Será que uma história da Bíblia, sobre uma mulher que viveu milhares de anos atrás, pode ser realmente útil para uma mulher de hoje? O livro de Rute muito me ajudou. Descobri que não se trata meramente de uma história sobre uma mulher que foi muito devotada à sogra, abandonando sua terra natal para acompanhá-la. Nem tampouco é um relato sobre uma sogra que planejou o casamento de sua nora, viúva, com um parente próximo, de maneira que ele pudesse prover às necessidades de ambas.
O significado real da história de Rute, para mim, resume-se nas palavras de Mary Baker Eddy: "Lembra-te, não podes ser levado a nenhuma situação, por mais grave que seja, na qual o Amor não tenha chegado antes de ti e onde sua terna lição não esteja te aguardando. Portanto, não te desesperes nem murmures, pois aquele que procura salvar, curar e livrar, guiar-te-á, se buscares essa orientação" (The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany, pp. 149-150).
Conquanto elas fossem muito dedicadas umas às outras, a viúva israelita Noemi e suas noras, ambas também viúvas, não podiam mais permanecer juntas. Noemi estava retornando à sua terra natal. Portanto, ela disse às noras para voltarem às suas próprias famílias. Orfa despediu-se com tristeza e retornou à sua família "e aos seus deuses" (Rute 1:15).
Rute, porém, decidiu com firmeza que acompanharia Noemi e que o Deus de sua sogra seria o seu Deus. Durante os dez anos em que havia convivido com Noemi, Rute deve ter ficado impressionada com o que aprendera sobre o conceito hebraico de divindade — um Deus que não era um objeto material, nem um manipulador material, mas que era Espírito. O mesmo Espírito que havia guiado seu ancestral Abraão. Também me parece que, ao escolher prosseguir com Rute estava dando as costas a um senso material, não confiável, de amor. Ela não desejava o que a materialidade tinha a oferecer. Confiante de estar sendo guiada e protegida espiritualmente por Deus, ela não sentiu que lhe faltaria o amor.
Uma vez estabelecidas na velha casa de Noemi, Rute, com coragem, humildade e senso prático, foi apanhar as espigas caídas, num campo de cevada. A lei hebraica estipulava que as espigas e os grãos que os segadores deixassem cair no chão, podiam ser apanhados pelos pobres para seu alimento. Segundo minha interpretação dessa experiência, o orgulho não impediu Rute de desempenhar uma tarefa tão humilde. Ela não ficou temerosa, muito embora, como estrangeira desprotegida, ela pudesse se achar em situação de perigo — como insinuou o bondoso proprietário do campo, quando lhe disse: "Não dei ordem aos servos que te não toquem?" (Rute 2:9).
Sua fé na bondade de Deus foi comentada pelas pessoas e Boaz, o proprietário, ouviu esses comentários. Ele lhe disse: "O Senhor retribua o teu feito, e seja cumprida a tua recompensa do Senhor, Deus de Israel, sob cujas asas vieste buscar refúgio" (Rute 2:12). Quando Boaz anunciou sua intenção de casar-se com Rute (as mulheres não tinham nenhum direito nem posição social, se não tivessem um protetor do sexo masculino), os israelitas aprovaram.
Rute não havia tentado atrair Boaz com artimanhas. E Boaz havia expressado generosidade e cortesia com relação a ela, bem como sobriedade e integridade. As formalidades foram cuidadosamente cumpridas. A afeição verdadeira preocupa-se com o bem do outro, tanto quanto com o próprio bem; um não rebaixa o outro, não é dono do outro, nem compromete sua própria integridade espiritual.
Minha situação foi um pouco diferente da de Rute, mas a verdade espiritual foi a mesma. Achei-me, repentinamente, destituída de tudo, tendo apenas sessenta e cinco dólares e um carro velho. Estava longe daqueles que me conheciam bem. Mas não queria voltar aos velhos pontos de vista, à maneira materialista de fazer as coisas.
Tendo em mente a lição contida na história de Rute, declarei: "Não perdi nada." Na verdade, tinha perdido apenas a dependência do apoio material. Estava receptiva à orientação divina. Nem sequer me ocorreu ficar preocupada com o fato de que uma pessoa com mais de cinqüenta anos (especialmente mulher) não tivesse provavelmente muitas oportunidades de emprego. Eu literalmente não me preocupei com o dia de amanhã.
Lembrome, distintamente, de que me senti impelida a fazer as malas e pegar meu carro, não sabendo para onde a estrada me levaria, mas confiante de que estaria sob a orientação de Deus. Esse grandioso, todo-abrangente Deus de Abraão, que estivera com Rute, estaria também comigo. A bondade do Amor, a sabedoria da Mente, a praticidade do Princípio, estavam incluídas na minha identidade verdadeira como reflexo de Deus. Com essa verdade, jamais deixaria de me sentir amada. E desde aquela ocasião, há trinta e oito anos, sempre me senti amada — muito embora tenha sido guiada através de muitas circunstâncias que eram completamente novas para mim.
Um sentido mortal de amor necessita de um objeto; envolve possuir ou ser possuído. Sua atitude é: "Eu amo você; portanto, você precisa ser e fazer tudo exatamente como eu mandar". Pode incluir dúvida, medo, desapontamento, instabilidade e incoerência. O sentido espiritual de amor inclui a capacidade contínua de sentir a presença do bem, porque Deus está sempre presente e o homem é Seu reflexo, agora. Com esse ponto de vista, com essa expectativa do bem, quem jamais poderá deixar de se sentir amado?
