A autora do artigo, que escreve regularmente para esta revista, pediu que seu nome fosse omitido, pois seu pai continua sendo uma pessoa importante na comunidade.
Ela nos disse: "Não comentei os casos de maus-tratos em minha família nem mesmo com meu marido. Não quis que ele ficasse contra meu pai... Meu pai foi absolvido de uma sentença injusta... Espero que este relato ajude todos nós a orar pelas famílias onde haja vítimas de maus-tratos."
Sou originária de uma cultura oriental, em que era normal as mulheres serem maltratadas e as meninas serem tratadas sem nenhuma consideração. Fiquei chocada quando soube que essa situação não acontece apenas nos países como aquele em que fui criada.
Percebi que, mesmo no ocidente, onde vivo agora, por trás da fachada de respeitabilidade, é comum as mulheres serem agredidas pelos maridos. O fato de esse problema ocorrer também em países ocidentais mostra que, mesmo numa sociedade livre, em que as mulheres têm voz ativa, existe uma necessidade premente de enfrentá-lo e curá-lo. A prática de maus-tratos contra familiares é um problema mundial, que não se restringe apenas aos lares do terceiro mundo.
Por onde devemos começar para tentar eliminar esse problema? Às vezes, é tão confuso e complicado que simplesmente preferimos ignorá-lo.
Mas, por favor, não faça isso! Toda vez que você souber de um caso desse tipo através de alguém ou do noticiário, ore. Sei, por experiência própria, o quanto suas orações podem ajudar.
Gostaria de lhes contar como orei a respeito do segredo que guardávamos numa família em que, por trás da aparência de respeitabilidade, aconteciam coisas que ninguém podia imaginar.
Meu pai tinha acabado de agredir minha mãe de tal forma que ela estava quase inconsciente. Ela estava cheia de contusões e ferimentos graves. Minha irmã estava falando comigo ao telefone, chorando, sem saber o que fazer. Vivíamos em países diferentes. Ela precisava levar nossa mãe para o pronto-socorro, mas estava com medo de que chamassem a polícia e prendessem meu pai. Queria uma orientação sobre o que fazer.
Eu havia começado a ler Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras de Mary Baker Eddy fazia pouco tempo, mas já tinha percebido muitas transformações e curas surpreendentes em minha vida. Sem hesitar, pedi-lhe que me desse algum tempo para orar. Então pedi a Deus que me mostrasse como orar.
A oração de uma filha ajudou a família a se livrar do problema de maus-tratos
Veio-me ao pensamento uma passagem de Ciência e Saúde, em que é fornecida a interpretação do primeiro capítulo do livro do Gênesis. A citação é de Gênesis 1:27: "Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou". Em seguida lemos: "Para dar ênfase a esse pensamento momentoso, repete-se que Deus fez o homem à Sua própria imagem, para refletir o Espírito divino. Segue-se daí que homem é um termo genérico. Os gêneros masculino, feminino e neutro são conceitos humanos. Em uma das línguas antigas a palavra que significa homem também é usada para significar mente" (p. 516).
Naquele momento iniciei uma jornada espiritual que durou dezoito meses. Quantas coisas maravilhosas aprendi sobre Deus... e quanta salvação e quantas curas tivemos durante esse período!
Minha mãe curou-se rapidamente dos ferimentos, não tendo sido necessário levá-la ao hospital. E meu pai foi salvo mais uma vez. Durante a infância mantivemos total sigilo sobre sua maneira de agir. Meu pai se dedicava à caridade, realizando um trabalho muito bom e eficaz em nossa comunidade. Por isso, quando procuramos falar com um ou dois amigos chegados para lhes pedir ajuda, eles não acreditaram em nós. Foi então que percebemos que esse seria o grande segredo de nossa família.
Quando comecei a ler Ciência e Saúde, gostei muito quando notei que a autora descreve Deus como Pai-Mãe. Meu pai parecia expressar as qualidades masculinas com bastante intensidade. Mas agora eu estava aprendendo que Deus também era Mãe, e que todos nós, como Sua "imagem", temos tanto as qualidades masculinas como as femininas. Senti que precisava compreender melhor a maternidade de Deus.
Para mim, minha mãe era uma santa. Ela sentia um profundo amor por mim e por minha irmã. Como eu gostaria que o mundo me visse com os olhos dela! Nada jamais era demasiado para ela. Carregava seu fardo com muita dignidade. Nunca se defendia, caso isso fizesse com que, de alguma forma, meu pai se voltasse contra mim e minha irmã. Ela simplesmente assumia tudo.
E se Deus era Mãe, então eu podia, sem dúvida, compreender o que era o Amor.
Pensar que meu pai poderia ser capaz de refletir as amáveis qualidades divinas de mãe era algo que me parecia completamente impossível. Mas eu iria orar para entender isso. Eu estava muito ansiosa para que minha mãe se libertasse daquela situação. Eu sentia que lhe devia isso, por tudo o que ela fizera para nos proteger.
Eu era casada e tinha filhos. A oração que eu estava aprendendo a fazer, havia curado tanto nossos filhos como eu e meu marido de problemas de saúde. A oração nos livrara da falência iminente. Com toda certeza, poderia ser estendida aos meus pais. Meras palavras nunca poderão expressar o que devo à Christian Science.
Comecei a compreender melhor a ternura, a mais bondosa qualidade de Deus. Mas também percebi que Deus é onipotente. No Salmo 91 o poder de Deus e Seu cuidado por nós são expressos da seguinte maneira: "Cobrir-te-á com as suas penas, e, sob suas asas, estarás seguro; a sua verdade é pavês e escudo" (91:4). Podemos fazer uma analogia entre as qualidades maternais de Deus e as penas. O que poderia melhor transmitir a idéia de ternura e aconchego do que aninhar-se entre penas macias, como um filhote de passarinho? Compreendi que meu pai refletia essa terna natureza de Deus. Por isso, fazia parte de sua natureza cuidar de seus filhos.
"Pai-Mãe é o nome da Divindade, o que indica o terno parentesco dEle com Sua criação espiritual" (Ciência e Saúde, p. 332). Quando compreendi que a criação é espiritual, comecei a perceber mais indícios da presença de Deus. Consegui transpor uma concepção material de universo e contemplar o significado espiritual de tudo o que estava à minha volta, empenhando-me em perceber o relacionamento de todas as coisas com Deus, seu Pai-Mãe. Tudo fazia parte de Sua criação espiritual perfeita. Tudo à minha volta passou a transmitir-me a suavidade e a ternura do Amor divino.
Se o botão não sentisse a suavidade da luz solar, não se transformaria numa linda rosa. É preciso que a luz solar brilhe sobre ele, para que ele se abra, mostrando suas lindas cores. Compreendi que a suavidade do amor de Deus era a luz que havia sido criada para brilhar no coração de meu pai. Deus não poderia tê-lo criado para que ele fosse rude e violento com minha mãe, a quem eu sabia que ele amava. Ali onde resplandece o amor divino está o poder das qualidades maternais de Deus, que têm de ser refletidas em ternura no coração e na alma humanos. Mesmo que apenas uma pessoa compreenda esse fato, isso já é suficiente para evitar a ocorrência de atos violentos, pensamentos perturbados e obsessivos, bem como a ira e a fúria descontroladas. Essa compreensão não dá lugar a nada que não expresse ternura e serenidade.
O amor é a lei de Deus e Ele/Ela tem cuidado para que toda a criação obedeça a essa lei que se expressa em nossa consciência individual. Nada pode impedir ou obstruir todos os pensamentos corretos e todas as ações boas que fluem de Deus, porque eles são autorizados pela lei divina. O Amor elimina e anula tudo o que não é correto sobre a vida humana.
Diverti-me ao pensar nas qualidades maternais que Deus havia concedido a meu pai. E logo percebi que algo inesperado estava acontecendo com todos os homens com os quais eu entrava em contato. Meu marido havia sido o melhor presente que Deus me dera. O homem mais meigo e amável que encontrei na vida e, por isso, me havia casado com ele. Ele sempre fora muito amoroso. Mas agora ele se tornara ainda mais meigo e bondoso. Em todo lugar aonde eu ia a imagem machista de homem se modificava e eles se mostravam realmente gentis.
Certo dia, conversando com minha irmã, ela me disse que meus pais não brigavam havia meses. Na verdade, meu pai estava tratando minha mãe com muita ternura. Estávamos radiantes.
Mas esse não é o final da história. Ao mesmo tempo em que eu orava para identificar qualidades maternais em meu pai, decidi reconhecer as qualidades paternais de minha mãe. Ao começar a orar, percebi que ela já expressava aquelas qualidades paternais, e que nunca havia sido uma vítima. O amor com o qual ela defendia a mim e a minha irmã demonstrava força. Eu sabia que aquela força mostrava a qualidade paternal de Deus. Ela nunca deixara de nos proteger. Nós havíamos sido protegidas por sua força quando éramos pequenas e não podíamos nos defender. Seu amor nos havia transmitido confiança, transformando-nos em pessoas fortes, sem medo.
Perceber, de repente, que minha mãe era uma vencedora, ao invés de uma vítima teve um efeito tão surpreendente em mim que compreendi, pela primeira vez, que o amor de Deus inclui toda a Sua criação. Por trás do que talvez pareça fraqueza, pode estar um coração forte e valente, defendendo o que é bom e verdadeiro.
Esse novo conceito a respeito de minha mãe fez com que eu deixasse de pensar nela como uma mulher oprimida. Para minha alegria, percebi que ela estava confiando cada vez mais em sua própria capacidade, tomando decisões e agindo por iniciativa própria.
Hoje, oito anos depois, meus pais vivem em harmonia e levam uma vida ativa e gratificante.
