De acordo com a cronologia de Marcos, esta parte apresenta a continuação do terceiro dia de Jesus no Templo, ou seja, um dia após ele o ter purificado. Os escribas e os fariseus continuam a desafiá-lo, fazendo perguntas, querendo surpreendê-lo em alguma falta. A tensão continua a crescer:
12:1-12 Jesus lhes conta uma parábola sobre um homem que plantou uma vinha. O dono da vinha preparou-a com tudo o que era necessário, arrendou-a a pessoas capazes e se retirou para uma terra distante.
No tempo da colheita, enviou esse homem um servo aos lavradores para que recebesse eles dos frutos da vinha. Os arrendatários o agarraram, espancaram e o despacharam vazio ... outro servo foi enviado, e ainda outro ... e muitos outros lhes enviou. Alguns foram espancados, outros mortos. Por fim, o dono mandou seu filho amado, dizendo: Respeitarão a meu filho. Eles, porém, não o respeitaram, acreditando que, matando o herdeiro, ficariam com a herança... E, agarrando-o, mataram-no e o atiraram para fora da vinha.
Jesus perguntou: Que fará, pois, o dono da vinha? Em vista da extraordinária paciência desse homem, a resposta surpreende: Virá, exterminará aqueles lavradores e passará a vinha a outros.
Muitos vêem nessa passagem bíblica uma alegoria, na qual o dono da vinha é Deus e a vinha é Israel. Os servos são os profetas; os arrendatários são os líderes de Israel. O filho amado é o Filho de Deus, segundo as palavras utilizadas por Deus ao se referir a Jesus, em passagens anteriores. Ver Marcos 1:1; 9:7. O problema não é com a vinha, mas com os arrendatários, que se recusam a ouvir a mensagem profética e que devem ser substituídos. Contudo, é muito animadora a natureza paciente de Deus. Ele tenta repetidas vezes restabelecer a confiança em Seu povo.
Jesus termina a parábola fazendo referência às Escrituras, Ver Salmos 118:22, 23. dizendo: A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular, merecedora de honra. Se essa pedra representa o Filho, ela aponta para a oposição total, a ressurreição. Isto procede do Senhor, e é maravilhoso aos nossos olhos.
Os líderes sabiam que a parábola continha uma crítica a eles. Então procuravam prendê-lo, mas não o fizeram, porque temiam o povo. Nesse momento, a sua rejeição a Jesus, a pedra angular, o Messias, sela o destino deles, bem como o de Jesus. Ele será morto (para ressuscitar) e eles serão substituídos. Então, desistindo, retiraram-se.
12:13-17 Mas ele continuou a ser importunado, pois alguns dos fariseus e dos herodianos, os que apoiavam Herodes, foram enviados para que o apanhassem em alguma palavra. Começando com lisonjas, perguntaram a Jesus: Sabemos que és íntegro e que segundo a verdade, ensinas o caminho de Deus; é lícito pagar tributo a César ou não? Em outras palavras, os judeus devem pagar impostos ao imperador?
Para os judeus, pagar impostos era ultrajante, não tanto pelo que isso representava em termos econômicos, mas porque esse pagamento se constituía em uma violação ao direito deles de tributar lealdade apenas a Deus. Por se tratar de uma ferida aberta, o assunto era bastante delicado, do ponto de vista político. Se Jesus dissesse: "Sim, eles devem pagar", os judeus o considerariam um traidor; se, porém, dissesse que não, ele poderia ser considerado um rebelde pelos romanos.
Mas Jesus, percebendo-lhes a hipocrisia, respondeu: Por que me experimentais? Trazei-me um denário para que eu o veja. Quando eles lho trouxeram Jesus perguntou: De quem é esta efígie e inscrição? Era de César, evidentemente. Disselhes, então, Jesus: Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. As pessoas podem dever dinheiro a César, mas devem todo o seu ser a Deus. Elas têm obrigaçôes civis, mas toda a sua lealdade será sempre para com Deus.
E muito se admiraram dele.
12:18-27 Após esse incidente, chegaram os saduceus, membros da aristocracia judaica. Diferentemente dos fariseus, eles rejeitavam o conceito de ressurreição. Com sarcasmo, perguntaram a Jesus sobre a consequência lógica da lei mosaica, no que se referia ao casamento. Ver Deuteronômio 25:5-10. A lei dizia: se morrer o irmão de alguém e deixar mulher sem filhos, seu irmão deve tomá-la como esposa para que suscite descendência a seu irmão. Esse dispositivo legal visava a manter a propriedade dentro da família e se baseava na suposição de que a imortalidade de uma pessoa se realizava em seus filhos e se manifestava através da vida deles. Os saduceus perguntaram: Suponhamos que houvesse sete irmãos; o primeiro casou e morreu sem deixar descendência; o segundo ... e o terceiro... e, assim, os sete casaram-se com ela e não deixaram descendência... Na ressurreição, quando eles ressuscitarem, de qual deles será ela a esposa? Porque os sete a desposaram.
Jesus respondeu que eles haviam errado, porque não conheciam as Escrituras, nem o poder de Deus. A ordem celestial era muito diferente da ordem do mundo, pois, quando as pessoas ressuscitarem de entre os mortos, nem casarão, nem se darão em casamento; porém, serão como os anjos nos céus. A natureza da vida após a ressurreição seria totalmente diferente de qualquer coisa conhecida. Jesus continuou, declarando que, nas Escrituras, Deus falara com Moisés, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. Deus falara como se eles fossem vivos, muito embora sua passagem pelo mundo tivesse acontecido havia séculos. Ele não é Deus de mortos, e sim de vivos, e tem um relacionamento permanente com todas as gerações. Então Jesus disse aos saduceus: Laborais em grande erro.
12:28-34 Em seguida, um dos escribas, que tinha ouvido a discusão entre eles, vendo como Jesus lhes houvera respondido bem, perguntou-lhe: Qual é o principal de todos os mandamentos? A função do escriba era analisar e interpretar a lei minuciosamente, na sua aplicação a todos os aspectos da vida. Nesse caso, o escriba está se aprofundando um pouco. A pergunta é sincera. Acaso existia um princípio básico da lei, que fosse o fundamento de tudo o mais?
Respondeu Jesus: O principal de todos os mandamentos, o princípio permanente é: Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força. E o segundo deriva dele: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.
O escriba endossa totalmente a resposta de Jesus, dizendo: Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que ele é o único, e não há outro senão ele, e que amar a Deus de todo o coração e de todo o entendimento e de toda a força, e amar ao próximo como a si mesmo excede a todos os holocaustos e sacrifícios.
Vendo Jesus que ele havia respondido sabiamente, declarou-lhe: Não estás longe do reino de Deus. Embora os escribas adotassem uma visão literal da lei, esse escriba entendia que ela estava firmada no amor a Deus.
Jesus falava com tal autoridade que já ninguém mais ousava interrogá-lo.
Na próxima parte, Jesus fará, por sua vez, algumas perguntas duras, enquanto seu dia de ensinamento no Templo vai chegando ao fim. O dia terminará com uma nota sombria, com advertências sobre coisas que estavam para acontecer.
