Saí de casa quando tinha dezoito anos. Mudei-me para o outro lado do país. Fui viver por conta própria. Meus pais tinham acabado de se divorciar. O lar da minha infância se fora para sempre.
Em meio a essa turbulência emocional, fui tentada a acreditar que a morte poderia trazer-me uma mudança vantajosa. Confusa por tentar agradar a dois casais de pais (ambos haviam se casado novamente), perguntava me seriamente se viver era uma opção melhor do que a morte. Em busca de consolo e de respostas, volvi-me à Bíblia. Um versículo tocou-me profundamente: "Os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que te propus a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência" (Deuter. 30:19). Eu realmente desejava viver, mas precisava de um propósito mais elevado para minha vida. O que me salvou do suicídio foi a descoberta de que Deus é Vida, a fonte de minha vida.
O suicídio pressupõe que a morte seja uma amiga. Mas a Vida não é a contrapartida da morte. A Vida é a Deus e Deus é sempre um amigo; a morte não. Com o passar dos anos, ocorreu uma mudança em meu pensamento. Eu agora compreendo que a passagem bíblica não está apresentando uma escolha entre a vida e a morte; ela nos conclama a uma compreesão mais elevada sobre a vida. A Vida é a única escolha real. A morte não é realmente uma opção, nunca é uma solução para nenhum problema. Na verdade, na presença da Vida, Deus, não existe morte.
Cristo Jesus disse aos seus seguidores: "... Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida" (João 14:6). A vida que é sempre digna de ser vivida, é aquela baseada nos ensinamentos e no exemplo de Cristo Jesus. Os pensamentos sobre morte nunca nos trarão para mais perto dessa vida. Para Jesus, a morte era uma inimiga, não uma amiga. Ele viveu uma vida de cura e restauração, tanto para os doentes como para os mortos. Disse: "Em verdade, em verdade vos digo: se alguém guardar a minha palavra, não verá a morte, eternamente" (João 8:51). E ele mesmo ressuscitou. Quando compreendemos cada vez mais a vida que Jesus estava nos ensinando, damos cada vez menos poder ao drama chamado morte.
A morte não destrói a vida real nem nossa verdadeira identidade. A morte não pode mudar quem nós somos. Nosso eu verdadeiro habita na Vida divina, não num corpo material. A morte nunca pode destruir nossa individualidade espiritual, como idéia que somos. A morte não pode separar-nos de Deus, assim como não pode um raio de luz ser separado do sol e o perfume ser separado de uma rosa. A vida real do homem, que tem sua origem em Deus, é eterna. Nunca é tocada pela mortalidade, sob qualquer forma. Isso porque nossa verdadeira identidade é idéia, a imagem e semelhança de Deus, espiritual e perfeita. Nossa vida está acima além dos limites da carne. A morte não nos aproxima nem nos afasta de Deus; descobrimos a Vida, Deus, vivendo — pensando espiritualmente e tendo motivos espirituais naquilo que fazemos
E se acontecer de algum amigo, conhecido ou ente querido atentar contra a própria vida? Será que essa ou qualquer outra ação insensata o manterá encurralado pela eternidade, num pecado imperdoável? Não. Ciência e Saúde explica: "Nenhum juízo final aguarda os mortais, pois o dia em que a sabedoria profere o juízo final vem a toda hora e continuamente, isto é, o julgamento pelo qual o homem mortal se despoja de todo erro material" (p. 291). O erro estúpido de um momento nunca pode apagar o relacionamento indestrutível do homem com Deus. E onde quer que estejamos, sempre podemos vol-ver-nos a Deus e começar a redescobrir quem somos.
E se permanecer o sentimento incômodo de que poderíamos, ou deveríamos, ter feito mais, para impedir a perda da vida de um amigo ou membro da família? Podemos ser consolados por saber que a vida e a identidade nunca estão realmente perdidas. Conquanto seja verdadeiro que não podemos ver ou conversar com amigos ou parentes que se foram, podemos melhorar nossos pensamentos a respeito deles. Podemos pensar nos que se foram, sabendo que estão ainda progredindo, crescendo em seu conhecimento da bondade e do cuidado de Deus por eles. Podemos saber que estão vencendo seus erros, temores, concepções errôneas, e estão aprendendo mais sobre sua verdadeira natureza. A oportunidade de corrigir nossos erros existe tanto antes como depois daquilo que chamamos morte. A misericórdia de Deus é onipresente; está onde quer que nós estejamos. É seguro confiar o bem-estar daqueles que se foram à infinita compaixão de Deus.
Se sentimos pesar por alguma escolha trágica feita por outra pessoa, não perdemos a oportunidade de continuar a amá-la. Amamos mais eficazmente se abandonarmos o fardo aos pés do Amor divino. Ao fazer isso, descobrimos novas idéias sobre a misericórdia de Deus. Quando o mal é feito, mesmo que seja contra nós mesmos, ele precisa ser corrigido. E o Amor divino corrige ternamente toda idéia errônea de que a morte possa ter poder sobre a vida. Afastando-nos resolutamente da morte, alcançamos uma nova compreensão da Vida e de sua idéia, confiamos na misericórdia de Deus e vivemos uma vida mais plena.
