Jesus e seus seguidores ainda estão a caminho de Jerusalém e ele continua ensinando sobre o que significa ser discípulo. As histórias que aparecem nesta parte vão mostrar no que consiste realmente seguir os ensinamentos de Jesus "da forma correta". O que seus seguidores podem fazer para se certificar de que estão fazendo a coisa certa?
10:17-31 Enquanto Jesus estava a caminho, correu um homem ao seu encontro e, ajoelhando-se, perguntou-lhe: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Demonstrando sinceridade e respeito genuínos, esse homem queria saber o que ele precisava fazer! Mas herdar a vida eterna é o mesmo que receber o reino de Deus. A pessoa recebe o reino de Deus quando se torna inocente, pura e até mesmo indefesa, como uma criança. Esse reino é prometido a todos gratuitamente; não se trata de uma mercadoria a ser adquirida.
Jesus não respondeu à pergunta, mas questionou a maneira como o homem se dirigira a ele: Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão um, que é Deus. Isso não quer dizer que as pessoas não sejam, até certo ponto, boas; trata-se, na verdade, do reconhecimento de que essa bondade não se origina em nós. Deus continua sendo a única fonte do bem.
Jesus então voltou à pergunta que o homem fizera. Sabes os mandamentos: Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, não defraudarás ninguém, honra a teu pai e tua mãe.Esses mandamentos abordam o relacionamento entre as pessoas, relacionamento esse que indica o respeito que devotamos a Deus e a disposição de obedecer à Sua vontade.
O homem então retrucou: Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude. A lei já era a norma, o fundamento, da vida desse homem. Ele estava procurando algo mais, um "crédito adicional", que garantisse sua vida futura.
Jesus não questionou suas palavras, mas fitando-o, o amou. Percebendo sua seriedade e seu desejo de progredir, Jesus Ihe disse: Só uma coisa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; então, vem e segue-me. Ele deve ir, dar o que tem, voltar e seguir Jesus. Isso vai muito além do que simplesmente obedecer literalmente aos mandamentos. Abandonar suas propriedades, naquele momento, seria um teste para seus sentimentos mais profundos, sua real dedicação a Deus. Se renunciasse a seus interesses e realizações pessoais, ele se encontraria às portas do reino de Deus de mãos vazias, como uma criancinha. Impossibilitado de negociar ou de comprar sua entrada, ele compreenderia a essência da dádiva que vem de Deus.
Mas era demais o que estava sendo pedido. O homem se entristeceu com esta palavra, decaiu-lhe o semblante e retirou-se triste, porque era dono de muitas propriedades. Esse homem não estava preparado para o grau de comprometimento altruísta que Jesus pedia. Foi-se embora entristecido.
Jesus, que havia contemplado o jovem com tanto amor, então olhou para os seus discípulos, que estavam em volta dele, e disse: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!
Os discípulos estranharam estas palavras. Então Jesus repetiu o que havia dito, referindo-se aos encantos do mundo. Filhos, quão difícil é [para os que confiam nas riquezas] entrar no reino de Deus! A hipérbole que ele utiliza, ou seja, a passagem de um camelo, o maior animal da Palestina, por uma abertura tão pequena quanto o fundo de uma agulha, mostra que é algo impossível. As tentativas de suavizar esses extremos, recorrendo a outras traduções, põe a perder o ponto principal: isso não pode ser feito! Contudo, mesmo o impossível poderia ser mais provável do que entrar um rico no reino de Deus.
Os discípulos ficaram sobremodo maravilhados, evidentemente porque a riqueza era, com muita freqüência, considerada um sinal da graça e da bênção de Deus. Se uma pessoa assim não pode entrar no reino de Deus então, quem pode ser salvo?
Jesus ... fitando neles o olhar, compreendeu sua perplexidade. Esse reino não pode ser obtido por meio de realizações humanas. Deus, sendo um Deus de misericórdia e bondade, oferece o reino gratuitamente. Aqueles que se submetem à Sua graça, recebem Seu presente. Por meio de Sua graça, Ele pode realizar o que para os homens é impossível ... porque para Deus tudo é possível.
Pedro lembra a Jesus que eles haviam deixado tudo para segui-lo, sugerindo que ao menos eles haviam feito o que o homem rico não fizera. Jesus tranqüilizou-os prometendo que, em troca de tudo o que eles haviam deixado para trás, receberiam, já no presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos. Não se trata de uma mera lista de benefícios materiais. Jesus os conclama a olhar para além da realidade presente, para as incomensuráveis bênçãos espirituais. Também promete que eles sofrerão perseguições em sua missão. A perseguição é a recompensa do mundo para a atividade espiritual.
A máxima os primeiros se tornarem os últimos; e os últimos, primeiros, reconhece a diferença entre os padrões de Deus e os do mundo. A prestação de contas final, de tudo, é feita perante Deus, e o julgamento de Deus pode ser muito diferente do julgamento do mundo.
10:32-34 Eles continuavam subindo para Jerusalém e Jesus caminhava na frente, sozinho; os discípulos estavam espantados e com medo. Talvez eles estivessem começando a entender as terríveis possibilidades mencionadas por Jesus. Era perigoso Jesus ir para Jerusalém, o local onde se concentrava a oposição religiosa organizada. Contudo, ele estava decidido a ir para lá.
Em vez de confortá-los, Jesus, tornando a levar à parte os doze, passou a revelar-lhes as coisas que lhe deviam sobrevir. Nessa terceira predição da paixão, Jesus incluiu uma horrível lista de torturas. Zombariam dele, o açoitariam, cuspiriam nele e o matariam. Mas, depois de três dias, ele ressuscitaria. É bem pouco provável que essas palavras tivessem o poder de mitigar o medo e o assombro dos discípulos.
10:35-45 Apesar dos graves comentários feitos por Jesus, Tiago e João, filhos de Zebedeu, faziam planos para quando chegasse a glória, apressando-se em apresentar sua candidatura. Eles se aproximaram de Jesus, dizendo: ...queremos que nos concedas o que te vamos pedir. Jesus perguntou de que se tratava. Responderam-lhe: Permite-nos que, na tua glória, nos assentemos um à tua direita e o outro à tua esquerda. Esse pedido revela de forma comovente a enorme distância entre Jesus e os discípulos. Negligenciando por completo as palavras de Jesus acerca de sua morte e humilhação, eles estão pensando adiante, no grande libertador de Israel que estabelecerá a glória perdida do reino de Davi. Eles não entenderam o caminho do discipulado.
Jesus os advertiu: Não sabeis o que pedis. Sempre na qualidade de mestre, ele lhes perguntou: Podeis vós beber o cálice que eu bebo ...? Se o cálice simboliza a experiência de vida dos seguidores do Cristo, então beber do cálice inclui necessariamente privações bem como bênçãos (ver Jeremias 25:15 e Salmos 23:5 e 116:13). Estariam eles preparados para receber o batismo com que ele seria batizado? Freqüentemente o batismo é usado como metáfora da purificação por meio de provações. "Vocês podem suportar isso?" perguntou Jesus.
Sem hesitação, eles responderam: Podemos. Então Jesus confirmou que eles fariam isso mesmo. Porém, acrescentou, o que aconteceria depois não lhe competia concedê-lo.
Ouvindo isto, indignaram-se os dez contra Tiago e João. Sem dúvida todos eles precisavam aprender o que significava ser discípulo. Para isso, Jesus se utilizou de lições tiradas de uma sociedade secular. Sabeis que os que são considerados governadores dos povos têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade. Mas entre vós não é assim. Eles precisam se basear em um padrão diferente de grandeza. Quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos. Ele oferece a si próprio como exemplo, dizendo que não havia vindo para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos. Jesus dará sua vida, aproximando as pessoas de Deus.
Assim termina essa viagem que focalizou "o Caminho". Na próxima parte, após uma cura realizada durante o percurso, Jesus e os discípulos chegarão ao seu destino, Jerusalém, onde maiores confrontos e perigos os esperam.
