Nāo é difícil perdoar, ao compreender o homem como Deus o conhece. Levei algum tempo para alcançar essa perspectiva espiritual, porque uma pessoa que eu amo muito fora cruelmente maltratada, mental e fisicamente. Eu sabia que não me fazia bem permitir que uma lembrança dolorosa permanecesse em meu pensamento, sem eu ter perdoado o ofensor. Era preciso orar. Persisti, até conseguir perdoar.
Meu primeiro marido agira com inexorável agressividade para com nosso filho pequeno, especialmente logo pela manhã, quando a criança estava prestes a sair para a escola ou para a Escola Dominical. A situação chegara a tal ponto que eu até mesmo ensaiava a criança sobre o que ela deveria dizer ou fazer, na presença do pai, a fim de evitar esse tratamento cruel.
Durante esse período, nas orações matinais que fazia por mim mesma, resolvi seguir o exemplo de Cristo Jesus, ver o homem perfeito e discernir a realidade sobre o homem como Deus o havia criado, como Sua idéia espiritual — gentil, compreensivo e amoroso. Em realidade, eu orava sobre cada pensamento e ação minha, a fim de manter a harmonia em nosso lar.
De repente, quando a criança tinha sete anos, meu marido faleceu num acidente de avião. Tive de me curar do pesar que senti por essa perda. Eu só desejava o bem para ele. Um ano mais tarde, encontrei um estudante da Christian Science que amava ternamente as crianças e, dentro de pouco tempo nos casamos. Esse casamento é totalmente diferente do primeiro. O contraste gritante mostrou-me que eu ainda não estava inteiramente livre das lembranças dolorosas do tratamento que a criança recebera anteriormente. Fazia-se necessária uma oração mais profunda.
Uma dia, ao orar para não deixar entrar nem um só pensamento doloroso sobre o problema anterior, pedi humildemente a Deus que me ajudasse a curar os sentimentos feridos e a abandonar as velhas lembranças. Eu sabia que poderia alcançar esse dominio e vencer minha visão incorreta sobre o homem, a de que eu, e cada um de nós, pudesse estar separado do amor incondicional de Deus.
Enquanto orava, fiquei mais e mais consciente da universalidade do Amor divino. Gostei particularmente de uma idéia que ouvi numa conferência da Christian Science: nunca devemos julgar o outro segundo a opinião que tínhamos dele ontem, pois ele poderia estar hoje na sua própria estrada para Damasco — uma referência à conversão do Apóstolo Paulo (ver Atos, capítulo 9). Reconheci que poderia aplicar esse pensamento ao meu primeiro marido.
Ciência e Saúde diz: "O homem reflete a infinidade, e esse reflexo é a verdadeira idéia de Deus" (p. 258). O homem criado por Deus — a idéia espiritual do Amor — reflete a capacidade infinita de amar. A despeito das provações humanas, passadas ou atuais, essa era a verdade sobre mim e sobre todos.
Isso não significa que devemos simplesmente ignorar o mal, mas que podemos separá-lo do nosso conceito sobre a pessoa e orar para reconhecer a individualidade real, espiritual de cada um. Comecei a obter uma perspectiva melhor e assim senti que podia agradecer sinceramente a Deus pelo fato de meu primeiro marido ter feito parte da minha experiência.
Na medida em que compreendemos que tudo na nossa vida manifesta nosso grau de compreensão e obediência a Deus, mantemos nossos pensamentos alinhados com Seu amoroso plano. Cedemos, gradualmente, à harmonia da Mente divina, sem imaginar que temos de esperar que a outra pessoa faça isso, antes de podermos encontrar nossa própria paz. Percebemos que, para compreender a totalidade da presença do Amor aqui mesmo onde estamos, não é preciso mudar a outrem ou esperar que alguma outra pessoa mude. A mudança ocorre dentro da nossa própria consciência. Em Ciência e Saúde, a Sra. Eddy diz sobre a Christian Science: "O efeito dessa Ciência consiste em instigar a mente humana a uma mudança de base, sobre a qual possa ceder à harmonia da Mente divina" (p. 162).
Quando nosso ponto de vista muda do material para o espiritual, percebemos a solução necessária numa determinada situação. No meu caso, fui capaz de separar o quadro de uma criança maltratada, das outras características que meu marido havia demonstrado, características essas que eu havia originalmente admirado nele, e que ainda posso admirar hoje. Pude ver que certos aspectos de sua vida pareciam contribuir para a tensão em seus pensamentos e ações. Também vi que, durante os anos do meu primeiro casamento, eu não fora infeliz, pois havia usufruído de muitas oportunidades de progresso. Fora inspirada a tomar instrução em Classe Primária na Christian Science e sempre pudera comparecer às reuniões da minha Associação de Alunos, que ocorriam a cerca de 3200 quilômetros de onde eu morava. Desfrutara também da participação ativa numa igreja filial e tivera o privilégio de lecionar na Escola Dominical. Nenhuma objeção jamais fora levantada a que um praticista da Christian Science orasse pela criança, no caso de necessidade. E a cura sempre ocorria. Durante aquele mesmo período, eu tivera uma carreira bem sucedida, no trabalho. Além do mais, tinha meu filho querido, cuja vida tem comprovado que ele não foi afetado pelos maus-tratos anteriores.
Alguém disse uma vez: "A fé é como as pipas que as crianças empinam, os ventos contrários fazem com que ela se eleve mais alto." Não importa quão difíceis as situações possam ser, elas realmente nos forçam a carregar a cruz e elevar-nos mais alto na compreensão do nosso relacionamento com o Amor. O estudo regular das Lições Bíblicas, contidas no Livrete Trimestral da Christian Science, nos propicia inspiração espiritual e nos leva para cima e para além daquilo que poderia, de outro modo, ser insuportável.
Quando oramos diariamente para perceber nos outros o homem perfeito, compreendemos mais claramente nossa própria relação com Deus e com Sua bondade e amor sempre presentes. Isso vem manifestar a atividade do Cristo sanador e transformador, a Verdade atuando em nosso coração. O Cristo está sempre presente — onde quer estejamos e sob quaisquer cunstâncias.
A despeito do que possa ocorrer na nossa experiência, espiritualmente faz toda a diferença. Descobrimos que, a despeito das injustiças, o reconhecimento da relação que nós e os outros temos com o Amor divino, capacita-nos a ver mais prontamente o caminho à nossa frente, a encontrar a cura e a vencer os pensamentos que não vêm do Amor. Alcançamos uma perspectiva mais correta.
As preciosas lições que aprendemos na Christian Science permanecem conosco. Recentemente, tenho conseguido perdoar injustiças com mais facilidade. Através da Ciência, compreendemos e sentimos nossa relação indestrutível com o Amor, e compreendemos que podemos falar livremente com o Amor divino, que sempre nos dará respostas adequadas à nossa necessidade atual. No meu caso, a resposta foi aprender que não é difícil perdoar, uma vez alcançada a perspectiva correta — a perspectiva espiritual que vê o homem como Deus o criou.
