jesus, se não seguirmos seus ensinamentos, se não compreendermos seu enorme sacrifício, se não substituirmos nosso modo de viver e pensar, de um ponto de vista material para o espiritual, e se continuarmos a insistir em que a vida está na matéria ou que o mal é mais poderoso do que o bem, ou que a morte tem realidade na criação divina. É o que indica a Sra. Eddy, ao dizer: “Glória a Deus e paz aos corações em luta! Cristo removeu a pedra que obstruía a porta da esperança e da fé humanas, e pela revelação e demonstração da vida em Deus, elevou-as à possibilidade de uma unificação com a idéia espiritual do homem e seu Princípio divino, o Amor” (p. 45).
 
    
