Parece que para o homem ser homem de verdade, ele precisa ter um lado bastante sensual em sua natureza. É esse o conceito convencional que se tem dos homens. O programa de rádio do Christian Science Sentinel conversou com alguns homens sobre o tema da sensualidade e o que eles aprenderam acerca de sua verdadeira natureza, como resultado do estudo e crescimento espiritual. O que se segue são alguns trechos dessa conversa com Joel Magnes, da cidade de Nova York, e Bobby Lewis de Evergreen, Colorado, nos Estados Unidos.
Eu cresci numa sociedade bastante permissiva e nossa família também era muito liberal. Portanto, envolvi-me com vários relacionamentos sexuais e, sinceramente, achava que não havia maior satisfação do que essa. Eu estava tão convencido de que a sensualidade era o caminho para a felicidade, que não percebia que a busca compulsiva da satisfação sexual era realmente egoísmo e que poderia magoar a mim e aos outros. Eu até tentava racionalizar que, na realidade, eu não era egoísta, pois gostava de dar prazer às mulheres, tanto quanto de ter prazer eu mesmo.
Então chegou a época em que eu era estudante de canto e lutava contra alergias e asma. Havia tentado tudo o que estava ao meu alcance para curar esses dois problemas, desde a acupuntura até o tratamento com zinco. Então, quando minha antiga professora de canto me apresentou a Christian Science, fui muito receptivo, porque eu queria a cura. Levou algum tempo, mas finalmente fiquei curado daqueles problemas, pela oração na Christian Science. Todavia, com o estudo, eu descobri algo que não esperava, isto é, que minha verdadeira natureza e identidade não eram sexuais, mas ao contrário, eram espirituais. Embora eu estivesse completamente disposto a mudar em termos de saúde, não estava tão disposto a mudar minhas atitudes imorais.
Compreendi que esses dois aspectos, saúde e moralidade, estavam interligados. Portanto, tudo que eu estava aprendendo e assimilando sobre minha natureza e identidade espiritual, entrava em conflito direto com meu modo de pensar e agir com as mulheres.
Nessa época, encontrei a mulher que, mais tarde, se tornou minha esposa. Quando começamos a namorar, os encontros eram estranhos para mim. Não havia sexo! Em vez disso, depois de um show ou de um jantar, voltávamos para o apartamento dela e ficávamos até altas horas da madrugada conversando sobre conceitos metafísicos. Ela havia encontrado a Christian Science um ano e meio antes de mim e estava preparada para responder às muitas perguntas que eu fazia, e eu era muito grato por isso. Porém, à medida que nosso relacionamento prosseguia, ambos começamos a lutar com velhos padrões de comportamento e realmente foi difícil ficarmos sem ter relações sexuais antes do casamento. Embora tenhamos conseguido ficar firmes nisso, eu ainda tinha minhas lutas depois de casado.
Descobri que minha verdadeira natureza e identidade não eram sexuais, mas sim espirituais.
O problema tinha a ver com a minha identidade. Acho que, intelectualmente, eu havia compreendido o que a Christian Science ensina sobre nossa identidade à imagem de Deus, mas não conseguis conciliar isso com o que me parecia real em mim mesmo, como um ser do sexo masculino. Esse conceito era parte integrante do modo como eu pensava acerca de mim mesmo. Sentia-me culpado por haver em mim esse lado negro que ninguém mais podia ver e eu achava que nem mesmo minha mulher sabia de minha luta. Depois, fiquei sabendo que ela realmente tinha a intuição do que eu estava sentindo.
Durante esse período, eu procurava orar. Caminhando pelas ruas de Nova York, era-me difícil ver as mulheres e não deter o olhar no corpo delas, como estava tão acostumado a fazer. Era-me difícil ver sua verdadeira identidade — olhar para elas como filhas espirituais de Deus. Na verdade, há uma passagem no Sermão do Monte, proferido por Jesus, que fala do ponto essencial dessa questão. Ele explica que mesmo olhar para uma mulher de maneira impura, já é cometer adultério no coração, ainda que não se faça nada com ela (ver Mateus 5:28).
Foi nesse ponto que houve uma dura batalha para mim. Mas compreendi que eu não estava lutando sozinho. Podia me valer da ajuda divina — Cristo, a manifestação do poder curativo e transformador de Deus. Às vezes essa luta parecia ir além das minhas forças. Então me voltava para a palavra de Deus, tanto na Bíblia como nos escritos de Mary Baker Eddy, ou mesmo diretamente a Deus em oração, e obtinha as respostas. Eu consegui algo em que me agarrar para elevar-me e sair do buraco negro em que parecia estar. Uma dessas respostas veio através do capítulo "O Matrimônio", do livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de Mary Baker Eddy, que diz: "Nas afeições humanas o bem precisa ter ascendência sobre o mal, e o espiritual sobre o animal, senão a felicidade jamais será alcançada" (p. 61).
Um dia, eu estava orando muito profundamente sobre isso e me veio uma nova compreensão, de forma incrivelmente simples. Por mais óbvio que pareça, compreendi que além de respirar, havia somente quatro exigências básicas para sobreviver — comer, beber, dormir e fazer as necessidades fisiológicas. Entendi que, na verdade, a atividade sexual não é algo imprescindível, isto é, ela não é uma necessidade absoluta da existência. Foi para mim surpreendente a compreensão de que o desejo animal e os pensamentos sensuais não eram inquestionáveis. Compreendi que eu poderia viver sem relações sexuais, caso fizesse essa opção. Isso pode não parecer revolucionário para alguns, mas certamente o foi para mim. Deu-me paz compreender que existe a possibilidade de escolha, que eu sou capaz de expressar, como diz a Bíblia, "domínio" sobre o corpo, pois esse discernimento eliminou a tensão sexual com a qual eu convivera todos aqueles anos e considerara normal.
Depois dessa revelação, continuei a crescer espiritualmente; superei as fantasias e aquele comportamento habitual. Compreendi que a verdadeira satisfação não vem da intimidade física, mas provém da minha união espiritual com o Amor divino. Sempre que me conscientizo de minha natureza espiritual e completa, sinto uma satisfação que transcende qualquer apelo sexual.
Há uma outra frase, no capítulo "O Matrimônio", que expressa isso: "Só os gozos mais elevados podem satisfazer aos anseios do homem imortal. ... Os sentidos não proporcionam gozo verdadeiro" (p. 60-61). A vitória sobre esse estado mental também trouxe liberdade e alegria ao nosso casamento, tornando-o mais propício ao progresso, tanto para mim como pata minha mulher. Honestamente posso dizer que Deus nos satisfaz mais do que qualquer outra coisa.
Havia uns dois anos que minha mulher e eu estávamos casados e nosso relacionamento estava passando por dificuldades. Eu trabalhava longe de casa mas, assim mesmo, realmente procurava, pela oração, melhorar a qualidade do nosso casamento. Queria honestamente que as coisas melhorassem, mas muitas vezes me sentia só e frustrado com a situação. Eu não estava à procura de outra companheira mas, durante um desses meses longe de casa, encontrei uma mulher cuja amizade realmente me agradava. Quase sem perceber, as coisas começaram a escorregar da amizade para a atração de um pelo outro e, em seguida, para o desejo sexual.
Uma noite, depois de ter ido me deitar, ela veio até o local onde eu estava. Naquele instante, eu tive de decidir se seria fiel ao meu casamento. A Bíblia fala sobre a idéia de conseguir parar por um momento e esperar em Deus, e não se deixar enganar, continuando a agir sem pensar. Sempre que consigo parar e esperar em Deus, as coisas ficam mais claras. Sem essa parada, contudo, mesmo algo tão claro como o mandamento "Não adulterarás", de alguma forma perde sua clareza.
Naquela época, eu havia adquirido o hábito de, em qualquer tipo de situação, perguntar-me: "Isso me fará sentir mais perto de Deus?" Naquela noite, no momento da decisão, a mesma pergunta me veio à mente. Como dei aquela parada, a resposta que tive foi muito surpreendente. Foi a frase que conclui uma das parábolas de Jesus: "Louco, esta noite te pedirão a tua alma" (Lucas 12:20). A força daquele pensamento me despertou de tal maneira que me impediu de fazer aquilo que eu sentia como um desejo impetuoso, e evitou que eu caísse no precipício que certamente prejudicaria meu casamento e danificaria minha integridade. Com a força daquele pensamento, consegui tomar a decisão que respeitou meu casamento e honrou a Deus. Naquela mesma noite terminamos aquela amizade. Ela seguiu seu caminho e eu continuei com o trabalho que estava fazendo.
As lições que aprendi com essa experiência têm-me ajudado a construir uma firme estrutura para um casamento duradouro e um ótimo companheirismo. Naquela ocasião, consegui pôr em prática, em certo grau, esta afirmação de Ciência e Saúde: "Há uma só atração real, a do Espírito" (p. 102).
