Repentinamente, uma grande amizade começou a definhar diante de meus olhos. Uma amiga, de quem eu gostava muito, começou a se afastar de mim e a me tratar com frieza. Fiquei muito magoada com isso. O que me chateava mais era que eu não imaginava por que isso estava acontecendo. Comecei a remoer o passado recente, como se estivesse revendo um filme várias vezes. Passados alguns meses sem que houvesse qualquer melhora no relacionamento, a mágoa que eu sentia começou a se transformar em ressentimento e amargura. Senti-me impotente, incapaz de mudar a situação.
Ao buscar uma solução para o problema, encontrei uma mensagem de forte significado no Salmo 23. Comecei a ponderar profundamente sobre o fato de que Deus é o Pastor que conduz Suas ovelhas para campos com boas pastagens. Num poema baseado nessa idéia, Mary Baker Eddy expressa sua oração a Deus desta forma:
Mostra, Pastor, como andar
Sobre a escarpa além,
Teu rebanho pastorear
E cuidá-lo bem. (Hino 304, Hinário da Ciência Cristã)
Foi assim que orei, deixando que essa metáfora tão familiar de Deus como nosso Pastor se expandisse, trazendo um novo significado para mim. O significado que ela me trouxe foi que Deus me conduz e guia e, conseqüentemente, eu deveria ouvir a Deus e seguir Sua orientação. Então, outro pensamento me ocorreu. Por acaso o conceito de pastorear não significa também orientar o rebanho tanto para que ele possa sair dos campos que já não oferecem boa pastagem quanto para conduzi-los a campos ricos em alimento? Como é que as ovelhas poderiam chegar aos novos campos se não tivessem ajuda para deixar os antigos?
Muitos criadores de ovelhas costumam colocar pequenos rebanhos em espaços delimitados com cercas móveis que eles vão mudando de lugar para, dessa forma, conduzir as ovelhas a novos cercados quando os antigos pastos já estiverem exauridos e esgotados. Quando as ovelhas precisam abandonar os velhos campos, elas são conduzidas para a saída. Um bom pastor não deixa uma única ovelha num lugar que não seja bom para ela.
Percebi que havia uma mensagem para mim nisso tudo. Raciocinei da seguinte maneira: "Esse campo antigo, ou seja, o problema no qual me encontro envolvida, está esgotado! Nele não há mais nada. Eu preciso sair, abandonar esse campo!" Eu sabia que jamais poderia encontrar uma solução se continuasse mergulhada no sentimento de mágoa.
Senti então como se uma barreira intransponível tivesse sido removida. Eu poderia agora sair desse campo, ou seja, deixar de ficar remoendo o assunto. Eu não precisava tentar encontrar respostas vendo só o que estava à minha volta. Seria impossível encontrar soluções em um campo esgotado, ou seja, cheio de pensamentos frustrados. Eu precisava de orientação espiritual e o Pastor estava me guiando para fora daquele campo naquele exato momento! Eu reconheci que o novo campo, a realidade espiritual da bondade eterna de Deus, já estava presente, e me oferecia um profundo sentimento de paz, atendendo ao meu anseio por expressar amor. Agora que eu estava pronta para adentrar campos mais verdejantes, por assim dizer, eu tinha a certeza de que a amizade seria restabelecida.
Essa nova inspiração me levou a escrever uma carta à minha amiga, na qual mencionei as muitas qualidades que ela possuía e lhe agradeci pelos momentos felizes que havíamos passado juntas. A carta foi recebida calorosamente, e o relacionamento logo voltou ao normal, sem qualquer referência ou menção ao passado. A percepção espiritual mudou minha maneira de encarar as coisas, e assim fiquei livre da ansiedade. Senti então o terno amor do Pastor por nós duas.
