Muitos procuram um propósito para viver, um belo romance e muitas realizações. Esse foi o meu caso. Sair de uma infância atribulada, passar uma adolescência rebelde e partir para uma maturidade sem rumo, não parece ser algo muito promissor. Entretanto, sinto que, hoje, posso compartilhar minha experiência, sem dor.
Tenho memórias muito agradáveis do tempo em que passava com minha bisavó, ainda muito menina... Ela me levava à sua igreja, mas eu não gostava, pois diziam que Deus castigava. Eu sentia que isso não podia ser verdade. Afinal, quando estávamos no seu sítio, olhando para aquele campo tão belo, ouvindo o canto dos pássaros e sentindo o cheiro da relva, a leitura da Bíblia me trazia uma paz tão imensa! Minha bisavó pedia sempre que eu lesse para ela, e que conforto nos traziam os salmos! Eu não podia acreditar que Deus castigasse ou que enviasse turbulências.
Eu vivia com meus avós, que eram amorosos, mas tinham uma idéia de disciplina muito rígida. Minha mãe, por ter tido um casamento muito problemático, com um marido alcoólatra, e com toda a responsabilidade de criar filhos, alterava-se muito facilmente. Tudo isso criou em mim um desejo de buscar afeto, buscar um lar onde houvesse paz.
Saí de casa ao completar dezoito anos. Fui morar com meu namorado. Tínhamos uma vida agradável. Nessa época, fazia curso de teatro e vivíamos no meio artístico. Nesse meio, as drogas eram distribuídas facilmente e começamos a consumi-las. Nem era preciso comprá-las. Eu não cheguei a ficar viciada, fazia mais por curiosidade, mas meu namorado sim, ele se viciou. Efeitos colaterais muito fortes logo apareceram. Eu o via piorar a cada dia. Pedi que ele parasse, mas não conseguia. A situação foi ficando muito difícil. Eu o amava e queria ter somente boas recordações dele. Não queria ver sua decadência. Decidi abandoná-lo.
Agora, sozinha, tive de procurar um lugar para viver. O tempo foi passando, eu trabalhava e adquiria bens para casa. Mudei de emprego e me senti muito realizada, elaborando projetos para crianças e jovens em um departamento cultural de uma escola. Entretanto, ao final de um ano fiscal, o orçamento para meu cargo e projetos não foi aprovado. Vi-me, de repente, sem emprego.
A separação e o desemprego provocaram-me muita dor e desespero. Sentia-me sem esperanças, sem motivação para viver. Queria esquecer-me do passado e ter uma vida nova. Comecei a me desfazer de todos os meus pertences pessoais e da casa. Achava que deveria mudar minha vida. Encontrei, então, um anúncio de uma bolsa de estudos no exterior. A condição era saber o idioma do país.
Matriculei-me num instituto de línguas. Aí conheci uma pessoa que me atraía muito a atenção pela sua forma de pensar e pelo seu comportamento. Era muito alegre. Um dia durante a aula, ela disse que era estudante da Christian Science. Foi a primeira vez que ouvi esse nome. Fiquei curiosa para conhecer essa religião. Comprei o livro sobre pessoas que haviam seguido essa maneira de viver e depois outro, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de Mary Baker Eddy. Quando comecei a lê-lo, não conseguia parar. Eu o li em uma semana. A leitura me fazia ver claramente que Deus me amava. Revelou-me que Deus cuida de cada um dos Seus filhos. Foi aí que pude conectar esses novos sentimentos com as imagens que fazia ao ler a Bíblia no sítio de minha bisavó. Para mim, ler o livro trouxe-me a reconciliação com Deus. Parei de me autocondenar.
Pude ver que estive à procura de afeto e de felicidade durante toda a minha vida e não havia encontrado nenhuma resposta satisfatória até então. Tentava preencher um vazio que sentia, mas as tentativas eram em vão. Contudo, a leitura de Ciência e Saúde trouxe-me luz. Foi a resposta para minha busca por afeto, amor, conforto e consolo. Ajudou-me a compreender a linguagem da Bíblia e seu sentido metafísico. Mas, minha experiência não terminou por aí, apesar de minha posição diante da vida já ter começado a mudar.
Candidatei-me àquela bolsa de estudos do anúncio e a ganhei. A estada fora de meu país, dentro de outra cultura, enriqueceu-me muito. Durante os anos que estive ali, continuei estudando a Christian Science e o meu sentimento de família se ampliou. Várias pessoas me consideravam como filha ou irmã. Mas a busca por afeto e por um companheiro ainda continuava. Novamente fui morar com um rapaz.
Não muito tempo depois, tive um acidente de motocicleta. Eu estava dirigindo e um carro entrou na minha frente, sem dar seta. A colisão foi de frente, na parte trazeira do carro. Com a batida, fui jogada da motocicleta, passando por cima do carro. Caí sentada no chão, e depois fui para trás, batendo a cabeça. Estava sem capacete. Senti dores muito fortes nas pernas, mas logo pensei: "Estou bem! Tenho de me levantar." Não pude aceitar o fato de que sofreria sérias conseqüências físicas. O motorista queria me levar para o hospital, mas eu me recusei, pois havia aprendido em Ciência e Saúde que não há acidentes no reino de Deus. Pedi só que telefonasse para meu companheiro. Quando ele chegou, fomos para casa. No começo, não conseguia encontrar nenhuma posição confortável por mais de cinco minutos. As dores eram intensas. Fiquei dois dias só estudando a Bíblia e Ciência e Saúde. Aos poucos, as dores se foram e não tive nenhuma sequela daquele acidente.
Passei por outros desafios que tentavam deter meu progresso espiritual. Fui firme, porém, e senti que precisava aprofundar ainda mais meus estudos sobre a Christian Science. Ficou-me claro que deveria ordenar minha vida e viver dentro dos padrões morais, pois tinha de ser coerente com o que estava aprendendo. Voltei ao meu país.
Minha transformação foi total, sinto-me renascida e com um propósito na vida. Sei que estamos todos aqui para demonstrarmos nossa filiação com o nosso Pai-Mãe Deus, o Amor infinito. Onde quer que estejamos, qualquer que seja o caminho que tomemos, Deus está sempre conosco. E mesmo os sofrimentos podem ajudarnos a encontrar o rumo certo. Um trecho em Ciência e Saúde explica bem o porquê da minha transformação: "Quem é que, tendo experimentado a perda da paz humana, não sentiu desejos mais acentuados de alegria espiritual? A aspiração ao bem celestial vem mesmo antes de descobrirmos o que pertence à sabedoria e ao Amor. A perda das esperanças e dos prazeres terrenos ilumina a muito coração o caminho ascendente. As dores dos sentidos não tardam a nos informar que os prazeres dos sentidos são imortais e que a alegria é espiritual" (p. 265).
Hoje, meu coração enche-se de profunda gratidão por saber que recebemos a verdadeira alegria como um presente de Deus, uma qualidade inerente ao nosso verdadeiro ser, que é espiritual. Sei que todos podemos corrigir nossos passos. Sinto que não só minha vida foi restaurada, mas também o meu conceito sobre meus familiares e amigos. Isso é uma bênção muito grande. Antes eu tinha mágoas, mas agora vejo que o Amor divino abençoa a todos e tem um propósito bom para cada um.
