Durante alguns segundos, antes que o regente pegasse a batuta e levantasse os braços, os músicos e toda a audiência permaneceram em silêncio. Em seguida, quando achou que tinha chegado a hora, o maestro começou a reger, indicando a entrada de cada setor da orquestra, de acordo com sua própria compreensão da música, expressando a complexidade do ritmo e da ordem da peça musical.
A platéia ouviu e sentiu a beleza da harmonia que foi realçada pela condução do maestro. Se cada músico tivesse expressado sua própria interpretação da obra, o resultado teria sido uma confusão. Mas todos eles seguiam uma única autoridade; nenhum deles se opôs ao que o regente procurava transmitir.
Assistindo ao concerto, percebi ser possível estabelecer um paralelo entre a harmonia e o ritmo da orquestra e o harmonioso ritmo da criação de Deus. A soberania divina não tem oponente. Se existisse algum opositor, o ritmo divino seria rompido. Todavia, sob o controle de uma única Mente, Deus, toda a criação está incluída no ritmo dEle e não se rebela a esse ritmo. Jamais existiu algum poder para interromper a harmonia espiritual que está sempre em movimento e sempre fluindo. A infinita inteligência divina, ou seja, a sabedoria, mantém o controle absoluto.
O ritmo do Espírito consiste no fato de que cada elemento espiritual se move em concordância com todos os outros elementos da criação. Esse ritmo divino se desdobra eternamente e, como idéias espirituais de Deus, nós estamos incluídos nesse ritmo, assim como cada nota de uma sinfonia é parte integrante da harmonia e do ritmo da composição musical. No sentido humano das coisas, entretanto, precisamos deixar de lado a vontade própria, como fazem os membros de uma orquestra. Cedemos à presença e à supremacia de Deus, a única Mente verdadeira, a fim de demonstrar em nossa vida diária a harmonia que só a inteligência divina é capaz e estabelecer.
Só a harmonia divina do Espírito é real. O ritmo divino se desdobra eternamente.
Os cinco sentidos físicos não nos ajudam a encontrar ou a comprovar a harmonia de Deus. Quando procuramos a harmonia na matéria ou na crença material, inevitavelmente encontramos apenas a discórdia. Bilhões de personalidades mortais parecem estar procurando alcançar seus próprios objetivos, muitas vezes conflitantes. O mal parece estar misturado com o bem. O que denominamos substância, inevitavelmente se deteriora.
Para os sentidos materiais a vida diária nega enfaticamente a harmonia divina. Com tantas vontades humanas e tantas forças materiais clamando por atenção, pode parecer completamente irrealista a afirmação de que há apenas uma Mente, uma autoridade divina governando tudo. Por isso é imperativo olhar para as coisas de outra forma, ou seja, a partir do ponto de vista da realidade espiritual. Em vez de avaliar a criação e a vida partindo de um ponto de vista material, podemos compreender cada vez mais que a verdadeira existência é espiritual, que a criação de Deus está presente e ativa, embora invisível aos sentidos materiais.
A Sra. Eddy escreve no livrotexto da Christian Science: "Para discernir o ritmo do Espírito e para ser santo, é preciso que o pensamento seja puramente espiritual" (Ciência e Saúde, p. 510). À medida que, através da oração e da regeneração, despertamos para o sentido espiritual, descobrimos a capacidade de discernir a ilusão material. Começamos a perceber o verdadeiro universo da criação de Deus, onde tudo é espiritual, perfeito e eternamente bom. Aprendemos que o Amor divino governa todos os elementos e identidades da criação e a harmonia divina torna-se mais real para nós. Cristo Jesus falava do reino do Espírito, que é invisível aos sentidos físicos. Depois da ressurreição, ele disse a Tomé, o incrédulo discípulo: "Porque me viste, creste? Bemaventurados os que não viram e creram" (João 20:29).
Quando percebemos que a criação, a imagem infinita, do Espírito divino, está ali mesmo onde a criação material parece estar, compreendemos mais claramente o controle absoluto de Deus sobre todos os elementos e identidades verdadeiras. Compreender que aquilo que denominamos criação material é apenas um sentido errôneo da existência, ajuda-nos a silenciar a crendice numa força oposta à harmonia divina do Espírito.
Embora a ilusão da materialidade pareça às vezes assustadora, conforta-nos saber que aquilo que parece ser uma substância ou força material nunca toca a realidade, isto é, o reino do Espírito, onde nada perturba o ritmo e a harmonia de Deus. A harmonia espiritual pode parecer como que encoberta por algum tempo mas, na realidade, ela não nos pode ser tirada. Para dar provas do governo sempre presente de Deus em nossa vida diária, basta reconhecer a presença desse governo e deixar de lado o materialismo. Essa mudança de perspectiva traz cura.
Há pouco tempo, uma jovem senhora telefonou a uma praticista da Christian Science, pedindo ajuda através da oração para o parto de seu bebê. O trabalho de parto não estava progredindo normalmente e a mãe não queria que fosse induzido.
A praticista imediatamente lhe assegurou que o ritmo de Deus, que é o movimento sem esforço, sem atrito, de toda a criação, estava atuando em suave harmonia. Falou-lhe do controle de Deus sobre tudo e encorajou a mulher a ficar em paz. Assim como as ondas do mar vão e vêm sem esforço, a criação de Deus se desdobra sem esforço. Em realidade, ambos, a mãe e o bebê são idéias espirituais, cada uma está incluída no governo harmonioso de Deus.
A jovem mãe começou a descansar na compreensão do controle e do ritmo da Mente divina, Deus. Depois de poucas horas, o trabalho de parto se normalizou. Uma menina saudável nasceu rapidamente, com relativa facilidade.
Como na maioria dos empreendimentos, nossa habilidade de discernir a ilusão da materialidade é algo que se desenvolve com a prática. Esse despertar para a nossa condição original, eterna, que é a perfeição espiritual, mostra-nos as bênçãos celestiais que constituem nossa verdadeira herança.
Em Miscellaneous Writings (Escritos Diversos), a Sra. Eddy diz: "Quando o Legislador era a única lei da criação, a liberdade reinava, e era a herança do homem; mas essa liberdade era o poder moral do bem, não do mal: era a Ciência divina, na qual Deus é supremo e é a única lei do ser. Nessa eterna harmonia da Ciência, o homem jamais caiu: ele é governado pelo mesmo ritmo que as Escrituras descrevem, quando 'as estrelas da alva, juntas, alegremente cantavam, e rejubilavam todos os filhos de Deus' " (p. 259).
Ao permitirmos que o sentido espiritual revele a eterna presença e poder do Amor divino, o ritmo de Deus se torna mais evidente em cada aspecto de nossa vida.
