Desde a infância tive dificuldades por ser tímida. Aliás, quando era jovem, parecia-me que o melhor caminho era só concordar com o que os outros diziam ou queriam, pois assim eu podia esconder minha timidez. Todavia essa situação era, no mínimo, extremamente frustrante.
Depois de ter orado para me livrar dessa limitação, veio-me a idéia de estudar arte dramática. Para mim, foi um exemplo do que mais tarde aprendi ser a definição de dada no Ciência e Saúde, que diz: "Pensamentos de Deus que vêm ao homem; intuições espirituais, puras e perfeitas; a inspiração da bondade, da pureza e da imortalidade, neutralizando todo o mal, toda a sensualidade e mortalidade" (p. 581).
Essa foi a resposta de que eu precisava. Depois disso, senti-me levada por essas "intuições espirituais" a deixar minha cidade natal e a ir para uma cidade maior, onde comecei a ter as aulas. Finalmente, fui aceita numa faculdade de arte dramática.
Devido à timidez, continuava, porém, o enrubescimento do rosto, fazendo com que minhas bochechas parecessem duas cerejas e isso era bastante embaraçoso. É bom conseguir olhar para trás e rir de tudo isso, mas naquela época parecia-me uma montanha intransponível a ser escalada.
Então, através de minha profesora de teatro, surgiu em minha vida a Christian Science. Comecei a aprender sobre a minha — e a de todos— verdadeira identidade como filha de Deus, plenamente completa e inseparável de meu verdadeiro Pai. Isso me proporcionou um grande alívio e meu senso de inferioridade começou a desaparecer. A tarefa foi árdua, mas com tudo o que eu fazia: estudar Ciência e Saúde, ter aulas de interpretação, expressão corporal, impostação de voz e o convívio com os outros, comecei a adquirir confiança.
A principal lição que eu estava aprendendo era dar valor a mim mesma, tanto quanto eu valorizava os outros, e compreender que eu sempre tinha sido, e sempre seria, filha de Deus, completamente amada e cuidada por Ele. O que realmente importa é o amor de Deus e o que Ele sabe da situação que estamos vivendo. As opiniões humanas não têm nenhum poder nem influência aos alhos de Deus.
Foi especialmente valiosa para mim a interpretação espiritual da primeira frase da Oração do Senhor: "Pai nosso que estás nos céus", como consta de Ciência e Saúde: "Nosso pai-Mãe Deus, todo-harmoniso" (p. 16). Compreender que Deus inclui qualidades masculinas e femininas, ajudou-me a vê-Lo não só como Pai, expressando sabedoria, inteligência e força, mas também como Mãe, manifestando o amor maternal, tal qual exemplo, uma ave ao cuidar de seus filhotes. Saber que essa Mãe estava sempre comigo, foi grande de consolo.
Parecia-me quase impossível obedecer a esta exigência que está em Ciência e Saúde: "Cada um de nós tem de cumprir sua missão sem timidez ou dissimulação, pois, para que o trabalho seja bem feito, deve ser feito com desprendimento" (p. 483). Motivos altruístas são sempre apoiados por nosso Pai, mas como vencer a timidez, quando a intimidação já deixou suas marcas desagradáveis na pessoa?
É imprescindível aprender a ser bondoso, gentil e paciente consigo mesmo. Devemos também compreender que não precisamos amar atitudes indelicadas ou injustas. Ao contrário, devemos perdoá-las completamente, até conseguir esquecê-las, com a certeza de que o homem real, criado por Deus, nunca diria ou poderia dizer e fazer algo que não fosse amoroso; jamais poderia nem mesmo pensar em ser agressivo, porque ele é a imagem de Deus. O desejo de servir mais a Deus e ao homem — e de nos esforçarmos por viver nosso verdadeiro ser, em sua totalidade, para a glória de Deus — traz-nos um senso de inteireza que não pode ser conseguido de nenhuma outra maneira. Portanto, se experiências do passado nos voltam à mente, devem nos fazer sorrir de gratidão pelo progresso que foi feito.
O Mestre, Cristo Jesus, é meu grande exemplo. Como afirma a Sra. Eddy em seu livro Miscellaneous Writings, ao se referir a Jesus: "Para levar a cabo seu sagrado propósito, ele tinha de se esquecer do eu humano" (p. 162).
Esse é realmente um desafio para todos nós, mas nunca estamos sós nessa jornada — os anjos do bem, Deus, caminham conosco.
