OREI PARA TODOS
Antonio Gonga é de Angola, país em que a guerra civil já dura décadas. Em 1994 o governo e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) assinaram um acordo de paz, mas os conflitos recomeçaram em 1998. Neste artigo, ele nos fala de sua experiência quando o edifício em que ele morava ficou no meio da zona de guerra.
Em 1992, houve conflitos em Luanda, capital de Angola, durante três dias. Os combates eram travados entre os edifícios. Foi uma ocasião difícil, mas eu sabia que só havia uma maneira de nos defender: volvendonos a Deus.
Minha esposa havia viajado para Kinshasa, no Congo. Coloquei meus filhos no banheiro do hotel em que moramos, onde não há janelas, para protegê-los. Fui, então, para minha mesa de trabalho.
Peguei a Bíblia e Ciência e Saúde e comecei a orar. Li o Salmo 91, que diz: "Ele o cobrirá com as suas asas, e debaixo delas você estará seguro" (conforme a Nova Tradução na Linguagem de Hoje). Foi muito bom compreender que estávamos sob as asas de Deus. Nada de mal poderia nos atingir porque Deus é luz; a luz e a escuridão não podem ficar juntas. Confiei nessa mensagem inspirada.
Durante os três dias dos combates continuei a orar. As balas acertaram as paredes dos edifícios próximos, mas nenhuma delas atingiu o hotel. Nem mesmo meu carro foi atingido. Mas, quero salientar que eu orei para todas as pessoas, porque todos nós temos um único Deus. E todos são filhos de Deus. Temos uma única Mente. E o reconhecimento dessa Mente une todas as pessoas. Os conflitos não são inerentes ao homem criado por Deus, porque a criação de Deus é muito boa. Ele não criou conflitos, desarmonia, nem qualquer coisa ruim. Orei para todos, inclusive para os que estavam envolvidos diretamente nos combates.
Muitas pessoas que buscavam refúgio no hotel ficavam no corredor em frente ao meu apartamento. Todas foram protegidas. Esse foi o resultado não somente da minha oração, porque outras pessoas também estavam orando.
Temos de amar, porque o amor é o solvente que dissolve o ódio. Deus é Amor. Deus preenche todo o espaço. Esse Deus todo-amoroso sabe tudo e vê tudo. Deus ama somente o bem, não o mal. Essa batalha ou combate atual contra o terrorismo não é em favor de americanos ou de outros povos, mas é a batalha de Deus. Temos de permanecer firmes em Deus.
CONSTATEI A EVIDÊNCIA DA PRESENÇA DE DEUS
Jill Johnston, de Belfast, Irlanda do Norte, estava nos Estados Unidos por ocasião dos ataques terroristas em Nova Iorque e Washington. Ela compartilha conosco algumas idéias baseadas na sua experiência, morando em um país onde o terrorismo é uma ameaça constante há muitos anos.
Quando nos defrontamos com tragédias desse tipo, sentimo-nos enganados, magoados e feridos. E nossa reação inicial, quando estamos com raiva, é a de retaliar ou vingar o que foi feito. Ao pensar nos ataques ocorridos nos Estados Unidos em setembro do ano passado, perguntei a mim mesma: "O que Jesus teria feito se estivesse aqui?" e também "O que ele fazia na sua época?"
Ele demonstrava compaixão. A compaixão é um sentimento mais elevado do que a solidariedade porque, quando expressamos solidariedade, estamos partindo da mesma perspectiva mental das pessoas em dificuldade. Mas com a compaixão a nossa posição é a seguinte: "Estou muito triste com o que aconteceu, mas posso fazer alguma coisa". Na Bíblia lemos: "É ele que nos conforta em toda a nossa tribulação" (2 Coríntios 1:4). Acho muito interessante lembrar que a palavra confortar, que provém do latim, significa originalmente fortalecer.
Jesus sempre tratava todas as situações com amor. Quando vieram buscá-lo para o crucificar, seu discípulo Pedro atacou um dos soldados, cortando-lhe a orelha. Mas Jesus curou o soldado. Ele sempre curava.
Acho muito importante compreender que o Amor pode satisfazer a todas as necessidades humanas. Na condição de indivíduos, podemos curar em nosso próprio ambiente. O mundo precisa de cura. Podemos fazer pequenas coisas pelos nossos vizinhos, qualquer coisa que expresse amor.
Há alguns anos, quando eu vivia em Belfast, uma enorme bomba explodiu em frente à Sala de Leitura da Christian Science mantida pela nossa igreja. Na parte da frente da Sala de Leitura havia grandes vitrinas que se estilhaçaram. Algumas pessoas da igreja foram chamadas para ajudar a limpar a grande quantidade de pedaços de vidro resultantes da explosão.
Quando estávamos recolhendo o vidro quebrado e verificando o que precisava ser consertado, uma pessoa saiu de um quarteirão de edifícios comerciais ali perto e veio trazer chá para nós. Isso pode parecer insignificante, mas esse gesto carinhoso teve um grande significado. Para mim, ele simbolizou a presença de Deus. Deu-me, também, a sensação de que estávamos todos trabalhando juntos. Ao invés de serem apenas solidários, os vizinhos trouxeram algo que fez com que nos uníssemos a eles no amor.
Quanto mais pudermos elevar nosso pensamento, afastando-o do ódio, da vingança ou da retaliação, tanto mais rapidamente a situação será curada. Sinto que essa é a verdadeira resposta que o mundo está buscando, porque a retaliação nunca, jamais, nos fez progredir em nossa jornada. Mary Baker Eddy escreveu em Ciência e Saúde: "...a opressão não desapareceu com o derramar de sangue, assim como a aura da liberdade não veio da boca do canhão. O Amor é o libertador" (p. 225).
Lembro-me que Nelson Mandela disse certa vez que ele não tinha tempo para retaliações, porque havia muita coisa a ser feita. Certa ocasião, em meu pequeno país, houve uma terrível atrocidade, que resultou em muitas pessoas mortas na cidade de Enniskillen. Gordon Wilson, pai de uma garotinha que havia morrido, disse que ele não conseguia odiar os que haviam cometido aquele crime. Essa mensagem mudou nossa maneira de pensar e tem ajudado a inspirar muitos ao longo dos anos. Acho que essa é a mensagem de que necessitamos, embora pareça difícil nos apegarmos a ela nos dias de hoje.
Nota: A entrevista de Gordon Wilson a Hazel Joynes encontra-se na página 19 do Christian Science Sentinel de 17 de outubro de 1994.
OS LADRÕES ABANDONARAM O QUE HAVIAM ROUBADO
Kiatezua Luyaluka é procedente da República Democrática do Congo, na África. Desde 1994 seu país, que anteriormente se chamava Zaire, vem sendo palco de lutas étnicas e da guerra civil. Essa situação começou com a chegada de um grande número de refugiados das guerras que aconteciam em seus países. Apesar do cessar-fogo assinado em 1999, os conflitos continuam.
Neste artigo ele fala de uma de suas experiências e compartilha conosco algumas idéias relacionadas com os ataques terroristas em Nova Iorque.
Certa noite, um grupo de assaltantes invadiu a casa de uma vizinha minha, que é comerciante. Acordei com o barulho que faziam. Peguei minha Bíblia e comecei a orar com as idéias contidas no Salmo 91. Incluí todos em minha oração, porque eu sabia que todos somos filhos de Deus, não somente eu, mas minha família, minha vizinha e mesmo os assaltantes. Eu reconheci que até aquelas pessoas que pensavam que eram governadas pelo ódio, ou que achavam que o bem pode ser obtido através de roubos, são filhos de Deus.
Só eu e minha cunhada estávamos em casa naquela hora, e enquanto eu orava ela veio falar comigo. Consolei-a dizendo que Deus estava governando a situação e que ela não precisava ficar com medo, porque somente o Amor estava em ação ao nosso redor.
Continuei a orar ponderando sobre a Oração do Senhor e o Salmo 91. Lembrei-me então de que tínhamos uma arma em casa. Minha cunhada sabia onde ela estava e fomos buscá-la. Eu nunca havia usado a arma, mas pude perceber que era necessário juntar as duas partes que a formavam para que ela funcionasse.
Tentei algumas vezes, mas não consegui ajustar as partes. Senti-me incapaz e volvi meus pensamentos novamente para Deus. Com um sentimento profundo, que era uma oração, suspirei de todo o coração: "Oh, Senhor!" Continuei a orar, e acabei descobrindo como juntar as peças da arma, muito embora nunca a tivesse usado antes.
Saí e fui até o muro que separava nossa casa do terreno da vizinha e atirei para o ar. Não atirei em ninguém, apenas para o ar. Os assaltantes pararam de saquear a casa e fugiram para um lugar perto do rio. Ficaram lá dividindo as coisas que haviam saqueado.
A essa hora já era dia claro. Quando eles viram um carro vindo em sua direção, ficaram com medo e fugiram, deixando para trás o que haviam roubado. O motorista do carro levou os objetos roubados à polícia. Assim, minha vizinha conseguiu recuperar todos os pertences que haviam sido levados de sua casa. Fiquei muito contente com o fato de as coisas terem se resolvido dessa maneira.
Durante todo o tempo não senti medo ou desejo de vingança. Quando acontece algo assim, temos de saber que o inimigo não é a outra pessoa. Eu acho que a primeira coisa a fazer é identificar o verdadeiro inimigo. Para mim, ele não é uma pessoa, mas sim o medo e o ódio, e também a idéia de que o roubo possa beneficiar alguém. Temos de compreender que esses pensamentos é que são o inimigo, não a pessoa.
Em outra ocasião, quando estava orando, tive a idéia de orar para reconhecer que Deus não pode estar separado do homem porque Deus é o poder infinito. Se Deus é onipotente, quem pode separar Deus do homem? Houve ocasiões em que senti medo. Mas, uma coisa de que sempre me lembro é que, mesmo quando meu coração começa a bater mais forte, eu não preciso ficar paralisado pelo medo. Em qualquer situação, eu posso deixar que minha oração me oriente.
Isso vale para todos nós. Quando assisti ao noticiário sobre os ataques contra o World Trade Center, em Nova Iorque, ouvi um repórter dizendo que um dos objetivos daqueles atos era fazer com que as pessoas perdessem a confiança no governo. Se aceitarmos esses acontecimentos como a única realidade, poderemos vir a crer que nós e nossos entes queridos estamos separados de Deus. Não importa o que aconteça, o importante é saber que o Amor ainda está governando. O Amor continua presente, cuidando de nós e mesmo daqueles entes queridos que desapareceram ou que morreram.
Na minha cultura, aprendi desde pequeno que o homem nunca morre. Embora não possamos ver as pessoas que já morreram, podemos sempre sentir o amor que elas expressavam, e podemos sempre sentir o amor que temos por elas. Deus é verdadeiramente o Princípio do amor, e ninguém pode separar-nos do amor que aqueles entes queridos expressavam.
